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sábado, 29 de fevereiro de 2020

Stelium de Júpiter, Saturno, Plutão e Marte em Capricórnio

“Devemos estar dispostos a nos livrar da vida que planejamos para ter a vida que nos espera.” -Joseph Campbell

Dia 3 de março de 2020 teremos em Capricórnio o inicio de um reforço na  já forte conjunção de Plutão e Saturno com a chegada de Júpiter, que irá se estender até meados de abril atingindo Aquário e englobando Marte a partir de 10 de março. Como essas conjunções e aspectos causam muita ansiedade, vamos aqui tentar pensar um pouco sobre esse stelium que nos espera depois do Carnaval.

Vamos lembrar o que está representando essa conjunção Saturno/Plutão em Capricórnio que estamos enfrentando desde o ano passado e que enfrentamos nos anos 80 em Escorpião. Aqui temos o arquétipo do Uroboros, a serpente que devora sua própria cauda, no ciclo eterno de morte/renascimento, fins/inícios, na evolução em torno do centro imutável de Plutão, se encontrando com o arquétipo do Mestre Sábio que tem como face obscura o Diabo que induz à ruína do humano de Saturno. O aspecto mais evidente dessa combinação são as obsessões ligadas a tudo que represente autoridade e poder. Esse aparente movimento organizado e deliberado para uma experiencia autodestrutiva incontrolável que vivemos parece ser o tom coletivo desde a entrada de Plutão em Capricórnio, em 2009, e que foi se adensando com a entrada de Saturno em seu domicílio (Capricórnio)  em 2017. Que atire a primeira pedra aquele que não quis matar - só um pouquinho - o tiozão surdo do pavê. Sim, vimos com clareza o lado obscuro do vizinho, mas também o nosso próprio e de toda a estrutura que vivemos e somos cúmplices. 

Júpiter traz expansão e crescimento para tudo que toca, fortalecendo e abrindo espaço para a fé em algo maior e mais abrangente, nos fazendo acreditar que somos capazes de superar aquilo que nos aprisiona e restringe. Por isso as conjunções entre Júpiter e Saturno são tradicionalmente vistos como períodos de mudanças de regime e de governo. Isso significa que Júpiter pode trazer novos caminhos ampliando nossa visão e ajudando a  ver adiante algo novo que não conseguíamos ver por causa das firmes muralhas de Saturno. Como as muralhas saturninas que estamos vendo nesse momento têm seus alicerces no Reino profundo de Hades, Júpiter terá que ser mesmo muito persuasivo para nos fazer acreditar na possibilidade de mudança. Mas essa não será a primeira vez que o Senhor do Olimpo enganará Saturno para modificar o equilíbrio das forças no poder. Os momentos mais famosos desse enfrentamento falam de Júpiter sendo escondido e alimentado pela ninfa Amaltéia, que fazia música e balburdia quando a criança chorava para que o Senhor Saturno não escutasse, e do jovem Júpiter colocando veneno na sopa de seu pai para que ele vomitasse de volta seus irmãos prontos para a batalha, após terem crescido na barriga dele. Podemos perceber que a alegria, muito mais que a força, é o principal combustível jupiteriano, além de esconder o crescimento da mudança que se aproxima. Com a chegada de Júpiter, tudo aquilo que estiver maduro para a batalha sairá das próprias entranhas de Saturno, das entranhas do lado obscuro da sabedoria adquirida através do sofrimento. E cá estou eu, escrevendo em pleno Carnaval brasileiro, com a Mangueira mostrando um Cristo mulher e outro sendo baleado pela PM, a campeã carioca, Viradouro de Alma Lavada, contando a história das lavadeiras da lagoa de Abaeté (Ora ie iê ô) que compraram a própria alforria e depois a alforria de muitas pessoas escravizadas lavando a roupa de gente branca, que nunca soube cuidar de si. E a campeã de SP, Águia de Ouro, trazendo o Poder do Saber, em um ótimo resumo de Júpiter com Albert Einstein, a Bomba Atômica e cantando jupiterianamente:

"Brincar de Deus, recriar a vida
Desafiar, surpreender
Na explosão a dor, uma lição ficou
Sou aprendiz do Criador”

E nessa alegria e festa do Carnaval pudemos escutar por baixo o choro da criança: Rebelião de PM no Ceará atacada por escavadeira (método bem jupiteriano de resolver oposição) pelo representante do poder e aquele que ocupa o lugar de presidente ameaçando fechar o Parlamento que o obedece em tudo alegando oposição. Os fatos atropelando os astros e o antigo rei resistindo o quanto pode às mudanças que exigem espaço. Ou seja, não estamos falando de uma mudança onde o velho e corrupto rei que não tendo mais energia para renovar o reino resolve morrer para que o novo possa entrar e recuperar tudo que foi transformado em poder pelo poder, sem nenhum objetivo maior. Estamos falando aqui de transformação dos diversos contratos e obrigações sociais que mantinham a sociedade coesa e unida, estamos falando de rompimento de estruturas que se mostram antigas e falidas. Vamos lembrar aqui que Donald Trump está propondo modificar a Declaração dos Direitos Humanos, é esse o nível de rompimento que estamos falando. E se não são os Direitos Humanos que irão nortear nosso processo civilizatório, o que será? Realmente aprendemos que simplesmente declarar que "todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos; dotados de razão e de consciência e devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade”, não resolve os problemas que temos em função das desigualdades que criamos. Esse é o nível da angústia que vivemos, onde o velho não traz mais segurança ou respostas, mas o novo é ainda muito jovem para trazer as respostas e seguranças que ansiamos. Ou seja, Bernie Sanders ganhar as primárias americanas não será suficiente, apesar de que seria uma boa batalha ganha. Então o que podemos esperar para os próximos meses é essa luta por mudança acompanhada de enorme resistência no sentido oposto. E aí dia 10 de março Marte entra na dança, e o detonador astral com certeza vai acirrar os ânimos dessa disputa, em meio às manifestações prometidas de ambos os lados da disputa aqui no Brasil. 


Sendo Capricórnio um dos signos cardeais, ou seja, que tem sua força voltada para fora, representando um novo patamar se iniciando, podemos esperar o nascimento de um novo momento a partir de março. A última conjunção Saturno/Júpiter em Capricórnio foi em 1961, quando vimos a explosão do ativismo dos direitos civis nos EUA, mas quando chegou a oposição Saturno/Júpiter posterior, 10 anos depois com Saturno em Touro e Júpiter em Escorpião, o que frutificou foi a Guerra dos EUA contra o Vietnã, o que mostra que a luta de um grupo não traz a libertação do todo, mas pode trazer essa ânsia de liberdade e mudança para um imaginário mais abrangente, como foi a resistência à Guerra. Plutão, tendo seu peso coletivo garantindo um olhar blasé para nossos pequenos dramas humanos, traz certo ar de tudo ou nada que, ao se juntar com a força guerreira marciana, não seria estranho se tivéssemos que viver algo bem destrutivo para realizar a mudança que precisamos para encontrar novos caminhos.  Sinto bastante medo ao escrever essas coisas, mas se quiser ser fiel ao simbolismo desse stelium em Capricórnio, o que estamos prestes a viver por aqui pode ser bem dramático. Um amigo astrólogo, Denis Matar, chega a dizer que estaremos vivendo o fim definitivo do Capitalismo, que desde muito promete morrer mas sempre ressuscita com novas artimanhas. Apesar de sabermos que a necessidade de mudança é mais do que urgente, que nossos erros comprometeram a nossa sobrevivência no planeta, inclusive, precisamos realmente que Júpiter traga muita Luz para enxergarmos um novo caminho e que Marte nos dê a coragem para entrar na boa luta e rompermos com tudo o que for velho e corrupto na estrutura em que vivemos. E que os deuses nos protejam. 

