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quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Leitura Para o Eixo Virgem - Peixes


“Depois de ensaboar, esfregar e enxaguar o cabelo, Auri mergulhou na interminável água negra de Tinidos, para se enxaguar pela última vez. Sob a superfície, algo roçou nela. Algo escorregadio e pesado encostou seu peso imóvel na perna dela. O que não a incomodou. Fosse o que fosse, estava em seu lugar, e ela também. As coisas eram exatamente como deviam ser.”


Esse post é para recomendar uma leitura enquanto o Sol ainda transita por Virgem: A Música do Silêncio (The Slow Regard of Silent Things), de Patrick Rothfuss, editado no Brasil em 2014 pela Editora Arqueiro. É um livro iniciático para o eixo Virgem-Peixes e, portanto, desvenda segredos de todas as suas combinações: Mercúrio na casa 12 e Netuno na casa 6, Virgem de casa 12 e Peixes de casa 6, Netuno em Virgem, Mercúrio em Peixes, etc.

O autor, Patrick Rothfuss, tem uma trilogia ainda não concluída chamada A Crônica do Matador do Rei (Ed. Sextante), que fala de um mago alquimista e da sua formação. Eu gostei muito dos dois primeiros livros já publicados, não só por que a história é muito boa, muito bem escrita e muito bem traduzida, mas também porque Ruthfuss realmente tem estudos de magia e alquimia e coloca esse conhecimento a serviço da trama, fazendo com que se possa fazer uma segunda leitura mais profunda enquanto se acompanha as peripécias do herói de caráter pra lá de duvidoso. 

Na escola de magia, onde o protagonista de Rothfuss vai parar para começar sua formação, ele encontra Auri, que vive nos subterrâneos da escola sem que ninguém perceba. Apenas o professor que ensina a descobrir o verdadeiro nome das coisas sabe dela, que um dia foi sua aluna mais brilhante e que ao se desenvolver teve um rompimento com o mundo externo e passou a viver nos subterrâneos, em vários sentidos. A Música do Silêncio é uma semana dessa encantadora personagem secundária da história do Matador do Rei em seu universo subterrâneo. 

Não é um livro de entrada fácil ou de saída confortável. Eu me senti em muitos momentos invadindo a intimidade de um ser absolutamente delicado, com mistérios que eu nunca poderei entender inteiramente. Essa foi uma das dicas para mim de que se trata desse eixo de transformação Peixes-Virgem. Mas com o desenrolar da história vai se entendendo muitos dos sentidos dado ao mundo e a si nesse eixo. 

Uma das características brilhantes desses signos é a compreensão mais profunda a respeito da humildade, e a busca por aperfeiçoar essa virtude. Claro que isso pode ser feito a serviço de uma ética distorcida, como no caso do Deputado Eduardo Cunha que serve à forças obscuras, ou a serviço do entendimento de uma harmonia e um sentido transcendente, que sabe ser a morte o final inevitável de todos, como no caso de Jorge Luís Borges: “Auri se sentia pequena. Não era a pequenez pela qual se esforçava todos os dias. Não a pequenez de uma árvore entre as árvores. De uma sombra no subterrâneo. E também não era a pequenez do corpo. Auri sabia não haver muito dela. (...) Mas não. Com o cabelo puxado para trás, e ainda por cima molhados, ela se sentia... menor. Comprida. Embaciada. Mais frágil. Lograda. Ilusória. Aflita. Seria puro desprazer sem a tira perfeita de linho. Não fosse isso, ela não se sentiria apenas como um pavio enrolado, mas completamente desfeita, derretida. Valia a pena fazer as coisas direito. ” (pg. 18/19)
Essa é uma boa chave que Auri dá ao longo do livro sobre a tal “perfeição” virginiana, tão diferente da perfeição libriana, pois não visa uma harmonia estética, mas um “encontrar o lugar certo”, um “fazer as coisas direito”: “Ainda assim, antes de sair, ajudou cada coisa a encontrar seu lugar apropriado. O cinto ficou na mesa de centro, é claro. A fivela deslocou-se e foi descansar ao lado do prato de resina. O osso aninhou-se numa proximidade quase indecente das drupas de azevinho. Já a engrenagem era um problema. Auri colocou-a na estante de livros, depois a mudou para a mesa de canto. Ela ficou encostada na parede, com a lacuna do dente perdido apontando para cima. Auri franziu a testa. Não era exatamente o lugar apropriado. Pegou a chave e a segurou diante da engrenagem. Preto e bronze. Ambas feitas para girar. Somadas tinha doze dentes.... Balançou a cabeça e deu um suspiro. Recolocou a chave no bolso e deixou a grande engrenagem na estante. Não era o lugar dela, mas era o melhor que Auri podia fazer por ora. ” (pg.28)

