terça-feira, 26 de agosto de 2008

Virgem, O Purificador Do Zodíaco


“Eu sei que se tocasse
Com a mão aquele canto do quadro
Onde um amarelo arde
Me queimaria nele
Ou teria manchado para sempre de delírio
A ponta dos dedos.”

Ferreira Gullar - Poeta virginiano

Virgem e Escorpião são os signos que receberam mais rótulos errôneos em suas definições. Uma delas é de que virginianos são perfeccionistas, mas perfeição é uma idéia, portanto uma motivação de Ar. Esse é o signo de Terra Mutável, regido por Mercúrio e exílio de Netuno, onde Urano se exalta e a Lua está em queda. Essa regência mercuriana e exaltação uraniana mostram que esse é um signo que se dá bem com idéias e ideais, mas a queda lunar e o exílio netuniano mostram também que ele está bem longe de se sentir confortável com coisas muito emocionais ou nebulosas. Você conhece a piada do virginiano e do pisciano que encontram um bêbado sofrendo na sarjeta? Os dois sentem a mesma compaixão, mas o pisciano vai sentar com o bêbado e chorar junto, enquanto o virginiano vai encher o pobre coitado de livros de auto ajuda. Virgem aceita a realidade mundana como ela é como seus irmãos terráqueos, Touro e Capricórnio, o que nenhum perfeccionista jamais aceitou. Detalhista seria uma melhor palavra para definir esse signo. Ouço muitas pessoas - inclusive virginianos - reclamando desse gosto por detalhes, que teoricamente faz as pessoas desse signo perderem a noção do todo. Isso também não é uma verdade a priori, apesar de ser um risco real para muitos. Virgem adora detalhes, e isso significa que ele verá a beleza e a delicadeza do pequeno brinco que você está usando ou a elegância do seu discreto prendedor de gravatas, mas também que você saiu de casa sem passar a camisa direito ou que você comeu algo com molho, pela pequena mancha em sua roupa. Mas ele não irá julgá-lo nem pelo brinco nem pela mancha na roupa. Parece que Virgem olha para o mundo como se ele fosse um grande quebra-cabeças, e para encontrar os encaixes é necessário estar atento aos detalhes. Esse é a razão também da incrível memória desse signo. Outra coisa que os manuais astrológicos gostam de dizer é que Virgem tem mania de limpeza, quando temos muitos virginianos capazes de deixar a louça de uma semana sobre a pia e os móveis cheios de pó, enquanto estão tentando resolver alguma questão interna. É verdade que uma casa organizada, uma conta bancária equilibrada e uma cozinha limpa podem fazer um virginiano rir à toa, mas essa não é sua motivação básica. A energia fundamental de Virgem está em sua busca por discriminação. Assim como Sagitário, que tem sua energia impulsionando-o para o conhecimento do Homem, acaba se tornando um viajante ou um professor, por exemplo, o virginiano, em busca da discriminação das coisas, acaba se tornando um organizador.
Ninguém discrimina mais do que Virgem, e isso quer dizer que um simples “sim” ou um simples “não” não serão suficientes, pois esse universo preto ou branco é simples demais, e para esse signo raramente as coisas são simples. Alguns astrólogos colocam Virgem como o guardião e purificador do zodíaco, pois ele busca a síntese e a ordem que criam a consciência. Isso pode ser observado no discernimento com que ele faz suas escolhas, seja de amigos, amores, comida, idéias ou sonhos. Síntese é outra palavra chave para entender Virgem, pois ele está sempre tentando juntar coisas que parecem diferentes, compatibilizando fatos, idéias e aspectos da vida que a maioria poderia considerar excludentes. Tanto a compulsão quanto a doação virginianas residem nessa necessidade de síntese. Tudo tem que se ajustar, combinar, e isso implica em descobrir onde as coisas se encaixam, o que Virgem tenta dando nomes, aprendendo, catalogando, classificando. Mercúrio dá a Virgem, como a Gêmeos, um grande interesse pelo conhecimento e pela comunicação, mas enquanto Gêmeos gosta de saber de tudo um pouco só pelo prazer de saber, para Virgem o conhecimento tem que ser útil, e isso pode torná-lo arrogante e até intratável. A cada nova experiência ele vai se perguntar como sintetizá-la, para poder manejá-la, e depois como utilizá-la. Se não consegue alcançar a síntese ou ele dirá que ela não existe ou sairá correndo atrás de nomes e definições que a classifiquem. Se ele não consegue utilizá-la, a descartará como algo que não é prático. Isso pode ser bem triste, quando o virginiano resolve deixar de lado pessoas, idéias, carreiras ou outras coisas relacionadas à beleza e até ao amor por achar que não são aplicáveis àquilo que considera a realidade. Aí sim Virgem se transforma naquele tipo para quem a vida é só trabalho e tarefas maçantes, passando o dia a limpar cinzeiros, vendo o mundo com olhos cínicos e doentios. Quando encontrar um virginiano assim, você pode chorar.
Observando pessoas com forte presença em Virgem vemos que algumas delas podem até se mostrar obsessivas em sua necessidade de ordem e limpeza externas, mas todas têm uma tendência muito mais forte a ser obsessivos em sua ordem e limpeza emocionais. Isso pode transformá-los em grandes controladores de si mesmos, que nunca deixam transparecer sua fraqueza ou carência, e os torna muito sensíveis a críticas. O mesmo impulso que se externaliza com um ataque histérico se a camisa azul está no lugar das vermelhas, faz com que essa criatura analise tudo freneticamente para que não transpareça nenhum ferimento psíquico ou emoção “fora do lugar”. Esse impulso pode ser chamado de medo do caos. Virgem tem uma consciência profunda de todo o caos, desordem, sensibilidade emocional, romantismo e imaginação que sua alma abriga, mas acha que tem de lutar contra isso para poder tolerar a incerteza e a vacuidade das pessoas e do mundo que o rodeia. Por isso Virgem pode ser muito duro e rude - não há signo mais disposto a falar “não” - pois essa é a forma que tem para se proteger do mundo, assim como sua insistente compulsão em se ligar à realidade prática ajuda-o a fugir do que é místico em sua alma. Ele sabe que sem fronteiras bem delimitadas começa a autodesintegração, mas se não reconhecer que o que é útil nem sempre é vital e significativo, e que brincar, jogar e até se enganar faz parte da vida, ele nunca vai conseguir nem se equilibrar nem entender realmente a vida. A Alma virginiana busca autonomia para poder servir ao mundo como um veículo íntegro, mas tem que amadurecer para perceber que isso não tem nada a ver com a solidão que suas neuroses e medos o prendem.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Astrologia de Boteco Com Teto Solar: Encontre a Casa Onde Mora Seu Sol e Descubra Onde Está Sua Vida Heróica