Mas pra ninguém ficar muito desolado, aqui está pra vocês um pouco do incrível Emicida, pra lembrar que a Revolução é feminista ou não é Revolução ;)


sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

Urano em Touro


"Pela casa da Vida eu vagueio
Pelo caminho do pólen,
Com um deus de nuvem eu vagueio
Até um lugar sagrado"


The Blessing Chant, citado por Margareth Schevill Link em O Caminho do Pólen

Imagem de Daniel Merriam  https://bubblestreetgallery.com/ 
 
Urano começou seu passeio através do signo de Touro dia 15 de maio de 2018. De novembro de 2018 até março de 2019 ele volta para Áries para fazer uns acabamentos e depois segue por Touro até 2025. Enquanto Áries, o Fogo Cardinal, traz o nascimento do novo através do rompimento com o que está indiferenciado, Touro, a Terra Fixa, traz a consolidação daquilo que rompeu a barreira para vir ao mundo. E vamos combinar que o que veio não foi assim algo que nos dê esperança de progressos civilizatórios. Mas ninguém pode reclamar de ter ficado parado. O processo de Urano em Áries esteve trabalhando em quadratura com Plutão em Capricórnio, e com isso a inovação ariana veio junto com um estouro do cano do esgoto humano em suas estruturas capricornianas. Não é algo bonito de se ver, mas não acredito que haja alguém que duvide da necessidade que tínhamos - e temos ainda – dessa mudança estrutural para transformar os paradigmas que está nos fazendo destruir o planeta.  É verdade que tem gente propagando a Terra Plana, mas ai já estamos em outro patamar de sanidade. Touro e Capricórnio estão conectados pelo elemento Terra, portanto nos falam dos recursos materiais que nos sustenham, simbólica e materialmente. Nossos recursos, posses e valores, nosso talento em ver e fazer as belezas venusianas se tornarem reais, são um guia para a criação de nossos mundos orientados por Touro, mas sendo esse um signo instintivo, como seu complementar oposto, Escorpião, quando bloqueamos a possibilidade de viver essa natureza de forma harmônica, em geral por medo, isolamento e desconfiança de nossa natureza básica, podemos criar muita crueldade . Urano em Touro vai mexer nesses recursos para liberar novas possibilidades, e se for bloqueado pode causar grande frustração, dor e raiva.

Urano trabalha sobre tudo com a força das ideias, com a mudança trazida do inconsciente coletivo que invade nossos pensamentos. Quando essas mudanças envolvem recursos, podemos inventar novas maneiras de utiliza-los, interna e externamente, para nos tornarmos mais livres e desenvolvermos mais nosso potencial humano criativo. Isso gera mudanças geniais, capazes inclusive de transformar a imagem que temos de nós mesmos. O grande inimigo das mudanças – sempre - é o medo, pois associamos mudança com morte e acreditamos que vamos deixar de ser se as coisas mudarem. Aí podemos nos tornar bem mesquinhos e pequenos, adotando a crença de que “farinha pouca, meu pirão primeiro”, encarando o Outro como aquele que rouba os recursos que eu desejo. O sofrimento vem dessa crença. Qual caminho iremos escolher? Faites vos jeux, mesdames et messieurs... Para Urano, que vive além do cinturão de asteroides, tanto faz.

Podemos esperar desse processo uraniano o rompimento das fronteiras, e, apesar das migrações fazerem parte da história humana desde sempre (o historiador Klaus J. Bade, da Universidade de Osnabrück, autor do livro Migration in European History, diz que “o 'homo migrantes' existe há tanto tempo quanto o homo sapiens (...), a migração é uma parte da condição humana tanto quanto o nascimento, a reprodução, a doença e a morte.”), será importante observar as migrações desse período. Isso porque a nossa necessidade de recursos nos leva a busca de novos horizontes, e sendo assim, nos obriga a transformar nossa forma de existir. Urano em Touro promete desenraizamentos para nos fazer mudar. Isso é algo significativo quando olhamos para outros períodos de Urano em Touro.

Urano, desde que foi avistado, esteve em Touro de 1850 a 1857 (conjunção com Plutão de 1848 a 1853, antes do avistamento de Plutão) e de 1934 a 1941, quando se armou e detonou a segunda Guerra na Europa. Esse planeta traz a ruptura com estruturas e hierarquias que impedem o desenvolvimento da liberdade individual, e não é raro que isso se associe a muita destruição, seja porque grupos se sentem no direito de se apropriar dos recursos do vizinho, seja porque os recursos se tornam escassos e se é obrigado a deixar o conhecido em busca de mais recursos. Nos períodos de Urano em Touro temos uma migração europeia em massa para os continentes americano e australiano, principalmente, forçada pela guerra e pela fome. Números consolidados por diferentes historiadores estimam que entre 50 e 60 milhões de europeus deixaram seus países em direção a lugares tão distantes como Brasil, Estados Unidos, Sibéria e Austrália entre 1815 e 1950. Uma parte deles chegou a voltar para a Europa, mas a maioria se estabeleceu de vez no novo mundo, passando a ter uma influência decisiva na construção desses países. A migração realizada nesses períodos de Urano em Touro tem o diferencial de ser feita por pessoas com um anseio de realizar uma mudança de vida, não apenas pelos excluídos socialmente, mas por aqueles que de alguma maneira querem um tipo de vida diferente daquela que domina sua própria sociedade.

Uma boa ilustração para essa diferença é a migração alemã para o Brasil. A primeira leva de imigrantes para o Brasil a partir de 1824 (Urano em Capricórnio), vindos da Prússia, eram recrutados entre presidiários alemães em cadeias e casas de correção de Mecklenburg e de alemães indigentes que, ao saberem que o Brasil estava oferecendo terras, foram para Bremen e Hamburgo em busca de uma passagem para serem mandados para São Leopoldo. O naturalista Theodor Bösche, que fez parte de uma dessas primeiras viagens organizadas por Schäffer - amigo da imperatriz Leopoldina -, na qual havia 90 ex prisioneiros de Macklenburgo, observou: "O nosso navio tomou várias centenas de pessoas. Tremi ao avistar aquela gentalha rota, de que muitos malogram encobrir a nudez e cuja atitude trazia o cunho da rudeza e da bestialidade". Era uma troca onde a Prússia fazia uma higienização social e o Brasil um branqueamento da sua população.