Apesar da fama de caótico de Peixes e de organizada de Virgem, esses dois signos buscam uma ordem de sentido que vai além das camisas pretas ao lado das brancas. Na verdade, faz muito mais sentido colocar a camisa do pai ao lado da camisa do avô, mesmo que as cores não combinem. Por isso a busca de Virgem por informação é tão distinta da busca geminiana, pois o Mercúrio virginiano está interessado em informações que possam ajudá-lo a descobrir o lugar “certo” das coisas. É por isso que virginianos e piscianos costumam se lembrar de histórias contadas a muito tempo atrás, mesmo que não lembrem do nome de nenhum dos personagens.

Aliás, uma das grandes questões da magia é exatamente descobrir o verdadeiro nome das coisas, e nossos nomes mudam conforme nossas vivencias, nossos lugares, nossas idades e nossas buscas, e descobrir esses nomes é a uma das vocações mutáveis desses signos. “Alguns locais tinham nomes. Alguns os mudavam, ou eram tímidos a respeito deles. Havia os que não tinham nome e isso era sempre triste. Uma coisa era ser reservado. Mas não ter nome? Que horror! Que solidão! ” (pg. 33) Esse horror e solidão é que fazem virginianos correrem atrás de informações a respeito da vida e de seus mistérios. Podem fazer a experiência e vocês verificarão a quantidade de virginianos psicólogos, astrólogos, tarólogos, e participantes de rodas de cura dos mais diversos segmentos procurando o nome das coisas. Por isso é tão difícil saber mais que um virginiano a respeito de algo a que ele se dedique, pois essa busca não é apenas por informação e cultura geral, como para o eixo Gêmeos-Sagitário, mas algo que impede a tristeza de não se ter nome tomar conta da vida. 

Essa busca pelo nome das coisas e por seu lugar correto, que faz com que Virgem consiga circular por esse mundo subterrâneo pisciano da maneira certa, é que faz esse ser parecer tão casto e comedido em sua aparência e comportamento, tão cheio de rituais sem sentido para quem olha de fora. Essa também é a fonte que alimenta a hiper crítica destrutiva de Virgem, que ela pode jogar para fora de várias maneiras ruins e tortas, mas que é mortal quando volta para si mesma, principalmente quando isso implica em abrir mão do próprio prazer. Vou destacar aqui uma boa passagem de como essa lógica funciona no relato de Auri: “Nesse instante, sua respiração ficou presa no peito. No fundo da gaveta, meticulosamente dobrados, estavam vários lençóis perfeitos, alvos e macios. Auri estendeu a mão para tocar um deles e se admirou ao ver como sua trama era fechada. Tão fina que seus dedos não conseguiam sentir os fios de linha. Era fresca e gostosa de tocar, como um amante recém-chegado do frio que viesse beijá-la. Auri deslizou a mão pela superfície. Que encanto seria dormir num lençol assim! Deitar sobre ele e sentir aquela doçura em toda sua pele nua! Ela estremeceu e fechou os dedos em torno das bordas dobradas do lençol. Mal percebendo o que fazia, Auri o tirou de seu lugar certo e o levou ao peito. Roçou os lábios na maciez do tecido. Havia outros lençóis embaixo desse. Um tesouro. Sem dúvida eram suficientes para um lugar como Carreta. Além disso, ela havia arrumado tantas coisas! Com certeza...
Fitou o lençol por um longo momento. E, quando seus olhos eram só suavidade e desejo, sua boca tornou-se firme e furiosa. Não. Não era esse o jeito das coisas. Ela não se deixava enganar. Sabia perfeitamente qual era o lugar daquele lençol. Fechou os olhos e o repôs na gaveta, sentindo a vergonha arder no peito. Às vezes ela era uma coisa cobiçosa. Querendo algo para si. Distorcendo a forma apropriada do mundo inteiro. Querendo mandar em tudo com o peso do seu desejo. ” (pg. 36/37)

