terça-feira, 29 de setembro de 2009

Revolução Solar: A Face Rebelde do Sol?

"O tempo é a substância de que sou feito. O tempo é um rio que me arrebata, mas eu sou o rio; é um tigre que me destroça, mas eu sou o tigre; é um fogo que me consome, mas eu sou o fogo. O mundo, infelizmente, é real; e eu, infelizmente, sou Borges"
Jorge Luis Borges


A Revolução Solar é o mais popular dos métodos de progressão. Muitas pessoas, porém, pedem para fazer a revolução achando que o mapa progredido substitui o mapa natal. Sinto informar aos que têm problemas com seu mapa natal que o Sol não é um rebelde que resolveu mudar quem você é. A carta astrológica de nascimento indica o padrão formado pelos astros que circundam a Terra e é chamada de mapa radical por ser o fator raiz em toda interpretação astrológica. Rudhyar prefere o termo seminal, pois o horóscopo natal simboliza a semente onde está guardado todo o potencial arquetípico da pessoa, assim como a semente guarda todas as características da futura planta. Sendo assim, uma carta de nascimento é a representação simbólica da plenitude potencial de um microcosmo totalmente aperfeiçoado, mostrando como seria aquela planta plenamente desenvolvida. Porém, não há como garantir que essa planta vá se desenvolver, pois a potencialidade astrológica é um fator abstrato mostrado por uma representação simbólica. Isso significa que quando trabalhamos o mapa astral não temos a indicação de nada factual, nada concreto, nada rigorosamente “destinado”, mas a delineação daquilo que seria a personalidade se ela amadurecesse à semelhança do arquétipo representado, gerando frutos na sua realidade. Através desse paradigma é possível fazer julgamentos em termos de “sucessos” e “fracassos”, no sentido de observar se a pessoa está ligada a esse núcleo central de si mesma e de sua vida, ou não. É com esse argumento que afirmamos ser a astrologia um instrumento de autoconhecimento e de busca de completude, no sentido de um destino que deve ser completado por ser o desdobramento que manifesta concretamente aquilo que as condições interiores representam, e não um sistema de previsão do futuro: destino astrológico é saber que uma semente de maçã tem como “Karma” virar macieira.

Quando estamos trabalhando um mapa temos um universo como definido por Einstein, finito mas ilimitado, numa continuidade espaço-tempo com forma cíclica e não uma esfera fechada. As progressões e direções derivadas visam determinar os desdobramentos de um indivíduo em determinado momento da vida, criando um elemento temporal de compreensão. As progressões e direções mostram fases de maturação ao converter valores de espaço em valores de tempo, transformando os 360 graus do zodíaco em símbolos de fases de desdobramento da vida. Progressões e direções baseiam-se numa análise da movimentação real de planetas e cúspides de casas após o momento do nascimento, como se o nascer não fosse um gesto final e sim algo que se prolonga no tempo, espalhando-se sobre um período de horas (direções primárias), ou dias (progressões secundárias), mostrando eventos que se tornam objetivos no decorrer da vida. Existem, pelo menos, doze métodos diferentes de progressão correntemente utilizadas pelos astrólogos, o que mostra a dificuldade que há em se estabelecer com rigor o seu emprego. No ocidente os métodos mais utilizados são as Progressões Secundárias (ou método “dia-ano”) e o método do Arco Solar de Progressão Primária, mas, como diz Arroyo, isso parece se dever muito mais ao fato de serem os únicos ensinados nas escolas de astrologia americanas do que a uma maior confiança em seus dados. As progressões secundárias parecem refletir acontecimentos psíquicos e períodos de aperfeiçoamento intensivo, embora possam corresponder também a acontecimentos externos específicos. Todos os planetas podem ser “progredidos”, mas é na progressão do Sol e da Lua que temos os dados mais perceptíveis, pois as pessoas geralmente estão muito mais em contato com os ciclos de aperfeiçoamento desses astros.

