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quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Parte da Fortuna II - A Missão


“O Reino dos céus é também semelhante a um tesouro escondido num campo. Um homem o encontra, mas o esconde de novo. E cheio de alegria, vai, vende tudo o que tem para comprar aquele campo.”
Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus – 13.44

         A primeira coisa para a qual temos que olhar quando se quer entender a nossa Fortuna, é para a fase de lunação em que nascemos, ou seja, se era Lua Nova, Cheia, Minguante ou Crescente quando chegamos. Lembrando: Lua Nova é conjunção de Sol e Lua, Lua Cheia é oposição dos Luminares, Minguante é a quadratura (distancia de 90°) que acontece antes da conjunção e a Crescente a quadratura que acontece depois.

         Se você nasceu durante uma Lua Nova, quando colocar o Sol no Ascendente, a Lua irá junto, e dependendo da exatidão da conjunção, a Roda estará em conjunção mais ou menos exata com o Ascendente, às vezes na casa 12 às vezes na casa 1. Como o Ascendente mostra a forma como chegamos ao mundo e como buscamos nossa maneira mais pessoal e subjetiva de expressão, esse Lot traz exatamente a possibilidade de se encontrar a alegria de ser quem se é. Quanto mais compreender a si mesmo e quanto mais desenvolver sua visão única do mundo, mais alegria e satisfação com a vida. Isso é resultado de uma utilização positiva da união entre Sol e Lua, onde as memórias e vínculos lunares servem para enraizar e alimentar esse Sol, que por sua vez aquece e ilumina essa Lua de modo que ela possa deixar no passado aquilo que não interessa mais no processo de desenvolvimento da pessoa. Isso significa aprender a olhar para si em vez de ficar se identificando o tempo todo de maneira subjetiva com o mundo externo, que muitas vezes é absolutamente impessoal, mas a pessoa vira e mexe reage emocionalmente como se aquilo dissesse respeito a si, como se o mundo estivesse olhando para tudo que está acontecendo dentro de sua vida. Isso pode se tornar um obstáculo para a criação de uma identidade pessoal, e geralmente é preciso um bom tanto de maturidade para começar a aproveitar esse Lot de Fortuna.

         Se você nasceu durante uma Lua Cheia, o Lot da Fortuna irá fazer conjunção com a casa 7 - mesmo estando no final da casa 6 -, criando um conflito aqui com o Ascendente que reflete o conflito entre os Luminares. As personalidades desenvolvidas através de uma Lua Cheia, em geral, sentem que têm um pé no passado e precisam corresponder àquilo que acham que as pessoas esperam delas, e um pé nas realizações presentes, naquilo que realmente querem ser e fazer da própria vida. A Parte da Fortuna na casa das associações faz com que as parcerias (afetivas, de negócios, etc.) habilitem a pessoa a resolver esse conflito interno aprendendo a dar e receber de maneira justa, pois se percebe muito claramente que o excesso de um ou do outro em qualquer parceria é destrutivo quando se busca completude. Essa parece ser a base mais importante para se ter um casamento feliz, em qualquer nível, já que o Outro não é alguém para salvar ou para ser salvo, mas alguém que realmente pode te acompanhar pelo Caminho em igualdade de condições.

         Quando se nasce durante uma Lua Minguante ou Crescente, o Lot normalmente estará no Meio do Céu ou no Fundo do Céu, fazendo conjunção com a cúspide da casa 10 ou da casa 4. Mas dependendo do processo de dominação (divisão de casas) que você utiliza, pode ser que ela esteja na casa 9 ou na casa 3, como acontece algumas vezes para quem usa o método de Placidus, que é o mais popular. De qualquer maneira, a Roda estará enquadrando com o Ascendente mesmo que o MC e o FC não o façam, e assim retomando esse conflito entre os Luminares. Personalidades “minguantes” e “crescentes” normalmente acreditam que para se relacionar afetivamente têm que abrir mão de serem quem são, ou então que têm que abrir mão de seu passado, de suas origens e mesmo de vínculos afetivos muito fortes para se desenvolverem como indivíduos. A quadratura traz um impulso muito poderoso de auto superação, e isso é possível quando a pessoa entende que seus esforços têm que ser direcionados para seu desenvolvimento e não para a tentativa de provar que se é merecedor de atenção e/ou aceitação. Quando a Parte da Fortuna aparece na casa 4, as inadequações sentidas quando se é pequeno precisam ser aceitas e usadas como força para se ser aquilo que se é, e consequentemente se encontra a aceitação da Vida como um todo exatamente como ela é. Quando a Fortuna está no MC, a autoridade que parece barrar o desenvolvimento pessoal tem que ser encarada como mestre que encaminha a pessoa obrigatoriamente para a realização dos seus potenciais únicos para se libertar. Nesse trabalho de buscar o próprio potencial apesar das tempestades que parecem impedi-lo, a Roda da Fortuna começa a girar de modo a criar na vida pessoal a abundância e satisfação por ser quem se é e realizar algo significativo com sua vida.

         E já que estamos falando de relacionamentos entre Sol e Lua, não vamos nos esquecer do Trígono, (distância de 120°) entre os Luminares, que fará a Roda da Fortuna estar nas casas 5 ou 9, que são as duas casas além do Ascendente que falam da construção da nossa personalidade. Essa relação traz também um Trígono entre o Lot da Fortuna e o Ascendente que reforça a nossa maneira de ser no mundo. A facilidade de expressão representada pelo Trígono fazem com que a Roda da Fortuna na casa 5 traga mais força para a vontade de criar e na casa 9 mais benefícios para a personalidade através de inspirações e propósito de vida. Esse posicionamento da Parte da Fortuna geralmente se associa a golpes de sorte na vida, pois o Trígono nos mostra circunstâncias que muitas vezes estão em um nível inconsciente, mas que a pessoa aceita e colabora, pois não tem necessidade de controle e confia na vida. Fica mais fácil mesmo quando conseguimos ver  um propósito para nossa vontade e inspiração de modo a sustentar nossa vida e alimentar nossa personalidade. Esse Lot traz alegria e satisfação para o desenvolvimento de nossa vontade interior e para aprender as lições que a vida traz.

Agora vamos abrir o Boteco e dar uma passada na Parte da Fortuna através dos Signos. Lembrando que aqui vão apenas algumas imagens e dicas básicas para você pensar sobre o Lot que a Fortuna te reserva, ok? Para entender a casa onde está sua Fortuna, vale buscar a analogia entre signo e casa, ou seja, se seu Lot está na casa 2, dê uma lida em Touro, se na 3 em Gêmeos, etc., que sempre trazem algumas luzes para compreender a área de atuação desse ponto do mapa.

Lot em Áries
Esse é um Lot cheio de energia vital, e quando se conecta a ele, a pessoa é capaz de enfrentar e vencer os obstáculos que aparecem na sua frente se divertindo no processo. O problema aqui é conseguir focar sua energia em metas pessoais e ter independência com relação à opinião e às dificuldades dos outros. É comum a pessoa ter empatia com relação àqueles que não conseguem tomar decisões e agir, além de perceber com clareza quando os outros estão sendo insinceros por medo, e querer ajudar, o que só o desvia do caminho. Quando a pessoa consegue acreditar no valor dos próprios desejos de realização, é possível se libertar da influência das vidas das pessoas que lhe são próximas, criando uma unidade entre sua mente e sua vontade. Quanto mais fluir em direção a essa meta, mais satisfação com a vida pode trazer essa Parte da Fortuna.

Lot em Touro
A Fortuna taurina é baseada na habilidade em sustentar e desenvolver a substância da vida em algo sólido e duradouro seja em suas conquistas materiais seja nas afetivas. Para isso é preciso usar a consciência de que a vida em si tem uma imprevisibilidade e instabilidade inerente, e que há coisas que devem morrer para serem transformadas. Só assim é possível perceber o que é eterno de verdade e construir algo que realmente sustente sua existência de maneira profunda e feliz. Essa possibilidade de conquistar a alegria de estar vivo em um corpo físico em um mundo material dada pela Roda da Fortuna em Touro precisa, em primeiro lugar, aprender a deixar de lado a possível insatisfação que as pessoas ao seu redor sentem com a própria vida, para então poder aceitar e se entregar à possibilidade de vida bela, amorosa e pacífica que deseja e que pode conquistar.

Lot em Gêmeos
A alegria de poder se comunicar com tudo o que o cerca, juntando novas compreensões de tudo que encontra, percebendo as múltiplas facetas da vida que frequentemente se contradizem, que possibilita a pessoa agir e reagir rapidamente às mudanças que ocorrem na própria vida, é a felicidade prometida por essa Parte da Fortuna geminiana. Para isso é necessário um trabalho consciente em não julgar aos outros, de não se identificar com a autoridade de um juiz que o afasta de uma relação de camaradagem com o mundo ao seu redor, possibilitando o desenvolvimento dessa habilidade em lidar com a realidade imediata, com o aqui/agora, com todas as suas limitações e circunstâncias temporárias. O prazer e a alegria de se viver em um mundo em eterna mudança e saber aproveitar essa liberdade são as delícias desse Lot.