Um herói de Touro ficaria com os lençóis sem pensar duas vezes, um de Capricórnio pensará duas vezes se isso representar algo importante em seus planos e não sentirá nada por fazer o que acha que tem que fazer. Nossa heroína Virgem olhará para dentro de si, e se houver algo fora do lugar “correto”, ela se sacrificará em nome disso, apesar da fama pisciana de sacrifício. O sacrifício será o mesmo nesse eixo. O resultado disso pode ser um olhar muito cruel para o mundo, já que as pessoas não vivem dentro dos mesmos padrões de correção.  Auri pode fazer isso por que é um personagem e vive dentro de um mundo subterrâneo. A vida com outros seres humanos é bem diferente.

Auri traz um caminhar virginiano por estares piscianos, na solidão e autonomia que simbolizam esses signos: “Auri ainda sorria quando se deitou em sua caminha perfeita. E, sim, a cama estava fria, e solitária também. Mas isso não tinha jeito. Auri sabia melhor que ninguém que valia a pena fazer as coisas direito. ” Esse é tanto o preço que se paga quanto a recompensa que se conquista por aqui.

Enfim, poderia ficar citando e destrinchando o livro todo, mas espero ter despertado a curiosidade de vocês a respeito de Auri e também desses seres mutáveis de modo a animá-los a fazer a leitura do livro e dos signos. Quem puder ler em inglês eu recomendo, pois Patrick Rothfuss faz vários jogos de palavras poéticos que valem a pena percorrer. Mas a tradução está boa também, não se preocupem. Talvez ajude ler primeiro as Crônicas do Matador do Rei, mas não necessariamente.

Uma última citação para falar algo que me ocorreu nessa leitura. Acho que no fundo o que Virgem quer é deixar de ser uma pessoa para se tornar um lugar como o Doze: “O Doze era um dos raros lugares mutáveis dos Subterrâneos. Era sábio o bastante para se conhecer, corajoso o bastante para ser ele mesmo e impetuoso o bastante para se modificar, ainda que, de algum modo, se mantivesse inteiramente correto. Era quase único nesse aspecto e, embora nem sempre fosse seguro ou bondoso, Auri não podia deixar de sentir afeição por ele. ” (pg. 15)

(PS. Essa vai para o Álvaro, que busca seu lugar através desse eixo e me mandou um lindo Zodíaco oriental que tem um Mercúrio de várias dimensões e começa por Aquário.)

