quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

2009 - UM ANO SOLAR

“Além disso, não precisamos correr sozinhos o risco da aventura, pois os heróis de todos os tempos a enfrentaram antes de nós. O labirinto é conhecido em toda a sua extensão. Temos apenas de seguir a trilha do herói, e lá, onde temíamos encontrar algo abominável, encontraremos um deus. E lá, onde esperávamos matar alguém, mataremos a nós mesmos. Onde imaginávamos viajar para longe, iremos ter ao centro da nossa própria existência. E lá, onde pensávamos estar sós, estaremos na companhia do mundo todo.”
Joseph Campbell - O Poder do Mito.

Depois de 2 anos encontrando nossos desafios externos, com a regência de Júpiter em 2007 e de Marte em 2008, vamos agora encontrar aquilo que nos dá vitalidade interna em 2009, com a regência do Sol para esse ano.

O Sol, como centro do sistema em que vivemos, é símbolo do nosso desenvolvimento mais pessoal, da nossa busca por expressar no mundo o que temos de melhor. Na consciência solar encontramos nosso herói, que se sabe único e destinada a algo especial. O herói, no início, não se reconhece heróico, apesar de uma sensação de ser diferente daqueles que o cercam. Mesmo assim, responde ao chamado da aventura e acaba desenvolvendo esse potencial durante o caminho. Olhando para o Sol, no nosso mapa, podemos ver que tipo de aventura e desafio nosso herói encontra nesse processo.

Em um ano solar recebemos “inspiração”, digamos assim, para tomarmos consciência dessa dimensão interna. Prestar atenção às situações em que somos chamados para a aventura de nos tornarmos nós mesmos e desenvolvermos o potencial criativo que nossos desejos intuem, é a melhor maneira de aproveitar essa inspiração.

Mas, mesmo com todas as promessas de Luz e encontro com o centro criativo que esse ano promete, o primeiro passo a ser dado para aproveitar essa força é aceitar a solidão que ela implica. Ser “especial”, significa compreender que estamos sozinhos quando decidimos seguir nosso próprio caminho. Recebemos muita ajuda de todas as dimensões para cumprirmos nossas tarefas, mas a decisão é solitária, e sem nenhuma garantia para o ego de que conseguiremos conquistar esse prêmio tão valioso, apenas uma vaga sensação de destino a ser cumprido. A percepção disso ajuda a diferenciar o impulso solar do impulso lunar: através da Lua nos sentimos fazendo parte do nosso entorno, da família, da sociedade, buscamos a segurança de nos sentirmos amados e protegidos, vamos atrás daquilo que nos nutre; através do Sol nos sentimos únicos e buscamos a aventura da vida, projetando o melhor que podemos dar ao mundo. Essa escolha de se separar daquilo que é conhecido por causa de algo que nos chama interiormente não é, portanto, um ato de rebeldia e sim um ato de amor, e é por isso que receberemos tanta ajuda e força para nossa jornada.

Aproveitemos esse ano solar para iluminar, ou seja, colocar consciência, em todas as crenças errôneas que nos enchem de medo de atender ao chamado da aventura da vida, da busca por nós mesmos. É sempre possível recusar esse apelo interno, pois a nobreza e integridade solar implicam em escolher livremente esse caminho e aceitar seus riscos, em vez de culpar os outros e/ou o mundo pelas dificuldades encontradas. Mas, como nos diz Joseph Campbell: “Com freqüência na vida real, e com não menos freqüência nos mitos e contos populares, encontramos o triste caso do chamado que não obtém resposta; pois sempre é possível desviar a atenção para outros interesses. A recusa à convocação converte a aventura em sua contraparte negativa. Aprisionado pelo tédio, pelo trabalho duro ou pela “cultura”, o sujeito perde o poder da ação afirmativa dotada de significado e se transforma em uma vítima a ser salva. Seu mundo florescente torna-se um deserto cheio de pedras e sua vida dá uma impressão de falta de sentido - mesmo que, tal como o rei Minos, ele possa, através de esforço tirânico, construir um renomado império. Qualquer que seja a casa por ele construída, será uma casa da morte; um labirinto de paredes ciclópicas construído para esconder dele seu Minotauro. Tudo que ele pode fazer é criar novos problemas para si próprio e aguardar a gradual aproximação de sua desintegração.”

Esse é um trecho do livro O Herói de Mil Faces - Ed. Cultrix/Pensamento - SP - 10ª edição - 1997 - e eu recomendo calorosamente a leitura e releitura desse livro para esse ano solar que vamos entrar. Aliás, ótima pedida para amigos secretos e demais demandas de presentes de Natal.

Esse fim de ano de Marte ainda pode ser aproveitado para energizar nossa psique e abrir os caminhos que faltaram. Sasportas chama Marte de “capanga do Sol”, e se conseguimos aproveitar 2008 para encontrar nosso inimigo interno e abrir novas trilhas de ação, em 2009 será mais fácil o Sol caminhar com toda a sua majestade para nossa aventura de ser. Então, que venha o Sol, tão aguardado aqui em Santa Catarina, e que possamos ser especiais, e, assim, fazer a diferença.
Em janeiro volto às publicações regulares, e esse ano pretendo falar mais sobre a dança dos planetas. Até lá.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Palavras de Sabedoria

Viver no agora é viver na onda do tempo. Nessa dimensão, o tempo flui em certo movimento e ritmo. Esse movimento pode ser determinado por estações, dia e noite, pela posição dos planetas em relação à terra, e pela posição da terra em relação aos planetas, todos em movimento no espaço. Esses movimentos criam certas ondas rítmicas. Em pequeno grau, o homem, no curso da história, sentiu algumas dessas leis do movimento rítmico do tempo, como, por exemplo, na astrologia. Somente uma compreensão muito limitada foi alcançada nessa questão. Mas todos sabem e sentem e até expressam isso em termos de possuir “tempos bons” e “tempos difíceis”. Haverá um período em que as coisas vão bem, em que tudo que se inicia dá certo e dá bons resultados. A pessoa se sente mais livre que o usual, com um panorama esperançoso, apesar de condições problemáticas existentes. E então há tempos da curva em baixa da onda quando tudo parece dar errado. Qualquer um que persevere com um desejo sincero de todo o coração de olhar para si mesmo na verdade irá, cedo ou tarde, chegar a um ponto em que esses “tempos ruins” – que são literalmente a manifestação da desarmonia que o homem criou na sua relação com a dimensão temporal – garantirão tal vitória, tal compreensão que ele não mais experimentará a curva descendente do movimento do tempo como um período depressivo, chato ou desvantajoso. Pois cada momento da vida, verdadeiramente experimentado na realidade do agora, proporcionará uma aventura e excitamento de forma harmoniosa e pacífica, digna da essência da vida. Mas isso não pode ocorrer, a menos que você primeiro aprenda a avaliar e compreender a negatividade em você, e assim os seus “tempos ruins”. Então você estará na sua dimensão temporal. Então você experimentará qualquer coisa na realidade. E essa paz, essa âncora em você mesmo, não é algo que possa ser descrito. Não pode ser substituído com qualquer outra realização, estado ou objetivos aparentemente nobres e desejosos. É uma riqueza, e há riquezas contidas em cada alma individual. Elas são suas, basta a solicitação. Geralmente é triste para nós notar como os seres humanos tornam na direção errada, procurando esse contentamento que vagamente sentem que existe. Como vocês perdem literalmente tempo procurando soluções e satisfação na direção errada. Pois apenas quando a pessoa encontra o valor da sua riqueza interior ela parará de fugir dolorosamente do agora, e não mais estará longe de si mesma. Então ela não procurará seu sustento de outras fontes. Enquanto ela estiver dependente dessa fonte de vida exterior, ela tem que passar por todos os tipos de meios que diminuem e enfraquecem seu eu real ainda mais.
Palestra do Guia Pathwork 113, não publicada - Tradução: Mauro de Souza Pinto.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

FÉRIAS

Estamos completando 1 ano, e eu estou saindo por um período mais longo de férias. Comecei esse blog para organizar minhas anotações e estudos astrológicos, para que amigos, alunos e clientes pudessem ter mais informações sobre astrologia. Pouco a pouco, porém, ele foi se transformando em algo mais, graças às críticas, comentários, elogios e principalmente aos conhecidos e desconhecidos que tiveram confiança para abrirem seus mapas e se colocarem como exemplo, pelo blog ou em particular, mostrando inclusive suas dificuldades. Isso foi importante para reforçar que a astrologia e a análise de uma pessoa é algo muito mais complexo e interessante do que aparece no horóscopo de jornal, além de me trazer boas ilustrações de como se vive o céu. A todos vocês meu abraço cheio de gratidão.
Passamos por todos os 12 signos e seus regentes, e, sempre que possível, ainda demos umas passeadas pela estrutura astrológica e por assuntos menos divulgados. Se você, leitor amigo, está chegando agora e está em busca do seu signo, saiba que aqui fizemos tudo meio que de trás para frente, começando por Libra, em outubro de 2007, e terminando por Virgem, em setembro de 2008. Os planetas estão junto aos signos que regem, sendo que Vênus ficou perto de Libra, mesmo regendo também a Touro, e Mercúrio de Gêmeos, mesmo regendo também a Virgem. Nas publicações de “Astrologia de Boteco” - sem dúvida as que fizeram mais sucesso nesse ano -, você vai encontrar umas dicas básicas sobre como os planetas se manifestam nos 12 signos, para incentivá-lo a ter o desenho do seu mapa na mão e descobrir o que significam aqueles símbolos todos. Mas lembre-se que essa é uma astrologia de boteco mesmo, típica de manual astrológico, que só serve como ponto de partida para se pensar quem se é e apontar portas do seu mapa astral.

Ainda tenho muitas anotações, estudos e interesses astrológicos para expor, além de ter que completar alguns capítulos publicados que não tive oportunidade de terminar. Assim que voltar dessa peregrinação pretendo continuar escrevendo. Só não sei quando será isso, pois a gente nunca sabe onde vai parar quando a estrada nos chama. De qualquer modo, vou dar um jeito de publicar algo sobre a regência do próximo ano, 2009, no fim de dezembro, e então espero já ter uma data para voltar a publicar com regularidade.

Novamente obrigada a todos, e conheçam seus mapas, abram as portas, apropriem-se desse conhecimento que pertence à Humanidade, e que, portanto, é uma herança que todos temos o direito de usufruir!
Ultreya!!

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Astrologia de Boteco do SUS: Descubra Seu Quiron e Converse Com Seu Médico

Quirón está nos trazendo a possibilidade de reconciliar nossos instintos e nossa espiritualidade que, desde a Antigüidade, foram dissociadas. A cura prometida por esse planeta envolve nossa capacidade de agir de modo integral, com o coração, a mente e o espírito, através da compaixão. O signo e a casa onde se encontra nos mostra como essa dissociação nos tornou mais frágeis e, por isso abertos para a ferida incurável. Para se encontrar um equilíbrio onde temos Quiron, precisamos aprender a liberar o passado e ter coragem para nos abrirmos a uma nova consciência que se esforça para encontrar o caminho até nós. Só assim podemos deixar a dor para trás e encontrar a cura, para nós e para quem estamos conectados.


Quiron em Áries
Quando associado ao Guerreiro de Fogo, Quiron irá criar dificuldades para a afirmação pessoal, o que acaba causando medo com relação às coisas novas e à ambientes estranhos. Ao mesmo tempo, há um impulso para agir heroicamente, como se precisasse cumprir alguma missão para justificar sua existência. Nesse abismo que se abre entre o medo de se expor e a “obrigação” de agir se encontra a ferida e a dor intolerável de se saber sozinho e sem proteção para expressar o que realmente se sente e se deseja. Geralmente se tenta fugir desse buraco lutando pelos desejos e necessidades dos outros, o que só faz com que o vazio da falta de motivação interior cresça. Quiron em Áries ensina a pessoa a olhar para o Universo, descobrindo e aceitando o tamanho de sua insignificância. E como a cura de Quiron se apresenta sempre como um koan zen, é assim que se pode mergulhar no vazio e encontrar a imensa vitalidade que se encontra na essência existencial de Áries.

Quiron em Touro
Touro é o signo do prazer e da segurança que nos dá o plano físico, através do qual podemos concretizar nossos valores internos. Quiron aqui geralmente se associa a uma sensação de inadequação e fragilidade com relação ao corpo físico e aos recursos pessoais. Os instintos sexuais e territoriais parecem perigosos, e, na tentativa de controlá-los, a pessoa vai se afastando cada vez mais de seus instintos básicos e se sentindo mais e mais sem valor ao tentar corresponder aos valores de outras pessoas, estranhos à sua própria natureza. Uma dificuldade comum de se encontrar quando Quiron está em Touro é o da compreensão simbólica das coisas, o que leva a pessoa a ver tudo de maneira muito concreta e paralisante. E assim, a vida material e o corpo físico parecem ser fonte de dor e sofrimento, e a pessoa acaba se limitando porque tem que estar sempre acumulando recursos externos para sobreviver ou rejeitando o prazer que a vida material pode fornecer. Esses dois caminhos levam à avareza e aprofundam o vazio da ferida. É preciso que se aceite a dor por ser rejeitado ao não corresponder aos valores dos outros e por muitas vezes não conseguir concretizar as coisas exatamente como gostaria, para então reconhecer o valor dos diferentes dons ao seu redor e juntar vários recursos para construir algo no mundo material. Assim é possível se curar encontrando segurança interna por participar da construção de um mundo melhor e mais bonito e não por se possuir algo externo sem ressonância interna.