Lot em Câncer
A alegria de dar nascimento ao novo, seja qual for a sua manifestação, é a grande possibilidade de satisfação dada por essa Roda da Fortuna. A promessa de entrada no Reino dos Céus para aqueles que voltarem a ser crianças, pode ser alcançada por esse Lot se a pessoa conseguir se distanciar da demanda por concretização “correta” que percebe ao seu redor. O cuidado com aquilo que está nascendo ou crescendo não depende daquilo que surgirá quando chegar à maturidade, por isso quando somos pequenos podemos ser professor e astronauta ao mesmo tempo, casar e ter 12 filhos e ir dançar todas as noites com o príncipe encantado. O respeito amoroso para com esse potencial nascente é determinante para o resultado da sua maturação. A proximidade com a natureza pode ajudar nisso, pois é fácil observar a maneira integradora com que o cuidado dos pequenos gera a fortaleza dos grandes. Poder existir de uma maneira simples e vigorosa como uma criança, mas com a consciência da alegria e prazer de se poder alimentar generosamente tudo aquilo que o cerca – inclusive a si mesmo – é a Parte da Fortuna canceriana.

Lot em Leão
O prazer de criar a si mesmo, dando ao mundo o seu melhor, é a promessa de satisfação do Lot leonino. Para isso é preciso abrir mão da sensibilidade a respeito do que o resto da Humanidade pensa a seu respeito e se focar mais no próprio ideal daquilo que se quer ser. Então toda dificuldade externa de expressão virá acompanhada com maior força para afirmar internamente a própria vontade, alimentando o valor de quem se é, possibilitando que a pessoa desenvolva a sensibilidade para ver que sua generosidade, suas ambições pessoais e suas metas o estão levando pelo caminho correto. Honra, dignidade, prestígio e respeito são presentes derivados dessa Roda, cuja verdadeira satisfação vem da auto realização, de criar em si os valores nobres que acredita mais profundamente seu Ser, independente do que se vive exteriormente.

Lot em Virgem
A possibilidade de dar uma finalidade útil para tudo que existe em sua vida é a deliciosa promessa desse Lot virginiano, seja através de habilidades manuais, mentais e/ou emocionais. Sobras de comida da geladeira que se transformam em banquetes, latas velhas que se transformam em esculturas, ideais ultrapassados que ganham atualidade, sonhos desfeitos que se transformam em novas esperanças são possibilidades inerentes a essa Roda, que consegue juntar coisas aparentemente desconectas de maneira a lhe dar sentido, eliminando fatores externos desnecessários através da experiência de simplicidade de um pensamento claro. Para isso é preciso que a pessoa pare de se preocupar com as confusões mentais e emocionais que a cercam e aprenda a desfrutar da capacidade de perceber a vida e o mundo de uma maneira prática e presente, atuando no mundo concreto e trazendo para a matéria novas possibilidades de organização para a Vida.

Lot em Libra
O Lot libriano traz a imensa alegria de dividir a existência humana com outro ser de maneira equilibrada e harmônica. Para isso é necessário entender que toda ação gera uma reação, que toda associação significa o equilíbrio entre duas individualidades com vontades próprias. A Roda da Fortuna aqui significa a satisfação em poder observar de maneira impessoal as relações que são estabelecidas de maneira a entender como essa associação pode se realizar de maneira harmônica e prazerosa. Então o senso de Justiça libriano pode atuar através do Lot da Fortuna, equilibrando os sentimentos e as experiências de modo a encontrar paz nas relações, fluindo na vida junto com as pessoas às quais se associa de modo a dar e receber com igualdade.

Lot em Escorpião
A força de Escorpião vem da sua capacidade de ir além das belas aparências e encontrar as verdades escondidas, e essa Parte da Fortuna traz o prazer de enxergar o que precisa ser derrubado para que a verdade seja trazida à superfície, juntamente com a alegria de fazer picadinho daquilo que estava lá só para se ficar bem no filme. É fácil perceber que essa não é das Fortunas mais populares. Atire a primeira pedra quem não convive com pequenas mentiras que garantem alguma falsa segurança confortável ou uma harmonia aparente pela vida. Para que essa Roda possa girar a pessoa tem que aprender que aquilo que é real não pode ser destruído, e então aprender a fluir através dessa realidade mais profunda e intensa. Isso significa ter confiança em forças muitas vezes desconhecidas e invisíveis que podem inclusive contradizer aquilo que mostra a aparência. Essa Parte da Fortuna traz a possibilidade de se trabalhar ativamente na construção de uma vida verdadeiramente mais segura e pacífica, e, portanto mais íntima, pois confiável, já que não se tem medo de enfrentar aquilo que pareça feio, mau, incorreto ou desagradável. É muito mais fácil a existência sem ficar acumulando fantasmas no armário.

Lot em Sagitário
O Lot sagitariano faz com que novas experiências, paisagens e conhecimentos tragam mais alegria e satisfação para a própria vida. Quanto mais a pessoa entende que a vida pode ser abundante e feliz, mais naturalmente isso passa a ser experimentado. Para isso é preciso parar de se preocupar tanto com aquilo que as outras pessoas pensam e experimentam em suas vidas particulares, e perceber que muitas vezes o que vivemos em nossa existência não é compartilhável com aqueles que convivemos. Se conseguir superar a frustração de não ver a si mesma através dos olhos dos outros, a Fortuna poderá mostrar à pessoa que não há um objetivo na vida, que todas as direções tomadas levam ao centro, que qualquer lugar onde se pendure o chapéu (essa expressão é antiga, hem?) é seu lar, qualquer maneira que se ganhe a vida é boa, que quem estiver em sua companhia é seu amigo, e assim se vive em contínua expansão, quase a despeito de si mesmo. E assim, a vida vai se tornando cada vez mais ampla e significativa. Felicidade não é algo que possamos transferir para outra pessoa, mas isso não pode impedir quem tem essa Parte da Fortuna de acreditar na sua própria.

Lot em Capricórnio
Tudo que envolve Capricórnio precisa de tempo para se realizar, pois envolve uma estruturação que vai além do indivíduo. Para que essa Roda comece a girar é preciso desenvolver paciência, principalmente para consigo mesmo. O prazer de um Lot capricorniano está em construir sua vida com as próprias mãos, e isso significa trabalhar duro para superar as limitações impostas pela origem familiar e criar um projeto pessoal de existência. Para isso é preciso desenvolver habilidade e força através de suas experiências de vida, de modo a se capacitar a liderar a si próprio, independente das situações e circunstâncias externas. Com a maturidade a pessoa pode perceber que tudo em sua vida o levou para um objetivo que se torna cada vez mais claro, que nada em sua vida foi para distraí-lo ou desviá-lo, que tudo pode ser encaixado em um plano maior. Esse plano só pode se revelar depois de entender que o envolvimento com a negatividade emocional daqueles que o cerca só o deixa confuso e enfraquece seu autorrespeito, já que não há como salvar outras pessoas de seus próprios sentimentos, de suas próprias vidas. Apesar dessa Parte da Fortuna geralmente demorar bastante para se manifestar conscientemente, o desenvolvimento interior que ela permite  não depende de sorte ou de ajuda externa, e por isso pode trazer uma satisfação duradoura e poderosa.

Lot em Aquário
A alegria do Lot aquariano vem de compreender a enorme benção que é poder compartilhar essa vida humana preciosa, como dizem os budistas. Para isso a pessoa precisa começar a perceber que mesmo que cada individualidade – inclusive a sua – tenha vontade própria, não é preciso se envolver com os princípios pessoais dos outros para se viver a própria vida, o que leva à quebra dos preconceitos e do julgamento a respeito de como os outros devem levar a própria vida. Isso abre o horizonte pessoal permitindo que novas ideias e modos de ver o mundo estimulem seu espírito inventivo e a originalidade de perspectivas ao direcionar a própria vida. A existência passa a ser algo incrivelmente interessante, onde se quer saber de tudo a respeito do Homem, do Mundo, do Universo, em um incessante prazer por estar vivo e desenvolver a própria humanidade. Uma incrível liberdade pode fazer parte da vida da pessoa com essa Roda girando, e quase nada pode abalar essa vida onde há espaço para aceitar qualquer acontecimento como válido. Isso leva à alegria de conscientizar-se de tudo que pareça diferente em si mesmo, qualificando todos os seus desejos e ideias únicos, entendendo que assim como a Humanidade, a pessoa também se encaminha para uma maior consciência da vida e do universo.