terça-feira, 2 de setembro de 2008

As Deusas - Mitos Para Virgem

Assim como Buda tem seu nascimento colocado durante o trajeto do Sol em Touro e Jesus Cristo em Capricórnio, o Avathar com o Sol em Virgem é a Virgem Maria, que tem seu nascimento comemorado dia 8 de setembro. O elemento Terra é aquele que concretiza, que traz para o plano material, e por isso esses seres iluminados são representados por esses signos. Mas enquanto Buda e Jesus Cristo têm que passar por um longo processo para se iluminarem, Maria é “concebida sem pecado” e se “eleva aos céus” no fim da sua vida, sem ter que passar pela morte. A missão de Maria é trazer Deus ao mundo, servindo de veículo ao Deus que quer se materializar. No capítulo 12 do Apocalipse de São João, a luta final entre o Bem e o Mal é representado por uma “mulher vestida com o Sol e com a Lua debaixo de seus pés“, com uma coroa de 12 estrelas que envolve sua cabeça. Ela está grávida daquele que “regerá o mundo com cedro de ferro”, e que tenta escapar de um dragão com 7 cabeças, 10 chifres e 7 diademas sobre as cabeças. A mulher e a criança são perseguidos pelo dragão que, em uma batalha cósmica, é finalmente vencido pelos anjos de Miguel. A criança foi levada para o céu logo após o nascimento, enquanto a mãe encontrou abrigo no deserto. Não cabe aqui analisar toda a simbologia astrológica que envolve essas - e outras - passagens do Apocalipse, mas interpretações antigas do signo de Virgem o colocam como “parteira do Cosmos”, que dá à luz o redentor divino, se reportando à história da Isis Egípcia, que também possuía o título de Rainha do Céu (Regina Caeli), como Nossa Senhora, e através dessa associação essa luta fica muito mais clara. A representação de Isis sentada em seu trono tendo seu filho Horus no colo também serviu de modelo para as posteriores representações icnográficas de Maria como o “trono” de Jesus menino. Os mitos associados ao signo de Virgem remontam a uma consciência muito antiga do Ser Humano, e resurgem de tempos em tempos com novas roupagens.
Como se pode notar, a simbologia ligada a Virgem é mais complexa do que a simplificação superficial se vê nos almanaques astrológicos. As representações mais antigas desse signo estão associadas à Mãe Terra, às Grandes Deusas pré helênicas, de seios fartos ou muitos seios, bem distantes da idéia de castidade distorcida posteriormente. Na verdade, o conceito de virgindade não está ligado à castidade sexual e sim ao controle que mantêm intacto. Um bom exemplo disso é a estátua de Ártemis de Eféso, com cinqüenta seios, mostrando a deusa virgem como símbolo de fertilidade, como aquela que nutre. Antes da invasão patriarcal helênica, a Deusa Mãe Virgem era aquela que não tinha seus poderes e sua posição ligados a nenhum consorte, pois ela reinava sozinha oferecendo sua feminilidade a quem escolhesse: ela era esposa da vida. Dessas deusas maternais ligadas à Terra, Deméter foi a única que conseguiu sobreviver na Antigüidade, graças à ligação que o mito, seu e de sua filha Core, tinha com os Mistérios de Eleusis. Divindade da colheita, a filha de Crono-Saturno e Réia é essencialmente a deusa virgem do trigo, e seria a responsável pelo conhecimento que o homem adquiriu para cultivá-lo, colhê-lo e fabricar o pão. Os segredos e significados mais profundos dos Mistérios de Eleusis acabaram se perdendo, mas sabemos que seus iniciados buscavam a possibilidade de, ao morrer, descer ao Hades sem perder a memória, que, para os gregos, é a alma do Homem, e sem a qual ele se torna um eídola, um fantasma. Os virginianos, normalmente, possuem duas características básicas que podemos ver nesses fragmentos: uma independência desconcertante e uma memória significativa. Assim, é comum vermos pessoas com forte presença desse signo capazes de permanecer independentes mesmo quando casados, e que esquecem seu nome, mas não esquecem a história que você contou sobre o enterro do seu cachorrinho na infância. As vestais, sacerdotisas da deusa Vesta, senhora da fecundidade e da reprodução feminina, nos dá outra pista desse signo: elas eram conhecidas como prostitutas sagradas e eram designadas pelo termo “virgem”, em seu sentido original, pois não podiam se casar e, comprometidas com o serviço à deusa, tinham sua feminilidade dedicada ao propósito superior de trazer o poder fertilizador da deusa para o contato efetivo com a vida dos seres humanos. Nas estatísticas de Gauquelin, as prostitutas têm grande incidência de Virgem, seja através do Sol, do Ascendente ou da Lua. Partindo desses dados poderemos entender o que nos diz o mito de Deméter e sua filha Core/Perséfone, denominadas nos Mistérios de Eleusis simplesmente as Deusas