Após 1850, enquanto Urano transitava de Áries para Touro, mudanças fundamentais foram feitas, e as despesas com demarcação de lotes e assentamentos de colonos foram transferidas do governo imperial para as províncias. Visando diminuir suas despesas, o Estado permitiu a atuação de companhias particulares de colonização, que compravam as terras e as revendiam aos imigrantes. Em 1850, a Lei de Terras estabeleceu que os colonos apenas poderiam ter a posse da terra por meio da compra e não da simples posse como ocorria anteriormente. Isso significa que os imigrantes desse período precisavam ter alguma posse para investir nessa nova vida. Os que não tinham condições para isso vinham trabalhar em fazendas de café em São Paulo, mas as denúncias contra o sistema de parceria em São Paulo, materializadas com a revolta dos colonos da fazenda Ibicaba contra as péssimas condições de trabalho, fizeram com que a Prússia proibisse a imigração para o Brasil em 1859. Mais tarde, essa restrição seria revogada apenas para os três estados sulinos.  Esse também e o período de migração irlandesa para os EUA, onde chegaram em massa após a grande fome de 1845-1852, e que se tornaram uma face importante da identidade de lá.   

No outro período de trânsito uraniano por Touro, de 1934 a 1941, época da ascensão do Nazismo na Alemanha e II Guerra na Europa, temos um grande contingente de alemães imigrando para o Oriente Médio: segundo dados do Museu do Holocausto dos EUA, cerca de 60 mil alemães de origem judaica migraram nesse período para a Palestina, na área que viria a formar o Estado de Israel. A ascensão do nazismo na Alemanha em 1933 e a guerra que se seguiu, porém, criou grande onda migratória europeia, não só de judeus, mas também de opositores políticos e religiosos, assim como artistas perseguidos pelo regime. Cerca de 16 mil conseguiram vistos de entrada para o Brasil. Entre eles estavam políticos alemães, como Johannes Hoffmann, que após o fim da Segunda Guerra voltou para a Alemanha e se tornou governador do estado do Sarre, onde fundou o Partido Popular Cristão do Sarre. Nem a Alemanha, nem Hoffmann, nem o Brasil eram os mesmos.

A constante migração humana durante nossa história no planeta ganha cores dramáticas nesse novo período de Urano em Touro, já que atualmente, além dos conflitos humanos, também temos que dar conta do aquecimento global que coloca em risco nossos recursos. Uma das consequências desse deslocamento é a mistura de culturas e o rompimento das fronteiras, reais e simbólicas. Parece que caminhamos dolorosamente para a consciência planetária de que somos conectados e não há como salvar alguns se não salvarmos a todos. Mesmo que haja essa onda antidemocrática, xenófoba, racista, misógina que, sabemos com certeza comprovada, manipula as massas para que acreditem em uma prisão confortável e isolada, não há mais como negar que estamos em uma situação limite.  Urano é difícil da mesma maneira que ser livre é difícil, pois implica em ter consciência das escolhas e assumir a responsabilidade por elas sem delegar esse privilégio a ninguém. Economistas e estudiosos da situação global falam de maneiras muito simples e práticas de resolvermos as questões que nos afligem, inclusive com exemplos de muito sucesso. Um desses economistas e o brasileiro Ladislau Dowbor, que tem um site incrível e super didático que ensina economia para quem se interessar: www.dowbor.org.  Para isso teremos que parar de buscar privilégios para focar em direitos, e parece que essa ainda é uma grande barreira. Sabemos que a semente do nazismo alemão foi plantada pela ambição e mesquinharia dos países aliados da I Guerra na Europa, que, ao vencerem a disputa, deixaram a Alemanha na miséria e cheia de dividas, criando uma população com necessidades básicas não atendidas que se deixou seduzir pela fantasia de uma gloria utópica e exclusiva que a tiraria do sofrimento. Oitenta anos depois, com todo o avanço tecnológico desenvolvido, com a consciência global criada, com o conhecimento que acumulamos, estaremos preparados para dar uma resposta melhor, maior e mais inteligente para a passagem de Urano em terras taurinas? Condições para isso, temos de sobra.

domingo, 1 de fevereiro de 2015

Quem Tem Medo de Mercúrio Retrógrado?

A maior riqueza do homem
é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como sou - eu não aceito.
Não aguento ser apenas um sujeito que abre portas,
que puxa válvulas, que olha o relógio,
que compra pão às 6 horas da tarde,
que vai lá fora, que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc. 
Perdoai
Mas eu preciso ser Outros.

Eu penso renovar o homem usando borboletas.”
Manoel de Barros


Continuo ouvindo histórias de terror quando se fala sobre Mercúrio Retrógrado, por isso vamos tentar olhar para isso de maneira um pouco mais ampla.

Duas coisas me levaram a estar aqui, buscando esse entendimento com vocês: a fala de um astrólogo bem bacana – ou seja, que pensa astrologia parecido comigo, hehe - chamado Tom Kaypacha Lesher (www.newparadigmastrology.com), que a amiga querida Tatiana Schreiner me apresentou, e umas gravuras Etruscas que caíram na minha mão e me encantaram, como essa de abertura da postagem. Etruscos era como os gregos denominavam o povo que habitava em cidades-estado a região que hoje seria a Toscana, entre os rios Arno e Tigre na Itália, em torno de 1200 e 700 a.C.

A maior parte das informações que recebemos dos povos da Antiguidade (período que vai da descoberta da escrita, aproximadamente 4000 a.C, até a queda do Império Romano, cerca de 476 d.C) vieram até nós através dos Gregos, que se transformaram nos relatores oficiais daquilo que “valia a pena ser conhecido”. Por isso sabemos bastante sobre os Egípcios e tão pouco sobre a Gália e a cultura Celta, por exemplo, pois os gregos viviam trocando figurinhas com os Egípcios, mas achavam que os Celtas eram uns bárbaros ignorantes.  Mesmo a astrologia, que tem referencias pré-históricas, chegou até nós através dos filtros gregos elaborados por Ptolomeu (90-167) – que era egípcio de nascimento e vivia  em Alexandria, também no Egito – através do seu incrível Tetrabiblos. Uma das dificuldades que isso nos traz é que muitas coisas que os gregos desqualificavam, são importantes hoje em dia para se compreender o mundo e as pessoas. Sem desonrar toda a importância do pensamento grego para a construção do mundo que conhecemos, uma das dificuldades mais problemáticas que herdamos da cultura greco-romana que nos constitui - em minha opinião - é uma incrível misoginia (do grego miseó = ódio, gyné = mulher). Quando se estuda mitologia greco-romana nos deparamos constantemente com o tema do estupro “necessário” para que mulheres se entreguem a homens e filhos possam ser gerados; as deusas mais louvadas são as que não exercem sua sexualidade – daí a maneira como a castidade feminina foi assimilada pelos cristãos -, além da substituição de elementos femininos, yin, como a força das Águas ou da Morte, por deuses masculinos, mesmo que as práticas cotidianas e iniciáticas ligadas a esses temas sejam exercidas por mulheres. Afrodite/Vênus parece ser a única que conseguiu conservar um pouco da força original, mesmo tendo sido rapidamente casada para mantê-la dentro de uma estrutura social aceitável. É sempre bom nos lembramos de que ela é fruto dos genitais de Urano que fertilizaram o Oceano (ou já podemos dizer a Oceano?). Essa é a razão pela qual eu utilizo a mitologia de outros povos para entender e explicar alguns elementos astrológicos e acredito que isso tem ajudado a ampliar minha compreensão e também a de meus alunos. Muitas vezes é através da leitura de mitos bem distantes dos Greco-romanos que aparece aquela luzinha de compreensão para meu Mercúrio. Então, e Mercúrio retrógrado com tudo isso?