O mapa da progressão solar, conhecida como Revolução, deve ser calculado para o momento exato em que o Sol completa seu ciclo pelo zodíaco naquele ano, no local onde a pessoa faz aniversário. O movimento solar não é uma constante - variando de 0,51° a 1,23° por dia - e seu retorno exato deve ser buscado nas efemérides. Essa variação no movimento solar – sim, sabemos que é a Terra que se move em torno do Sol e não o contrário! – faz com que o Sol volte ao lugar de origem no seu mapa em momentos diferentes a cada ano. Assim, se a dona Maria, por exemplo, nasceu dia 12/10/1940, às 5h. da manhã em Chá de Alegria, PE (e existe mesmo essa cidade!), ela terá o Sol Natal à 18°50’37”, e o Sol estará nessa exata posição em 2009, se ela passar seu aniversário na cidade natal, dia 11 de outubro desse ano às 21:01:10h. Então você faz o mapa desse momento de aniversário e tem o mapa da Revolução Solar. O mapa criado a partir da posição do Sol Progredido em cada ano mostra como o processo de integração da personalidade prossegue após o nascimento. Podemos ver o modo como a substância pessoal está sendo assimilada em seu amadurecimento e complementação, pensando em uma personalidade que tende à plenitude. O Sol representa o fator de integração do mapa, e as suas progressões secundárias são significativas no sentido de mostrar o processo de incorporação da vontade pessoal. É nesse sentido que o Sol progredido dá as melhores indicações do significado dos próximos doze meses

Nas próximas postagens estarei dando dicas de como olhar para o mapa do seu ano.

sábado, 5 de setembro de 2009

Passeios de Plutão Pelo Mapa Natal

“Quem, se eu gritasse, entre a legião dos Anjos me ouviria? E mesmo que um deles me tomasse inesperadamente em seu coração, aniquilar-me-ia sua existência demasiado forte. Pois que é o Belo senão o grau do Terrível que ainda suportamos e que admiramos porque, impassível, desdenha destruir-nos? Todo Anjo é terrível. E eu me contenho, pois, e reprimo o apelo do meu soluço obscuro. Ai, quem nos poderia valer? Nem Anjos, nem homens e o intuitivo animal logo adverte que para nós não há amparo nesse mundo definido.”
Rainer Maria Rilke – Elegias de Duíno

Em todos os mitos, contos, histórias e filmes, chega o momento em que o herói tem que enfrentar seu inimigo cara a cara se quiser ter um pouco de paz na vida. Nós também, mais dia menos dia, temos que olhar para nossa Sombra e enfrentá-la no lugar de ficar justificando nossas distorções negativas por que o mundo é mau, como se não participássemos dele. Jung dizia que o objetivo de nossa existência era a individuação, que ele definia como o processo onde criamos, a partir de nos mesmos, aquele ser único que no fundo sentimos que somos. Os trânsitos de Plutão são bons períodos para fazer essa confrontação e aprender a se aceitar como se é, com toda a força, sombra, luz e vulnerabilidade, pois esse é o início de uma verdadeira e positiva auto-estima, aquela que vem de um conhecimento profundo de quem se é. Se você está passando por algum processo difícil de Plutão, lembre-se que nossa destrutividade tem mais força quando está na sombra, no inconsciente, mas perde seu poder quando conscientizamos e trabalhamos com isso. Você pode se tornar mais livre e autêntico se tiver coragem de aceitar o que está acontecendo em vez de tentar controlar ou lutar contra o que quer que seja. Aqui vão algumas dicas e receitas de bolo a respeito de como Plutão pode agir sobre os astros do nosso mapa, mas que não devem ser tomadas ao pé da letra, e sim servir para reflexão sobre os processos.

Trânsitos de Plutão pelo Sol Natal
Plutão é tradicionalmente associado à idéia de regeneração e renascimento, portanto, quando ele entra em contato com a essência simbolizada pelo Sol, vamos ter períodos de grandes transformações internas. Uma das características desses processos é que nossas crenças e opiniões ganham muita força, e parece mesmo que se fica mais seguro das próprias idéias e objetivos de vida. Esse parece ser o caminho mais comum para entender como aquilo que acreditamos nos faz criar o mundo que vivemos, e então nos estouramos e temos que rever quem somos e o que queremos. O Sol é nossa grande fonte de Luz e Plutão é o portador da Sombra que essa Luz pode produzir. O encontro dos dois significa ter que olhar para o que fazemos com nossas vidas sem esconder as motivações egoístas ou os objetivos mesquinhos. Algumas pessoas me relatam uma necessidade obsessiva de mudar e abrir mão de situações seguras durante esses trânsitos. Esgotos estouram, não temos como cumprir promessas feitas assim como os outros também não cumprem as feitas a nós, percebemos com clareza as más intenções alheias, podemos descobrir muitos podres de pessoas que gostamos, e nos deparamos, sem querer, com a colônia de cupins que estava destruindo nossa linda casa de madeira. Como seus irmãos transaturninos, Plutão também está trabalhando em função de um maior amadurecimento da nossa humanidade, e aqui isso significa olhar para a verdade daquilo que vivemos sem os enfeites morais, materiais, espirituais, ideológicos, etc. Como o Sol fala de nossos processos internos de desenvolvimento, muitas vezes é difícil trabalhar o que está acontecendo em nossas entranhas quando o resto do mundo parece continuar do mesmo jeito. É importante dar credito a essa percepção interna e buscar a mudança de direção, mesmo com todo o medo e insegurança que isso traga, pois Plutão faz com que se tenha que renunciar ao passado para se começar algo novo e mais verdadeiro que ainda não se experimentou. É preciso limpar os sótãos e porões e aceitar que não há como um ser humano controlar o Universo, apesar das crenças e sensações que tivemos quando pequenos. E é bom não tentar forçar as coisas no sentido contrário se você não quiser se machucar mais.