A deusa da colheita tinha uma filha de Zeus chamada Core, ou seja “a eternamente jovem”, que, mesmo depois de adulta, vivia como uma menina, inocente e feliz. Seu tio Hades/Plutão a vê e a deseja, raptando Core quando ela se aproxima de um narciso colocado na beira do abismo por seu pai Zeus. Deméter corre ao encontro da filha quando ouve seu grito, mas não encontra ninguém e se desespera, passando a vagar pela Terra em busca da filha. Hélio, o condutor do sol, que sabe de tudo que se passava sobre a Terra, compadecido da pobre e desesperada mãe, conta-lhe sobre a rapto feito por Hades e da ajuda que esse recebeu de Zeus. Magoada e se sentindo traída, Deméter se refugia em um de seus templos e abdica de suas funções divinas, enquanto não devolvessem sua filha. Com isso a Terra perde sua vegetação, as colheitas se interrompem e o equilíbrio das estações acaba, gerando a fome entre os Homens. Zeus manda uma série de mensageiros à Deméter pedindo a ela que voltasse ao Olimpo, mas a deusa se recusava a voltar a conviver com os imortais e a permitir que vegetação crescesse. Vendo que a ordem do mundo estava em perigo, Zeus ordena que seu irmão Hades devolvesse Core. O senhor dos mortos tem que se curvar à vontade soberana do irmão, mas antes faz com que sua amada coma uma semente de romã - símbolo da sedução e da fertilidade -, e com isso a transforma em Perséfone, sua esposa e rainha, o que a obriga a ter que voltar para seus braços. É feito, então, um acordo, onde Perséfone passaria quatro meses com o esposo e oito com a mãe. Reencontrada a filha, Deméter retorna ao Olimpo e a Terra volta a florir. Antes de regressar, porém, as deusas ensinam seus mais profundos segredos ao rei Céleo e seus filhos, que abrigaram Deméter no templo construído em sua homenagem, nascendo, assim, os Mistérios de Eleusis.
O virginiano, homem ou mulher, vive uma relação complexa consigo, dominada principalmente pela figura materna, pois, logo que nasce, tem uma sensibilidade inconsciente para a relação corporal dessa mãe, em uma fase difícil fisicamente, cheio de mudanças, desgostos e depressões. Isso acaba por cindir profundamente esse signo, pois a forte sensualidade típica dos signos de Terra é bloqueada por uma sensação de inadequação. Como resultado, Virgem desenvolve uma racionalização que o afasta das vivências corporais, tentando, com isso, se manter imune aos apelos da vida. Com isso ele acaba dificultando o amadurecimento da sua sexualidade e de seu emocional, sendo comum encontrarmos pessoas adultas desse signo com um raciocínio brilhante, um físico saudável, mas com uma inocência de adolescente no campo afetivo. É desconcertante quando vemos essa criança que tem medo da vida por baixo da máscara adulta racional de Virgem. Mas sempre chega um momento do destino desse signo em que a vida, como Hades, irrompe do abismo e o obriga a enfrentar a experiência vital de forma mais plena, pois, assim como Core tem que se transformar em Perséfone, o virginiano tem que amadurecer plenamente para ser o adulto autônomo que almeja. O custo da recusa de crescimento geralmente é uma fase desértica que esse signo tem que passar, onde as coisas perdem o sentido e a capacidade de criar parece ter desaparecido. Podemos observar que homens e mulheres com forte influência de Virgem passam por três fases de amadurecimento: na primeira mantêm-se distantes da própria capacidade de amar e viver, tendo como pano de fundo um alto grau de crítica e de afastamento das próprias sensações corpóreas que fazem com que a pessoa duvide de si mesma e se incline para relações do tipo “muito trabalho e pouca paga” - seja na área profissional ou emocional-afetiva; a força da deusa, porém, pressiona por manifestar-se, levando esse signo a vivenciar o que Freitas chama de “papel da Sereia”, quando acaba se envolvendo num ritual narcísico de sedução em que o amor se confunde com desejo e não se consegue diferenciar a sua capacidade de amar do desejo que tem de que os outros o satisfaçam - por isso a analogia com as Sereias, seres míticos com corpo de mulher e rabo de peixe que passavam a vida a se olhar no espelho e a cantar para seduzir os viajantes, que acabavam morrendo nos rochedos na tentativa de amá-las; o amadurecimento virginiano virá quando houver coragem para passar pela terceira fase, onde entra em cena a sacerdotisa a serviço da Deusa, capaz de vivenciar a sexualidade e o instinto como coisas sagradas e cuja experiência é inestimável. Só aí Virgem conseguirá desempenhar seu verdadeiro papel de “parteira Cósmica” e fecundadora, apresentando-se como Ishtar (deusa Babilônica análoga a Deméter/Perséfone): “Uma prostituta compassiva eu sou”, pois compaixão é a verdadeira força de purificação que percorre esse signo, e é o que Virgem descobre ao se transformar em Perséfone. Aí sim ele conseguirá, em suas tentativas de ordenar e sintetizar o mundo, fazer a transmutação alquímica da vida. E a vida, se descobrirá no afinal das contas, é ele mesmo.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Virgem, O Purificador Do Zodíaco