Hermes-Mercúrio é o Macunaíma (o herói sem nenhum caráter de Mario de Andrade, que se você ainda não conhece vai adorar conhecer) da mitologia grego-romana. Já escrevi sobre o mito e as aventuras mercurianas, então só vou recordar aqui que Mercúrio é um deus amoral sem ser imoral, que ajuda e atrapalha heróis com a mesma desenvoltura, assim como exerce funções femininas e masculinas com o mesmo charme. Da união desse deus dúbio com a poderosa Afrodite-Vênus nasce Hermafrodito, o herói que não precisa definir seu gênero, pois contem os dois. Nas imagens dos Alquimistas Mercúrio algumas vezes aparece vestido de mulher e se casando com Marte-Ares (Enxofre), como nessa aqui de G. van Vreeswyk, alquimista holandês do século 17:



Podemos entender hoje em dia essas características mercurianas que simbolizam o pensamento humano de maneira muito mais científica, através das pesquisas feitas com o nosso cérebro, que mostram como temos realmente dois tipos de raciocínio, um baseado no lado esquerdo e outro no lado direito desse órgão, que funcionam simultaneamente. O lado esquerdo é caracterizado pelo pensamento abstrato, que utiliza uma lógica de causa e efeito, que olha as partes de algo e tenta juntá-las de uma maneira que faça sentido racional em uma esfera de tempo, e assim aprendemos e construímos a comunicação verbal e nosso aprendizado linguístico, a compreensão de regras e estruturas, etc. O hemisfério direito busca a compreensão do todo trabalhando com várias informações ao mesmo tempo e é por onde aprendemos a linguagem não verbal e construímos uma compreensão espacial/corporal. O bom funcionamento do nosso cérebro depende da boa comunicação entre os dois hemisférios, assim como o bom funcionamento da nossa sociedade e da nossa pessoa depende da boa comunicação entre homens e mulheres, entre yang e yin, masculino e feminino. Há quem diga que um lado é mais desenvolvido em homens e o outro mais em mulheres, mas hoje sabemos que nosso cérebro é treinado pela formação que recebemos, então na época que meninos ganhavam bolas e meninas bonecas tínhamos um lado mais treinado em homens e outro lado em mulheres. A carência de um lado significa dificuldades para o outro lado e comunicação exagerada entre os dois lados cria sobrecarga no corpo caloso, o feixe de nervos que liga um hemisfério ao outro, gerando convulsões tipo epiléticas.  Já vi Amor sendo definido dessa maneira: respeito entre duas partes que colaboram com seu melhor... Enfim, especula-se que nosso cérebro processa em torno de 400 bilhões de bits de informação por segundo, sendo que aproveitamos cerca de 2 mil para nossa consciência cotidiana do mundo. Apesar de não se conseguir ainda a confirmação exata desses números, parece que a proporção entre quantidade de informação inconsciente e consciente está correta. Por isso cada vez se tem melhores resultados ao se trabalhar com as ideias de sistemas complexos, fenômenos emergentes, campos mórficos e morfogenéticos, onde observamos e usamos os resultados a partir de processos muito difíceis de captar conscientemente, individualmente.

Pois então. A cada quatro meses mais ou menos Mercúrio parece se movimentar para traz no céu durante uns 20 dias, e chamamos isso de movimento retrógrado. Já falei sobre isso em termos práticos em outra postagem.



No cotidiano nossa mente está muito mais consciente das nossas atividades externas, e aí fazemos a lista de supermercado, xingamos o apressadinho que nos deu uma cortada no trânsito, conferimos o extrato do banco e lemos um texto técnico para o trabalho enquanto planejamos a viagem de férias, as contas a serem pagas, quando vai entrar o dinheiro que vou receber por aquele trabalho, em quantas prestações eu poderia comprar aquela moto, as dúvidas a respeito daquela resposta do chefe ser um elogio ou uma crítica, quando será que vou encontrar  novamente aquele homem interessante que conversei na padaria e onde foi parar o boné preferido do filho.  Os pensamentos são fenômenos emergentes, como qualquer sistema complexo, e Mercúrio, com sua capacidade de caminhar por todos os reinos e encontrar caminhos e atalhos através da Matéria, da Alma e do Espírito representa isso.

Acontece que quando Mercúrio está retrógrado as atividades externas ganham mais informações do que aquelas que precisamos para cumprir nossas tarefas. Aí nos lembramos do gosto do bolo de festa da mãe enquanto falamos com um cliente, surgem milhares de possibilidades mais interessantes do que aquele texto chato que precisamos ler, músicas estranhas que nos remetem a outros tempos surgem na cabeça (principalmente aquela que só lembramos uma frase horrível), sabemos exatamente o que queremos dizer, mas sem encontrar as palavras, lembramos de levar cangaprotetorguardasolcadeirachapeu para a praia e na hora de pagar o sorvete percebemos que esquecemos a carteira em cima da mesa. Isso significa em primeiro lugar que os tempos de Mercúrio retrógrado são para verificar como vai o seu humor e sua capacidade de rir de si mesmo. Tem muita gente que sofre durante os tempos de Mercúrio Retrógrado porque têm uma autoimagem idealizada de pessoa séria e focada, e aí quando vivenciam essas coisas precisam sair da zona de conforto e vivenciar um descontrole bem incômodo. Esses são períodos em que precisamos treinar pedir ajuda, o que também é muito incômodo para a maioria das pessoas, mas que é a melhor estratégia que encontrei: se você tem que assinar algum documento, peça para alguém que você confia dar uma lida antes; se você precisa apresentar algo para seu chefe ou para a escola, treine antes com alguém que sabe do que você está falando e escute as críticas e recomendações. Se der para adiar atividades que precisam de uma linha reta para serem resolvidas, bacana, mas você não vai adiar sua viagem de férias com a família, por exemplo, porque Mercúrio estará aparentemente andando para trás! Vai haver mais riscos de você perder a mala, principalmente se você não queria mesmo passar as férias na casa da sogra mas não conseguiu achar nenhum argumento suficientemente lógicos para mudar os planos para os Lençóis Maranhenses, além do “eu quero tanto”. Muitas vezes a lógica interna é diferente da lógica externa e isso fica evidente nessas épocas. Mercúrio retrógrado deixa em maior evidência a lógica interna, por isso tanta confusão.

Essas razões que a própria razão desconhece são atribuídas normalmente ao feminino, e, aliás, muitas vezes para chamar a mulherada fraca. Ou de louca. Ou de bruxa. Por isso ficamos tão receosos de confiar nessa outra racionalidade. Bom para ouvir música, visitar museu, dançar, ler novela e conversar com o inconsciente. Por que isso tem que ser assim horripilante, feito filme B de terror? Um pouco de cuidado e bom humor pode fazer com que esse seja um tempo bem frutífero. O seu trabalho exige foco mental? Você está em época de provas? Você tem um monte de coisas sérias e importantes para fazer e não tem tempo para fazer essas coisas? Então meditação por 20 minutos, 3 vezes ao dia, pode ajudar você a relaxar. Ou reservar algum tempo do seu dia e/ou da sua semana para fazer essas coisas para que elas não precisem invadir sua vida devidamente controlada. Realmente seria interessante que você começasse a viver esses dias de Mercúrio retrógrado como uma oportunidade de saber como você está com você mesmo, e não como algo que vai atrapalhar sua vida.