Quiron em Gêmeos
Quando Quiron encontra com os Dioscuros, ele separa os irmãos, não há alguém para conversar e a sensação de isolamento é profunda. Ninguém parece escutar ou entender a pessoa, e se busca desordenadamente absorver todas as informações ao redor na tentativa de compreender o mundo e ligar todos os fragmentos de pensamentos dispersos dentro de si. E assim, se perde tanto a percepção do que são pensamentos pessoais quanto do poder das palavras, deixando que padrões de pensamentos destrutivos confirmem crenças errôneas. Isso muitas vezes leva ao medo de se perder a cabeça e desenvolver algum tipo de patologia mental. Assim como Santo Agostinho teve que aprender que é impossível fazer com que o oceano caiba em um buraco na areia da praia, Quiron mostra em Gêmeos que por mais que se saiba, por mais que se compreenda, nossa cabecinha humana ainda é muito pequena para entender sequer a superfície do Infinito, mas, mesmo assim, esse é nosso principal instrumento para buscar a verdade. Ao aceitar a frustração e a dor de não poder expressar o que há de mais profundo e significativo da alma é possível conhecer o poder curador de expressar o que se sente, não para que os outros nos entendam, mas para podermos tocar a solidão dos outros com nossa expressão e pensamentos. A solidão compartilhada pode se tornar menos opressora.

Quiron em Câncer
Câncer mostra nossa capacidade de dar e receber amor, criando vínculos afetivos capazes de nos dar segurança emocional em nossa caminhada pelo mundo. Quando Quiron está em Câncer, as raízes não são capazes de nutrir, às vezes porque a própria raiz está doente, às vezes porque o solo onde nascemos já não tem mais nutrientes para oferecer. Como esse aprendizado em geral é feito através da mãe em uma fase do desenvolvimento em que ainda não temos consciência de sermos um ser separado daquilo que nos nutre, quando Quiron intervêm nessa relação a incapacidade nutritiva da mãe ou do ambiente em que nascemos é incorporada à alma, e assim a pessoa se sente sempre faminta, mesmo quando cercada de abundância. É comum achar insuportável entrar em contato com as próprias necessidades afetivas de nutrição, então se passa muito tempo aprendendo a controlar as emoções e sentimentos - que são vistas como “sentimentalismos” ou “bobagens” - ou criando vínculos pouco saudáveis por não conseguir diferenciar o que é veneno do que é nutrição real. Busca-se nutrir ao outro como maneira de fugir ao buraco nutritivo interno, mas qualquer ameaça de separação acaba fazendo com que a ferida doa ainda mais. É preciso de muito cuidado e carinho para se achegar à zona dolorida de Quiron em Câncer, encontrar a criança ferida e subnutrida e conquistar a sua confiança para que expresse seus sentimentos espontâneos e pueris de modo a que se possa começar um lento processo de auto nutrição verdadeira. O reconhecimento da própria fragilidade emocional aplaca a dor da solidão que existe em nosso âmago, e então é possível tocar e ser tocado pela sutil força da vida, capacitando a reconhecer e recuperar a magia da existência ao seu redor e em todas as pessoas que encontrar pelo caminho, sem apegos, com amor, pois se aprendeu o verdadeiro valor dos vínculos afetivos.

Quiron em Leão
Em Leão encontramos a força de sermos filhos do Deus, herdeiros legítimos de nosso lugar único no mundo, geradores de vida e de paixão pela vida. Quiron rompe dolorosamente a conexão com o centro divino e criativo, e não há como reconhecer-se naquilo que se cria, nem há um pai divino que proteja e mostre o caminho. Assim a auto expressão é sempre acompanhada por dor e insegurança, e se deixada livre pode gerar bastante destruição. O conflito interior gerado por essa ferida pode criar muito ressentimento, pois por mais técnica que a pessoa desenvolva para se auto expressar, sempre faltará a alegria, a espontaneidade e o amor pela vida que deveria acompanhar essa expressão. É preciso desenvolver coragem para expor a alma ferida para então descobrir como recriar essa conexão profunda com o Deus também ferido que habita sua alma. Então se será capaz de encontrar o divino em todos que encontra, e ajudar a que cada um descubra esse caminho interno.

Quiron em Virgem
Esse é o signo da colheita, onde se conquista a independência e a autonomia através do trabalho útil e da percepção inteligente de como aproveitar melhor a si mesmo para produzir bons frutos no mundo. Pois quando Quiron age através de Virgem, sempre há uma enorme inundação ou uma terrível seca quando o trigo está prestes a ser colhido. Assim, ao mesmo tempo que não se consegue parar de plantar, a esperança de conseguir usufruir do próprio esforço parece cada vez mais utópica, e, é preciso parar o trabalho automatizado e começar a escutar o que os deuses estão querendo, pois não vai adiantar tentar controlar a vida, por mais esforço que se dispense nisso. Através dessa ferida, Quiron mostra a diferença entre um emprego, automatizado e que visa apenas a sustentação física, e um trabalho vocacionado, onde a pessoa se dá por inteiro, aceitando as próprias imperfeições e dificuldades, além de todo o caos inerente aos movimentos da vida. As dissociações básicas de Virgem entre corpo e mente, puta e santa, espiritual e material, precisam encontrar sua síntese em nome de uma maior integridade para se encontrar alívio da dor. Nesse trabalho alquímico consigo é que se encontrará a compaixão capaz de fazer frutificar até as terras mais desérticas.

Quiron em Libra
A Balança, em busca de harmonia com aquilo que é diferente de si mesmo, tem que aprender a lidar com os conflitos inerentes à relação com o Outro quando Quiron está aqui. Esse planeta carrega em si a dor de conciliar opostos, e em Libra isso é feito através dos relacionamentos. O mais comum é que se atraia exatamente o oposto daquilo que se acredita ser: se a pessoa se identifica com a Vítima, vai atrair o Carrasco, se se identifica com o Salvador, vai atrair o Marginalizado, se se identifica com o Curador, vai atrair o Doente. Essas relações, porém, são desiguais, e a pessoa se sente solitária e infeliz, repetindo sempre o mesmo padrão de relacionamento até começar a perceber que está projetando no outro aquilo que não quer ver em si mesmo. Muitas vezes a pessoa com Quiron em Libra acredita que pode evitar a tensão emocional e a dor que acompanham o confronto desses relacionamentos se colocando como um observador neutro, o que só irá criar mais dor e fazer crescer o isolamento que se tenta escapar. A estratégia de diplomacia libriana para manter uma aparência harmônica não funciona aqui, e é preciso assumir os próprios sentimentos negativos, as raivas e medos, além de entender que é preciso momentos de solidão e encontro consigo mesmo quando envolvido em um relacionamento com um Outro, para poder ser honesto emocionalmente em lugar de projetar o que não se quer ver em si mesmo. O processo de construir uma relação onde as individualidades são assumidas e respeitadas pode fazer com que a ferida seja curada, pois o lado sombrio de cada um é entendido e honrado, em vez de se tentar, sem sucesso, simplesmente eliminá-lo.

Quiron em Escorpião
Escorpião traz em si os segredos de nascer e morrer inerentes à vida, e Quiron aqui trará as pulsões de Eros e de Thanatos para a consciência, nos obrigando a encarar toda a dor que a vulnerabilidade de nossa existência na dualidade causa. É comum em momentos de mudança, quando algumas coisas têm que morrer e ficar para trás para que algo novo comece, que a pessoa fique obcecada pela própria morte. Nos envolvimentos emocionais e sexuais Quiron em Escorpião também trará esse conflito doloroso de amor e morte, onde os impulsos destrutivos e os amorosos entram em combate e a pessoa tem que reconhecer toda a raiva, ciúmes, medo e outras coisas tenebrosas que surgem na intimidade com o outro, mesmo que apenas em fantasia. Escorpião é um signo hiper sensível ao lado mais obscuro do Ser Humano, e Quiron aqui exige o reconhecimento e a integração desse lado para aliviar a dor das feridas profundas causadas por abusos - físicas ou emocionais - sofridas na infância, e assim aprender a lidar com o poder dessas energias sem manipular nem se tornar impotente ao lado destrutivo do outro, pois as duas distorções causarão dor. Quando se consegue penetrar nas trevas sem se identificar com elas nem tentar modificá-la, é possível também entrar em contato com toda a alegria, esperança e positividade de maneira mais intensa sem o medo de perdê-la, pois se descobre que a vida é impermanente e enfrentar as dificuldades do nascer, morrer e renascer nos tornam mais profundos e inteiros. Ajudar outras pessoas a percorrer esse caminho faz com que a essa dor seja mais tolerável.

Quiron em Sagitário
A busca pelo significado da vida sagitariana é mostrada em toda a sua solidão quando Quiron faz seu altar aqui. Geralmente o ambiente religioso ou filosófico em que se cresce é muito distante da profunda devoção interna por algo maior que a consciência. As incoerências entre o que as pessoas pregam e a maneira como agem também vai criando a ferida de Quiron em Sagitário, e a pessoa se sente como que “ferida por Deus”. Não vai adiantar tentar divinizar algo externo - seja um deus, uma crença, um lugar, uma coisa ou uma filosofia -, pois isso só fará com que a ferida seja aprofundada. Não há como fazer barganhas com Deus quando precisamos passar por Quiron para chegar a Ele. Os aspectos limitadores e doloridos de nossa existência humana precisam ser incorporados à busca pelo significado da vida, se conscientizando de todos os preconceitos e sofrimentos que foram impostos ao Ser Humano em nome de Deus, todas as ameaças à vida que foram construídas pelos dogmas religiosos, toda a sombra humana que foi projetada no divino. A ferida que o Homem fez a Deus precisa ser reconhecida e sentida por Quiron em Sagitário para que, na compaixão por Deus nasça a compaixão por si e por toda a Humanidade, e se consiga alívio da dor.

Quiron em Capricórnio
Esse é o signo da Autoridade, do mestre que, através da experiência de vida, é capaz de mostrar o melhor caminho para se alcançar o alto da montanha. Com Quiron aqui, a figura de autoridade com a qual se cresce não pode mostrar o caminho e ter que se contrapor a essa figura traz toda a dor do planeta. O medo por essa figura de autoridade destrutiva acaba fazendo com que se despreze a própria vulnerabilidade e sensibilidade, que acaba tendo que se esconder em um quarto escuro, criando uma paralisia interna dolorosa. Essa perversão pode criar a fantasia de que assim se pode vencer a vida, seja endurecendo e acumulando poder a qualquer custo, seja se abstendo dos valores sociais aceitos. Assim a dor vai aumentando até se tornar insuportável e se tem que buscar o caminho interno da cura. Só quando se pode assumir a responsabilidade pela parte machucada e expressar toda a raiva e medo que estava guardado ali, é que se pode também construir a verdadeira estrutura que se busca, não mais para sobreviver, mas para crescer de verdade. Nessa busca interna se encontra a falta de amor e orientação que existe na base social que criamos, e só mesmo um Quiron em Capricórnio é capaz de assumir com seriedade a importância que isso tem para a transformação da nossa espécie.

Quiron em Aquário
Aquário é o guardião das nossas esperanças em um sociedade justa, livre e fraterna. Pois com Quiron aqui descobrimos toda a dor de não conseguirmos isso, e nos sentimos ameaçados pelos nossos iguais. Há uma hiper sensibilidade aos ideais do inconsciente coletivo com esse posicionamento, e isso significa que tanto os desejos coletivos de paz quanto a agressividade com relação ao que é diferente ou que ameace o status quo estarão se debatendo no interior da pessoa. Geralmente não há eco para as idéias inovadoras e se tem a tentação de se submeter àquilo que a sociedade acredita. Adotar alguma ideologia externa ou se transformar em um marginal social só fará a ferida ficar maior, como sempre. É no mergulho interno na própria mente, nas próprias ideologias, que se encontrará a ferida que não se cura no nível coletivo e que nos impede de sermos o que somos potencialmente. Estudar as várias sociedades humanas pode mostrar que cada grupo tem uma contribuição importante a dar ao todo, e então o “não se encaixar” perde a importância individual para ganhar a dimensão coletiva de que sempre vamos estar perdendo enquanto não respeitarmos as diferenças, que cada ser humano que morre em uma luta estúpida é um potencial a menos de crescimento que todos perdem. Carregar essa ferida na alma é sempre muito doloroso, mas pode ajudar a fazer com que da desilusão com a Humanidade nasça uma nova consciência coletiva, mais próxima das nossas novas necessidades.