“Eu sei que se tocasse
Com a mão aquele canto do quadro
Onde um amarelo arde
Me queimaria nele
Ou teria manchado para sempre de delírio
A ponta dos dedos.”

Ferreira Gullar - Poeta virginiano

Virgem e Escorpião são os signos que receberam mais rótulos errôneos em suas definições. Uma delas é de que virginianos são perfeccionistas, mas perfeição é uma idéia, portanto uma motivação de Ar. Esse é o signo de Terra Mutável, regido por Mercúrio e exílio de Netuno, onde Urano se exalta e a Lua está em queda. Essa regência mercuriana e exaltação uraniana mostram que esse é um signo que se dá bem com idéias e ideais, mas a queda lunar e o exílio netuniano mostram também que ele está bem longe de se sentir confortável com coisas muito emocionais ou nebulosas. Você conhece a piada do virginiano e do pisciano que encontram um bêbado sofrendo na sarjeta? Os dois sentem a mesma compaixão, mas o pisciano vai sentar com o bêbado e chorar junto, enquanto o virginiano vai encher o pobre coitado de livros de auto ajuda. Virgem aceita a realidade mundana como ela é como seus irmãos terráqueos, Touro e Capricórnio, o que nenhum perfeccionista jamais aceitou. Detalhista seria uma melhor palavra para definir esse signo. Ouço muitas pessoas - inclusive virginianos - reclamando desse gosto por detalhes, que teoricamente faz as pessoas desse signo perderem a noção do todo. Isso também não é uma verdade a priori, apesar de ser um risco real para muitos. Virgem adora detalhes, e isso significa que ele verá a beleza e a delicadeza do pequeno brinco que você está usando ou a elegância do seu discreto prendedor de gravatas, mas também que você saiu de casa sem passar a camisa direito ou que você comeu algo com molho, pela pequena mancha em sua roupa. Mas ele não irá julgá-lo nem pelo brinco nem pela mancha na roupa. Parece que Virgem olha para o mundo como se ele fosse um grande quebra-cabeças, e para encontrar os encaixes é necessário estar atento aos detalhes. Esse é a razão também da incrível memória desse signo. Outra coisa que os manuais astrológicos gostam de dizer é que Virgem tem mania de limpeza, quando temos muitos virginianos capazes de deixar a louça de uma semana sobre a pia e os móveis cheios de pó, enquanto estão tentando resolver alguma questão interna. É verdade que uma casa organizada, uma conta bancária equilibrada e uma cozinha limpa podem fazer um virginiano rir à toa, mas essa não é sua motivação básica. A energia fundamental de Virgem está em sua busca por discriminação. Assim como Sagitário, que tem sua energia impulsionando-o para o conhecimento do Homem, acaba se tornando um viajante ou um professor, por exemplo, o virginiano, em busca da discriminação das coisas, acaba se tornando um organizador.