E é por isso que as gravuras Etruscas me fizeram pensar na alegria do Mercúrio Retrógrado. Os Romanos arrasaram a maioria das construções etruscas, que parece que eram tão avançadas como a dos próprios romanos, e só sobraram os túmulos. Aquilo que sabemos sobre esse povo vem, então, da relação que eles tinham com a morte, e ali encontramos homens e mulheres unidos e felizes, sexo abundante e muita gente fazendo música e dançando. Uma das funções de Mercúrio é de psicopompo (psyque = alma + pompo = guia), um guia da alma humana através dos caminhos até o reino dos mortos e de volta ao reino dos vivos. Podendo ele caminhar pelas polaridades da vida – céu e terra, nascer e morrer, dia e noite –, existe nesse planeta o potencial de trazer para a consciência uma compreensão muito mais abrangente e profunda do que a que estamos acostumados cotidianamente, quando Mercúrio se encontra retrógrado. Aqui pode estar a solução para o problema insolúvel, a verdade pressentida, a intenção não revelada. Seja no mapa natal ou no trânsito, vale a pena deixar a alma acompanhar Mercúrio em sua jornada, pois pode ser que ele te mostre algo muito melhor do que seu medo permitiria enxergar. 



Obs. Esse texto foi pensado, elaborado e publicado durante o movimento retrógrado de Mercúrio como um desafio para mim mesma. Escolhi um período em que, mesmo retrógrado, ele estaria em trígono com o Mercúrio do meu Mapa Natal, que afinal, né?.. Não foi o texto mais fluido para trabalhar, mas também não foi nada muito diferente do meu normal, e eu não tenho Mercúrio Retrógrado no mapa. Uma coisa bem interessante que aconteceu, foi encontrar muito mais informações não verbais. Eu tive que me controlar para não colocá-las todas aqui. Elas serão bastante úteis para as aulas desse ano...

domingo, 10 de agosto de 2014

Saturno, Escorpião e Vazios Iniciáticos


“O mundo do dançarino é alcançado por dias e dias de trabalho, semanas de trabalho, anos de trabalho. É aqui no estúdio que o bailarino aprende seu ofício. O domínio de seu instrumento que é o corpo humano. Seu objetivo é a liberdade, mas a liberdade só pode ser conquistada através da disciplina. Disciplina imposta por você mesmo, sobre você mesmo. Ou o pé está esticado ou não está. Nem uma porção de sonhos o esticará por você.”

Martha Graham, bailarina contemporânea com Plutão em Trígono com Saturno.



Tenho aprendido muito esses anos em que o planeta Saturno atravessa o signo de Escorpião, principalmente com pessoas que estão passando pelo retorno de Saturno nesse signo. Em finais de 1981, Saturno inicia um processo de conjunção com Plutão nos últimos graus de Libra que vai até outubro de 1983, com Saturno já em Escorpião. Então, nos últimos três ou quatro anos, venho conversando com muita gente que ao enfrentar o retorno de Saturno também tem que enfrentar questões plutonianas. Agradeço muito a todos pela confiança e aqui vai um pouco do que andei conversando e pensando por aí sobre isso.

Tanto o retorno de Saturno quanto suas temporadas desafiantes anteriores, a cada sete anos aproximadamente, representam iniciações à vida adulta. São tempos em que temos que sacrificar confortos lunares e familiares em nome de uma maior participação no universo social mais amplo. A primeira oposição de Saturno por volta dos quinze anos costuma ser particularmente difícil e marcante porque o adolescente sabe que tem que sacrificar sua infância para poder entrar na “tchurma”, e para isso ele acredita ter que esconder muito profundamente (principalmente de si mesmo), todo o medo e insegurança que tem para não se sentir humilhado. Aí começam seus problemas com Saturno e a compreensão equivocada sobre o que é o mundo adulto.  É comum mães aflitas de adolescentes nessa fase de oposição me procurarem porque seus filhos, que eram muito cordatos  e responsáveis, começam a ir mal na escola e passam a se comportar de maneira agressiva dentro e fora de casa. Por mais solidária que eu possa ser com as aflições maternas por vivermos em uma sociedade profundamente desigual e violenta, do ponto de vista simbólico essas pessoas estão em busca de instruções para a vida adulta, precisam se arriscar para além da proteção lunar, e se estão se comportando dessa maneira “revoltada” provavelmente aprenderam em casa e no meio em que vivem que essa era a maneira para enfrentar a dor inevitável da vida. Lembrando que as crianças não aprendem através dos discursos politicamente corretos que fazemos para elas, mas através das atitudes, das brigas, reclamações e climas entre os pais, da maneira como os pais lidam com frustração e com os “outros”, com os comentários maldosos e “divertidos”, com a forma como se torce no jogo de futebol ou como se dirige no trânsito. Outra coisa que costuma se manifestar de maneira intensa porém inconsciente nessa fase, é a vida não vivida pelos pais, como diz Jung em O Desenvolvimento da Personalidade (CW XVII, Ed. Vozes, pg 47, par 87): “Via de regra, o fator que atua psiquicamente de um modo mais intenso sobre a criança é a vida que os pais ou antepassados não viveram (pois se trata de fenômeno psicológico atávico do pecado original). Essa afirmação poderia parecer algo de sumário e artificial sem esta restrição: essa parte da vida a que nos referimos seria aquela que os pais poderiam ter vivido se não a tivessem ocultado mediante subterfúgios mais ou menos gastos. Trata-se pois de uma parte da vida que (...) foi abafada talvez por uma mentira piedosa. É isso que abriga os germes mais virulentos.” Um ótimo filme que fala sobre isso é Em Um Mundo Melhor (Haevnen em Dinamarquês, que significa Vingança), da diretora Susanne Bier, de 2010.

Então o que fazer quando se revela uma grande ilusão a crença de que se você fosse um(a) bom(a) filho(a) seus problemas desapareceriam? Isso é muito frustrante, já que gastamos muito tempo da nossa infância aprendendo a reagir a nossos pais para conseguir o que queríamos e precisávamos, nos apoiando em nossas Luas. Precisamos entender que a “adultice” rebelde que se coloca no lugar também tem resultados problemáticos, já que superar as emoções infantis implica em saber reconhecê-las, não negá-las. Chega um tempo em que precisamos ver que o anseio por uma existência livre de problemas deve ser posto de lado em favor da aceitação madura da responsabilidade pela própria vida, e essa mudança constitui não apenas a ativação da consciência adulta, mas também uma forma de escolha. Esse é o significado mais profundo de Saturno, e é nesse sentido que ele ganha sua merecida fama de exigir sacrifício e trazer dificuldades.