Lot em Peixes
Com um Lot pisciano temos a promessa divina de se sentir em unidade com tudo o que o cerca, de viver em sintonia com toda a Vida por baixo de qualquer manifestação material. Claro que isso implica em conseguir se desligar das cobranças externas de que se deve planejar e objetivar a própria vida, o que não é simples nem fácil na sociedade em que vivemos, principalmente quando se é muito jovem. Acreditar nos próprios sonhos e desejos, por mais quiméricos que pareçam para os outros, é que permite essa Roda começar a girar, até que a pessoa perceba que tudo aquilo que ela imagina acaba se tornando realidade, e assim criar confiança no fluir suave através das experiências da vida. A Parte da Fortuna em Peixes significa a vantagem de saber que a vida, as ideias e todas as limitações humanas são apenas aparentes, e que é possível existir nesse mundo através da alegria e do amor de uma verdade maior e mais profunda. Essa parece ser a maior alegria e felicidade que um ser humano pode alcançar.

terça-feira, 23 de março de 2010

Sinastria 2 - Comparando Sol e Lua

“Se atacas o erro noutra pessoa, ferir-te-ás. Não pode conhecer teu irmão quando o atacas. O ataque é feito sempre a um estranho. Fazes dele um estranho porque o percebes erroneamente e, assim, não pode conhecê-lo. Tu temê-lo porque fizeste dele um estranho. Percebe-o corretamente para que o possa conhecer. Não há estranhos na criação de Deus. Para criares como Ele criou só podes criar o que conheces e, portanto, aceitas como teu. Deus conhece Suas crianças com perfeita certeza. Ele criou-as pelo fato de conhecê-las. Ele reconhece-as perfeitamente. Quando elas não reconhecem umas às outras, elas não O reconhecem.”
Um Curso em Milagres

A sinastria geralmente é buscada porque encontramos um Outro que queremos que faça um Nós conosco. Sócrates ensina isso a Fedro quando lhe diz que o Amor é a capacidade que temos de reconhecer nos olhos do Outro o deus que habita nossa alma. Nenhum relacionamento está fadado ao sucesso ou ao fracasso de antemão, pois sempre há dificuldades, mesmo em relações entre pessoas de mapas com muitas relações harmônicas, e onde há conflitos entre pontos do mapa existe também grandes oportunidades de crescimento e ampliação de horizontes. Então, é importante pensar no que se busca através de um relacionamento. Muitas vezes encontrar a tal “cara metade” vai significar que você não estará inteiro na relação, e isso vai causar problemas.

Então, depois de olhar para os ascendentes seu e da sua parceria e ver como eles se relacionam, começamos a olhar para o Sol e para a Lua, que são os dois luminares da nossa personalidade.

Como já falei na última postagem, quando os sóis estão no mesmo signo ou em signos do mesmo elemento há grande facilidade na compreensão dos processos de desenvolvimento individual dos envolvidos. Sóis em sextil – distância de 60° entre astros, ou seja, dois signos antes ou depois – também trazem facilidade para respeitar e compartilhar naturalmente as experiências de vida. Apesar de poder existir algum grau de competição entre as pessoas aqui, há também uma facilidade em criar um mesmo estilo de vida e um reforço na autoconfiança um do outro. Assim, é fácil assumir os elementos solares, reforçando nossa vitalidade e posicionamento individual. O problema é que se pode criar uma identificação tão forte que nos “esquecemos” da sombra, e evitamos olhar para as facetas mais problemáticas do Outro porque elas espelham nossas próprias zonas sombrias. Para manter essa imagem “perfeita” é preciso abrir mão do aprofundamento e do crescimento que os relacionamentos precisam para evoluir. Além disso, há o risco de se evitar as coisas mais difíceis de nossa própria personalidade que estão em conflito com nosso Sol, criando problemas em nossos processos de autoconhecimento. Apesar desses perigos, sempre haverá figurinhas a serem trocas, pois as informações que um recolhe em seu caminho poderá ser útil no caminho do outro.

Quando os Sóis se encontram em conflito, geralmente sentimos forte atração ou repulsa pelo outro, principalmente se eles se encontram em oposição. O Outro vai representar algo fascinante, mas perigoso, pois tem um potencial com motivações diferentes da nossa. Sóis em conflito significam caminhos diferentes no processo de individuação, portanto respeito e tolerância são elementos fundamentais para relacionamentos desse tipo. É preciso consciência de que outros caminhos de vida são possíveis e necessários. Quando os sóis estão em oposição, o Outro poderá mostrar muito daquilo que deixamos oculto ou obscuro em nossa personalidade, mas, se temos algum grau de consciência de nossas limitações, é fácil entender que o Outro representa uma complementação importante para nossa visão de mundo, o que pode ser fascinante. Já quando em quadratura – distância de 90° entre os signos – a sensação de que o Outro traz limites e frustração à nossa expressão livre costuma gerar muita tensão. Se não há um cultivo de flexibilidade e um bom grau de comunicação entre as partes, isso pode se tornar uma verdadeira “quebra de braços”, onde um cede e se sente desvitalizado, pois tem que abandonar a si mesmo para “facilitar” a convivência, e depois se “vinga”, pressionando o outro para que faça o mesmo. Essa brincadeira pode ser muito dolorida. Relacionamentos do tipo vítima/carrasco são bem comuns, e se você se pegar reclamando por que o Outro não te entende, pare tudo e lembre-se: o Outro não tem obrigação nenhuma de te entender, e isso significa que você tem que saber o que é importante e se posicionar de maneira clara, além de criar espaço para que o outro faça a mesmo. Um exemplo simples e cotidiano a respeito: um casal onde um precisa de muito tempo para acordar e o outro levanta da cama imediatamente, cheio de energia. O ser energético terá que aprender a gastar sua vitalidade com o cachorro pelas manhãs, e o que tem um processo mais demorado para despertar terá que entender que não haverá alguém para se aninhar de manhã e se contentar com o travesseiro. Haverá dias inspirados em que um poderá acompanhar o outro, mas isso não pode ser colocado como regra.

A Lua, por sua vez, representa nossos processos mais passivos e adaptáveis. É onde inconscientemente nos sentimos bem e buscamos conforto. Relações harmônicas entre Luas costumam ser mais comuns do que entre Sóis, principalmente se estamos falando de relacionamento amoroso. Isso porque um reconhece imediatamente o estado de espírito do outro, as emoções comuns são facilmente partilhadas, e se lida com os sentimentos de maneira similar, o que cria uma sensação de segurança e afinidade íntima que favorece o fluxo emocional criativo e confortável. Como a Lua também guarda os registros de nosso corpo, a compatibilidade lunar oferece facilidades no contato físico. As dificuldades aparecem quando o casal se encontra em situações emocionais negativas, pois também serão partilhadas, o que pode dificultar bastante as coisas para se mudar o estado de espírito para algo mais positivo. Há também o risco de contaminação, e a tristeza de um leva à depressão do outro. A Lua é reativa, não ativa, e isso significa também que, se temos consciência do que está acontecendo, é possível buscar motivação no outro para sair desse lugar negativo.

Quando as Luas se encontram em conflito, tudo fica mais difícil, e se não houverem outros aspectos mais harmônicos é realmente complicado conseguir uma relação de cumplicidade. Existem casos onde nos sentimos atraídos por Luas que conflitam com a nossa, e um sentimento de excitação é comum nesses casos. Mas quando a excitação se encaminha para um relacionamento, o mais comum é que um ou ambos se sintam isolados, pois não há fluxo emocional entre as partes. Quando o Outro tem motivações emocionais muito diferentes da nossa, uma barreira costuma se impor. Diferente do Sol, onde é possível uma ação consciente, a Lua reage inconscientemente ao ambiente vivido, e isso pode gerar jogos inconscientes bem doloridos e brincadeiras de gato e rato, onde um nega ao outro a segurança necessária para aprofundar a intimidade. Insegurança emocional gera defesas inconscientes, e se os parceiros ficam se defendendo, não há como criar intimidade. Se não conseguimos satisfação emocional em um relacionamento amoroso, não há como nutrir a parceria. A menos que existam outros pontos de contato entre os mapas, onde haja uma possibilidade de compreensão mutua, provavelmente nem mesmo os parceiros saberão o porquê da relação ser tão frustrante.

Vamos continuar a falar de sinastrias nas próximas postagens. Desculpem a falta de tempo para estar escrevendo com mais constância. Mas pouco a pouco vamos desvendando essa ferramenta.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Revolução Solar: A Face Rebelde do Sol?

"O tempo é a substância de que sou feito. O tempo é um rio que me arrebata, mas eu sou o rio; é um tigre que me destroça, mas eu sou o tigre; é um fogo que me consome, mas eu sou o fogo. O mundo, infelizmente, é real; e eu, infelizmente, sou Borges"
Jorge Luis Borges


A Revolução Solar é o mais popular dos métodos de progressão. Muitas pessoas, porém, pedem para fazer a revolução achando que o mapa progredido substitui o mapa natal. Sinto informar aos que têm problemas com seu mapa natal que o Sol não é um rebelde que resolveu mudar quem você é. A carta astrológica de nascimento indica o padrão formado pelos astros que circundam a Terra e é chamada de mapa radical por ser o fator raiz em toda interpretação astrológica. Rudhyar prefere o termo seminal, pois o horóscopo natal simboliza a semente onde está guardado todo o potencial arquetípico da pessoa, assim como a semente guarda todas as características da futura planta. Sendo assim, uma carta de nascimento é a representação simbólica da plenitude potencial de um microcosmo totalmente aperfeiçoado, mostrando como seria aquela planta plenamente desenvolvida. Porém, não há como garantir que essa planta vá se desenvolver, pois a potencialidade astrológica é um fator abstrato mostrado por uma representação simbólica. Isso significa que quando trabalhamos o mapa astral não temos a indicação de nada factual, nada concreto, nada rigorosamente “destinado”, mas a delineação daquilo que seria a personalidade se ela amadurecesse à semelhança do arquétipo representado, gerando frutos na sua realidade. Através desse paradigma é possível fazer julgamentos em termos de “sucessos” e “fracassos”, no sentido de observar se a pessoa está ligada a esse núcleo central de si mesma e de sua vida, ou não. É com esse argumento que afirmamos ser a astrologia um instrumento de autoconhecimento e de busca de completude, no sentido de um destino que deve ser completado por ser o desdobramento que manifesta concretamente aquilo que as condições interiores representam, e não um sistema de previsão do futuro: destino astrológico é saber que uma semente de maçã tem como “Karma” virar macieira.