Quiron em Peixes
Peixes traz o anseio emocional pelo retorno à Unidade, possível apenas através da transcendência daquilo que é individual em nós. Quiron aqui vai deixar bem claro que somos um barquinho sem motor em meio às tempestades de um oceano imprevisível. Não vai adiantar agarrar-se ao barquinho e se manter separado do todo, nem tão pouco se atirar ao mar e desistir da viagem. Aqui temos a ferida de Quiron, que não consegue se curar nem morrer. A dor só se alivia através do sacrifício da vontade pessoal, de modo a penetrar nesse oceano para compreendê-lo e não mais combatê-lo. Assim, tempestades externas podem ser reconhecidas internamente, e então acalmadas. Com isso, aprende-se a reconhecer e aproveitar os ventos favoráveis, a ter paciência nas calmarias, a ir mais fundo nas tempestades, acompanhando as tramas da vida com todo o seu caos e sofrimento. Se pode, então, deixar de ser a vítima da vida para ser co-criadora dela, pois podemos aceitar seus mistérios. Como disse o mestre pisciano, Jesus Cristo, quando a tempestade amedrontou seus discípulos, “porque esse medo, gente de pouca fé?” É só levantar-se, dar ordens aos ventos e ao mar para produzir a calmaria. A fração que somos carrega em si uma imagem preciosa do Todo, e a ilusão da separação tem que ser vivida sem se esquecer disso.

domingo, 7 de setembro de 2008

Quiron: A Visita do Sábio

Como já falei de Mercúrio quando tratei de Gêmeos, aqui vou expôr um pouco sobre Quiron, esse astro que chegou ao nosso sistema solar trazendo novidades do espaço exterior para astrônomos e astrólogos.
No dia 1 de novembro de 1977 o astrônomo americano Charles Kowal descobriu na constelação de Touro, entre Saturno e Urano, um pequeno corpo celeste muito brilhante e de cor avermelhada que recebeu o nome de Quiron. Primeiro os astrônomos o classificaram como asteróide, mas nos anos 80 descobriram que Quiron possuía uma névoa de gás ao seu redor e passaram a considerá-lo um cometa capturado. Mais tarde, com as observações do telescópio Hubble, verificaram que essa névoa de gás de Quiron estava firmemente preso a ele e não era empurrada para trás quando o corpo celeste se aproximava do Sol, como ocorria com os cometas. Além disso, Quiron era muito maior que um cometa comum, com cerca de 160 km de diâmetro (o cometa Harlley tem cerca de 10 km de diâmetro atualmente, para se ter uma idéia), e então criaram uma nova categoria de corpo celeste, os asteróide-centauros, que já possui cerca de 29 corpos registrados. Esse recém chegado também possui uma órbita bem excêntrica, se aproximando ora de Saturno, ora de Urano, em uma revolução em torno do Sol de aproximadamente 50 anos. Muitos astrônomos e astrólogos consideram Quiron um “visitante”, que não pertence realmente ao nosso sistema solar e um dia irá nos deixar como um cometa. Mas enquanto isso não ocorre, astrólogos estão constando influências muito interessantes desse asteroide-centauro nos mapas astrais.
Desde o avistamento de Urano constatamos que a descoberta de um novo astro está associado a alguma mudança na consciência humana. Como se trata de algo que surge do inconsciente e Quiron leva 50 anos para completar sua volta pelo zodíaco, ainda levará algum tempo para termos uma compreensão mais completa do seu real significado, mas observando o que estava acontecendo durante o fim dos anos 70 podemos começar a pensar a respeito. Em 1978 nasce o primeiro bebê de proveta, Louise Brown, e o vírus SV40 tem seu genoma determinado, começando a caçada atrás do genoma humano. A maioria dos astrólogos associam a chegada de Quiron ao desenvolvimento das terapias alternativas, da medicina natural e da visão holística da saúde com bases empíricas e científicas, diferente da visão holística do Renascimento, que o fazia sob uma base mais filosófica e mística. Isso mostra que Quiron nos trouxe uma necessidade de maior compreensão a respeito do que é o Ser Humano, penetrando em suas estruturas mais básicas.
A primeira questão que surge é a respeito de qual signo regeria o novo astro. Devido sua forma de centauro e sua condição de mestre, muitos associam Quiron a Sagitário, mas Júpiter ainda parece muito mais apropriado à natureza expansionista do mutável de fogo. Já vi argumentos ligando Quiron a Touro, por sua conexão com a natureza corpórea e instintiva, mas acho muito difícil ver na busca por prazer taurino, tão bem representado por Vênus, a dor e sofrimento de Quiron. E há aqueles que associam Quiron a Virgem, entre os quais tendo a me incluir. Além da associação mais imediata entre Quiron, a saúde e a sabedoria prática, o fato central que parece ligar o astro no mapa astral, a mitologia e a nova consciência que surge é a ferida criada por uma cisão entre nossa natureza corpórea e nossa busca por expressão divina, que também faz parte do processo de Virgem. Polêmicas à parte, para se saber algo sobre Quiron precisamos nos voltar para a mitologia tentando descobrir suas características arquetípicas, para então deduzir seus efeitos na astrologia e na carta natal.
Do grego Kheíron, seu nome significa “que trabalha ou age com as mãos”, que era a maneira como eram conhecidos os cirurgiões, e esse centauro era aclamado pelos poetas principalmente por sua capacidade médica. Filho de Cronos (Saturno) e de Fílira, uma das filhas de Oceano, Quiron é concebido quando o Titã assume a forma de um cavalo para se unir com a oceânida, e por isso a criança nasce com essa dupla natureza, metade humana, metade eqüina. Ao dar à luz, Fílira fica tão perturbada que roga aos deuses que a livrassem da responsabilidade pelo filho de qualquer maneira; e eles a atenderam levando a criança e transformando-a num limoeiro ou em uma tília, segundo outras versões. Educado pelos deuses, Quiron vivia em uma gruta, no monte Pélion, e se torna uma espécie de gênio benfazejo, amigo de deuses e homens. Sábio e mestre, ensinava música, mântica, arte da guerra e da caça, moral e, sobre tudo, medicina aos seus discípulos, sendo que todos os heróis, como Teseu, Jasão, Hércules e Asclépio, passaram por suas mãos. Ele sempre foi considerado um médico ferido - pela estranheza de sua forma, pela rejeição de sua mãe -, que compreendia seus pacientes por conhecer sua própria ferida. Mas é quando Hércules, sem querer, fere seu pé, que seu mito ganha a dimensão trágica que o caracteriza. Quando do massacre dos centauros feito pelo filho de Alcmea, Quiron acaba sendo ferido por uma flecha envenenada pelo sangue da Hidra, e, por mais que o centauro aplicasse ungüentos e tentasse utilizar seu conhecimento para se curar, a ferida se mostra incurável. Recolhido à sua gruta, ele deseja morrer, mas nem isso consegue, por ser imortal. Cheio de dor, Quiron roga aos deuses pela benção da morte, e eles concordam com que Prometeu, que nascera mortal e estava amarrado à uma pedra tendo seu fígado comido por ter dado o fogo aos Homens, fosse solto por Hércules e cedesse a sua mortalidade ao centauro, e assim ele pode finalmente descansar.
A primeira coisa que podemos tentar associar ao posicionamento de Quiron na carta natal, é uma maior sensibilidade à rejeição, onde fomos feridos ou machucados de alguma forma e que, através dessa experiência, obtemos uma sensibilidade à dor e um autoconhecimento que nos capacita a entender e ajudar os outros. Outra observação imediata é a respeito da dupla natureza de Quiron, metade humana, metade animal, que provoca estranheza e é a razão da perturbação materna. Simbolicamente todos nós possuímos esse conflito, entre uma natureza animal, física e instintiva - que fica doente, que tem necessidade básicas quotidianas, que tem raivas e paixões - e uma natureza humana ou divina, que se preocupa com a existência mais abstrata, que caminha pelas idéias e pela imaginação, que não se prende a espaço e tempo. Quiron pode estar mostrando, nesse sentido, onde a consciência de estar num corpo físico distinto, portanto com uma consciência separada da unidade total com a vida, pode ser conflituosa; ou seja, onde os desejos e anseios do nosso corpo terrestre e os impulsos da alma se encontram na forma de angústia. Em um livro sobre a formação do terapeuta - Poder e a Ajuda Profissional -, Adolf Craig afirma “que o paciente tem um médico dentro dele mesmo, mas (...) também o médico tem um paciente dentro de si”. Essa parece ser a melhor linha de raciocínio para a compreensão do Quiron na carta astral, onde ele é símbolo do curador que está em contato com a própria dor e fraqueza, e por isso é capaz de ajudar seus pacientes ao direcioná-los para o curador que existe dentro deles. Nas primeiras pesquisas sobre o novo planeta, muitas vezes ele foi encontrado com destaque em mapas de terapeutas e também em pessoas incapacitadas fisicamente que acabaram direcionando suas vidas para ajudar outras pessoas a superar as próprias limitações.
Outra característica do mítico centauro Quiron é a sua função de mestre formador dos heróis, não só quanto às habilidades práticas, mas também quanto à formação religiosa ou moral, ou seja ele era também um educador da alma. Isso nos faz pensar que uma das função do Quiron astrológico é de iniciador, fazendo nos passar por uma série de ritos que, assim como o futuro herói, fazem com que se adquira a indumentária espiritual necessária para poder enfrentar todos os monstros e criaturas que surgirão pelo caminho. Mitólogos como Junito de Souza Bradão, Joseph Campbell e Micea Eliade vêm nas histórias heróicas os reflexos dessa iniciação, onde temos coisas como o corte de cabelo, a mudança de nome, o mergulho ritual no mar, a passagem pela água e pelo fogo, a descida ao Hades e o penetrar no Labirinto, a hierogamia como alguns exemplos. Lembramos, então, que Quiron é um transaturnino, portanto um planeta que traz informações do inconsciente coletivo e nos mostra algo que vai além das ilusões individuais. Liz Greene observou que as crises e dificuldades da casa onde se encontra Quiron parecem estar totalmente fora do controle do indivíduo, e as mudanças que ocorrem em seus trânsitos e progressões acabam por expandir a consciência da pessoa que se encontra sob sua ação. Crise, para os chineses, é traduzida como uma combinação de perigo com oportunidade, pois envolve tanto elementos desconhecidos quanto a possibilidade de crescimento. A doença parece ser o fator mais freqüente nas crises regidas por Quiron, e geralmente o tipo de doença que pede uma compreensão profunda de suas origens e significados. É comum também crises religiosas e espirituais, e já se observou que algumas vezes Quiron está associado à morte dos pais. Essas coisas parecem estar ligadas diretamente à face de iniciador de Quiron. Nas iniciações sempre se perde algo - o cabelo, o nome de nascimento - e se é obrigado a enfrentar o medo - entrando no Labirinto ou indo ao Hades, mergulhando no mar ou atravessando o fogo - como formas de se adquirir uma nova personalidade capaz de enfrentar os perigos do caminho. Essa perspectiva simbólica mostra que os acontecimentos exteriores são mais reflexos de profundas transformações interiores do que causas, mas só podemos realmente compreendê-las quando a vivemos através de um acontecimento externo que transforma o padrão de vida. Quiron nos capacita a encontrar significado em nossas dores e sofrimentos de modo a nos tornarmos mais sábios, pois sentimos que há um profundo significado que precisamos entender para continuar caminhando. Com Quiron, porém, mesmo com esse aumento de consciência, a ferida, o buraco existencial que penetramos, não se fecha, e de tempos em tempos dói novamente e nos obriga a novo mergulho em nós mesmos. Esse processo de penetrar na nossa dor nos torna mais sensíveis à dor do outro, e desenvolvemos a verdadeira compaixão - que não tem nada a ver com pena - e podemos realmente ajudar o nosso próximo que sofre.
Certa vez li que o contrário de Morte não é Vida, é Nascimento: nascer e morrer fazem parte da Vida. Acredito que Quiron vem nos ensinar a vivenciar esses opostos sem julgamentos de valor, e isso pode nos ajudar a sair de uma existência dual em conflito para uma totalidade amorosa. Esse é o caminho para a Iluminação que anunciam os budistas, e talvez Quiron esteja nos fazendo trilhar o caminho do Bodisathiva, que fez o voto de, mesmo se iluminando, não entrar no Nirvana enquanto todos os seres não se iluminarem também, pois em sua Compaixão faz do sofrimento de todos os seres seu próprio sofrimento. Afinal, hoje sabemos que habitamos todos o mesmo planeta, e ou nos salvamos todos, ou nossa espécie pode ser extinta.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