Sacrifício é um tema mitológico poderoso encontrado em quase todas as culturas, um padrão arquetípico que exige a desistência de alguma coisa para que algo maior seja conquistado. Saturno é exatamente aquele que exige o abandono da dependência da infância em favor do domínio de si e da criatividade da vida adulta, mas fazer isso cortando o contato com o que se sente costuma gerar o oposto do que se busca, pois então nos deixamos abusar e nos tornamos abusadores. Simbolicamente falando, Saturno tem que ser o elemento complementar, o parceiro da Lua, e não seu inimigo ou substituto. Mesmo assim é o caminho mais comum que as pessoas costumam escolher. Como não temos mais os velhos sábios nessa sociedade que venera a juventude, as crianças acabam tendo que fazer suas iniciações entre si mesmas, o que é bem triste e sofrido. Quando vejo esses pais com medo da raiva dos filhos e/ou querendo “poupar” seus filhos do enfrentamento com a vida adulta, penso no que será que essas crianças terão que viver no retorno de Saturno para que possam assumir o fardo de sua jornada individual, com toda a dor e solidão que ela necessariamente traz. Como diz James Hollis, analista junguiano, ao falar da cura do masculino em Sob a Sombra de Saturno (Ed. Paulus, coleção Amor e Psique): “nenhuma outra pessoa, nem seus pais nem sua tribo, poderia poupar-lhe esta jornada porque senão também estariam roubando sua capacidade de lutar e alcançar seu pleno potencial”. É essa iniciação que os adolescentes buscam na época da oposição de Saturno, e isso lhes é negado há muuuitas gerações. Uma imagem que me parece boa para ilustrar essa carência de iniciação adulta é o “fenômeno” dos jovens milionários: homens que antes dos 30 anos já conquistaram tudo aquilo que se diz ser importante (que se traduz por dinheiro, muuuito dinheiro), que surgiu nos anos 90, com Urano e Netuno em Capricórnio, em trígono com Plutão em Escorpião. Que tal uma sociedade que tem como imagem de sucesso um menino branco, mimado e cercado de brinquedos? Você acha mesmo que isso trará verdadeira segurança?

Desde o início da Era Industrial somos ensinados a entregar nossos corpos e almas em troca de dinheiro para sobreviver, e agora nós e nossas crianças estamos nos dando conta de que temos que lutar para recuperá-los, pois esse preço é muito alto. Quando a nossa consciência muda, as nossas vivências simbólicas também mudam. Isso tem sido muito bonito e assustador de ver.

Uma das coisas importantes que aconteceu quando deixamos de ser tribais para construir civilizações, sociedades mais amplas e diversificadas, foi a perda gradual das iniciações masculinas, que transformava meninos em homens. Para se ter uma ideia de até onde fomos nisso, um livro lançado nos Estados Unidos no final dos anos oitenta com dados de uma ampla pesquisa feita durante mais de 10 anos, nos anos sessenta e setenta, citado em Finding Our Fathers: How a Man’s Life Is Shaped By His Relationship Whith His Fathers (“Encontrando Nossos Pais: Como a Vida do Homem é Moldada Pela Sua Relação com Seu Pai”, em tradução livre, ainda não publicado no Brasil), de Samuel Osherson, indica que apenas dezessete por cento dos homens norte-americanos tiveram relacionamentos positivos com os pais. Na maioria dos casos o pai estava morto, divorciado e ausente, quimicamente debilitado ou emocionalmente distante. Se essa estatística estiver ao menos perto da verdade e puder ser generalizada, isso significa uma quase total ausência de referencia masculina. De fato, é impressionante a quantidade de pessoas que foi criada quase que exclusivamente pelas mães ainda hoje em dia.  É compreensível, então, que muito do que construímos tenha como função substituir e/ou denunciar esse masculino que falta. Novamente, quem nos separa do universo materno infantil e nos leva até o mundo mais amplo adulto é aquilo que a psicologia analítica chama de Arquétipo do Pai, ao qual se liga Saturno, e que em nossas vidas ganha os primeiros contornos através da referencia de autoridade masculina da infância. Como não honrar profundamente todos esses homens que hoje em dia reivindicam o direito de serem pais, que se reúnem em busca de novos parâmetros de masculinidade, que aprendem a dançar com as mulheres, que se arriscam a tatear no escuro para encontrar uma nova maneira de ser no mundo? Mas abrir mão daquilo que se conhece em direção ao desconhecido não é exatamente o que precisa fazer o jovem herói que segue seu coração?

As iniciações femininas ligadas à mitologia da Grande Mãe, ao grande círculo, ao tema da morte/renascimento e ao Eterno Retorno, apesar de também terem sido violentadas de muitas maneiras, não podem ser totalmente esquecidas enquanto tivermos um corpo físico e vivermos a realidade de nascer através do corpo de uma mulher para depois morrer (o que parece ser uma tristeza para alguns neurocientistas e buscadores de Inteligência Artificial). Mas mesmo essas iniciações perdem muito do seu sentido sem uma face masculina complementar saudável e por isso acabam se distorcendo em algo muito grande, poderoso e perigoso, mais temido que reverenciado. Já a mitologia masculina fala da busca, da jornada da inocência em direção à experiência, das trevas para a luz, da saída do lar para o horizonte mais amplo, e isso significa responder ao chamado para algo desconhecido. Nesse sentido exige uma escolha do herói, e percebemos sua ausência nas enormes dificuldades que tanta gente tem de sair de casa, de abrir mão da dependência infantil e de experimentar uma existência diferente daquela em que se foi criado. Os sofrimentos ligados a Saturno tem sentido iniciático exatamente por evidenciar essas dificuldades e essa falta sem dar ouvidos ou espaço para as desculpas que nos damos para não assumirmos a responsabilidade do trabalho do nosso caminho, e essa é a verdadeira função paterna. Como disse a terapeuta e consteladora familiar Evanilde Torres: “É a partir do corpo do Pai que a vida explode para cada ser vivo. Por esta razão, Pai significa movimento, impulso. É através do nosso Pai que o mundo se abre como opção. Pai é tapa na bunda para impulsionar, é ‘levanta pra cair de novo’”. Cada ciclo mítico precisa ser cumprido várias vezes em nossa vida e a falta de um implica no desequilíbrio do outro. Hoje em dia, com a demanda que homens e mulheres enfrentam para a manutenção e exploração criativa do mundo ao mesmo tempo, precisamos mais que nunca desenvolver esses dois potenciais que nos pertencem e nos fazem inteiros.

Somos filhos de não iniciados, os manuais de instruções não funcionam e vivemos em uma sociedade decadente... Adivinhem onde vamos encontrar novos caminhos? Vai pra dentro, criatura! Uma das descobertas bacanas que C.G.Jung fez foi a de que o inconsciente busca sempre o equilíbrio e a cura, então é lá que podemos encontrar respostas que o mundo externo não tem. Jung chamava esse ir para dentro de individuação, e precisamos de coragem e um profundo desejo de conhecer a verdade para encarar essa aventura sem nos perdermos.