Quando estamos trabalhando um mapa temos um universo como definido por Einstein, finito mas ilimitado, numa continuidade espaço-tempo com forma cíclica e não uma esfera fechada. As progressões e direções derivadas visam determinar os desdobramentos de um indivíduo em determinado momento da vida, criando um elemento temporal de compreensão. As progressões e direções mostram fases de maturação ao converter valores de espaço em valores de tempo, transformando os 360 graus do zodíaco em símbolos de fases de desdobramento da vida. Progressões e direções baseiam-se numa análise da movimentação real de planetas e cúspides de casas após o momento do nascimento, como se o nascer não fosse um gesto final e sim algo que se prolonga no tempo, espalhando-se sobre um período de horas (direções primárias), ou dias (progressões secundárias), mostrando eventos que se tornam objetivos no decorrer da vida. Existem, pelo menos, doze métodos diferentes de progressão correntemente utilizadas pelos astrólogos, o que mostra a dificuldade que há em se estabelecer com rigor o seu emprego. No ocidente os métodos mais utilizados são as Progressões Secundárias (ou método “dia-ano”) e o método do Arco Solar de Progressão Primária, mas, como diz Arroyo, isso parece se dever muito mais ao fato de serem os únicos ensinados nas escolas de astrologia americanas do que a uma maior confiança em seus dados. As progressões secundárias parecem refletir acontecimentos psíquicos e períodos de aperfeiçoamento intensivo, embora possam corresponder também a acontecimentos externos específicos. Todos os planetas podem ser “progredidos”, mas é na progressão do Sol e da Lua que temos os dados mais perceptíveis, pois as pessoas geralmente estão muito mais em contato com os ciclos de aperfeiçoamento desses astros.

O mapa da progressão solar, conhecida como Revolução, deve ser calculado para o momento exato em que o Sol completa seu ciclo pelo zodíaco naquele ano, no local onde a pessoa faz aniversário. O movimento solar não é uma constante - variando de 0,51° a 1,23° por dia - e seu retorno exato deve ser buscado nas efemérides. Essa variação no movimento solar – sim, sabemos que é a Terra que se move em torno do Sol e não o contrário! – faz com que o Sol volte ao lugar de origem no seu mapa em momentos diferentes a cada ano. Assim, se a dona Maria, por exemplo, nasceu dia 12/10/1940, às 5h. da manhã em Chá de Alegria, PE (e existe mesmo essa cidade!), ela terá o Sol Natal à 18°50’37”, e o Sol estará nessa exata posição em 2009, se ela passar seu aniversário na cidade natal, dia 11 de outubro desse ano às 21:01:10h. Então você faz o mapa desse momento de aniversário e tem o mapa da Revolução Solar. O mapa criado a partir da posição do Sol Progredido em cada ano mostra como o processo de integração da personalidade prossegue após o nascimento. Podemos ver o modo como a substância pessoal está sendo assimilada em seu amadurecimento e complementação, pensando em uma personalidade que tende à plenitude. O Sol representa o fator de integração do mapa, e as suas progressões secundárias são significativas no sentido de mostrar o processo de incorporação da vontade pessoal. É nesse sentido que o Sol progredido dá as melhores indicações do significado dos próximos doze meses

Nas próximas postagens estarei dando dicas de como olhar para o mapa do seu ano.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Trânsitos de Sol e Lua: O Passeio dos Luminares

Quando fazemos a leitura de um mapa e verificamos os trânsitos, geralmente desprezamos os movimentos de Sol e Lua por eles serem muito rápidos e difíceis de se lidar de maneira consciente. A Lua muda de signo a cada 2 dias mais ou menos e o Sol a cada mês. Nesse sentido, seus trânsitos não ajudam a entender ou resolver problemas de longo prazo, mas podem nos revelar muito a respeito de nossos estados de espírito e ajudar no movimento cotidiano. É interessante notar principalmente as Lunações, ou seja, os momentos em que Lua e Sol se encontram em conjunção - Lua Nova - e em oposição - Lua Cheia. Essa dança de encontro e oposição entre os luminares no céu, onde o Lua funciona como mediadora da luz solar para a Terra, vai marcando o ritmo de nossa vida durante o ano. É por isso que temos tantos rituais marcando as luas novas e cheias em todas as culturas durante a história humana, e ainda em nossos dia encontramos reflexos disso em rituais esotéricos. Podemos entender muito sobre a dualidade em que vivemos - masculino/feminino, certo/errado, saúde/doença, ativo/passivo, etc. - através das lunações, percebendo que hora estamos mais fechados, hora mais abertos, hora estamos plantando, hora buscamos a colheita. Sabendo em que áreas de nossa vida as lunações estão acontecendo, é possível planejar esse movimento de maneira a obter maior consciência, principalmente naquelas lunações que envolvem outros planetas de nosso mapa Natal.

Amanhã, por exemplo, dia 26 de janeiro, estamos tendo uma Lua Nova a 6°30’ de Aquário, onde, além do Sol e da Lua, temos também Júpiter em conjunção. Veja no mapa em que área da sua vida essa conjunção está ocorrendo e tente ver como você lida com as questões dessa casa e o que você gostaria de modificar ali. Na área de nossa vida regida pelo signo de Aquário, temos uma tendência a ser “coletivos”, gostar de trocar idéias com nossos grupos de amigos, e onde temos esperança na Humanidade e em nossa capacidade de resolver as coisas de maneira racional. Na Lua Nova temos uma grande concentração de energia, que podemos usar para mudar aquilo que não nos satisfaz naquela área específica de nossa vida, empreendendo novos começos. Toda Lua Nova é uma fase de renovação, que estimula a casa em que se realiza. A ativação de planetas pela Lua Nova é especialmente importante, seja através de conjunção, oposição, quadratura ou trígono, principalmente, e um ótimo momento para conscientizar e reorientar esses pontos ativados de maneira benéfica. Então, se você tem algum astro em signo de Ar (em Gêmeos, Libra ou Aquário) ou em signos Fixos (Touro, Escorpião, Aquário ou Leão) preste atenção no seu estado de humor e tente perceber como funciona a dinâmica das áreas de sua vida envolvidas nessa lunação. Lua Nova é o momento de agir. Assim sendo, se você tem algo novo para começar nessa área de sua vida, esse é o momento. A Conjunção do nosso luminar emocional e inconsciente com o luminar da consciência individual traz um momento de força para nossa integração interior, e é por isso que a possibilidade de renovação e de uma nova forma de encarar a vida pode ser plantada nesse momento. Se você for acompanhando as lunações através do seu mapa natal, com certeza vai poder perceber uma continuidade nas decisões tomadas na Lua Nova ou sendo postas em prática nesses momentos, até que essa nova postura se torne algo natural.

Já na Lua Cheia temos uma dispersão de energia, e o que você irá ver nesse momento será aquilo que, conscientemente ou não, foi plantado na Lua Nova. Na Lua Cheia esse luminar parece ser do mesmo tamanho que o Sol, e as forças do inconsciente ganham tanta força quanto as do consciente. Esse é um momento propício para meditações e reflexões que levem a um encontro com essas forças inconscientes disponíveis. Porém, aqui, temos a oposição entre o Sol e a Lua, um aspecto de tensão entre os luminares, e por isso nos confrontamos com questões de áreas que aparecem como dual em nossa vida, e podem trazer estresses quando olhadas desde o ponto de vista individual. A dificuldade em se lidar com essa dissociação aparece em muitas das estatísticas feitas em Lua Cheia, onde se vê um aumento da violência e de surtos psicopatológicos, cuja melhor imagem é a do Lobo escondido que vêm para fora e transforma aquele tranqüilo cidadão em Lobisomem. Esse é um momento em que podemos ver aquilo que estivemos guardando no inconsciente, e quanto mais agudas forem as divisões internas e a falta de integração, mais difícil será lidar com a Lua Cheia, que acaba ativando o isolamento e o medo interno. Entretanto se conseguirmos olhar para nossos problemas de integração de maneira holística e reflexiva, podemos ver soluções novas e aproveitar os insights vindos do inconsciente. Oposição é um aspecto que fala de relacionamento com um Outro, e por é isso que temos mais vontade de sair e realizar encontros sociais nesses dias quando estamos bem nas áreas iluminadas pela Lua Cheia.

Retomando o exemplo desse mês, na próxima Lua Cheia, dia 9 de fevereiro, teremos o Sol em Aquário, agora em conjunção com Netuno, em oposição à Lua em Leão, a 21° desses signos. Se você conseguiu ver as questões da área da sua vida regidas por Aquário na Lua Nova, na Lua Cheia você vai estar vendo como essas questões são refletidas na área oposta, regida por Leão. Se na casa onde temos Aquário queremos ter nosso grupo de amigos e afins para compartilhar nosso caminho Humano, na casa onde temos Leão queremos desenvolver nossa capacidade de sermos únicos e reconhecidos como especiais. Como podemos conciliar essas duas energias? Essa é uma Lunação em que podemos perceber as dificuldades de estar integrando a nossa individualidade no grupo, e também entender que o que dá movimento no grupo é o encontro de várias individualidades únicas e especiais em si mesmas. Preste atenção nisso na próxima Lua Cheia.