As Deusas - Mitos Para Virgem

Assim como Buda tem seu nascimento colocado durante o trajeto do Sol em Touro e Jesus Cristo em Capricórnio, o Avathar com o Sol em Virgem é a Virgem Maria, que tem seu nascimento comemorado dia 8 de setembro. O elemento Terra é aquele que concretiza, que traz para o plano material, e por isso esses seres iluminados são representados por esses signos. Mas enquanto Buda e Jesus Cristo têm que passar por um longo processo para se iluminarem, Maria é “concebida sem pecado” e se “eleva aos céus” no fim da sua vida, sem ter que passar pela morte. A missão de Maria é trazer Deus ao mundo, servindo de veículo ao Deus que quer se materializar. No capítulo 12 do Apocalipse de São João, a luta final entre o Bem e o Mal é representado por uma “mulher vestida com o Sol e com a Lua debaixo de seus pés“, com uma coroa de 12 estrelas que envolve sua cabeça. Ela está grávida daquele que “regerá o mundo com cedro de ferro”, e que tenta escapar de um dragão com 7 cabeças, 10 chifres e 7 diademas sobre as cabeças. A mulher e a criança são perseguidos pelo dragão que, em uma batalha cósmica, é finalmente vencido pelos anjos de Miguel. A criança foi levada para o céu logo após o nascimento, enquanto a mãe encontrou abrigo no deserto. Não cabe aqui analisar toda a simbologia astrológica que envolve essas - e outras - passagens do Apocalipse, mas interpretações antigas do signo de Virgem o colocam como “parteira do Cosmos”, que dá à luz o redentor divino, se reportando à história da Isis Egípcia, que também possuía o título de Rainha do Céu (Regina Caeli), como Nossa Senhora, e através dessa associação essa luta fica muito mais clara. A representação de Isis sentada em seu trono tendo seu filho Horus no colo também serviu de modelo para as posteriores representações icnográficas de Maria como o “trono” de Jesus menino. Os mitos associados ao signo de Virgem remontam a uma consciência muito antiga do Ser Humano, e resurgem de tempos em tempos com novas roupagens.
Como se pode notar, a simbologia ligada a Virgem é mais complexa do que a simplificação superficial se vê nos almanaques astrológicos. As representações mais antigas desse signo estão associadas à Mãe Terra, às Grandes Deusas pré helênicas, de seios fartos ou muitos seios, bem distantes da idéia de castidade distorcida posteriormente. Na verdade, o conceito de virgindade não está ligado à castidade sexual e sim ao controle que mantêm intacto. Um bom exemplo disso é a estátua de Ártemis de Eféso, com cinqüenta seios, mostrando a deusa virgem como símbolo de fertilidade, como aquela que nutre. Antes da invasão patriarcal helênica, a Deusa Mãe Virgem era aquela que não tinha seus poderes e sua posição ligados a nenhum consorte, pois ela reinava sozinha oferecendo sua feminilidade a quem escolhesse: ela era esposa da vida. Dessas deusas maternais ligadas à Terra, Deméter foi a única que conseguiu sobreviver na Antigüidade, graças à ligação que o mito, seu e de sua filha Core, tinha com os Mistérios de Eleusis. Divindade da colheita, a filha de Crono-Saturno e Réia é essencialmente a deusa virgem do trigo, e seria a responsável pelo conhecimento que o homem adquiriu para cultivá-lo, colhê-lo e fabricar o pão. Os segredos e significados mais profundos dos Mistérios de Eleusis acabaram se perdendo, mas sabemos que seus iniciados buscavam a possibilidade de, ao morrer, descer ao Hades sem perder a memória, que, para os gregos, é a alma do Homem, e sem a qual ele se torna um eídola, um fantasma. Os virginianos, normalmente, possuem duas características básicas que podemos ver nesses fragmentos: uma independência desconcertante e uma memória significativa. Assim, é comum vermos pessoas com forte presença desse signo capazes de permanecer independentes mesmo quando casados, e que esquecem seu nome, mas não esquecem a história que você contou sobre o enterro do seu cachorrinho na infância. As vestais, sacerdotisas da deusa Vesta, senhora da fecundidade e da reprodução feminina, nos dá outra pista desse signo: elas eram conhecidas como prostitutas sagradas e eram designadas pelo termo “virgem”, em seu sentido original, pois não podiam se casar e, comprometidas com o serviço à deusa, tinham sua feminilidade dedicada ao propósito superior de trazer o poder fertilizador da deusa para o contato efetivo com a vida dos seres humanos. Nas estatísticas de Gauquelin, as prostitutas têm grande incidência de Virgem, seja através do Sol, do Ascendente ou da Lua. Partindo desses dados poderemos entender o que nos diz o mito de Deméter e sua filha Core/Perséfone, denominadas nos Mistérios de Eleusis simplesmente as Deusas
A deusa da colheita tinha uma filha de Zeus chamada Core, ou seja “a eternamente jovem”, que, mesmo depois de adulta, vivia como uma menina, inocente e feliz. Seu tio Hades/Plutão a vê e a deseja, raptando Core quando ela se aproxima de um narciso colocado na beira do abismo por seu pai Zeus. Deméter corre ao encontro da filha quando ouve seu grito, mas não encontra ninguém e se desespera, passando a vagar pela Terra em busca da filha. Hélio, o condutor do sol, que sabe de tudo que se passava sobre a Terra, compadecido da pobre e desesperada mãe, conta-lhe sobre a rapto feito por Hades e da ajuda que esse recebeu de Zeus. Magoada e se sentindo traída, Deméter se refugia em um de seus templos e abdica de suas funções divinas, enquanto não devolvessem sua filha. Com isso a Terra perde sua vegetação, as colheitas se interrompem e o equilíbrio das estações acaba, gerando a fome entre os Homens. Zeus manda uma série de mensageiros à Deméter pedindo a ela que voltasse ao Olimpo, mas a deusa se recusava a voltar a conviver com os imortais e a permitir que vegetação crescesse. Vendo que a ordem do mundo estava em perigo, Zeus ordena que seu irmão Hades devolvesse Core. O senhor dos mortos tem que se curvar à vontade soberana do irmão, mas antes faz com que sua amada coma uma semente de romã - símbolo da sedução e da fertilidade -, e com isso a transforma em Perséfone, sua esposa e rainha, o que a obriga a ter que voltar para seus braços. É feito, então, um acordo, onde Perséfone passaria quatro meses com o esposo e oito com a mãe. Reencontrada a filha, Deméter retorna ao Olimpo e a Terra volta a florir. Antes de regressar, porém, as deusas ensinam seus mais profundos segredos ao rei Céleo e seus filhos, que abrigaram Deméter no templo construído em sua homenagem, nascendo, assim, os Mistérios de Eleusis.
O virginiano, homem ou mulher, vive uma relação complexa consigo, dominada principalmente pela figura materna, pois, logo que nasce, tem uma sensibilidade inconsciente para a relação corporal dessa mãe, em uma fase difícil fisicamente, cheio de mudanças, desgostos e depressões. Isso acaba por cindir profundamente esse signo, pois a forte sensualidade típica dos signos de Terra é bloqueada por uma sensação de inadequação. Como resultado, Virgem desenvolve uma racionalização que o afasta das vivências corporais, tentando, com isso, se manter imune aos apelos da vida. Com isso ele acaba dificultando o amadurecimento da sua sexualidade e de seu emocional, sendo comum encontrarmos pessoas adultas desse signo com um raciocínio brilhante, um físico saudável, mas com uma inocência de adolescente no campo afetivo. É desconcertante quando vemos essa criança que tem medo da vida por baixo da máscara adulta racional de Virgem. Mas sempre chega um momento do destino desse signo em que a vida, como Hades, irrompe do abismo e o obriga a enfrentar a experiência vital de forma mais plena, pois, assim como Core tem que se transformar em Perséfone, o virginiano tem que amadurecer plenamente para ser o adulto autônomo que almeja. O custo da recusa de crescimento geralmente é uma fase desértica que esse signo tem que passar, onde as coisas perdem o sentido e a capacidade de criar parece ter desaparecido. Podemos observar que homens e mulheres com forte influência de Virgem passam por três fases de amadurecimento: na primeira mantêm-se distantes da própria capacidade de amar e viver, tendo como pano de fundo um alto grau de crítica e de afastamento das próprias sensações corpóreas que fazem com que a pessoa duvide de si mesma e se incline para relações do tipo “muito trabalho e pouca paga” - seja na área profissional ou emocional-afetiva; a força da deusa, porém, pressiona por manifestar-se, levando esse signo a vivenciar o que Freitas chama de “papel da Sereia”, quando acaba se envolvendo num ritual narcísico de sedução em que o amor se confunde com desejo e não se consegue diferenciar a sua capacidade de amar do desejo que tem de que os outros o satisfaçam - por isso a analogia com as Sereias, seres míticos com corpo de mulher e rabo de peixe que passavam a vida a se olhar no espelho e a cantar para seduzir os viajantes, que acabavam morrendo nos rochedos na tentativa de amá-las; o amadurecimento virginiano virá quando houver coragem para passar pela terceira fase, onde entra em cena a sacerdotisa a serviço da Deusa, capaz de vivenciar a sexualidade e o instinto como coisas sagradas e cuja experiência é inestimável. Só aí Virgem conseguirá desempenhar seu verdadeiro papel de “parteira Cósmica” e fecundadora, apresentando-se como Ishtar (deusa Babilônica análoga a Deméter/Perséfone): “Uma prostituta compassiva eu sou”, pois compaixão é a verdadeira força de purificação que percorre esse signo, e é o que Virgem descobre ao se transformar em Perséfone. Aí sim ele conseguirá, em suas tentativas de ordenar e sintetizar o mundo, fazer a transmutação alquímica da vida. E a vida, se descobrirá no afinal das contas, é ele mesmo.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Virgem, O Purificador Do Zodíaco


“Eu sei que se tocasse
Com a mão aquele canto do quadro
Onde um amarelo arde
Me queimaria nele
Ou teria manchado para sempre de delírio
A ponta dos dedos.”

Ferreira Gullar - Poeta virginiano

Virgem e Escorpião são os signos que receberam mais rótulos errôneos em suas definições. Uma delas é de que virginianos são perfeccionistas, mas perfeição é uma idéia, portanto uma motivação de Ar. Esse é o signo de Terra Mutável, regido por Mercúrio e exílio de Netuno, onde Urano se exalta e a Lua está em queda. Essa regência mercuriana e exaltação uraniana mostram que esse é um signo que se dá bem com idéias e ideais, mas a queda lunar e o exílio netuniano mostram também que ele está bem longe de se sentir confortável com coisas muito emocionais ou nebulosas. Você conhece a piada do virginiano e do pisciano que encontram um bêbado sofrendo na sarjeta? Os dois sentem a mesma compaixão, mas o pisciano vai sentar com o bêbado e chorar junto, enquanto o virginiano vai encher o pobre coitado de livros de auto ajuda. Virgem aceita a realidade mundana como ela é como seus irmãos terráqueos, Touro e Capricórnio, o que nenhum perfeccionista jamais aceitou. Detalhista seria uma melhor palavra para definir esse signo. Ouço muitas pessoas - inclusive virginianos - reclamando desse gosto por detalhes, que teoricamente faz as pessoas desse signo perderem a noção do todo. Isso também não é uma verdade a priori, apesar de ser um risco real para muitos. Virgem adora detalhes, e isso significa que ele verá a beleza e a delicadeza do pequeno brinco que você está usando ou a elegância do seu discreto prendedor de gravatas, mas também que você saiu de casa sem passar a camisa direito ou que você comeu algo com molho, pela pequena mancha em sua roupa. Mas ele não irá julgá-lo nem pelo brinco nem pela mancha na roupa. Parece que Virgem olha para o mundo como se ele fosse um grande quebra-cabeças, e para encontrar os encaixes é necessário estar atento aos detalhes. Esse é a razão também da incrível memória desse signo. Outra coisa que os manuais astrológicos gostam de dizer é que Virgem tem mania de limpeza, quando temos muitos virginianos capazes de deixar a louça de uma semana sobre a pia e os móveis cheios de pó, enquanto estão tentando resolver alguma questão interna. É verdade que uma casa organizada, uma conta bancária equilibrada e uma cozinha limpa podem fazer um virginiano rir à toa, mas essa não é sua motivação básica. A energia fundamental de Virgem está em sua busca por discriminação. Assim como Sagitário, que tem sua energia impulsionando-o para o conhecimento do Homem, acaba se tornando um viajante ou um professor, por exemplo, o virginiano, em busca da discriminação das coisas, acaba se tornando um organizador.
Ninguém discrimina mais do que Virgem, e isso quer dizer que um simples “sim” ou um simples “não” não serão suficientes, pois esse universo preto ou branco é simples demais, e para esse signo raramente as coisas são simples. Alguns astrólogos colocam Virgem como o guardião e purificador do zodíaco, pois ele busca a síntese e a ordem que criam a consciência. Isso pode ser observado no discernimento com que ele faz suas escolhas, seja de amigos, amores, comida, idéias ou sonhos. Síntese é outra palavra chave para entender Virgem, pois ele está sempre tentando juntar coisas que parecem diferentes, compatibilizando fatos, idéias e aspectos da vida que a maioria poderia considerar excludentes. Tanto a compulsão quanto a doação virginianas residem nessa necessidade de síntese. Tudo tem que se ajustar, combinar, e isso implica em descobrir onde as coisas se encaixam, o que Virgem tenta dando nomes, aprendendo, catalogando, classificando. Mercúrio dá a Virgem, como a Gêmeos, um grande interesse pelo conhecimento e pela comunicação, mas enquanto Gêmeos gosta de saber de tudo um pouco só pelo prazer de saber, para Virgem o conhecimento tem que ser útil, e isso pode torná-lo arrogante e até intratável. A cada nova experiência ele vai se perguntar como sintetizá-la, para poder manejá-la, e depois como utilizá-la. Se não consegue alcançar a síntese ou ele dirá que ela não existe ou sairá correndo atrás de nomes e definições que a classifiquem. Se ele não consegue utilizá-la, a descartará como algo que não é prático. Isso pode ser bem triste, quando o virginiano resolve deixar de lado pessoas, idéias, carreiras ou outras coisas relacionadas à beleza e até ao amor por achar que não são aplicáveis àquilo que considera a realidade. Aí sim Virgem se transforma naquele tipo para quem a vida é só trabalho e tarefas maçantes, passando o dia a limpar cinzeiros, vendo o mundo com olhos cínicos e doentios. Quando encontrar um virginiano assim, você pode chorar.
Observando pessoas com forte presença em Virgem vemos que algumas delas podem até se mostrar obsessivas em sua necessidade de ordem e limpeza externas, mas todas têm uma tendência muito mais forte a ser obsessivos em sua ordem e limpeza emocionais. Isso pode transformá-los em grandes controladores de si mesmos, que nunca deixam transparecer sua fraqueza ou carência, e os torna muito sensíveis a críticas. O mesmo impulso que se externaliza com um ataque histérico se a camisa azul está no lugar das vermelhas, faz com que essa criatura analise tudo freneticamente para que não transpareça nenhum ferimento psíquico ou emoção “fora do lugar”. Esse impulso pode ser chamado de medo do caos. Virgem tem uma consciência profunda de todo o caos, desordem, sensibilidade emocional, romantismo e imaginação que sua alma abriga, mas acha que tem de lutar contra isso para poder tolerar a incerteza e a vacuidade das pessoas e do mundo que o rodeia. Por isso Virgem pode ser muito duro e rude - não há signo mais disposto a falar “não” - pois essa é a forma que tem para se proteger do mundo, assim como sua insistente compulsão em se ligar à realidade prática ajuda-o a fugir do que é místico em sua alma. Ele sabe que sem fronteiras bem delimitadas começa a autodesintegração, mas se não reconhecer que o que é útil nem sempre é vital e significativo, e que brincar, jogar e até se enganar faz parte da vida, ele nunca vai conseguir nem se equilibrar nem entender realmente a vida. A Alma virginiana busca autonomia para poder servir ao mundo como um veículo íntegro, mas tem que amadurecer para perceber que isso não tem nada a ver com a solidão que suas neuroses e medos o prendem.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Astrologia de Boteco Com Teto Solar: Encontre a Casa Onde Mora Seu Sol e Descubra Onde Está Sua Vida Heróica

Como a cada mês tenho falado de um dos signos de maneira um pouco mais profunda, nesse papo de boteco vou experimentar falar do posicionamento desse astro por casa astrológica. A casa em que se encontra o Sol indica onde temos mais necessidade de nos distinguirmos e em que área da vida precisamos nos separar dos comportamentos condicionados através da construção de nossa própria identidade. A expressão única do Sol dependerá, também, dos aspectos que tem com os outros planetas, com o ascendente e com o MC, o que deve ser levado em conta quando vamos tentar entender mais sobre nossa conexão solar.

