terça-feira, 2 de setembro de 2008

As Deusas - Mitos Para Virgem

Assim como Buda tem seu nascimento colocado durante o trajeto do Sol em Touro e Jesus Cristo em Capricórnio, o Avathar com o Sol em Virgem é a Virgem Maria, que tem seu nascimento comemorado dia 8 de setembro. O elemento Terra é aquele que concretiza, que traz para o plano material, e por isso esses seres iluminados são representados por esses signos. Mas enquanto Buda e Jesus Cristo têm que passar por um longo processo para se iluminarem, Maria é “concebida sem pecado” e se “eleva aos céus” no fim da sua vida, sem ter que passar pela morte. A missão de Maria é trazer Deus ao mundo, servindo de veículo ao Deus que quer se materializar. No capítulo 12 do Apocalipse de São João, a luta final entre o Bem e o Mal é representado por uma “mulher vestida com o Sol e com a Lua debaixo de seus pés“, com uma coroa de 12 estrelas que envolve sua cabeça. Ela está grávida daquele que “regerá o mundo com cedro de ferro”, e que tenta escapar de um dragão com 7 cabeças, 10 chifres e 7 diademas sobre as cabeças. A mulher e a criança são perseguidos pelo dragão que, em uma batalha cósmica, é finalmente vencido pelos anjos de Miguel. A criança foi levada para o céu logo após o nascimento, enquanto a mãe encontrou abrigo no deserto. Não cabe aqui analisar toda a simbologia astrológica que envolve essas - e outras - passagens do Apocalipse, mas interpretações antigas do signo de Virgem o colocam como “parteira do Cosmos”, que dá à luz o redentor divino, se reportando à história da Isis Egípcia, que também possuía o título de Rainha do Céu (Regina Caeli), como Nossa Senhora, e através dessa associação essa luta fica muito mais clara. A representação de Isis sentada em seu trono tendo seu filho Horus no colo também serviu de modelo para as posteriores representações icnográficas de Maria como o “trono” de Jesus menino. Os mitos associados ao signo de Virgem remontam a uma consciência muito antiga do Ser Humano, e resurgem de tempos em tempos com novas roupagens.
Como se pode notar, a simbologia ligada a Virgem é mais complexa do que a simplificação superficial se vê nos almanaques astrológicos. As representações mais antigas desse signo estão associadas à Mãe Terra, às Grandes Deusas pré helênicas, de seios fartos ou muitos seios, bem distantes da idéia de castidade distorcida posteriormente. Na verdade, o conceito de virgindade não está ligado à castidade sexual e sim ao controle que mantêm intacto. Um bom exemplo disso é a estátua de Ártemis de Eféso, com cinqüenta seios, mostrando a deusa virgem como símbolo de fertilidade, como aquela que nutre. Antes da invasão patriarcal helênica, a Deusa Mãe Virgem era aquela que não tinha seus poderes e sua posição ligados a nenhum consorte, pois ela reinava sozinha oferecendo sua feminilidade a quem escolhesse: ela era esposa da vida. Dessas deusas maternais ligadas à Terra, Deméter foi a única que conseguiu sobreviver na Antigüidade, graças à ligação que o mito, seu e de sua filha Core, tinha com os Mistérios de Eleusis. Divindade da colheita, a filha de Crono-Saturno e Réia é essencialmente a deusa virgem do trigo, e seria a responsável pelo conhecimento que o homem adquiriu para cultivá-lo, colhê-lo e fabricar o pão. Os segredos e significados mais profundos dos Mistérios de Eleusis acabaram se perdendo, mas sabemos que seus iniciados buscavam a possibilidade de, ao morrer, descer ao Hades sem perder a memória, que, para os gregos, é a alma do Homem, e sem a qual ele se torna um eídola, um fantasma. Os virginianos, normalmente, possuem duas características básicas que podemos ver nesses fragmentos: uma independência desconcertante e uma memória significativa. Assim, é comum vermos pessoas com forte presença desse signo capazes de permanecer independentes mesmo quando casados, e que esquecem seu nome, mas não esquecem a história que você contou sobre o enterro do seu cachorrinho na infância. As vestais, sacerdotisas da deusa Vesta, senhora da fecundidade e da reprodução feminina, nos dá outra pista desse signo: elas eram conhecidas como prostitutas sagradas e eram designadas pelo termo “virgem”, em seu sentido original, pois não podiam se casar e, comprometidas com o serviço à deusa, tinham sua feminilidade dedicada ao propósito superior de trazer o poder fertilizador da deusa para o contato efetivo com a vida dos seres humanos. Nas estatísticas de Gauquelin, as prostitutas têm grande incidência de Virgem, seja através do Sol, do Ascendente ou da Lua. Partindo desses dados poderemos entender o que nos diz o mito de Deméter e sua filha Core/Perséfone, denominadas nos Mistérios de Eleusis simplesmente as Deusas