Semana que vêm vamos reabrir o boteco para falar das lunações nas casas.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

2009 - UM ANO SOLAR

“Além disso, não precisamos correr sozinhos o risco da aventura, pois os heróis de todos os tempos a enfrentaram antes de nós. O labirinto é conhecido em toda a sua extensão. Temos apenas de seguir a trilha do herói, e lá, onde temíamos encontrar algo abominável, encontraremos um deus. E lá, onde esperávamos matar alguém, mataremos a nós mesmos. Onde imaginávamos viajar para longe, iremos ter ao centro da nossa própria existência. E lá, onde pensávamos estar sós, estaremos na companhia do mundo todo.”
Joseph Campbell - O Poder do Mito.

Depois de 2 anos encontrando nossos desafios externos, com a regência de Júpiter em 2007 e de Marte em 2008, vamos agora encontrar aquilo que nos dá vitalidade interna em 2009, com a regência do Sol para esse ano.

O Sol, como centro do sistema em que vivemos, é símbolo do nosso desenvolvimento mais pessoal, da nossa busca por expressar no mundo o que temos de melhor. Na consciência solar encontramos nosso herói, que se sabe único e destinada a algo especial. O herói, no início, não se reconhece heróico, apesar de uma sensação de ser diferente daqueles que o cercam. Mesmo assim, responde ao chamado da aventura e acaba desenvolvendo esse potencial durante o caminho. Olhando para o Sol, no nosso mapa, podemos ver que tipo de aventura e desafio nosso herói encontra nesse processo.

Em um ano solar recebemos “inspiração”, digamos assim, para tomarmos consciência dessa dimensão interna. Prestar atenção às situações em que somos chamados para a aventura de nos tornarmos nós mesmos e desenvolvermos o potencial criativo que nossos desejos intuem, é a melhor maneira de aproveitar essa inspiração.

Mas, mesmo com todas as promessas de Luz e encontro com o centro criativo que esse ano promete, o primeiro passo a ser dado para aproveitar essa força é aceitar a solidão que ela implica. Ser “especial”, significa compreender que estamos sozinhos quando decidimos seguir nosso próprio caminho. Recebemos muita ajuda de todas as dimensões para cumprirmos nossas tarefas, mas a decisão é solitária, e sem nenhuma garantia para o ego de que conseguiremos conquistar esse prêmio tão valioso, apenas uma vaga sensação de destino a ser cumprido. A percepção disso ajuda a diferenciar o impulso solar do impulso lunar: através da Lua nos sentimos fazendo parte do nosso entorno, da família, da sociedade, buscamos a segurança de nos sentirmos amados e protegidos, vamos atrás daquilo que nos nutre; através do Sol nos sentimos únicos e buscamos a aventura da vida, projetando o melhor que podemos dar ao mundo. Essa escolha de se separar daquilo que é conhecido por causa de algo que nos chama interiormente não é, portanto, um ato de rebeldia e sim um ato de amor, e é por isso que receberemos tanta ajuda e força para nossa jornada.

Aproveitemos esse ano solar para iluminar, ou seja, colocar consciência, em todas as crenças errôneas que nos enchem de medo de atender ao chamado da aventura da vida, da busca por nós mesmos. É sempre possível recusar esse apelo interno, pois a nobreza e integridade solar implicam em escolher livremente esse caminho e aceitar seus riscos, em vez de culpar os outros e/ou o mundo pelas dificuldades encontradas. Mas, como nos diz Joseph Campbell: “Com freqüência na vida real, e com não menos freqüência nos mitos e contos populares, encontramos o triste caso do chamado que não obtém resposta; pois sempre é possível desviar a atenção para outros interesses. A recusa à convocação converte a aventura em sua contraparte negativa. Aprisionado pelo tédio, pelo trabalho duro ou pela “cultura”, o sujeito perde o poder da ação afirmativa dotada de significado e se transforma em uma vítima a ser salva. Seu mundo florescente torna-se um deserto cheio de pedras e sua vida dá uma impressão de falta de sentido - mesmo que, tal como o rei Minos, ele possa, através de esforço tirânico, construir um renomado império. Qualquer que seja a casa por ele construída, será uma casa da morte; um labirinto de paredes ciclópicas construído para esconder dele seu Minotauro. Tudo que ele pode fazer é criar novos problemas para si próprio e aguardar a gradual aproximação de sua desintegração.”

Esse é um trecho do livro O Herói de Mil Faces - Ed. Cultrix/Pensamento - SP - 10ª edição - 1997 - e eu recomendo calorosamente a leitura e releitura desse livro para esse ano solar que vamos entrar. Aliás, ótima pedida para amigos secretos e demais demandas de presentes de Natal.

Esse fim de ano de Marte ainda pode ser aproveitado para energizar nossa psique e abrir os caminhos que faltaram. Sasportas chama Marte de “capanga do Sol”, e se conseguimos aproveitar 2008 para encontrar nosso inimigo interno e abrir novas trilhas de ação, em 2009 será mais fácil o Sol caminhar com toda a sua majestade para nossa aventura de ser. Então, que venha o Sol, tão aguardado aqui em Santa Catarina, e que possamos ser especiais, e, assim, fazer a diferença.
Em janeiro volto às publicações regulares, e esse ano pretendo falar mais sobre a dança dos planetas. Até lá.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Astrologia de Boteco Com Teto Solar: Encontre a Casa Onde Mora Seu Sol e Descubra Onde Está Sua Vida Heróica

Como a cada mês tenho falado de um dos signos de maneira um pouco mais profunda, nesse papo de boteco vou experimentar falar do posicionamento desse astro por casa astrológica. A casa em que se encontra o Sol indica onde temos mais necessidade de nos distinguirmos e em que área da vida precisamos nos separar dos comportamentos condicionados através da construção de nossa própria identidade. A expressão única do Sol dependerá, também, dos aspectos que tem com os outros planetas, com o ascendente e com o MC, o que deve ser levado em conta quando vamos tentar entender mais sobre nossa conexão solar.

Sol no Ascendente
Quando o Sol está no ascendente, o ambiente da primeira infância geralmente é sentido como dando apoio aos desejos da pessoa, de forma que ela consegue expressar sua individualidade de maneira expontânea. Há um forte impulso para ser notado, respeitado e reconhecido pelos outros, além da tendência a se colocar como líder. É essencial que se assuma a responsabilidade de revelar seu proprio caminho na vida, determinando de forma clara o que deseja obter e perseguir essa visão com persistência e determinação. Esse posicionamento dá grande carisma - é como se tivesse o Sol na testa - criando um temperamento animado e com grande vitalidade física, se não houver nenhum aspecto muito tenso. O desenvolvimento desse Sol geralmente passa por perseguir o sucesso pessoal, mas o principal desafio será cruzar o abismo entre os sonhos infantis de ser especial e importante e o nível real das verdadeiras realizações, onde se é único e importante pela contribuição criativa que se dá ao mundo. Como simbolicamente o ascendente mostra a maneira como o nosso heroi é "treinado" pela vida, se o signo do Sol e do Ascendente forem os mesmos, esse treino é mais natural e direto, mas se os signos são diferentes, o heroi tem que aprender a utilizar as armas dadas pelo Ascendente para expressar sua individualidade, o que irá exigir mais consciência e trabalho (certo, Léo?).

Sol na Casa II
As questões materiais serão predominantes e a segurança financeira será uma forma de definir a identidade e um canal para a auto-expressão. Porém, a transferência das necessidades de expressão para bens materiais nunca é plenamente satisfatória e a pessoa acaba tendo que buscar a riqueza interior, que pode ser refletida através de suas qualidades, talentos e habilidades pessoais. Será através da utilização consciente desses recursos internos que ela poderá desenvolver um senso de identidade única e atrair os recursos materiais necessários para a realização de seus talentos. É necessário um esforço consciente para definir as verdadeiras necessidades e valores para que comece a se sentir menos inseguro e pare de ficar “inventariando” o que tem, e passe a estabelecer alvos e desejos verdadeiros a serem realizados, empregando todos os recursos, externos e internos, para atingi-los. Para isso é necessário construir uma auto-afirmação genuína, sem se desviar dos esforços de desenvolvimento pessoal, seja através do apoio nos recursos dos outros, seja utilizando a riqueza para exercer domínio sobre as pessoas e garantir a presença da platéia.

Sol na Casa III
Os potenciais desse Sol são revelados através do desenvolvimento mental, intelectual e da habilidade para se comunicar. O prazer e o estímulo para ser único virá da troca de idéias, criando preciosas perspectivas pessoais. É necessário um empenho e uma responsabilidade pessoal para que o potencial de clareza e eloqüência intelectuais se desenvolvam e a pessoa consiga iluminar conscientemente suas relações e comunicações pessoais. A mente das pessoas com esse posicionamento de Sol tende a manifestar uma atitude científica, voltada à exploração do mundo, embora haja uma necessidade interna, nem sempre compreendida, de se estar entendendo os processos de funcionamento da vida como um todo. O amadurecimento desse Sol requer abertura para a variedade de expressões individuais e o compartilhar daquilo que sente e sabe, seja através de informações, de conhecimento ou de compressões, de si e do mundo, pois isso será importante não só para a própria pessoa, que ficará mais consciente de si mesmo e evitará as armadilhas da arrogância intelectual que paralisa o crescimento, como também para as outras pessoas, que aprenderão e crescerão com essa troca.