Sol no Ascendente
Quando o Sol está no ascendente, o ambiente da primeira infância geralmente é sentido como dando apoio aos desejos da pessoa, de forma que ela consegue expressar sua individualidade de maneira expontânea. Há um forte impulso para ser notado, respeitado e reconhecido pelos outros, além da tendência a se colocar como líder. É essencial que se assuma a responsabilidade de revelar seu proprio caminho na vida, determinando de forma clara o que deseja obter e perseguir essa visão com persistência e determinação. Esse posicionamento dá grande carisma - é como se tivesse o Sol na testa - criando um temperamento animado e com grande vitalidade física, se não houver nenhum aspecto muito tenso. O desenvolvimento desse Sol geralmente passa por perseguir o sucesso pessoal, mas o principal desafio será cruzar o abismo entre os sonhos infantis de ser especial e importante e o nível real das verdadeiras realizações, onde se é único e importante pela contribuição criativa que se dá ao mundo. Como simbolicamente o ascendente mostra a maneira como o nosso heroi é "treinado" pela vida, se o signo do Sol e do Ascendente forem os mesmos, esse treino é mais natural e direto, mas se os signos são diferentes, o heroi tem que aprender a utilizar as armas dadas pelo Ascendente para expressar sua individualidade, o que irá exigir mais consciência e trabalho (certo, Léo?).

Sol na Casa II
As questões materiais serão predominantes e a segurança financeira será uma forma de definir a identidade e um canal para a auto-expressão. Porém, a transferência das necessidades de expressão para bens materiais nunca é plenamente satisfatória e a pessoa acaba tendo que buscar a riqueza interior, que pode ser refletida através de suas qualidades, talentos e habilidades pessoais. Será através da utilização consciente desses recursos internos que ela poderá desenvolver um senso de identidade única e atrair os recursos materiais necessários para a realização de seus talentos. É necessário um esforço consciente para definir as verdadeiras necessidades e valores para que comece a se sentir menos inseguro e pare de ficar “inventariando” o que tem, e passe a estabelecer alvos e desejos verdadeiros a serem realizados, empregando todos os recursos, externos e internos, para atingi-los. Para isso é necessário construir uma auto-afirmação genuína, sem se desviar dos esforços de desenvolvimento pessoal, seja através do apoio nos recursos dos outros, seja utilizando a riqueza para exercer domínio sobre as pessoas e garantir a presença da platéia.

Sol na Casa III
Os potenciais desse Sol são revelados através do desenvolvimento mental, intelectual e da habilidade para se comunicar. O prazer e o estímulo para ser único virá da troca de idéias, criando preciosas perspectivas pessoais. É necessário um empenho e uma responsabilidade pessoal para que o potencial de clareza e eloqüência intelectuais se desenvolvam e a pessoa consiga iluminar conscientemente suas relações e comunicações pessoais. A mente das pessoas com esse posicionamento de Sol tende a manifestar uma atitude científica, voltada à exploração do mundo, embora haja uma necessidade interna, nem sempre compreendida, de se estar entendendo os processos de funcionamento da vida como um todo. O amadurecimento desse Sol requer abertura para a variedade de expressões individuais e o compartilhar daquilo que sente e sabe, seja através de informações, de conhecimento ou de compressões, de si e do mundo, pois isso será importante não só para a própria pessoa, que ficará mais consciente de si mesmo e evitará as armadilhas da arrogância intelectual que paralisa o crescimento, como também para as outras pessoas, que aprenderão e crescerão com essa troca.

Sol na Casa IV
A procura da própria identidade passa pelas raízes, pelas heranças familiares, os padrões ancestrais e a vida em família. É exigido da pessoa uma iluminação consciente das raízes criativas através da investigação e integração interiores. O Sol no Fundo do Céu precisa se diferenciar e afirmar no meio dos fortes condicionamentos infantis e das poderosas tradições familiares, de modo que ela consiga criar um espaço para fincar suas próprias raízes, únicas e luminosas, de modo livre e sem culpa. Com esse posicionamento há uma enorme necessidade de vida familiar, e o desafio é criar independência para adquirir uma percepção do sentido e propósito da vida, do contrário as mudanças na composição familiar e nos relacionamentos entre os membros da família - como filhos que crescem, pais que morrem, irmãos que casam - desestruturam toda a consciência da pessoa. Quando se consegue libertar dos primeiros condicionamentos ou se encontra um caminho que obrigue a redefinir seu senso identidade, então a pessoa passa a olhar para as suas raízes verdadeiras - fruto da existência de todos os seus ancestrais mas com características que só ele pode dar - e é possível olhar para as bases da infância como o que realmente são: o berço de onde viemos com o objetivo de construirmos uma vida adulta bem sucedida e para permitir que a individualidade se desenvolva. Quando essa consciência se forma, então se para de gastar energia para seguir o caminho socialmente aceito ou planejado pela família e se vai em busca do prazer do próprio caminho.

Sol na Casa V
Aqui o Sol está “em casa”, e a busca pelo prazer e pelo romance é que o faz se desenvolver. A criatividade artística - sob forma intelectual, emocional ou material - são importantes para a auto-expressão e também um canal das energias desse Sol. Esse tipo de posicionamento solar cria emoções ardentes, intensidade e alegria de viver. É importante que a pessoa se sinta criativa em qualquer coisa a qual se dedique, pois isso é que lhe dará uma auto imagem positiva e um papel social que realmente influenciará o mundo, através de suas ações e também de seu entusiasmo. A motivação básica, que faz a pessoa empreender sua aventura, é a busca de satisfação pessoal. Como acaba se sobressaindo por puro entusiasmo, corre o risco de criar personagens que “agradam ao público” e terá que enfrentar o perigo de perder sua totalidade para os seus aspectos mais aceitáveis. Sendo a possibilidade de desenvolver a totalidade que lhe dá tanto amor à vida e carisma, esconder alguns aspectos da consciência traz conflitos e insatisfação, apagando o entusiasmo e afastando a platéia, obrigando a ser mais reflexivo em suas ações. Existe uma eterna criança brincalhona com o Sol na V, que deve aprender a ser livre e participar inteira da vida.

Sol na Casa VI
A direção na vida e o senso de realização podem ser descobertos através do envolvimento com o trabalho, a saúde e o serviço, e se dedicar a essas áreas ajudará na definição de seu senso de identidade única, pois proporcionará canais para uma expressão pessoal. O desenvolvimento de rotinas e padrões de organização poderão proporcionar uma estruturação positiva e produtiva na vida. As questões psicossomáticas serão ricas fontes de informação para o auto conhecimento, pois a vitalidade estará fortemente ligada à integração corpo-espírito, e a pessoa tem que aprender , mais cedo ou mais tarde, a respeitar o veículo físico de sua existência. O Sol na VI faz com que a pessoa busque desenvolver suas habilidades e competência de modo a ocupar um lugar ativo no mercado de trabalho e, assim, ter um sentido de valor pessoal e de distinção. Como todo Sol, porém, o objetivo desse não é fazer os outros aplaudirem e sim criar luz própria, consciência de si, e aqui o resultado final deverá ser o aprendizado da arte de viver um dia após o outro, o que poderá ser feito com tanto gosto e sutileza que causará admiração. Como diz o ditado zen, “antes da iluminação, carregue água; depois da iluminação, carregue água”, e esse é um aprendizado importante para essa localização solar.

Sol na Casa VII
Esse Sol irá se desenvolver através dos relacionamentos, das associações e das parcerias, amorosas ou sociais. Participar de atividades conjuntas trará canais de expressão para a autodefinição de modo mais claro. O processo desse Sol geralmente se inicia com o encontro de alguém que serve de modelo para a própria modelagem. Posteriormente a pessoa acrescentará as forças e qualidades inatas através de sua participação ativa na interação social. Há o perigo da pessoa evitar o próprio desenvolvimento se escondendo atrás da identidade de outra pessoa, procurando alguém grande e forte que lhe diga o que deve fazer de sua vida, como uma tentativa de viver o princípio solar através do outro. Mas como essa tática se mostra sempre improdutiva e decepcionante, não consegue sobreviver muito tempo, e a pessoa acaba tendo que assumir as suas responsabilidades e enfrentar seus próprios desafios na construção dos relacionamentos. Aí sim, a pessoa vai aprender a ser única com a ajuda do outro, o que fará com que todos que a ele se associem fiquem maiores e mais bonitos também.

Sol na Casa VIII
Os relacionamentos que expõem paixões ocultas e esbarram em emoções primárias não resolvidas fazem parte do processo desse Sol crescer e se desenvolver. A oitava casa cria um grande interesse por tudo que está oculto ou é misterioso na vida, e o Sol aí tem que aprender a mexer em casa de marimbondo. A vida se mostra de forma intensa para esse Sol, e às vezes ele pode temer as percepções e sentimentos que o transpassam, fazendo-o resistir a uma intimidade mais profunda com a vida e rejeitar o próprio potencial de transformação. Aqui é necessário que se desenvolva coragem para explorar os próprios objetivos da vida, então as tensões se dissolverão através da auto-expressão consciente, e os relacionamentos deixam de ser um campo de batalhas para se tornar a base para o crescimento e para o prazer, já que a necessidade de união se transforma em intensificação positiva da vida. Para que esse Sol brilhe é necessário que a pessoa crie consciência da ânsia humana de nos reunirmos a algo maior que nós mesmos através do amor por outro ser humano e, com esse objetivo, ele aprenderá a se expandir e transcender seus limites emocionais que criam o separatismo e isolamento que o desvitaliza.

Sol na Casa IX
Ao aumentar a compreensão e a perspectiva da vida - seja através de viagens, leituras ou pesquisas filosóficas - esse Sol se vitaliza e potencializa. A jornada do Sol nessa casa atravessa diferentes grupos, religiões, filosofias e estudos para criar uma visão pessoal da verdade que, ao ser compartilhada com os outros, criará seu senso de identidade e sua distinção como ser único. É através da descoberta dos padrões básicos da vida que esse Sol ganhará inspiração e incorporará sua própria sabedoria. Mas tudo que esse Sol aprender em seu caminho tem que arrumar expressão para ser compartilhado, pois também será útil para os outros e só terá significado real se puder ser passado para frente. O grande aprendizado aqui é no sentido de conseguir trazer os grandes significados da vida para a realidade do aqui-agora, para que as descobertas feitas nos aspectos mais abstratos da vida possam orientar seus compromissos pessoais e iluminar a vida mais mundana.

Sol no Meio do Céu (Casa X)
O foco da identidade se volta para a carreira, as conquistas profissionais e o status social. O Sol aqui expressa seus potenciais na busca do reconhecimento de suas habilidades únicas. Existe muita pressa em ser admirado como alguém, criando impulsos ambiciosos que levam a pessoa a querer realizar seu propósito de vida rapidamente. Na luta para concretizar suas ambições, esse Sol acaba desenvolvendo auto disciplina, perseverança e habilidade de concentrar sua vontade e sua energia para atingir certo grau de realização e admiração. O ideal desse Sol é tornar a pessoa centrada, expressando suas forças e qualidades de modo direcionado, pois isso é que pode torná-la fonte de inspiração e de autoridade. Essa inspiração interna pode ser facilmente confundida com uma simples posição de destaque, que reluz como se fosse o resumo de um sonho, mas que é apenas ilusão, verdadeiro “ouro de tolo". Quando esse desvio é tomado, e o sentido de identidade ou de valor pessoal se prende demais a títulos ou posições sociais, a vida da pessoa se torna limitada e a desvitaliza, fazendo-a perder o sentido da vida se essas coisas lhe são tiradas. Em algum momento da vida esse Sol fará com que a pessoa perceba que seu poder vem dela mesma e não da necessidade que tem da admiração dos outros.

