terça-feira, 23 de março de 2010

Sinastria 2 - Comparando Sol e Lua

“Se atacas o erro noutra pessoa, ferir-te-ás. Não pode conhecer teu irmão quando o atacas. O ataque é feito sempre a um estranho. Fazes dele um estranho porque o percebes erroneamente e, assim, não pode conhecê-lo. Tu temê-lo porque fizeste dele um estranho. Percebe-o corretamente para que o possa conhecer. Não há estranhos na criação de Deus. Para criares como Ele criou só podes criar o que conheces e, portanto, aceitas como teu. Deus conhece Suas crianças com perfeita certeza. Ele criou-as pelo fato de conhecê-las. Ele reconhece-as perfeitamente. Quando elas não reconhecem umas às outras, elas não O reconhecem.”
Um Curso em Milagres

A sinastria geralmente é buscada porque encontramos um Outro que queremos que faça um Nós conosco. Sócrates ensina isso a Fedro quando lhe diz que o Amor é a capacidade que temos de reconhecer nos olhos do Outro o deus que habita nossa alma. Nenhum relacionamento está fadado ao sucesso ou ao fracasso de antemão, pois sempre há dificuldades, mesmo em relações entre pessoas de mapas com muitas relações harmônicas, e onde há conflitos entre pontos do mapa existe também grandes oportunidades de crescimento e ampliação de horizontes. Então, é importante pensar no que se busca através de um relacionamento. Muitas vezes encontrar a tal “cara metade” vai significar que você não estará inteiro na relação, e isso vai causar problemas.

Então, depois de olhar para os ascendentes seu e da sua parceria e ver como eles se relacionam, começamos a olhar para o Sol e para a Lua, que são os dois luminares da nossa personalidade.

Como já falei na última postagem, quando os sóis estão no mesmo signo ou em signos do mesmo elemento há grande facilidade na compreensão dos processos de desenvolvimento individual dos envolvidos. Sóis em sextil – distância de 60° entre astros, ou seja, dois signos antes ou depois – também trazem facilidade para respeitar e compartilhar naturalmente as experiências de vida. Apesar de poder existir algum grau de competição entre as pessoas aqui, há também uma facilidade em criar um mesmo estilo de vida e um reforço na autoconfiança um do outro. Assim, é fácil assumir os elementos solares, reforçando nossa vitalidade e posicionamento individual. O problema é que se pode criar uma identificação tão forte que nos “esquecemos” da sombra, e evitamos olhar para as facetas mais problemáticas do Outro porque elas espelham nossas próprias zonas sombrias. Para manter essa imagem “perfeita” é preciso abrir mão do aprofundamento e do crescimento que os relacionamentos precisam para evoluir. Além disso, há o risco de se evitar as coisas mais difíceis de nossa própria personalidade que estão em conflito com nosso Sol, criando problemas em nossos processos de autoconhecimento. Apesar desses perigos, sempre haverá figurinhas a serem trocas, pois as informações que um recolhe em seu caminho poderá ser útil no caminho do outro.

Quando os Sóis se encontram em conflito, geralmente sentimos forte atração ou repulsa pelo outro, principalmente se eles se encontram em oposição. O Outro vai representar algo fascinante, mas perigoso, pois tem um potencial com motivações diferentes da nossa. Sóis em conflito significam caminhos diferentes no processo de individuação, portanto respeito e tolerância são elementos fundamentais para relacionamentos desse tipo. É preciso consciência de que outros caminhos de vida são possíveis e necessários. Quando os sóis estão em oposição, o Outro poderá mostrar muito daquilo que deixamos oculto ou obscuro em nossa personalidade, mas, se temos algum grau de consciência de nossas limitações, é fácil entender que o Outro representa uma complementação importante para nossa visão de mundo, o que pode ser fascinante. Já quando em quadratura – distância de 90° entre os signos – a sensação de que o Outro traz limites e frustração à nossa expressão livre costuma gerar muita tensão. Se não há um cultivo de flexibilidade e um bom grau de comunicação entre as partes, isso pode se tornar uma verdadeira “quebra de braços”, onde um cede e se sente desvitalizado, pois tem que abandonar a si mesmo para “facilitar” a convivência, e depois se “vinga”, pressionando o outro para que faça o mesmo. Essa brincadeira pode ser muito dolorida. Relacionamentos do tipo vítima/carrasco são bem comuns, e se você se pegar reclamando por que o Outro não te entende, pare tudo e lembre-se: o Outro não tem obrigação nenhuma de te entender, e isso significa que você tem que saber o que é importante e se posicionar de maneira clara, além de criar espaço para que o outro faça a mesmo. Um exemplo simples e cotidiano a respeito: um casal onde um precisa de muito tempo para acordar e o outro levanta da cama imediatamente, cheio de energia. O ser energético terá que aprender a gastar sua vitalidade com o cachorro pelas manhãs, e o que tem um processo mais demorado para despertar terá que entender que não haverá alguém para se aninhar de manhã e se contentar com o travesseiro. Haverá dias inspirados em que um poderá acompanhar o outro, mas isso não pode ser colocado como regra.

A Lua, por sua vez, representa nossos processos mais passivos e adaptáveis. É onde inconscientemente nos sentimos bem e buscamos conforto. Relações harmônicas entre Luas costumam ser mais comuns do que entre Sóis, principalmente se estamos falando de relacionamento amoroso. Isso porque um reconhece imediatamente o estado de espírito do outro, as emoções comuns são facilmente partilhadas, e se lida com os sentimentos de maneira similar, o que cria uma sensação de segurança e afinidade íntima que favorece o fluxo emocional criativo e confortável. Como a Lua também guarda os registros de nosso corpo, a compatibilidade lunar oferece facilidades no contato físico. As dificuldades aparecem quando o casal se encontra em situações emocionais negativas, pois também serão partilhadas, o que pode dificultar bastante as coisas para se mudar o estado de espírito para algo mais positivo. Há também o risco de contaminação, e a tristeza de um leva à depressão do outro. A Lua é reativa, não ativa, e isso significa também que, se temos consciência do que está acontecendo, é possível buscar motivação no outro para sair desse lugar negativo.

Quando as Luas se encontram em conflito, tudo fica mais difícil, e se não houverem outros aspectos mais harmônicos é realmente complicado conseguir uma relação de cumplicidade. Existem casos onde nos sentimos atraídos por Luas que conflitam com a nossa, e um sentimento de excitação é comum nesses casos. Mas quando a excitação se encaminha para um relacionamento, o mais comum é que um ou ambos se sintam isolados, pois não há fluxo emocional entre as partes. Quando o Outro tem motivações emocionais muito diferentes da nossa, uma barreira costuma se impor. Diferente do Sol, onde é possível uma ação consciente, a Lua reage inconscientemente ao ambiente vivido, e isso pode gerar jogos inconscientes bem doloridos e brincadeiras de gato e rato, onde um nega ao outro a segurança necessária para aprofundar a intimidade. Insegurança emocional gera defesas inconscientes, e se os parceiros ficam se defendendo, não há como criar intimidade. Se não conseguimos satisfação emocional em um relacionamento amoroso, não há como nutrir a parceria. A menos que existam outros pontos de contato entre os mapas, onde haja uma possibilidade de compreensão mutua, provavelmente nem mesmo os parceiros saberão o porquê da relação ser tão frustrante.

Vamos continuar a falar de sinastrias nas próximas postagens. Desculpem a falta de tempo para estar escrevendo com mais constância. Mas pouco a pouco vamos desvendando essa ferramenta.