Sol na Casa IV
A procura da própria identidade passa pelas raízes, pelas heranças familiares, os padrões ancestrais e a vida em família. É exigido da pessoa uma iluminação consciente das raízes criativas através da investigação e integração interiores. O Sol no Fundo do Céu precisa se diferenciar e afirmar no meio dos fortes condicionamentos infantis e das poderosas tradições familiares, de modo que ela consiga criar um espaço para fincar suas próprias raízes, únicas e luminosas, de modo livre e sem culpa. Com esse posicionamento há uma enorme necessidade de vida familiar, e o desafio é criar independência para adquirir uma percepção do sentido e propósito da vida, do contrário as mudanças na composição familiar e nos relacionamentos entre os membros da família - como filhos que crescem, pais que morrem, irmãos que casam - desestruturam toda a consciência da pessoa. Quando se consegue libertar dos primeiros condicionamentos ou se encontra um caminho que obrigue a redefinir seu senso identidade, então a pessoa passa a olhar para as suas raízes verdadeiras - fruto da existência de todos os seus ancestrais mas com características que só ele pode dar - e é possível olhar para as bases da infância como o que realmente são: o berço de onde viemos com o objetivo de construirmos uma vida adulta bem sucedida e para permitir que a individualidade se desenvolva. Quando essa consciência se forma, então se para de gastar energia para seguir o caminho socialmente aceito ou planejado pela família e se vai em busca do prazer do próprio caminho.

Sol na Casa V
Aqui o Sol está “em casa”, e a busca pelo prazer e pelo romance é que o faz se desenvolver. A criatividade artística - sob forma intelectual, emocional ou material - são importantes para a auto-expressão e também um canal das energias desse Sol. Esse tipo de posicionamento solar cria emoções ardentes, intensidade e alegria de viver. É importante que a pessoa se sinta criativa em qualquer coisa a qual se dedique, pois isso é que lhe dará uma auto imagem positiva e um papel social que realmente influenciará o mundo, através de suas ações e também de seu entusiasmo. A motivação básica, que faz a pessoa empreender sua aventura, é a busca de satisfação pessoal. Como acaba se sobressaindo por puro entusiasmo, corre o risco de criar personagens que “agradam ao público” e terá que enfrentar o perigo de perder sua totalidade para os seus aspectos mais aceitáveis. Sendo a possibilidade de desenvolver a totalidade que lhe dá tanto amor à vida e carisma, esconder alguns aspectos da consciência traz conflitos e insatisfação, apagando o entusiasmo e afastando a platéia, obrigando a ser mais reflexivo em suas ações. Existe uma eterna criança brincalhona com o Sol na V, que deve aprender a ser livre e participar inteira da vida.

Sol na Casa VI
A direção na vida e o senso de realização podem ser descobertos através do envolvimento com o trabalho, a saúde e o serviço, e se dedicar a essas áreas ajudará na definição de seu senso de identidade única, pois proporcionará canais para uma expressão pessoal. O desenvolvimento de rotinas e padrões de organização poderão proporcionar uma estruturação positiva e produtiva na vida. As questões psicossomáticas serão ricas fontes de informação para o auto conhecimento, pois a vitalidade estará fortemente ligada à integração corpo-espírito, e a pessoa tem que aprender , mais cedo ou mais tarde, a respeitar o veículo físico de sua existência. O Sol na VI faz com que a pessoa busque desenvolver suas habilidades e competência de modo a ocupar um lugar ativo no mercado de trabalho e, assim, ter um sentido de valor pessoal e de distinção. Como todo Sol, porém, o objetivo desse não é fazer os outros aplaudirem e sim criar luz própria, consciência de si, e aqui o resultado final deverá ser o aprendizado da arte de viver um dia após o outro, o que poderá ser feito com tanto gosto e sutileza que causará admiração. Como diz o ditado zen, “antes da iluminação, carregue água; depois da iluminação, carregue água”, e esse é um aprendizado importante para essa localização solar.

Sol na Casa VII
Esse Sol irá se desenvolver através dos relacionamentos, das associações e das parcerias, amorosas ou sociais. Participar de atividades conjuntas trará canais de expressão para a autodefinição de modo mais claro. O processo desse Sol geralmente se inicia com o encontro de alguém que serve de modelo para a própria modelagem. Posteriormente a pessoa acrescentará as forças e qualidades inatas através de sua participação ativa na interação social. Há o perigo da pessoa evitar o próprio desenvolvimento se escondendo atrás da identidade de outra pessoa, procurando alguém grande e forte que lhe diga o que deve fazer de sua vida, como uma tentativa de viver o princípio solar através do outro. Mas como essa tática se mostra sempre improdutiva e decepcionante, não consegue sobreviver muito tempo, e a pessoa acaba tendo que assumir as suas responsabilidades e enfrentar seus próprios desafios na construção dos relacionamentos. Aí sim, a pessoa vai aprender a ser única com a ajuda do outro, o que fará com que todos que a ele se associem fiquem maiores e mais bonitos também.

Sol na Casa VIII
Os relacionamentos que expõem paixões ocultas e esbarram em emoções primárias não resolvidas fazem parte do processo desse Sol crescer e se desenvolver. A oitava casa cria um grande interesse por tudo que está oculto ou é misterioso na vida, e o Sol aí tem que aprender a mexer em casa de marimbondo. A vida se mostra de forma intensa para esse Sol, e às vezes ele pode temer as percepções e sentimentos que o transpassam, fazendo-o resistir a uma intimidade mais profunda com a vida e rejeitar o próprio potencial de transformação. Aqui é necessário que se desenvolva coragem para explorar os próprios objetivos da vida, então as tensões se dissolverão através da auto-expressão consciente, e os relacionamentos deixam de ser um campo de batalhas para se tornar a base para o crescimento e para o prazer, já que a necessidade de união se transforma em intensificação positiva da vida. Para que esse Sol brilhe é necessário que a pessoa crie consciência da ânsia humana de nos reunirmos a algo maior que nós mesmos através do amor por outro ser humano e, com esse objetivo, ele aprenderá a se expandir e transcender seus limites emocionais que criam o separatismo e isolamento que o desvitaliza.

Sol na Casa IX
Ao aumentar a compreensão e a perspectiva da vida - seja através de viagens, leituras ou pesquisas filosóficas - esse Sol se vitaliza e potencializa. A jornada do Sol nessa casa atravessa diferentes grupos, religiões, filosofias e estudos para criar uma visão pessoal da verdade que, ao ser compartilhada com os outros, criará seu senso de identidade e sua distinção como ser único. É através da descoberta dos padrões básicos da vida que esse Sol ganhará inspiração e incorporará sua própria sabedoria. Mas tudo que esse Sol aprender em seu caminho tem que arrumar expressão para ser compartilhado, pois também será útil para os outros e só terá significado real se puder ser passado para frente. O grande aprendizado aqui é no sentido de conseguir trazer os grandes significados da vida para a realidade do aqui-agora, para que as descobertas feitas nos aspectos mais abstratos da vida possam orientar seus compromissos pessoais e iluminar a vida mais mundana.

Sol no Meio do Céu (Casa X)
O foco da identidade se volta para a carreira, as conquistas profissionais e o status social. O Sol aqui expressa seus potenciais na busca do reconhecimento de suas habilidades únicas. Existe muita pressa em ser admirado como alguém, criando impulsos ambiciosos que levam a pessoa a querer realizar seu propósito de vida rapidamente. Na luta para concretizar suas ambições, esse Sol acaba desenvolvendo auto disciplina, perseverança e habilidade de concentrar sua vontade e sua energia para atingir certo grau de realização e admiração. O ideal desse Sol é tornar a pessoa centrada, expressando suas forças e qualidades de modo direcionado, pois isso é que pode torná-la fonte de inspiração e de autoridade. Essa inspiração interna pode ser facilmente confundida com uma simples posição de destaque, que reluz como se fosse o resumo de um sonho, mas que é apenas ilusão, verdadeiro “ouro de tolo". Quando esse desvio é tomado, e o sentido de identidade ou de valor pessoal se prende demais a títulos ou posições sociais, a vida da pessoa se torna limitada e a desvitaliza, fazendo-a perder o sentido da vida se essas coisas lhe são tiradas. Em algum momento da vida esse Sol fará com que a pessoa perceba que seu poder vem dela mesma e não da necessidade que tem da admiração dos outros.

Sol na Casa XI
Aqui o Sol se desenvolve na participação do grupo, na busca contínua de progresso social e cultural. A consciência se volta para a interação entre individual e coletivo, criando grande sensibilidade aos sofrimentos injustos de homens, animais e da natureza. Isso faz com que a criatividade, com o tempo, acabe se vinculando à consciência pública e às soluções alternativas dos conflitos do grupo. As amizades têm grande importância para o desenvolvimento da personalidade e os esforços para construir a própria identidade estarão vinculados às suas aspirações e metas coletivas. É importante que as pessoas com esse posicionamento solar façam um esforço consciente para estabelecer metas praticáveis quando se sentem inspiradas, pois será nesse esforço para a realização concreta que formarão um sentido de identidade, propósito e poder. O mais importante ingrediente para a própria realização e a própria cura é ter uma razão para viver, criando uma função pessoal e interiormente ditada. Esse Sol se alimenta com a esperança que tem na transformação social e na capacidade que temos de viver juntos de maneira harmônica, e tem que viver essa transformação internamente para poder mostrar como se faz.