Sol na Casa XI
Aqui o Sol se desenvolve na participação do grupo, na busca contínua de progresso social e cultural. A consciência se volta para a interação entre individual e coletivo, criando grande sensibilidade aos sofrimentos injustos de homens, animais e da natureza. Isso faz com que a criatividade, com o tempo, acabe se vinculando à consciência pública e às soluções alternativas dos conflitos do grupo. As amizades têm grande importância para o desenvolvimento da personalidade e os esforços para construir a própria identidade estarão vinculados às suas aspirações e metas coletivas. É importante que as pessoas com esse posicionamento solar façam um esforço consciente para estabelecer metas praticáveis quando se sentem inspiradas, pois será nesse esforço para a realização concreta que formarão um sentido de identidade, propósito e poder. O mais importante ingrediente para a própria realização e a própria cura é ter uma razão para viver, criando uma função pessoal e interiormente ditada. Esse Sol se alimenta com a esperança que tem na transformação social e na capacidade que temos de viver juntos de maneira harmônica, e tem que viver essa transformação internamente para poder mostrar como se faz.

Sol na Casa XII
Há um paradoxo nesse posicionamento, pois o Sol estabelece, esclarece e desenvolve uma identidade separada e única e a casa XII trabalha no sentido de dissolver, desestruturar e subverter as fronteiras individuais. Aqui há um conflito que requer da pessoa o desenvolvimento do sentido de identidade para além da conscientização normal: o ego e a vontade tem que desempenhar seu papel de servidor da alma. Na jornada heróica da casa XII a pessoa tem que aprender a manejar o limite sutil entre o que é pessoal, individual e consciente, e o que é universal, coletivo e inconsciente, e isso significa ter que gastar muito tempo consigo mesmo. Enquanto na casa IV o inconsciente é revelado através da família e na casa VIII através da intimidade com o outro (as outras duas casas em que o Sol tem que mergulhar em águas inconcientes), na casa XII a pessoa tem que se conscientizar sozinho. Durante o processo de formação do ego, há uma luta feroz para impedir a entrada de qualquer coisa mais vaga, irracional, mística ou transpessoal. Mas, quando chega a noite, tudo o que foi afastado da consciência invade os espaços, e geralmente sob formas assustadoras. O resultado disso costuma tomar a forma de conflitos de identidade, doenças e um estranho e dolorido sentimento de ser rejeitado, o que acaba levando a pessoa ao isolamento e à voltar sua atenção ao que ocorre em seu interior. Só quando se aceita conscientemente as correntes inconscientes, buscando uma expressão criativa para essas forças, será possível a esse Sol a sua realização, que implica uma coabitação entre o pessoal e o universal e uma profunda amizade entre o herói e seu Deus.

sábado, 2 de agosto de 2008

O Caminho do Sol

A primeira postagem desse blog foi sobre o Sol, introduzindo a visão daquilo que pretendia falar aqui. A astrologia que faço busca exatamente o caminho para desenvolvimento do Sol, pois é lá que encontraremos nossa Luz e nossa capacidade amorosa mais profunda. Agora vamos tentar entender mais desse astro que, em seu caminhar anual, nos trás as estações do ano, os tempos de recolhimento e de exposição, organizando o calendário de nosso planeta. Esse mês ele está "em casa", iluminando a área de nossa vida em que temos o signo de Leão e, portanto, onde também estamos aprendendo a sermos nós mesmos.
O Sol ocupa 99,8% do nosso sistema, e mostra, na astrologia, nossa essência básica. Quando agimos de modo solar, estamos em harmonia conosco internamente. A palavra “sol” deriva do latim “solus”, que significa o Único, e a sua posição, por signo e casa, nos mostra como nos sentimos únicos e centro de nós mesmos. Uma das mais antigas representações do Sol é a da realeza, e o rei era tido como a incorporação terrena da divindade, ou seja, seu papel de governante era exercido juntamente com o papel de pontífice, o “construtor de pontes”, que fazia a mediação entre o céu e a terra. Enquanto o ascendente nos fala da forma que tomamos no mundo, da porta de entrada na nossa casa, o Sol dirá o que encontraremos lá dentro, portanto não é o que reconhecemos quando conhecemos alguém superficialmente. O ascendente, nesse sentido, é como um guia que nos acompanha em nossa jornada pela vida e nos leva a aprender certas lições e assimilar certos atributos que nos auxiliarão a nos tornarmos aquilo que é representado pelo Sol. Podemos dizer que o ascendente é o caminho onde encontraremos mais perspectivas e onde somos treinados a partir daquilo que encontramos na vida. Já o Sol nos mostrará quem trilha esse caminho, o herói que estamos tentando nos tornar. Os potenciais, as dificuldades, os dilemas e as experiências do Sol são dados pelo signo em que ele se encontra, e, conforme o tempo passa e ocorrem as transformações fisiológicas e psicológicas que as idades trazem, nos tornamos mais integrados ao signo solar.
Como vimos, a Lua simboliza uma dimensão inata e instintiva da personalidade, que tem como meta consciente o desenvolvimento de objetivos no mundo que garantam a segurança e a auto preservação, possuindo uma natureza regressiva que nos atrai para o passado e para o vínculo mãe-filho - já que nossas necessidades emocionais e corporais básicas não se alteram em sua essência. Em contraposição, o Sol simboliza nossa dimensão progressiva, sendo o princípio ativo e dinâmico que se desenvolve ao longo da existência sem nunca acabar de se desenvolver. Esse é o aspecto da personalidade que está sempre em processo de vir a ser, de rumar para um futuro. O herói sempre está representando um mito solar, pois sempre está prestes a se tornar algo. Não se nasce automaticamente herói; é preciso passar pelo processo de transformação para se tornar rei e também um veículo adequado para os deuses que são seus verdadeiros pais.
A primeira característica que encontramos no herói, portanto, é que ele é um “híbrido” de deus e mortal, o que sinaliza seu destino de pontífice. Na infância o herói não conhece sua verdadeira filiação, e acha que é igual aos outros, apesar de uma estranha sensação de ser diferente e da intuição de que um destino também diferente o aguarda. Um dos principais temas da jornada do herói é a descoberta de sua verdadeira origem, que é ao mesmo tempo mortal e imortal. Nesse tema mítico podemos notar um profundo sentido de dualidade, onde a dinâmica é dada pela convicção de que não somos feitos apenas de terra e fadados a comer, procriar e morrer; ou seja, de que não temos apenas uma natureza lunar, pois cada um de nós é especial, único, e tem um destino pessoal, uma contribuição individual a dar para a vida. O Sol em nós sente que há uma busca a se iniciar, uma jornada na direção do futuro desconhecido, um mistério profundo no núcleo do “eu”. Nossa face solar não se sente sujeita aos ciclos lunares e leis do destino ao qual têm que se submeter nossas naturezas, se recusando teimosamente a ser comum. A maioria das pessoas descobrem isso na metade da vida, quando a busca de segurança financeira, emocional e mundana parecem não trazer mais satisfação e a pessoa começa a pensar que deve haver um propósito maior para se estar vivo. Geralmente essa conclusão vêm de alguma crise que deixou um rastro de descontentamento e depressão, obrigando a pessoa a criar novas metas, difíceis de serem expressas em termos concretos, pois o Sol possui metas interiores, diz respeito à experiência da vida como algo especial e cheio de significados: o Sol nos diz que não somos coelhos, nem macieiras nem outra pessoa, mas sim nós mesmos e precisamos realizar nossos potenciais únicos. Podemos ignorar a força solar por nossa conta e risco, pois se não damos o salto solar e não oferecemos nossa contribuição única ao mundo, por menor que seja, estamos fadados ao incômodo tormento de um self não vivido, e teremos todas as razões do mundo para temer a morte, pois não teremos vivido de fato.
Outro elemento importante da jornada heróica é o fato dele ser invejado ou perseguido sem saber o motivo, às vezes pelo padrasto/madrasta, às vezes por um rei usurpador ou perverso que recebe a profecia de ser destronado pelo jovem herói, ou então por alguma bruxa ou ser mágico que resolve atrapalhar a jornada heróica. Podemos ver isso desde os mitos gregos até a história de Jesus Cristo. Esse tema da inveja e da ameaça do potencial que o herói representa para o governante estabelecido é algo que geralmente acompanha o despertar do Sol, pois a expressão especial e individual da natureza de alguém costuma despertar a inveja destrutiva dos outros e representa uma ameaça ao status quo. Muitas vezes isso é vivenciado através do pai ou da mãe real da pessoa, que fazem isso inconscientemente, pois a vida solar não vivida do progenitor se tornou amarga e invejosa, fazendo com que se experimente diretamente na infância essa perseguição do herói mítico. Se olhamos mais profundamente para nós mesmos, porém, descobrimos que o verdadeiro “inimigo” mora dentro e não fora de nós, por mais que cruzemos com ele no mundo externo.
O futuro herói pode se proteger por um tempo em sua mãe lunar, mas, mais cedo ou mais tarde, terá que aprender a lidar com o governador invejoso por sua própria conta, desenvolvendo certo realismo, já que a inveja faz parte da vida e da natureza humana, e nem sempre dá para sair correndo para casa e se esconder embaixo da saia da mãe. Assim é possível desenvolver firmeza, auto suficiência, “insight”, inteligência e amigos leais para sobreviver como indivíduo, senão se correrá sempre o risco de um regresso rastejante para o ventre materno através de mães substitutas que o protejam, como empregos insatisfatórios ou relacionamentos paralisantes, reprimindo assim seus próprios potenciais individuais para evitar o mundo lá fora. Em algum ponto do processo de crescimento, o herói recebe aquilo que Joseph Campbell se refere como “o chamado para a aventura”, seja através de uma intuição ou visão interna, seja através de uma aparente perturbação ou desastre externos, onde se olha a vida com um realismo e humildade que tocam a essência do ser. Quando o herói resolve empreender sua jornada, geralmente arranja um ajudante, ou recebe ajuda de divindades ou ainda recebe assistência de algum animal, que garantem o êxito da empreitada, confirmando o direito divino do herói: ele é posto à prova, mas recebe bastante colaboração - e não indiferença - para a conquista de sua meta. A questão da fuga e do erro pode fazer parte da história do herói - até Cristo pergunta se Deus não o abandonou. Apesar disso parecer uma fraqueza indigna do herói, retrata fielmente a maneira como as pessoas normalmente se comportam ao ouvirem a chamada heróica, pois parece que precisamos choramingar e sentir pena de nós mesmos um pouco quando nos preparamos para nos afastar do conforto lunar e atender as demandas de nossa essência. Como diz a piada judaica: “Obrigado senhor por fazer de mim um dos eleitos, mas não dava para escolher outra pessoa, só para variar?”. É possível não atender à chamada, mas o progenitor divino - a imagem mítica de algo maior, o “Eu Superior” que existe em nós - não vai nos deixar em paz só por que estamos com preguiça, e teremos sempre que pagar um preço por nos recusarmos a nos tornar nós mesmos, na maioria das vezes através de depressões, sensações insuportáveis de fracasso e um vazio profundo.
O herói realiza sua tarefa por ser compelido de dentro para fora. Se ele fizer isso apenas para agradar aos outros, por mais humanitário que possa parecer sua ação, vai acabar encrencado, pois não está sendo sincero consigo mesmo. Essa busca deve ser feita por causa da pressão interior, não para que as pessoas nos amem. Contudo, no ato de se tornar um indivíduo ele está dando sua contribuição aos demais. O Sol pode parecer profundamente paradoxal, pois quando nos tornamos nós mesmos temos muito mais a oferecer do que se nos esforçássemos para tentar salvar o mundo como forma de compensar um vazio interior. É dessa forma que o herói é capaz de atingir o que Campbell chama de “Travessia do Limiar”, onde encontramos alguma coisa bem desagradável que quer nos impedir de atingir nossas metas heróicas. Cada mito irá descrever o Inimigo, o Guardião do Limiar, de formas típicas, podendo ser um irmão sinistro, uma mulher fatal, a bruxa malvada, um monstro, dragão ou gigante. Cada uma dessas imagens tem seu significado próprio que pode ser associado com os aspectos e posicionamentos solares, e mostra o tipo de lutador que precisamos ser para vencer nosso próprio lado sombrio: às vezes precisamos matar a bruxa representada pela Lua que quer nos engolir, ou vencer as tentações geradas por Vênus, ou então vencer o monstro de nossos instintos cegos e primitivos ligados a Marte, ou nos livrarmos da prisão saturnina que impede de nos revelarmos ao mundo. Aspectos do Sol com planetas transaturninos costumam representar transformações muito profundas no trajeto heróico, assim como em muitos mitos vemos que às vezes o herói deve morrer para conseguir a ressurreição e a transformação necessária, como Jesus Cristo ou Dionísio. Diversos fatores do mapa astral podem descrever o dilema dessa travessia, inclusive o próprio signo e casa do sol, pois há tanto virtudes como fraquezas em cada um dos signos. Só depois desse enfrentamento é possível receber o prêmio ou tesouro que aguarda o herói. Esse prêmio pode ser uma jóia, a água da vida, a fonte da imortalidade, o domínio do reino, a mulher amada, o dom da cura ou da profecia, e também está ligado simbolicamente ao posicionamento solar. Sempre é algo altamente individual, que tem grande valor para aquele herói específico. O Sol, como corporificação do herói mítico, luta pela recompensa final guardado em um núcleo indestrutível de identidade que justifica e convalida a existência: o herói e seu premio são, na verdade, a mesma coisa, pois o tesouro é seu lado divino oculto em sua vida mortal. Por mais terrivelmente abstrato que isso possa soar, o sentido inerente de sermos um “eu” real e único, sólido e indestrutível é algo precioso e mágico, além de ser obtido a duras penas.
No estado nu e cru do “Eu Sou” não há uma casa para se voltar nem uma coletividade que possa nos oferecer um paliativo para nossas dores, e essa é a razão pela qual o Sol começa a emergir de fato na meia idade, quando a pessoa está suficientemente forte e formada para enfrentar o desafio. O problema da solidão, que sempre acompanha qualquer manifestação do self individual, é o significado mais profundo da travessia do limiar no mito heróico. Outra coisa que o herói sempre encontra no final de sua jornada é seu verdadeiro pai, que também sai redimido do mito, pois assim como a Lua representa a mãe arquetípica com a qual compartilhamos nossos instintos, o Sol reflete a visão essencial que compartilhamos com o pai arquetípico, no nível criativo que só pode frutificar após gerações de busca solar. Sendo a solidão e inimizade do coletivo o equivalente emocional aos perigos que defronta o herói, podemos perceber que a culpa - e o medo da represaria que a acompanha - é a principal manifestação de nossa dificuldade em roubar o elixir da vida que exige nossa jornada heróica, pois há algo ilícito em nos tornarmos nós mesmos, e quanto mais nos sentimos separados da coletividade, maior nossa sensação de culpa, que pode se tornar tão grande a ponto de nos paralisar como estatuas de sal. O furto da árvore da vida é um profundo rito de passagem, e uma vez consumado, as coisas não podem voltar a ser como antes, e esse é uma realidade que muitas vezes nos amedronta. Várias vezes na vida temos chamados heróicos para atender, e várias vezes temos que abrir mão do conforto do lar e da identidade com o grupo, e enfrentar os guardiões dos limiares coletivos, pois as ameaças que sentimos de represária não é mera paranóia, já que o coletivo retruca de fato, e precisamos ficar atentos para perceber que tudo aquilo que está sendo mostrado fora tem sua representação mítica interna, pois todos esses personagens estão dentro de nós.
Nunca concluímos totalmente nossa jornada heróica, pois sempre estamos tendo desafios para nos tornarmos nós mesmos. Mas, assim como Apolo no panteão grego, uma das funções do Sol é desfazer as maldições, o que significa que quanto mais nos valorizamos, menos precisamos satisfazer as expectativas dos outros, nos sentimos menos assustados com as obrigações da vida e ficamos menos ressentidos com os potenciais não vividos. Como diz Polônio em Hamlet: “Acima de tudo, isto: sê leal contigo mesmo,/ E seguirá, como a noite ao dia,/ Sem ser falso com ninguém.”