Ninguém discrimina mais do que Virgem, e isso quer dizer que um simples “sim” ou um simples “não” não serão suficientes, pois esse universo preto ou branco é simples demais, e para esse signo raramente as coisas são simples. Alguns astrólogos colocam Virgem como o guardião e purificador do zodíaco, pois ele busca a síntese e a ordem que criam a consciência. Isso pode ser observado no discernimento com que ele faz suas escolhas, seja de amigos, amores, comida, idéias ou sonhos. Síntese é outra palavra chave para entender Virgem, pois ele está sempre tentando juntar coisas que parecem diferentes, compatibilizando fatos, idéias e aspectos da vida que a maioria poderia considerar excludentes. Tanto a compulsão quanto a doação virginianas residem nessa necessidade de síntese. Tudo tem que se ajustar, combinar, e isso implica em descobrir onde as coisas se encaixam, o que Virgem tenta dando nomes, aprendendo, catalogando, classificando. Mercúrio dá a Virgem, como a Gêmeos, um grande interesse pelo conhecimento e pela comunicação, mas enquanto Gêmeos gosta de saber de tudo um pouco só pelo prazer de saber, para Virgem o conhecimento tem que ser útil, e isso pode torná-lo arrogante e até intratável. A cada nova experiência ele vai se perguntar como sintetizá-la, para poder manejá-la, e depois como utilizá-la. Se não consegue alcançar a síntese ou ele dirá que ela não existe ou sairá correndo atrás de nomes e definições que a classifiquem. Se ele não consegue utilizá-la, a descartará como algo que não é prático. Isso pode ser bem triste, quando o virginiano resolve deixar de lado pessoas, idéias, carreiras ou outras coisas relacionadas à beleza e até ao amor por achar que não são aplicáveis àquilo que considera a realidade. Aí sim Virgem se transforma naquele tipo para quem a vida é só trabalho e tarefas maçantes, passando o dia a limpar cinzeiros, vendo o mundo com olhos cínicos e doentios. Quando encontrar um virginiano assim, você pode chorar.
Observando pessoas com forte presença em Virgem vemos que algumas delas podem até se mostrar obsessivas em sua necessidade de ordem e limpeza externas, mas todas têm uma tendência muito mais forte a ser obsessivos em sua ordem e limpeza emocionais. Isso pode transformá-los em grandes controladores de si mesmos, que nunca deixam transparecer sua fraqueza ou carência, e os torna muito sensíveis a críticas. O mesmo impulso que se externaliza com um ataque histérico se a camisa azul está no lugar das vermelhas, faz com que essa criatura analise tudo freneticamente para que não transpareça nenhum ferimento psíquico ou emoção “fora do lugar”. Esse impulso pode ser chamado de medo do caos. Virgem tem uma consciência profunda de todo o caos, desordem, sensibilidade emocional, romantismo e imaginação que sua alma abriga, mas acha que tem de lutar contra isso para poder tolerar a incerteza e a vacuidade das pessoas e do mundo que o rodeia. Por isso Virgem pode ser muito duro e rude - não há signo mais disposto a falar “não” - pois essa é a forma que tem para se proteger do mundo, assim como sua insistente compulsão em se ligar à realidade prática ajuda-o a fugir do que é místico em sua alma. Ele sabe que sem fronteiras bem delimitadas começa a autodesintegração, mas se não reconhecer que o que é útil nem sempre é vital e significativo, e que brincar, jogar e até se enganar faz parte da vida, ele nunca vai conseguir nem se equilibrar nem entender realmente a vida. A Alma virginiana busca autonomia para poder servir ao mundo como um veículo íntegro, mas tem que amadurecer para perceber que isso não tem nada a ver com a solidão que suas neuroses e medos o prendem.