Nossos guias internos para esse universo inconsciente são as contrapartes opostas à nossa consciência de gênero, ou seja, os homens têm uma guia feminina que foi chamada de Anima e as mulheres tem um guia masculino chamado de Animus. Faz sentido que aquilo que nos oferece um caminho para o inconsciente tenha uma identidade oposta àquela que trabalhamos conscientemente, não? A Anima tem uma natureza de Eros, yin, passivo, ligada ao corpo, ao instintivo e às emoções, enquanto o Animus tem uma natureza yang de Logos, ligada ao mental, à ação e ao intuitivo. Ou seja, os homens falam com o inconsciente através dos sentimentos e as mulheres através do pensamento e da ação. Vocês conseguem ver o quão ruim são as caricaturas do homem que não sente e da mulher que não pensa? Não posso deixar de ver essas caricaturas de masculino e de feminino diretamente ligados à necessidade de homens e mulheres lutarem pelo direito de não serem humilhados e violentados. E claro que a melhor maneira de nos conscientizarmos desses elementos orientadores do inconsciente será através dos relacionamentos com pessoas do gênero oposto ao nosso (principalmente nos amorosos, mas não apenas), pois aqui temos a maneira mais automática e pessoal de projeção do nosso universo interno sobre o mundo externo. Buscaremos nos outros aquilo que pode nos mostrar quem somos. Claro que as primeiras pessoas a iluminarem esses arquétipos são nossos pais ou quem ocupou o lugar deles na nossa infância, tanto conscientemente, nos mostrando como homens e mulheres se comportam, quanto inconscientemente, servindo de projeção para nossa contraparte inconsciente de Anima e Animus. Com o tempo vamos colorindo essas figuras com outros encontros e no inconsciente temos uma fonte inesgotável de imagens para alimentá-las. A falta de figuras masculinas adultas e a onipresença feminina em nossas formações vão criar movimentos tanto conscientes quanto inconscientes, e nosso desafio é estar entendendo como essas partes agem para poder trabalhá-las a nosso favor, para que sejamos cada vez mais inteiros. Se as vivências com aqueles que nos criaram foram muito complicadas, teremos mais desafios na hora de trabalharmos com esses elementos inconscientes, os homens quando tiverem que trabalhar suas emoções e corporeidade individualizada e as mulheres na hora que expressam seu espírito em domínios coletivos, pois a tendência é de deixar o inconsciente agir de maneira livre demais para compensar os distúrbios conscientes. Isso costuma dar mais trabalho, afinal, aquilo que nós rejeitamos vai para o inconsciente, que aceita tudo, e aí vamos criar uma briga entre o que o inconsciente traz e a consciência que construímos de nós mesmos. E haja Rivotril para tentar aplacar essa briga... Isso será explicitado através dos relacionamentos com nossos afetos e desafetos do gênero oposto, onde nosso inconsciente se projeta para ganhar atenção e consciência. Agora, adivinhem com que tipo de forças Escorpião trabalha?

O elemento Água sempre tem um canal de comunicação com o inconsciente que precisa estar o mais limpo possível para que se viva bem onde esses signos dominam. Câncer tem esse canal via inconsciente familiar ou sistêmico, Peixes via inconsciente coletivo e Escorpião via inconsciente pessoal, que é exatamente esse campo onde nos deparamos com o estranho, o outro, o “não eu”, e projetamos nosso inconsciente. Transformamos o outro em símbolo daquilo que nos habita internamente e que não queremos ou não podemos ver. Por isso o signo de Escorpião, a casa oito e Plutão, estão tão associados à ideia de crise, no sentido de conflito mostrado pelo I Ching, onde o Céu Criativo tende a subir e a Água Abismal tende por sua natureza a descer (hexagrama seis) Aqui podemos ver o conflito entre nossa consciência racional e o material que foi parar no inconsciente por medo e/ou culpa, criando um abismo dentro de nós. As nossas ligações emocionais com os “outros” de nossa vida sempre nos forçam em direção à nossa natureza sentimental, que precisa ser primeiramente identificada e então examinada para poder ser transformada, e nada nos faz ir nessa direção mais rapidamente do que a frustração. A velha máxima satriana, “o inferno são os outros” é absolutamente real aqui. Saturno em Escorpião vai garantir que a relação com o “outro” entre nesse nível de conflito e obrigue a pessoa a passar por processos dessa natureza se ela escolher se transformar em adulto, e esse tipo de iniciação é realmente algo para quem tem coragem de ir fundo na vida. A única arma que eu consegui descobrir que funciona nessas circunstâncias é a verdade, a coragem para ver as coisas como elas são e a aceitação de que é assim que são. E gente, eu garanto que fazer Heliski no Himalaia ou BASE Jumping nas Torres Petronas de Kuala Lampur é para os fracos, pois quando o abismo está dentro, não há paraquedas que amorteça a queda. Mas só quando se experimenta pular é que se descobre que o abismo não era tão grande como parecia olhando de fora.

A grande força que Escorpião traz enquanto Água Fixa é aquela ligada às energias criativas e procriativas que esse signo controla e através dos quais entra em contato com os outros. Nessa esfera compreendemos que sexo tem pouco a ver com o contato físico entre as pessoas e muito mais a ver com forças emocionais e químicas, além de ser uma das vivencias que mais afeta o nosso universo mental. O fluxo que pode ocorrer durante o ato sexual entre duas pessoas por um breve segundo traz a experiência de perda da percepção individual e o vislumbre de se sentir um com outro ser humano. É nesse sentido que Escorpião se liga à ideia de morte, pois aqui temos a morte da personalidade consciente que se entrega para esse tipo de suspensão. Aliás, todos os tipos de transe que utilizam meios físicos de maneira proposital, como o uso de drogas psicotrópicas com fins religiosos ou não, as danças e ritmos hipnóticos, etc., também fazem parte dessa esfera Escorpião/casa 8/Plutão, pois têm como objetivo exatamente esse êxtase de esvaziamento do eu. Claro que depois, quando o eu recupera seus contornos e percebe as modificações que a união com o outro provocou, pode ficar bem temeroso. Que atire a primeira pedra aquele que nunca se retraiu frente ao medo da aparente vulnerabilidade emocional que o envolvimento maior com o outro traz. O que as terapias sistêmicas (como a constelação familiar, por exemplo) estão verificando é que depois que a união ocorre não é mais possível excluir totalmente o parceiro, mesmo que o mental acredite piamente nisso. Se isso é bom ou ruim, cada um deve fazer esse julgamento por si só. Como tem sido a sua escolha por parceiros sexuais? E mais importante, como você tem se comportado como parceiro sexual? Pois Saturno em Escorpião vai exigir um mergulho mais profundo nesse universo e cria a necessidade de um conhecimento prático de si mesmo e daquilo que buscamos no “outro” que nem todos estão dispostos a fazer. De qualquer maneira ele irá cobrar o preço pela nossa ignorância. Tem sido uma surpresa e uma alegria ver esse povo passando por esse Retorno de Saturno com tanta disposição de ir mais fundo, e que entendem exatamente o que quer dizer isso. Parece que a única coisa que Saturno exige para fazer a iniciação adulta é a disposição para ir além da esfera lunar materna conhecida. Saturno com certeza encontrará a parceria perfeita para você fazer isso.