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Leão e a Busca de Si

"A vida é um incêndio: nela
dançamos, salamandras mágicas.
Que importa restarem cinzas
se a chama foi bela e alta?
Em meio aos toros que desabam,
cantemos a canção das chamas!
Cantemos a canção da vida,
na própria luz consumida..."
Mario Quintana - poeta leonino.

É difícil pensar nesse signo sem evocar a imagem do Leão com juba ao vento a la “Contos de Narnia”, radiante e seguro de si. Mas essa fantasia criada pelos almanaques astrológicos não corresponde aos leoninos e leoninas de carne e osso, mesmo que eles adorem essa evocação. Se uma pessoa tem muita coisa em Leão, isso apenas quer dizer que ela está tentando desenvolver confiança em si mesmo, tentando ser receptiva a tudo que a rodeia, tentando descobrir quem é e como expressar sua criatividade. O Leão pode até parecer confiante, mas o problema dele, em geral, é o contrário, exatamente por passar muito tempo pensando só em si. Afinal, se você olha no espelho e não vê ninguém, que significado pode encontrar na vida? Esse signo regido pelo Rei Sol e onde o Guerreiro Marte se Exalta, é o exílio de Urano e onde Netuno está em queda, mostrando que a facilidade de se expressar individualmente pode ter mais dificuldades do que se pensa quando exposto para o coletivo.
A preocupação dos signos de Fogo com as possibilidades do futuro também é compartilhado por Leão. Em Áries, como vimos, essas possibilidades dizem respeito à ação, liderança e desafio, e em Sagitário ao Caminho da Vida. Em Leão, estão ligadas à realização de sua própria personalidade, à seu próprio mito pessoal. Lembrando que no fundo de cada signo de Fogo há uma criança que mitifica o mundo, Leão, mais que Áries e Sagitário, mitifica a si mesmo, podendo ser tão idealista e romântico a ponto de ser comovente. Ele também sofre da clássica decepção de Fogo nos dias de hoje, quando descobre que a vida real não é tão mágica assim e que a linda princesa tem o mau hábito de não querer ser salva de jeito nenhum, uma vez que está aprendendo a fazer isso sozinha. O que estou querendo dizer é que Leão se colide frontalmente com alguns aspectos da vida que ele não aprecia muito. Só quando o leonino consegue se ater à imagem interior de si e abandona a exigência de que o resto do mundo siga seus ideais, conseguindo intuir que ele é mesmo um herói, é que seu grande amor à vida floresce, mesmo quando lhe é exigido algum ajuste à realidade comum. Esse, porém, é um processo de maturação e, enquanto isso não ocorre, é bem visível, principalmente para quem convive com um Leão, sua tendência a se apegar ao ideal e se enfurecer quando ele não se ajusta àquilo que o cerca no trabalho, no amor, na família ou nos amigos. Leão fará de tudo para superar a própria mesquinhez, ambigüidade, ou tudo o mais que ele identifique como mal (e que faz parte da psique humana, diga-se de passagem), e fará um grande esforço para ser honrado em seus contatos. Nada em que Leão se meter pode ser frio ou impessoal, pois ele tem necessidade de pintar um quadro com traços largos e irrestritos. Ele pode até parecer exibicionista, mas ser o mais distinto e pessoal é o que o faz feliz e tão carismático. Nesse largo e colorido mundo de gentleman, a intromissão de mesquinharias e banalidades não é bem vinda.
Os leoninos dão a impressão, embora quase sempre isso seja inconsciente, de que esperam que alguém cuide deles e limpe tudo após sua passagem, pois estão muito ocupados com coisas mais importantes. Eles não têm a intenção de tratar as pessoas como serviçais, mas é que passam tanto tempo nesse mundo imaginário de fantasias criativas, que acabam não percebendo as dificuldades que criam para as outros. As pessoas podem até fazer concessões por algum tempo à grandiosidade leonina, mas se cansam e, aí, o Leão terá que enxergar que o mundo lá fora não orbita à sua volta, como ocorre em seu mundo interior, e, além disso, a vida das outras pessoas continua sem ele. Leão é regido pelo Sol, é a Criança Divina do zodíaco, e, para a criança, o mundo é uma misteriosa extensão de si mesma. Por isso homens e mulheres de Leão têm dificuldade em compartilhar o palco, e muitas vezes encontrarão saídas, manifestas ou sutis (pois também existe o Leão sutil), para ocupar o espaço que lhe foi “usurpado”. Eles podem espezinhar o sentimento dos outros quando estão muito presos à sua fantasia. Nessas horas Leão pode se tornar insensível às emoções e necessidades das outras pessoas, a menos que lhe seja mostrado, de forma absolutamente clara, o que está fazendo. Embora goste de se mostrar e aparecer para os outros, como toda criança o leonino tem medo de ser mal amada, medíocre, subestimada e de passar desapercebida. Às vezes ele terá que enfrentar o afastamento de sua platéia para entender que o mundo é povoado de outras criaturas humanas, importantes e diferentes dele, para começar sua verdadeira aventura para dentro e, assim, encontrar-se com sua verdadeira origem divina.
Todo signo Fixo tem que fazer o caminho interno para aprender a lidar com a grande concentração de energia que dispõe e, na astrologia médica, o coração é o órgão leonino. O processo de escutar o coração é algo que aperfeiçoamos a vida toda, e Leão precisa aprender que só ali ele encontrará o que tanto procura.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Astrologia de Boteco Lunático: Descubra Sua Lua e Cuide-Se

O signo lunar descreve nossa natureza emocional, o modo como se responde instintivamente ou se reage a eventos e ao ambiente. Caso a Lua não esteja excessivamente inibida por outros aspectos - ou por um forte condicionamento cultural em sentido contrário - reagimos naturalmente à vida conforme seu signo. Por isso é mais fácil nos identificarmos com o signo lunar do que com o Sol ou mesmo o Ascendente, pois ele estará atuando em nosso cotidiano, em nossos hábitos e rotinas. Aqui encontramos tanto a maneira como somos filhos quanto a nossa capacidade de sermos mães, para homens e mulheres. A Lua mostra como nos sentimos seguros e confortáveis, como lidamos com o corpo físico, e também como fazemos para nos afastar de tudo quando precisamos descansar ou fazer uma pausa. É bem interessante entender quando estamos agindo através da Lua, pois esse costuma ser nosso comportamento mais inconsciente, onde nos falta objetividade, e muitas vezes nos coloca em situações um tanto duvidosas. É através da Lua que nos ligamos às outras pessoas e à vida em geral, mas deixá-la guiar sempre nosso caminho pode nos fazer extremamente carentes. O equilíbrio aqui é fundamental.
Tracy Marks, em seu livro Astrologia da Autodescoberta (ed. Pensamento, 1989), sugere uma lista de frases para cada signo lunar, e ao longo dos anos eu tenho feito minha própria coleção de frases correspondentes às sensações lunares. Como a Lua fala do nosso lado emocional, muitas dessas frases colocam situações que a Lua se identifica, e é mais fácil fazer a conexão. Então, divirta-se.

Lua em Áries
“Ou eu sou o primeiro cavalo do time, ou não sou nenhum” (John Fletcher)
“Eu posso prometer ser franco, mas não posso prometer ser imparcial” (Goethe)
“Nós somos odiados pelas pessoas que tentam dirigir nossas vidas em nosso lugar.” (Diane Wakoski)
Essa é uma Lua realmente independente, por mais que isso possa parecer contraditório. Crianças com Lua ariana vão mostrar muito cedo aos pais que pretendem bater a cabeça sozinhos e ficam bem felizes quando chega a hora de ir para a creche ou a escola. Impulsiva e valente, essa Lua se sente confortável quando tem liberdade e encorajamento para mostrar sua individualidade. Quando se sente desanimada ou frustrada, ela vai buscar novos desafios e atividades para se sentir segura. É preciso cuidado para que a busca do prazer e da excitação momentânea não domine a vida da pessoa, pois isso pode levar à falta de realidade e substância. Mas essa Lua sabe como fazer para se divertir quando a caminhada está muito pesada, e mesmo que sua franqueza possa trazer alguns problemas, ela sempre vai poder contar com a sinceridade de suas emoções.

Lua em Touro
“Firmeza é aquela qualidade admirável em nós mesmos que é detestável obstinação nos outros” (Anônimo)
“Ele é sempre o mesmo amigo: sempre bem humorado, sempre contente em vê-lo, sempre triste quando você parte... tão simples, tão bom e tão afetuoso” (Kenneth Graham)
“Se eles tentam me apressar, sempre digo: ‘tenho somente outra velocidade, e essa é mais lenta.’” (Glenn Ford)
A Lua está exaltada em Touro, portanto o sentido de segurança emocional é bem forte e concreta aqui. Essa é uma Lua que adora contato físico, carinhos e beijinhos sem ter fim, e possui grande confiança em seu corpo. Os sentidos são aguçados e a boa comida, a boa bebida e a boa companhia são ótimas maneiras de fazer com que ela se sinta confortável e segura. O perigo está em se manter escravizado por esses prazeres e por um pragmatismo que pode fazer a vida ficar bem estéril em nome de um conforto que acalma. É importante que a pessoa não se abandone a essa compulsão por segurança e por ter todas as formas de prazer externo que o dinheiro pode comprar, percebendo que o vazio da sensação de falta de valor não pode ser preenchido dessa maneira. Quando se consegue ter consciência das reações lunares em Touro, é possível controlar a compulsão e aproveitar a possibilidade mais profunda de dar e receber calor e devoção que essa Lua possibilita.

Lua em Gêmeos
“Eu penso que penso; logo, penso que existo” (Ambrose Bierce)
“Se você não pode confundi-los com agudeza intelectual; desconcerte-os com tolices” (Anônimo)
“Um homem deve viver somente para satisfazer sua curiosidade” (Provérbio Hebraico)
Essa é uma Lua falante, que precisa se comunicar e é receptiva a tudo que a estimule mentalmente. A comunicação e os padrões de pensamento terão um tom emocional, sendo comum a pessoa perceber que suas tentativas de decisão racional são falhas por que a resolução já havia sido tomada pela percepção emocional dominante na situação. Quanto maior for o conhecimento sobre o mundo e sobre as pessoas, maior será sua sensação de segurança e, apesar da mente ter uma tendência a devaneios e fantasias, há uma indicação de grande criatividade na comunicação. É através da reflexão e da reformulação que a pessoa se adapta às mudanças, num processo onde se adota a visão daqueles que estão próximos e reflete-a de volta. Essa capacidade receptiva e reflexiva possibilita à Lua se projetar imaginariamente nos outros e intuir o que eles sentem ou pensam e, com isso, a pessoa se sente ligada à vida através da descoberta, do conhecimento e do relacionamento empático. O perigo mais óbvio aqui é a hiper racionalização, onde se perde aquilo que realmente se sente em meio a tantas teorias a respeito. Os pensamentos compulsivos podem tornar a vida da pessoa uma eterna busca de estímulo intelectual, pois nessa área ela se sente segura. Mas quando se é cuidadoso com a Lua geminiana, ela pode proporcional uma verdadeira comunicação de almas.