Trânsitos de Plutão pela Lua Natal
A Lua está diretamente conectada com nossas estratégias emocionais de sobrevivência e Plutão, ao se encontrar com esse luminar, vai mostrar que essas defesas não funcionam mais. Geralmente ouço relatos bem difíceis sobre esses períodos, pois o mais comum é uma sensação de profunda vulnerabilidade, como se todas as feridas de infância resolvessem infeccionar ao mesmo tempo e nada conseguisse abaixar a febre. As duas armas preferidas de Plutão são as paixões e as doenças, por serem experiências em que nossas fantasias de força, nossa auto-imagem como seres inteligentes e donos do próprio destino, caem por terra. Como a Lua rege as nossas reações emocionais, Plutão faz com que experimentemos mais intensamente aquilo que sentimos, o que pode trazer muita ansiedade e medo. As tentativas de controlar isso só trazem mais problemas e aumento da tensão. Esses são processos de profunda mudança emocional, que não é possível ser acompanhado por uma racionalidade comportamental, mas que ajuda muito ter um acompanhamento terapêutico. Uma das coisas que precisamos aprender rapidamente na infância é a esconder aquilo que não é bem visto pela família onde nascemos, para assim podermos ser aceitos e cuidados naquele ambiente. Isso pode significar não poder sentir raiva dos pais, ciúmes dos irmãos ou ter muita iniciativa por que a família tem dogmas religiosos muito rígidos que condenam essas atitudes; ou não se pode ser sensível, amoroso e sentimental porque isso é visto como fraqueza; ou nos vemos cercados por pessoas que vêem com maus olhos aqueles que lêem muito, são muito curiosos e mais introspectivos, por acharem que a vida tem que ser cheia de atividades externas e trabalho concreto. Sejam quais foram os ajustes emocionais que tivemos que fazer para nos adaptarmos à estrutura familiar, a Lua tem armazenado nossas estratégias para sobreviver e nos vincular afetivamente no nosso ambiente de origem. Plutão entra em contato com nosso ambiente lunar mostrando o que foi escondido, expondo o custo dessa adaptação e percebemos que não podemos continuar como estávamos. Isso nos abala profundamente por ameaçar nossa sensação de segurança e nossas fantasias de controle e, geralmente nos vemos com uma característica emocional plutoniana bem desagradável, chamada obsessão. Os jogos de poder e manipulações emocionais que fazemos e que somos vítimas ficam muito conscientes, e temos que fazer algo a respeito. Isso significa perder uma inocência fruto da imaturidade emocional para adquirir força intuitiva. É preciso deixar ir embora aquilo que nos faz mal, nos purificarmos das dores do passado, para que novas pessoas e oportunidades de vínculo possam surgir, e assim possamos ter maior intimidade e uma auto-imagem mais real.