Sol na Casa XII
Há um paradoxo nesse posicionamento, pois o Sol estabelece, esclarece e desenvolve uma identidade separada e única e a casa XII trabalha no sentido de dissolver, desestruturar e subverter as fronteiras individuais. Aqui há um conflito que requer da pessoa o desenvolvimento do sentido de identidade para além da conscientização normal: o ego e a vontade tem que desempenhar seu papel de servidor da alma. Na jornada heróica da casa XII a pessoa tem que aprender a manejar o limite sutil entre o que é pessoal, individual e consciente, e o que é universal, coletivo e inconsciente, e isso significa ter que gastar muito tempo consigo mesmo. Enquanto na casa IV o inconsciente é revelado através da família e na casa VIII através da intimidade com o outro (as outras duas casas em que o Sol tem que mergulhar em águas inconcientes), na casa XII a pessoa tem que se conscientizar sozinho. Durante o processo de formação do ego, há uma luta feroz para impedir a entrada de qualquer coisa mais vaga, irracional, mística ou transpessoal. Mas, quando chega a noite, tudo o que foi afastado da consciência invade os espaços, e geralmente sob formas assustadoras. O resultado disso costuma tomar a forma de conflitos de identidade, doenças e um estranho e dolorido sentimento de ser rejeitado, o que acaba levando a pessoa ao isolamento e à voltar sua atenção ao que ocorre em seu interior. Só quando se aceita conscientemente as correntes inconscientes, buscando uma expressão criativa para essas forças, será possível a esse Sol a sua realização, que implica uma coabitação entre o pessoal e o universal e uma profunda amizade entre o herói e seu Deus.

sábado, 2 de agosto de 2008

O Caminho do Sol

A primeira postagem desse blog foi sobre o Sol, introduzindo a visão daquilo que pretendia falar aqui. A astrologia que faço busca exatamente o caminho para desenvolvimento do Sol, pois é lá que encontraremos nossa Luz e nossa capacidade amorosa mais profunda. Agora vamos tentar entender mais desse astro que, em seu caminhar anual, nos trás as estações do ano, os tempos de recolhimento e de exposição, organizando o calendário de nosso planeta. Esse mês ele está "em casa", iluminando a área de nossa vida em que temos o signo de Leão e, portanto, onde também estamos aprendendo a sermos nós mesmos.
O Sol ocupa 99,8% do nosso sistema, e mostra, na astrologia, nossa essência básica. Quando agimos de modo solar, estamos em harmonia conosco internamente. A palavra “sol” deriva do latim “solus”, que significa o Único, e a sua posição, por signo e casa, nos mostra como nos sentimos únicos e centro de nós mesmos. Uma das mais antigas representações do Sol é a da realeza, e o rei era tido como a incorporação terrena da divindade, ou seja, seu papel de governante era exercido juntamente com o papel de pontífice, o “construtor de pontes”, que fazia a mediação entre o céu e a terra. Enquanto o ascendente nos fala da forma que tomamos no mundo, da porta de entrada na nossa casa, o Sol dirá o que encontraremos lá dentro, portanto não é o que reconhecemos quando conhecemos alguém superficialmente. O ascendente, nesse sentido, é como um guia que nos acompanha em nossa jornada pela vida e nos leva a aprender certas lições e assimilar certos atributos que nos auxiliarão a nos tornarmos aquilo que é representado pelo Sol. Podemos dizer que o ascendente é o caminho onde encontraremos mais perspectivas e onde somos treinados a partir daquilo que encontramos na vida. Já o Sol nos mostrará quem trilha esse caminho, o herói que estamos tentando nos tornar. Os potenciais, as dificuldades, os dilemas e as experiências do Sol são dados pelo signo em que ele se encontra, e, conforme o tempo passa e ocorrem as transformações fisiológicas e psicológicas que as idades trazem, nos tornamos mais integrados ao signo solar.
Como vimos, a Lua simboliza uma dimensão inata e instintiva da personalidade, que tem como meta consciente o desenvolvimento de objetivos no mundo que garantam a segurança e a auto preservação, possuindo uma natureza regressiva que nos atrai para o passado e para o vínculo mãe-filho - já que nossas necessidades emocionais e corporais básicas não se alteram em sua essência. Em contraposição, o Sol simboliza nossa dimensão progressiva, sendo o princípio ativo e dinâmico que se desenvolve ao longo da existência sem nunca acabar de se desenvolver. Esse é o aspecto da personalidade que está sempre em processo de vir a ser, de rumar para um futuro. O herói sempre está representando um mito solar, pois sempre está prestes a se tornar algo. Não se nasce automaticamente herói; é preciso passar pelo processo de transformação para se tornar rei e também um veículo adequado para os deuses que são seus verdadeiros pais.
A primeira característica que encontramos no herói, portanto, é que ele é um “híbrido” de deus e mortal, o que sinaliza seu destino de pontífice. Na infância o herói não conhece sua verdadeira filiação, e acha que é igual aos outros, apesar de uma estranha sensação de ser diferente e da intuição de que um destino também diferente o aguarda. Um dos principais temas da jornada do herói é a descoberta de sua verdadeira origem, que é ao mesmo tempo mortal e imortal. Nesse tema mítico podemos notar um profundo sentido de dualidade, onde a dinâmica é dada pela convicção de que não somos feitos apenas de terra e fadados a comer, procriar e morrer; ou seja, de que não temos apenas uma natureza lunar, pois cada um de nós é especial, único, e tem um destino pessoal, uma contribuição individual a dar para a vida. O Sol em nós sente que há uma busca a se iniciar, uma jornada na direção do futuro desconhecido, um mistério profundo no núcleo do “eu”. Nossa face solar não se sente sujeita aos ciclos lunares e leis do destino ao qual têm que se submeter nossas naturezas, se recusando teimosamente a ser comum. A maioria das pessoas descobrem isso na metade da vida, quando a busca de segurança financeira, emocional e mundana parecem não trazer mais satisfação e a pessoa começa a pensar que deve haver um propósito maior para se estar vivo. Geralmente essa conclusão vêm de alguma crise que deixou um rastro de descontentamento e depressão, obrigando a pessoa a criar novas metas, difíceis de serem expressas em termos concretos, pois o Sol possui metas interiores, diz respeito à experiência da vida como algo especial e cheio de significados: o Sol nos diz que não somos coelhos, nem macieiras nem outra pessoa, mas sim nós mesmos e precisamos realizar nossos potenciais únicos. Podemos ignorar a força solar por nossa conta e risco, pois se não damos o salto solar e não oferecemos nossa contribuição única ao mundo, por menor que seja, estamos fadados ao incômodo tormento de um self não vivido, e teremos todas as razões do mundo para temer a morte, pois não teremos vivido de fato.
Outro elemento importante da jornada heróica é o fato dele ser invejado ou perseguido sem saber o motivo, às vezes pelo padrasto/madrasta, às vezes por um rei usurpador ou perverso que recebe a profecia de ser destronado pelo jovem herói, ou então por alguma bruxa ou ser mágico que resolve atrapalhar a jornada heróica. Podemos ver isso desde os mitos gregos até a história de Jesus Cristo. Esse tema da inveja e da ameaça do potencial que o herói representa para o governante estabelecido é algo que geralmente acompanha o despertar do Sol, pois a expressão especial e individual da natureza de alguém costuma despertar a inveja destrutiva dos outros e representa uma ameaça ao status quo. Muitas vezes isso é vivenciado através do pai ou da mãe real da pessoa, que fazem isso inconscientemente, pois a vida solar não vivida do progenitor se tornou amarga e invejosa, fazendo com que se experimente diretamente na infância essa perseguição do herói mítico. Se olhamos mais profundamente para nós mesmos, porém, descobrimos que o verdadeiro “inimigo” mora dentro e não fora de nós, por mais que cruzemos com ele no mundo externo.
O futuro herói pode se proteger por um tempo em sua mãe lunar, mas, mais cedo ou mais tarde, terá que aprender a lidar com o governador invejoso por sua própria conta, desenvolvendo certo realismo, já que a inveja faz parte da vida e da natureza humana, e nem sempre dá para sair correndo para casa e se esconder embaixo da saia da mãe. Assim é possível desenvolver firmeza, auto suficiência, “insight”, inteligência e amigos leais para sobreviver como indivíduo, senão se correrá sempre o risco de um regresso rastejante para o ventre materno através de mães substitutas que o protejam, como empregos insatisfatórios ou relacionamentos paralisantes, reprimindo assim seus próprios potenciais individuais para evitar o mundo lá fora. Em algum ponto do processo de crescimento, o herói recebe aquilo que Joseph Campbell se refere como “o chamado para a aventura”, seja através de uma intuição ou visão interna, seja através de uma aparente perturbação ou desastre externos, onde se olha a vida com um realismo e humildade que tocam a essência do ser. Quando o herói resolve empreender sua jornada, geralmente arranja um ajudante, ou recebe ajuda de divindades ou ainda recebe assistência de algum animal, que garantem o êxito da empreitada, confirmando o direito divino do herói: ele é posto à prova, mas recebe bastante colaboração - e não indiferença - para a conquista de sua meta. A questão da fuga e do erro pode fazer parte da história do herói - até Cristo pergunta se Deus não o abandonou. Apesar disso parecer uma fraqueza indigna do herói, retrata fielmente a maneira como as pessoas normalmente se comportam ao ouvirem a chamada heróica, pois parece que precisamos choramingar e sentir pena de nós mesmos um pouco quando nos preparamos para nos afastar do conforto lunar e atender as demandas de nossa essência. Como diz a piada judaica: “Obrigado senhor por fazer de mim um dos eleitos, mas não dava para escolher outra pessoa, só para variar?”. É possível não atender à chamada, mas o progenitor divino - a imagem mítica de algo maior, o “Eu Superior” que existe em nós - não vai nos deixar em paz só por que estamos com preguiça, e teremos sempre que pagar um preço por nos recusarmos a nos tornar nós mesmos, na maioria das vezes através de depressões, sensações insuportáveis de fracasso e um vazio profundo.
O herói realiza sua tarefa por ser compelido de dentro para fora. Se ele fizer isso apenas para agradar aos outros, por mais humanitário que possa parecer sua ação, vai acabar encrencado, pois não está sendo sincero consigo mesmo. Essa busca deve ser feita por causa da pressão interior, não para que as pessoas nos amem. Contudo, no ato de se tornar um indivíduo ele está dando sua contribuição aos demais. O Sol pode parecer profundamente paradoxal, pois quando nos tornamos nós mesmos temos muito mais a oferecer do que se nos esforçássemos para tentar salvar o mundo como forma de compensar um vazio interior. É dessa forma que o herói é capaz de atingir o que Campbell chama de “Travessia do Limiar”, onde encontramos alguma coisa bem desagradável que quer nos impedir de atingir nossas metas heróicas. Cada mito irá descrever o Inimigo, o Guardião do Limiar, de formas típicas, podendo ser um irmão sinistro, uma mulher fatal, a bruxa malvada, um monstro, dragão ou gigante. Cada uma dessas imagens tem seu significado próprio que pode ser associado com os aspectos e posicionamentos solares, e mostra o tipo de lutador que precisamos ser para vencer nosso próprio lado sombrio: às vezes precisamos matar a bruxa representada pela Lua que quer nos engolir, ou vencer as tentações geradas por Vênus, ou então vencer o monstro de nossos instintos cegos e primitivos ligados a Marte, ou nos livrarmos da prisão saturnina que impede de nos revelarmos ao mundo. Aspectos do Sol com planetas transaturninos costumam representar transformações muito profundas no trajeto heróico, assim como em muitos mitos vemos que às vezes o herói deve morrer para conseguir a ressurreição e a transformação necessária, como Jesus Cristo ou Dionísio. Diversos fatores do mapa astral podem descrever o dilema dessa travessia, inclusive o próprio signo e casa do sol, pois há tanto virtudes como fraquezas em cada um dos signos. Só depois desse enfrentamento é possível receber o prêmio ou tesouro que aguarda o herói. Esse prêmio pode ser uma jóia, a água da vida, a fonte da imortalidade, o domínio do reino, a mulher amada, o dom da cura ou da profecia, e também está ligado simbolicamente ao posicionamento solar. Sempre é algo altamente individual, que tem grande valor para aquele herói específico. O Sol, como corporificação do herói mítico, luta pela recompensa final guardado em um núcleo indestrutível de identidade que justifica e convalida a existência: o herói e seu premio são, na verdade, a mesma coisa, pois o tesouro é seu lado divino oculto em sua vida mortal. Por mais terrivelmente abstrato que isso possa soar, o sentido inerente de sermos um “eu” real e único, sólido e indestrutível é algo precioso e mágico, além de ser obtido a duras penas.
No estado nu e cru do “Eu Sou” não há uma casa para se voltar nem uma coletividade que possa nos oferecer um paliativo para nossas dores, e essa é a razão pela qual o Sol começa a emergir de fato na meia idade, quando a pessoa está suficientemente forte e formada para enfrentar o desafio. O problema da solidão, que sempre acompanha qualquer manifestação do self individual, é o significado mais profundo da travessia do limiar no mito heróico. Outra coisa que o herói sempre encontra no final de sua jornada é seu verdadeiro pai, que também sai redimido do mito, pois assim como a Lua representa a mãe arquetípica com a qual compartilhamos nossos instintos, o Sol reflete a visão essencial que compartilhamos com o pai arquetípico, no nível criativo que só pode frutificar após gerações de busca solar. Sendo a solidão e inimizade do coletivo o equivalente emocional aos perigos que defronta o herói, podemos perceber que a culpa - e o medo da represaria que a acompanha - é a principal manifestação de nossa dificuldade em roubar o elixir da vida que exige nossa jornada heróica, pois há algo ilícito em nos tornarmos nós mesmos, e quanto mais nos sentimos separados da coletividade, maior nossa sensação de culpa, que pode se tornar tão grande a ponto de nos paralisar como estatuas de sal. O furto da árvore da vida é um profundo rito de passagem, e uma vez consumado, as coisas não podem voltar a ser como antes, e esse é uma realidade que muitas vezes nos amedronta. Várias vezes na vida temos chamados heróicos para atender, e várias vezes temos que abrir mão do conforto do lar e da identidade com o grupo, e enfrentar os guardiões dos limiares coletivos, pois as ameaças que sentimos de represária não é mera paranóia, já que o coletivo retruca de fato, e precisamos ficar atentos para perceber que tudo aquilo que está sendo mostrado fora tem sua representação mítica interna, pois todos esses personagens estão dentro de nós.
Nunca concluímos totalmente nossa jornada heróica, pois sempre estamos tendo desafios para nos tornarmos nós mesmos. Mas, assim como Apolo no panteão grego, uma das funções do Sol é desfazer as maldições, o que significa que quanto mais nos valorizamos, menos precisamos satisfazer as expectativas dos outros, nos sentimos menos assustados com as obrigações da vida e ficamos menos ressentidos com os potenciais não vividos. Como diz Polônio em Hamlet: “Acima de tudo, isto: sê leal contigo mesmo,/ E seguirá, como a noite ao dia,/ Sem ser falso com ninguém.”