Lua em Câncer
“Suponho que a coisa mais absolutamente deliciosa na vida é sentir que alguém precisa de nós” (Oliver Schreiner)
“Para se salvar os caracóis se encolhem no agasalho de suas conchas, onde aguardam salvos e pacientes até que os elementos se acalmem” (Isabella Gardner)
“Não posso viver sem aquele cobertor. Não posso encarar a vida desarmado.” (Linus - Charles Schultz)
Câncer é regido pela Lua, e isso quer dizer que nosso satélite está em casa aqui. A vida familiar e doméstica dará segurança emocional pelo sentimento de fazer parte de uma estrutura afetiva. O mundo inconsciente lunar se combina com a sensibilidade canceriana para criar um ambiente afetivo capaz de aconchegar até os seres mais endurecidos. O lar - principalmente o de origem - é o retiro e o santuário para onde se volta quando a vida pressiona demais, sendo comum pessoas com esse posicionamento reagirem à dor buscando as mesmas recompensas que tinham na infância. Há, porém, o perigo de os sentimentos que eram condenados pelos pais - ou que entram em desacordo com o estilo ideal familiar - acabem sendo negados ou reprimidos por causa do medo de instabilidade que causam. É importante a pessoa prestar atenção nas próprias reações quanto aos lugares e pessoas com quem convive, pois sua sensibilidade para a qualidade dos ambientes influenciam sobre maneira seu humor. Cuidado também é necessário para não conseguir as coisas se fazendo de vítima e enchendo o ambiente de culpa.

Lua em Leão
“Meu verdadeiro centro era uma enorme capacidade de amar tudo à minha volta” (Malvina Hoffman)
“Somos todos vermes, mas creio que sou um verme ardente” (W. Churchill)
“Qualquer um tem direito à minha opinião” (Anônimo)
A Lua leonina gosta de brincar e ser espontânea, e precisa de muito amor e devoção para se sentir segura. Como o grande perigo para Leão é se apegar a uma platéia, e a Lua é nossa maneira de lidar com o público, aqui o risco de se perder a majestade e se tornar um tirano é grande. A Lua em Leão precisa de maneiras criativas para expressar seus sentimentos, aprendendo a se alimentar emocionalmente de maneira saudável em lugar de ficar esperando que os outros a supram. Assim é possível parar de querer dominar as pessoas e passar a experimentar a grande satisfação emocional de se ter o coração aberto para a vida - com suas dores e alegrias - e viver intensamente o amor por si que se reflete no amor aos outros. A grande força que impulsiona qualquer coisa em Leão é o amor, e a capacidade dessa Lua criar um ambiente amoroso e criativo é enorme. Por isso vale tanto a pena aprender a se nutrir criativamente em vez de dar esse poder aos outros.

Lua em Virgem
“Quando estou ocupado com as pequenas coisas, não me pedem para fazer as maiores” (S. Francisco de Sales)
“Não agonize. Organize” (Anônimo)
“Você pode conter um mundo enorme num pequeno plano restrito” (May Sarton)
Virgem não é um signo que goste de emoções fortes, e a Lua virginiana geralmente tem bastante trabalho para não ficar criticando tudo que sente. Essa, porém, é uma Lua que tem muito prazer em cuidar de si, da sua alimentação, de fazer os rituais diários de higiene e consegue ouvir o próprio corpo de maneira muito precisa, o que facilita muito a sua cura em momentos de doença. A Lua em Virgem se sente segura quando está sendo útil, mas a ansiedade pode fazer com que ela se ocupe compulsivamente para não entrar em contato com sentimentos “fora do lugar”, ou com as “imperfeições” humanas, o que acaba fazendo com que, pela lei do equilíbrio, também não consiga acessar as emoções mais prazerosas e a própria divindade. A capacidade analítica e organizacional dessa Lua precisa aprender a valorizar todas as suas experiências emocionais de maneira amorosa, pois só assim ela será capaz de realmente nutrir de maneira idônea e eficaz como deseja.

Lua em Libra
“Ele precisava dos olhos dos outros para ver-se e dos sentidos dos outros para sentir-se” (Malcon X)
“O meio para se obter a resposta sim sem ter feito nenhuma pergunta óbvia é ser encantador” (A. Cammus)
“Não quero viver - quero primeiro amar e, por falar nisso, viver” (Zelda Fitzgerald)
A segurança e o bem estar da Lua libriana são buscados através da beleza e da harmonia. Essa é uma Lua que tende naturalmente à cooperar com os outros, a agradar e estabelecer relacionamentos diretos que sejam mutuamente gratificantes. Como toda Lua de ar, essa também tem um processo de desenvolvimento mental marcante, o que pode fazer com que se crie uma ênfase demasiada na aparência ou na harmonia superficial, sendo incapaz de admitir a discordância ou qualquer coisa que possa gerar confronto ou isolamento. Essa Lua pode até comprar brigas de outros, mas em seus relacionamentos se coloca em posição de dependência tentando conquistar os favores do parceiro. O conforto emocional que essa Lua necessita se dá através dos relacionamentos seguros com os outros, mas ela precisa aprender a primeiramente ter um relacionamento seguro consigo mesmo, e para isso precisa experimentar alguns momentos de desarmonia em nome de um contato mais autêntico e profundo. Assim, essa Lua poderá realmente honrar suas necessidades de beleza e harmonia criando ambientes e relacionamentos que acalmem e elevem de maneira genuína, mesmo que desacordos ocorram de vez em quando.

Lua em Escorpião
“Poucos homens chegam a qualquer lugar exaurindo os recursos que residem dentro deles. Há fontes profundas de forças que nunca são usadas” (Comandante Richard Byrd)
“Errar é humano, perdoar não é nossa política” (Anônimo)
“Aquilo que não me destruir me tornará mais forte.” (Friedrich Nietzsche)
A Lua está em queda quando em Escorpião, pois nosso satélite busca conforto, mesmo que isso signifique se apoiar em ilusões, e Escorpião quer intensidade e precisa da verdade para se movimentar. Isso faz com que a Lua escorpiniana busque privacidade e controle para se sentir segura. A capacidade escorpiniana de sondar abaixo da aparência superficial faz com essa Lua consiga construir um alicerce sólido e profundo para si mesmo, e assim ela pode utilizar os recursos próprios e dos outros em seus relacionamentos íntimos de maneira eficaz. Claro que uma Lua com todo esse poder emocional pode cair fácil na tentação de manipular os outros para suprí-lo daquilo que precisa. A criança de Lua em Escorpião geralmente entrou em contato cedo demais com as forças da morte e da sexualidade, criando um medo profundo de ser subjugada e fazendo com que se desenvolvesse uma desconfiança que ensina a esconder os verdadeiros sentimentos. Com isso, a habilidade natural de se receber nutrição e de se auto nutrir se tornam mais difíceis, e é necessário um trabalho consciente para que se aprenda a expressar as facetas mais suaves e vulneráveis de modo a se experimentar a verdadeira comunhão que procura. E, claro, isso tem que começar através do contato e do cuidado consigo mesmo, pois enquanto a Lua escorpiniana não conseguir confiar em si mesmo para cuidar de seus sentimentos mais profundos, ela sempre vai encontrar parceiros duvidosos que confirmem sua desconfiança.

Lua em Sagitário
“Aquele que tem um motivo para viver pode suportar quase tudo” (F. Nietzsche)
“Não avalie suas promessas rompidas como um crime. Ele queria cumpri-las como pretendia fazer, na ocasião” (K. Green)
“Se o céu não permitisse, quem poderia reconhecê-lo,/ E quem encontraria Deus se não fosse ele mesmo parte da divindade?” (M. Manilius)
Essa é uma Lua com coração generoso, que procura elevar-se acima das dificuldades através do bom humor e sendo uma boa companhia. Em Sagitário, a Lua, porém, não se adapta com facilidade à rotina e quando está insegura acaba se focando demasiado no futuro, adiando ou evitando ações imediatas e buscando atividades escapistas. Com isso ela só consegue aumentar o seu vazio interior, com brincadeiras inconvenientes e passando de uma atividade para outra, de uma pessoa para outra, numa busca infindável para se furtar da responsabilidade de sua própria vida. Em Sagitário, a Lua precisa aprender a direcionar seu prazer por explorar o mundo interno e externo para entender e aceitar seus verdadeiros sentimentos e conceder-se suas verdadeiras necessidades. Só assim ela será capaz de desenvolver a liberdade interior que tanto almeja, o que implica responsabilidade em suas relações e contato com o Deus interior que tanto a inspira.

Lua em Capricórnio
“A habilidade de resistir à frustração é que nos mantêm vivos” (Abbie Hoffman)
“Meus sentimentos não podem ser postos em jogo/ Estou cheio de memórias e dúvidas/ Penso que é melhor me acostumar com elas do que correr o risco” (Cryer e Ford)
“Agarre-se ao que for difícil” (Rainer Maria Rilke)
Essa é uma criança muito responsável desde muito cedo, e as histórias de infância que costuma contar são realmente bem difíceis. Capricórnio é o exílio da Lua, pois é um lugar onde ela precisa trabalhar conscientemente para poder se nutrir emocionalmente, já que isso lhe foi negado por aquilo que aparece como destino externo. A segurança aqui é dada pela sensação de auto-suficiência, e muitas vezes isso vai levar à falta de contato com as necessidades mais profundas de contato, afetividade e aceitação. Essa Lua precisa das estruturas sociais e tem grande prazer em ser reconhecida por sua capacidade de compromisso e de realizar seus objetivos. Por isso ela vai se sentir bem no trabalho, com muitas responsabilidades em suas mãos. Como tudo em Capricórnio, essa Lua tem que aprender a se afastar dos padrões de negação em que foi criada e desenvolver sua própria estrutura, fruto de sua experiência de vida. Para isso é preciso entrar em contato com os sentimentos de vulnerabilidade que tanto teme e descobrir que a verdadeira força e auto-suficiência que busca acolhe, em vez de negar, a grande sensibilidade da sua criança.
Lua em Aquário
“Ela parece dotada de uma mente forte que a protegerá da emoção excessiva” (George Sand)
“O único jeito de ter um amigo é ser um amigo” (Ralf Waldo Emerson)
“Eu sou um pouco surdo, um pouco cego, um pouco impotente e, coroando tudo isso, tenho duas ou três fraquezas abomináveis, mas nada destrói minha esperança” (Voltaire)
Aquário dá à Lua a capacidade de sentir-se parte da família humana, e cria um grande prazer de interagir com uma variada gama de pessoas. A sensação de conforto e integração é dada através dos amigos e dos grupos de interesse, que também são muito variados. Existe uma esperança na Humanidade que alimenta essa Lua profundamente, e faz com que ela busque se envolver em atividades que visem contribuir para o bem geral. A Lua aquariana adora se sentir singular e original e cultiva cuidadosamente suas habilidades mentais e sociais. A sensação de insegurança, porém, pode fazer com que ela se torne fria e distante quando se trata de relacionamentos íntimos, pois assim ela pode se manter segura em um amor geral por uma humanidade abstrata. Aprender a ser amiga de suas emoções e sensibilidade faz parte do seu aprendizado, pois só aceitando a variedade de sentimentos que possui da mesma maneira que aceita a variedade de opiniões que a cerca é que ela será capaz de nutrir de verdade a si e aos outros em vez de ficar criando interações sociais por não estar satisfeito consigo mesmo.

Lua em Peixes
“Eu sou eu mesmo e o que está ao meu redor e, se não salvar isso, não serei salvo” (José Ortega y Gasset)
“Sempre sinto vergonha de pedir. Assim, dou. Isso não é uma virtude. Trata-se de um disfarce” (Anais Nin)
“Somente com o coração se pode ver claramente; o essencial é invisível aos olhos.” (Antoine de St. Exupéry)
Essa Lua precisa de seus preciosos momentos de devaneio, onde possa vagar pelo mundo dos sonhos e da fantasia. A Lua pisciana estabelece vínculos de maneira empática e está sempre aberta às fontes de inspiração internas e externas. Ela irá se beneficiar particularmente com a música, a dança e as artes em geral, que propiciam um canal para suas vastas emoções. Um canal emocional tão amplo pode conduzir muitas vezes a estados negativos e destrutivos também, principalmente quando as fantasias e idealizações se tornam maneiras de escapar da insegurança e dos problemas concretos. Muitas vezes essa Lua irá se concentrar nos problemas e necessidades dos outros, cuidando do bem estar daqueles que a cerca, na ilusão de que isso substitui a vivencia dos próprios sentimentos e necessidades, e, quando isso não ocorre, a pessoa se sente vitimizada. Existe um descontentamento espiritual que essa Lua experimenta intimamente e que torna difícil a sua adaptação às necessidades terrestres cotidianas. É preciso aceitar que nem todas as visões interiores são passíveis de realização imediata, mas que alguns sonhos são possíveis de se concretizar quando transformamos inspiração em ação. Essa Lua é capaz de fazer uma ponte entre seu imenso universo inconsciente e sua vida cotidiana, não para cuidar dos outros e se sentir amada, mas para que esse mundo interno ganhe forma e, assim, beneficie a todos.