Trânsitos de Plutão por Mercúrio Natal
Mercúrio mostra a maneira como trocamos informações com o mundo, e Plutão faz com que esse intercâmbio ganhe intensidade. É comum que passemos um tempo achando que nossos padrões de pensamento estão um tanto estranhos, o que causa certa tensão, mas que também estamos mais criativos e profundos, o que pode ser bem construtivo quando canalizado. Nossa mente sente atração pelos abismos misteriosos da psique e da vida em geral quando visitada por Plutão. Artistas e escritores costumam relatar que esses são períodos muito férteis. Mercúrio é o único deus da mitologia Greco-romana que consegue entrar e sair de todos os reinos, desde os picos olímpicos às profundezas do Tártaro, sem que isso crie problemas mais sérios. Se há alguma dificuldade de expressão mercuriana, algum trauma quanto à própria curiosidade ou preconceito com relação a algum tema de estudo, esses são períodos para se entender e limpar essas questões. As obsessões características de Plutão costumam aparecer também em suas visitas ao Deus dos Ladrões, e podemos nos perceber manipulando idéias para ganhar jogos de poder ou tentando controlar o que pensamos e retalhando as idéias dos outros. Esse não é um caminho muito proveitoso para essa energia, pois Plutão alimenta aquilo que escolhemos plantar, e então passamos a ficar bem paranóicos com a colheita que teremos. Mercúrio também rege os nossos 5 sentidos, e podemos passar por períodos em que nossa visão, olfato, paladar, tato e audição parecem não responder como costumavam. É sempre bom passar por um médico ao observar essas mudanças, mas lembrando que se está passando por um processo que visa mudar a interação com o mundo, e que coisas que parecem estranhas podem significar uma percepção mais aguda, não necessariamente a perda de algum sentido. Se conseguirmos abrir mão da necessidade de controle durante esses trânsitos - que é a fonte de tensão desses períodos -, é possível se abrir para novas experiências sem ter medo de parecer medíocre ou amador demais, e então novos aprendizados podem ser realizados e muitos dons adormecidos despertados.

Trânsitos de Plutão pela Vênus Natal
Plutão costuma seduzir nossa Vênus através de um narciso na beira do abismo, exatamente como o deus faz com sua sobrinha Core. Nossa maneira de dar e receber amor, beleza e prazer ganham intensidade e por isso precisamos perder a inocência para ganhar profundidade. Core tem que se transformar em Perséfone. O símbolo de Vênus é o escolhido para representar o próprio feminino, mas isso não quer dizer que é posse exclusiva do gênero, mas apenas que é mais incentivado nas mulheres, e por isso mais facilmente conscientizado nelas. Cada vez mais vemos homens tomando posse da sua capacidade de troca amorosa e de busca por beleza e prazer em suas vidas sem depender de uma esposa ou mãe. Sorte deles, principalmente durante uma visita de Plutão à Vênus. Mulheres que precisam de uma figura externa para exercer sua Vênus (o tipo que tem do vestuário ao gosto musical definido pelo parceiro) costumam ter muitos problemas nos processos Vênus/Plutão. A idade em que esses trânsitos acontecem também devem ser levados em conta, já que na adolescência nosso gosto é muito mais determinado pelo nosso grupo do que por nossa recém adquirida consciência de individualidade, e quando temos mais anos de estrada é mais fácil perceber o que nos dá realmente prazer e alegria na vida. Ao menos em teoria. O mais comum é encontrarmos parceiros plutonianos durante esses trânsitos, e vivemos relações com boas doses de manipulação, possessividade, desejos obscuros e sentimentos rudes que destroem os castelos com príncipes, princesas e finais felizes. Quanto mais obsessivo se fica, mais o objeto de nosso desejo costuma se afastar. Fica muito claro que estamos buscando segurança no outro e chamando isso de amor. A possibilidade contrária também é possível, e quanto mais nos afastamos daquela pessoa que se mostrou perigosa ou diferente daquilo que queremos em um companheiro, mais o outro se mostra empenhado em nos conquistar. Plutão traz para a consciência toda a destrutividade que confundimos com amor, quando se envolve com Vênus. Se atrairmos um carrasco é porque cremos que somos vítimas, ou seja, abrimos mão de nossa força por temê-la. Esse trânsito é a oportunidade de nos purificarmos e libertarmos dos equívocos destrutivos que acumulamos durante a formação da nossa identidade, e as desigualdades que antes aceitávamos em nossas relações vão se tornando insuportáveis. Quando Plutão transita por nossa Vênus ficam claras, também, as armas que temos para conquistar e nosso desejo por moldar os outros. Depois que se vê isso no próprio espelho é impossível falar que só temos boas intençõe nos nossos relacionamentos. É comum se ver na posição tanto de abusador quanto de abusado. Precisamos entender durante esses trânsitos que não há como se abrir para alguém que nos trata mal e chamar isso de amor. Plutão nos obriga a um profundo amadurecimento em nossa busca por Amor, Beleza e Prazer na vida, e isso significa ter que deixar muitas ilusões para trás de modo a criar espaço para a força que existe em nosso desejo de união com o outro. É a chance que temos de viver com maior intensidade quem somos. É comum que o gosto musical, a maneira de se vestir, o modo de experimentar o prazer mudem, e você vai poder ter certeza, no fim do processo, que aquilo que dá gosto em sua vida é algo que reverbera profundamente em você.