domingo, 30 de setembro de 2007

O SOL



O sistema planetário em que vivemos gira em torno da Estrela que chamamos Sol. Esse astro é a fonte primaria de nosso sistema, e seu efeito gravitacional domina todos os outros corpos.

O signo solar é o que a maioria das pessoas conhece, e muitas vezes é também o que temos mais dificuldade em nos identificar. Isso faz com que muitos duvidem da astrologia. O que geralmente acontece é que levamos muito mais tempo para chegar ao centro e entender o que realmente nos move. A consciência solar é algo que vamos desenvolvendo a vida toda e nunca em linha reta. Afinal, quem é capaz de suportar 6 000 graus centígrados durante muito tempo? Ao olharmos para o Sol precisamos de filtros, por isso o signo Lunar ou o Ascendente costumam ser muito mais fáceis de ver.

Uma pergunta comum que me fazem é se o Ascendente fica mais forte com a idade. Não acredito nisso, a menos que a pessoa fique cada vez mais longe do seu centro com o tempo, o que não costuma ser bom para um envelhecimento saudável. O Ascendente é o caminho que percorremos, os instrumentos que temos, o portal que nos leva ao mundo. O Sol é o herói que atravessa o portal para percorrer o caminho e desenvolver esses instrumentos.

O Sol na Alquimia é o ouro que se faz do chumbo e objetivo de todo o processo. Robert Fludd, alquimista que publicou seu tratado em 1617, falava do Sol como centro do macrocosmo, situando-o precisamente no ponto de intersecção das pirâmides da Luz e das Trevas, na “esfera de equilíbrio da forma e da matéria. Nele habita a alma universal geradora da vida”.

O que não falta na história mitológica da Humanidade são heróis solares, pois todas as histórias de transformação e amadurecimento do ser falam do processo solar. Hércules, Percival, Horus, são alguns exemplos disso. A maioria das análises desse caminho, entretanto, foi apresentado através de heróis masculinos, o que contradiz o princípio de equilíbrio de que fala esse astro. A partir do século XX, podemos também entender melhor o Sol através do gênero feminino da Humanidade. Com a saída da mulher da esfera privada para a esfera pública foi possível enxergar de maneira mais equilibrada o desenvolvimento solar. Apesar de a Lua ser muitas vezes associada à consciência feminina, o que se observa hoje em dia é que tanto homens quanto mulheres se iluminam pelo Sol e se refletem emocionalmente através da Lua. No Sol encontramos nossa capacidade de Amar: a nós mesmos, ao Outro e à vida, o que no fundo são nomes diferentes para a mesma coisa.


Clarissa Pinkola Estés, com seu magnífico Mulheres que Correm com Lobos (Ed Rocco, RJ- 1999), mostra isso de maneira bem clara. Inspirada nesse processo demonstrado por Estés é que estarei pensando, refletindo e analisando o desvendar solar – de homens e mulheres – de cada signo.