A deusa da colheita tinha uma filha de Zeus chamada Core, ou seja “a eternamente jovem”, que, mesmo depois de adulta, vivia como uma menina, inocente e feliz. Seu tio Hades/Plutão a vê e a deseja, raptando Core quando ela se aproxima de um narciso colocado na beira do abismo por seu pai Zeus. Deméter corre ao encontro da filha quando ouve seu grito, mas não encontra ninguém e se desespera, passando a vagar pela Terra em busca da filha. Hélio, o condutor do sol, que sabe de tudo que se passava sobre a Terra, compadecido da pobre e desesperada mãe, conta-lhe sobre a rapto feito por Hades e da ajuda que esse recebeu de Zeus. Magoada e se sentindo traída, Deméter se refugia em um de seus templos e abdica de suas funções divinas, enquanto não devolvessem sua filha. Com isso a Terra perde sua vegetação, as colheitas se interrompem e o equilíbrio das estações acaba, gerando a fome entre os Homens. Zeus manda uma série de mensageiros à Deméter pedindo a ela que voltasse ao Olimpo, mas a deusa se recusava a voltar a conviver com os imortais e a permitir que vegetação crescesse. Vendo que a ordem do mundo estava em perigo, Zeus ordena que seu irmão Hades devolvesse Core. O senhor dos mortos tem que se curvar à vontade soberana do irmão, mas antes faz com que sua amada coma uma semente de romã - símbolo da sedução e da fertilidade -, e com isso a transforma em Perséfone, sua esposa e rainha, o que a obriga a ter que voltar para seus braços. É feito, então, um acordo, onde Perséfone passaria quatro meses com o esposo e oito com a mãe. Reencontrada a filha, Deméter retorna ao Olimpo e a Terra volta a florir. Antes de regressar, porém, as deusas ensinam seus mais profundos segredos ao rei Céleo e seus filhos, que abrigaram Deméter no templo construído em sua homenagem, nascendo, assim, os Mistérios de Eleusis.
O virginiano, homem ou mulher, vive uma relação complexa consigo, dominada principalmente pela figura materna, pois, logo que nasce, tem uma sensibilidade inconsciente para a relação corporal dessa mãe, em uma fase difícil fisicamente, cheio de mudanças, desgostos e depressões. Isso acaba por cindir profundamente esse signo, pois a forte sensualidade típica dos signos de Terra é bloqueada por uma sensação de inadequação. Como resultado, Virgem desenvolve uma racionalização que o afasta das vivências corporais, tentando, com isso, se manter imune aos apelos da vida. Com isso ele acaba dificultando o amadurecimento da sua sexualidade e de seu emocional, sendo comum encontrarmos pessoas adultas desse signo com um raciocínio brilhante, um físico saudável, mas com uma inocência de adolescente no campo afetivo. É desconcertante quando vemos essa criança que tem medo da vida por baixo da máscara adulta racional de Virgem. Mas sempre chega um momento do destino desse signo em que a vida, como Hades, irrompe do abismo e o obriga a enfrentar a experiência vital de forma mais plena, pois, assim como Core tem que se transformar em Perséfone, o virginiano tem que amadurecer plenamente para ser o adulto autônomo que almeja. O custo da recusa de crescimento geralmente é uma fase desértica que esse signo tem que passar, onde as coisas perdem o sentido e a capacidade de criar parece ter desaparecido. Podemos observar que homens e mulheres com forte influência de Virgem passam por três fases de amadurecimento: na primeira mantêm-se distantes da própria capacidade de amar e viver, tendo como pano de fundo um alto grau de crítica e de afastamento das próprias sensações corpóreas que fazem com que a pessoa duvide de si mesma e se incline para relações do tipo “muito trabalho e pouca paga” - seja na área profissional ou emocional-afetiva; a força da deusa, porém, pressiona por manifestar-se, levando esse signo a vivenciar o que Freitas chama de “papel da Sereia”, quando acaba se envolvendo num ritual narcísico de sedução em que o amor se confunde com desejo e não se consegue diferenciar a sua capacidade de amar do desejo que tem de que os outros o satisfaçam - por isso a analogia com as Sereias, seres míticos com corpo de mulher e rabo de peixe que passavam a vida a se olhar no espelho e a cantar para seduzir os viajantes, que acabavam morrendo nos rochedos na tentativa de amá-las; o amadurecimento virginiano virá quando houver coragem para passar pela terceira fase, onde entra em cena a sacerdotisa a serviço da Deusa, capaz de vivenciar a sexualidade e o instinto como coisas sagradas e cuja experiência é inestimável. Só aí Virgem conseguirá desempenhar seu verdadeiro papel de “parteira Cósmica” e fecundadora, apresentando-se como Ishtar (deusa Babilônica análoga a Deméter/Perséfone): “Uma prostituta compassiva eu sou”, pois compaixão é a verdadeira força de purificação que percorre esse signo, e é o que Virgem descobre ao se transformar em Perséfone. Aí sim ele conseguirá, em suas tentativas de ordenar e sintetizar o mundo, fazer a transmutação alquímica da vida. E a vida, se descobrirá no afinal das contas, é ele mesmo.

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