Trânsitos de Plutão pelo Marte Natal
Se você reclama de não ter energia para ir atrás do que quer, durante os trânsitos de Plutão por seu Marte seus problemas acabaram! Plutão intensifica a força marciana para ir atrás daquilo que se quer, e mesmo os Martes mais civilizados se sentem fortes para conquistar “a parte que te cabe desse latifúndio”. Se a pessoa é do tipo que tem problemas com essa energia marciana e acha de mau gosto ou egoísta agir de maneira direta, isso pode se transformar em tensão interna e causar muitos problemas. Plutão revela o que há por baixo do verniz educado da nossa personalidade e Marte é uma força bruta que faz nossa natureza vital se expressar, fazendo desse encontro algo um tanto bárbaro. Algumas pessoas mais idealistas ficam constrangidas com tanta intensidade, e tentam suprimi-la fechando-se, pois não sabem o que pode acontecer se essa força toda vier para fora. Geralmente essa é a base inconsciente para se criar doenças e acidentes para que a pessoa enfrente seus medos. Quando começamos a sofrer violências externas repetidamente, é importante estar vendo o que isso significa internamente. Como Marte simboliza nossa energia sexual, Plutão também irá estimular nosso desejo nessa área, o que ainda hoje representa um problema para alguns. É preciso mesmo lidar com muitas energias difíceis, que causam desconforto nas nossas relações sociais, como raiva, inveja, disputas, etc. Ir atrás daquilo que se quer muitas vezes significa ter que deixar um lugar tranqüilo e infeliz para abrir novas formas de se estar no mundo, o que provavelmente revelará aquilo que impedia seu desenvolvimento em nome de uma harmonia de fachada. O que fazer quando aquele amigo se mostra invejoso com suas conquistas, ou seu maior desejo sexual faz com que seu parceiro fique ciumento e possessivo porque não consegue acompanhar seu pique? Nas visitas de Plutão ao nosso Marte é preciso aprender a lidar com esses sentimentos que foram deixados no inconsciente por serem pouco civilizados. Mas se você tem um trabalho que gosta e onde pode exercer sua criatividade e uma parceria de confiança e respeito, não será tão difícil canalizar toda essa força de maneira construtiva, e assim os rompimentos necessários para uma expressão mais verdadeira logo se mostram libertadores, mesmo quando desconfortáveis. Mas se você está passando por uma fase mais solitária e seu trabalho não traz satisfação pessoal, é bom você começar a fazer alguma atividade extra para direcionar essa energia, como boxe ou yoga tântrica. Os relacionamentos que se formam nesses períodos costumam ter grande intensidade sexual e não levam muito em conta o caráter do parceiro, então se recomenda não levar para casa o primeiro ser interessante que aparecer pela frente, pois geralmente será um modelito “chave de cadeia” básico. Se você ainda não encontrou uma maneira criativa de utilizar seus dons para agir no mundo, a recomendação é parar de culpar o mundo e começar a experimentar coisas – que pode ser desde servir mesas até fazer esculturas de areia – para achar aquilo que quer fazer em vez de ficar acumulando rancor em seu interior até explodir em alguma doença ou experiência violenta. Cuidado e intensidade não costumam caminhar juntos, mas se você consegue articular essas duas características internamente, esses trânsitos costumam gerar as grandes viradas de vida que vemos se transformando em filme tempos depois.