A estratégia tradicional de Saturno para nos levar ao processo de crescimento consciente adulto é através da falta e da frustração que criam um imenso desejo de ter aquilo em nossas vidas, e para isso nos esforçamos nessa direção. Em termos míticos representa a parte em que o herói tem que enfrentar o deserto se quiser chegar ao seu destino. Com Saturno em Escorpião o mais comum é que isso se manifeste através de um histórico de falta de contato emocional mais profundo na família, seja por morte real ou por distanciamento afetivo, principalmente por parte do pai em se tratando do nosso titã. Algumas vezes há pouco contato físico com a criança em uma fase que essa é única maneira compreensível para ela, ou então os problemas sexuais dos pais criam uma atmosfera de medo e hostilidade que é captada mas não explicitada, deixando tudo muito confuso e trazendo problemas quando se trata de contato físico, e muitas vezes há realmente uma ameaça física à criança. Seja como for, se cresce com um sentimento de isolamento e uma certeza de que não se pode compartilhar essa sensação para aliviar a dor. Em As Máscaras de Deus, Mitologia Criativa (Editora Palas Athena, 1994), Joseph Campbell diz que “O deserto (...) é qualquer mundo no qual (...) a força e não o amor, a doutrinação e não a educação, a autoridade e não a experiência prevalecem na organização da vida, e no qual os mitos e ritos impostos e recebidos não estão (...) relacionados com as verdadeiras percepções, necessidades e possibilidades interiores daqueles em quem são incutidos.” Pois com Saturno em Escorpião (e também na casa 8), a pessoa busca união como água no deserto, e isso transforma as relações afetivas em algo muito intenso e com necessidades emocionais muito profundas. Assim como os adolescentes acreditam esconder o que sentem por traz de uma cara de mal e um comportamento rebelde, a nossa tendência ao se deparar com Saturno é ficar com tanto medo que se evita o assunto ou então se finge não ter nenhuma dificuldade com isso. Os perfis típicos aqui são do celibatário cheio de hostilidade para com os sexualmente ativos, e do abertamente promíscuo, que tenta seduzir qualquer coisa que apareça pela frente. Não é preciso análises muito profundas para perceber que temos nos dois casos um problema fundamental no relacionamento emocional com outra pessoa, e tanto em um caso quanto no outro se está preso na armadilha que Saturno joga quando em signos de Água, dizendo que se pode transformar um valor emocional em um valor material. Os dois sentimentos que mais nos deparamos quando se trata de Saturno são medo e culpa, que bloqueiam os dois chacras básicos, ligados à sobrevivência e ao prazer, e ao tentar não sentir isso teremos problemas de frigidez. Pronto, confirmamos nossos medos de não conseguirmos nos unir a outra pessoa, aumentando nosso medo e nossa culpa. É importante entender não sentir é uma defesa emocional, por mais fantasias de racionalidade que se coloque em cima.

Entramos nesse ciclo porque tentamos colocar em outras pessoas a possibilidade de curar as feridas iniciáticas de Saturno, criando uma fantasia mais ou menos consciente de que se poderá renascer e transformar a dor através de alguém que não tenha as restrições emocionais que se vê em si mesmo. As vezes demoramos muito tempo nos frustrando para aceitar que a falta que tivemos em nossa história não poderá ser preenchida nunca por coisa alguma, e que portanto temos que fazer algo com aquilo que vivemos em vez de criar ilusões para tentar apagar aquilo que nos feriu. Só quando a pessoa é suficientemente honesta consigo para entender que em seu íntimo há algo que precisa se desenvolver através do próprio esforço (como todo mundo), ela estará pronta para compreender e disciplinar sua natureza sexual de modo a expressar essa força de maneira positiva, em busca da conquista de uma real união, profunda e verdadeira, feita não apenas de fantasias celestes, mas de muito trabalho consigo mesmo, e independente de quem for sua parceria. Na verdade ninguém nasce pronto, e precisamos mesmo de muita experiência em ser quem somos para podermos ficar inteiros. O primeiro passo para isso quando se trata de Saturno em Escorpião é conseguir se revelar para o outro em sua fraqueza, sabendo que o outro não pode salvá-lo, e correr o risco de perdê-lo. Uma das coisas que mais alimenta o lado negro de Saturno é a vergonha que temos das nossas dificuldades naquela área. O intenso isolamento emocional que o Saturno escorpiniano nos remete faz com que essa vergonha seja quase insuportável, e a força que se tem que desenvolver para ultrapassá-la pode parecer demasiada. Saturno governa a estrutura óssea e é através dele que desenvolvemos a mente concreta ou científica, por tanto é através da tentativa e erro/acerto que experimentamos na nossa área saturnina que vamos conseguir criar uma estrutura capaz de realmente sustentar quem somos. Na verdade o revelar-se para o “outro” é um revelar-se para si, e nisso consiste a cura, em conseguir olhar para a própria dor sem se abandonar, mesmo que o “outro” faça isso. Através do nosso inconsciente temos essa capacidade incrível de transformar coisas, pessoas e vivências em símbolos, e assim criar imagens mágicas capazes de transformar nossa existência e nos fazer viver em diferentes níveis ao mesmo tempo. A imagem mágica, ou o símbolo, é portanto a máquina que transforma a energia psíquica. Ao nos revelar ao outro podemos ver com mais clareza também quem o outro é, e ver se realmente estamos disponíveis para aquela relação ou se apenas estávamos usando a parceria para a projeção inconsciente. Entendemos que a nossa percepção da realidade muitas vezes pode conflitar com aquilo que vivemos, e assim acolher todas as dúvidas e ideias que surgem desse confronto, trabalhando simbolicamente com esse material. Normalmente fazemos julgamentos morais a respeito dessas projeções e sofremos bastante, mas isso apenas significa que a estamos olhando com olhos da consciência, e se conseguimos seguir em frente e nos perguntar de onde veio essa “ilusão”, poderemos nos voltar para dentro e descobrir todo um mundo, com novos modelos e possibilidades de liberdade. Essa é a grande vantagem de se fazer terapia, onde se cria um ambiente seguro para treinar o revelar-se para o mundo. É por isso que sempre digo que a linha que o terapeuta segue é o menos importante, pois o que se precisa é alguém que possa receber as suas projeções, que possa se sintonizar com seu inconsciente, e isso se revela na primeira entrevista e não no curriculum do terapeuta.


Saturno não dá nada de graça, como Júpiter faz, e por isso mesmo podemos reconhecer com muita consciência o valor daquilo que conquistamos por seu intermédio. Saturno sempre exigirá a “disciplina imposta por você mesmo, sobre você mesmo” para que se possa conquistar a liberdade de expressão e de realização mais profunda. Se não tivéssemos uma certeza de alma a respeito do enorme potencial que existe em nós por baixo daquela falta/dor/ferida saturnina, essa dinâmica não teria tanta força em nossas vidas. O Saturno em Escorpião tem como tarefa básica aprender a ser sincero emocionalmente para poder sair do fosso de solidão que se caiu, passando por toda a raiva, impotência, rivalidade e frustração acumulada durante a vida. Uma das boas coisas que ganhamos quando aceitamos a tarefa de nos tornarmos adultos através de Saturno é que vamos aprendendo a escolher as lutas que valem a pena em vez de ficarmos brigando conosco o tempo todo, pois aprendemos a olhar e aceitar a realidade como ela é. A sensação íntima e dolorosa de ser vencido emocionalmente por quem se ama se transforma em uma capacidade refinada de avaliação de até onde o outro está disposto a ir sem se deixar prender por isso. Os poderes de cura e de vida disponíveis no inconsciente são infinitos para quem quiser buscá-los através do coração. A união íntima que se quer tanto fora só é possível através da relação amorosa com nossa(s) contraparte(s) interna(s), pois aí se pode amar ao próximo por se amar a si mesmo. Não consigo imaginar nada que seja mais bonito e poderoso que isso.


Hoje é dia dos pais, então dedico essa postagem ao meu, que me colocou no mundo e me deu o suficiente para fazer algo bacana com a vida que ganhei dele. Muita gratidão.