Trânsitos de Plutão pelo Júpiter Natal
O otimismo jupiteriano e a intensidade plutoniana costumam fazer com que busquemos horizontes mais profundos em nossas vidas, mas isso não significa, necessariamente, períodos de maior introspecção. Na mitologia, Júpiter e Plutão são irmãos, mas cada um tem seu próprio reino e um não se mete na vida do outro. Nesse sentido, as visitas do senhor do Hades ao seu irmão caçula costumam nos trazer uma sensação de desconforto, pois nossa natureza aventureira e expansiva, representada por Júpiter, ganha um peso que dificulta o caminhar. Aqui, porém, saímos da espera dos astros pessoais e entramos na dimensão mais social da nossa personalidade, portanto, a mudança que precisamos realizar não nos atinge tão internamente. Um coisa que costuma acontecer com freqüência é a pessoa começar a fazer todos os workshops que aparecem pela frente, desde decoração de interiores até imersão terapêutica com os monges do Himalaia. “Tudo que é humano me interessa”, já dizia o jupiteriano Montaigne. Se tiver uma boa propaganda, então, nem me fale! Mas os trânsitos de Plutão nos enchem de intensidade para que nos livremos da fachada e encontremos o potencial escondido. Se juntarmos o exagero de Júpiter e a obsessão de Plutão, as coisas podem ficar um tanto difíceis de se viver, e é bom se cuidar para não ter um colapso nervoso com tantas coisas. Existe, porém, um momento de cumplicidade entre Júpiter e Plutão na mitologia que pode ilustrar bem o significado mais profundo desses trânsitos. Quando Plutão rapta Core para transformá-la em Perséfone, ele conta com total conivência de Júpiter, que, aliás, é pai da donzela. Demeter descobre que sua filha havia desaparecido e grita por ajuda, mas Júpiter sai de fininho como se não soubesse de nada. Só depois que Hélio, o Sol, tem compaixão da pobre deusa e lhe conta o que aconteceu, o senhor do Olímpio vai conversar com Demeter para que ela não destrua a Terra. Podemos entender, então, que a perda da inocência do trânsito plutoniano não é um problema quando se trata de nosso Júpiter natal, pois esse planeta nos anima a buscar a verdade: esse é o ponto do nosso mapa que acredita na possibilidade de nos tornarmos melhores e maiores. Os períodos em que Plutão visita Júpiter acabam se tornando muito férteis e abrindo novas dimensões de compreensão em nossas vidas, além de trazer para nosso mundo novas relações e grupos para compartilhar aquilo que estamos aprendendo.

Trânsitos de Plutão pelo Saturno Natal
Quando da Guerra dos Titãs, Saturno foi parar no Tártaro, sob custódia de Plutão. Saiu de lá muito mais manso, indo reinar na Ilha dos Bem Aventurados, para onde iam os heróis após sua vida terrena. Saturno marca o ponto em nosso mapa onde vivemos uma série de restrições que nos forçam a amadurecer e criar uma estrutura para nos estabelecermos como adultos. Nunca estamos totalmente satisfeitos onde temos Saturno, pois ali sabemos que quanto mais experiências acumulamos, melhor será nossa habilidade e possibilidade de atuação. Isso significa que, por mais terapia que fizermos, sempre haverá uma ponta de insegurança, uma sensação de ameaça à nossa auto estima, em nossa área saturnina. Isso nos ajuda a sermos prudentes e assumirmos a responsabilidade por aquilo que queremos ser, mas também pode criar uma estrutura que só visa fugir do medo, cristalizando uma prisão para nossa criança em lugar de construir nossa base de autoridade adulta. Onde há medo e confusão podemos apostar que há alguma distorção que alimenta as áreas inferiores de nós mesmos, e essa é a matéria prima para as transformações de Plutão. Saturno fala da construção de nossa autoridade no mundo, e Plutão tem uma ligação intensa com o poder, então uma das possibilidades desse período é a de encontrarmos pessoas em posição de poder que não possuem a devida experiência que lhes dariam autoridade. Esse tipo de confronto pode nos fazer olhar para todas as experiências, toda a seriedade e persistência que tivemos na vida e nos dar coragem para olhar nossas verdadeiras ambições, o lugar que queremos alcançar no mundo, nos libertando de muitos dos condicionamentos sociais que carregávamos. Assim podemos encarar o medo de sermos questionados ou de nos sentirmos insignificantes. Nessas épocas de visita de Plutão ao nosso Saturno questionamos profundamente as figuras de autoridade, pois conseguimos ver suas sombras com clareza. Plutão oferece a Saturno um olhar mais profundo para suas ambições e medos, sendo possível perceber, então, onde temos uma estrutura real e onde nos acomodamos em uma prisão triste que nos impede de crescer. Esses processos são bem bonitos no papel ou na boca de um astrólogo, mas é preciso mais do que boas intenções para explorar nossos condicionamentos e falsas estruturas de segurança. Plutão dá força e energia a Saturno para que tenhamos coragem de experimentar o quanto somos capazes, o quanto realmente estamos maduros, pois conseguimos entender e tomar consciência da origem de nossas apreensões e medos de expressão no mundo. Saturno sempre envolve uma dificuldade externa que nos obriga a buscar respostas internamente, e quando Plutão se envolve nesse processo isso fica ainda mais forte. É preciso estar atento a si mesmo nesses trânsitos para tirar proveito das dificuldades que podem surgir. Mas a promessa é que depois possamos ir para a Ilha da Bem Aventurança, desfrutar daquilo que heroicamente conquistamos.