Como a cada mês tenho falado de um dos signos de maneira um pouco mais profunda, nesse papo de boteco vou experimentar falar do posicionamento desse astro por casa astrológica. A casa em que se encontra o Sol indica onde temos mais necessidade de nos distinguirmos e em que área da vida precisamos nos separar dos comportamentos condicionados através da construção de nossa própria identidade. A expressão única do Sol dependerá, também, dos aspectos que tem com os outros planetas, com o ascendente e com o MC, o que deve ser levado em conta quando vamos tentar entender mais sobre nossa conexão solar.

Sol no Ascendente
Quando o Sol está no ascendente, o ambiente da primeira infância geralmente é sentido como dando apoio aos desejos da pessoa, de forma que ela consegue expressar sua individualidade de maneira expontânea. Há um forte impulso para ser notado, respeitado e reconhecido pelos outros, além da tendência a se colocar como líder. É essencial que se assuma a responsabilidade de revelar seu proprio caminho na vida, determinando de forma clara o que deseja obter e perseguir essa visão com persistência e determinação. Esse posicionamento dá grande carisma - é como se tivesse o Sol na testa - criando um temperamento animado e com grande vitalidade física, se não houver nenhum aspecto muito tenso. O desenvolvimento desse Sol geralmente passa por perseguir o sucesso pessoal, mas o principal desafio será cruzar o abismo entre os sonhos infantis de ser especial e importante e o nível real das verdadeiras realizações, onde se é único e importante pela contribuição criativa que se dá ao mundo. Como simbolicamente o ascendente mostra a maneira como o nosso heroi é "treinado" pela vida, se o signo do Sol e do Ascendente forem os mesmos, esse treino é mais natural e direto, mas se os signos são diferentes, o heroi tem que aprender a utilizar as armas dadas pelo Ascendente para expressar sua individualidade, o que irá exigir mais consciência e trabalho (certo, Léo?).

Sol na Casa II
As questões materiais serão predominantes e a segurança financeira será uma forma de definir a identidade e um canal para a auto-expressão. Porém, a transferência das necessidades de expressão para bens materiais nunca é plenamente satisfatória e a pessoa acaba tendo que buscar a riqueza interior, que pode ser refletida através de suas qualidades, talentos e habilidades pessoais. Será através da utilização consciente desses recursos internos que ela poderá desenvolver um senso de identidade única e atrair os recursos materiais necessários para a realização de seus talentos. É necessário um esforço consciente para definir as verdadeiras necessidades e valores para que comece a se sentir menos inseguro e pare de ficar “inventariando” o que tem, e passe a estabelecer alvos e desejos verdadeiros a serem realizados, empregando todos os recursos, externos e internos, para atingi-los. Para isso é necessário construir uma auto-afirmação genuína, sem se desviar dos esforços de desenvolvimento pessoal, seja através do apoio nos recursos dos outros, seja utilizando a riqueza para exercer domínio sobre as pessoas e garantir a presença da platéia.

Sol na Casa III
Os potenciais desse Sol são revelados através do desenvolvimento mental, intelectual e da habilidade para se comunicar. O prazer e o estímulo para ser único virá da troca de idéias, criando preciosas perspectivas pessoais. É necessário um empenho e uma responsabilidade pessoal para que o potencial de clareza e eloqüência intelectuais se desenvolvam e a pessoa consiga iluminar conscientemente suas relações e comunicações pessoais. A mente das pessoas com esse posicionamento de Sol tende a manifestar uma atitude científica, voltada à exploração do mundo, embora haja uma necessidade interna, nem sempre compreendida, de se estar entendendo os processos de funcionamento da vida como um todo. O amadurecimento desse Sol requer abertura para a variedade de expressões individuais e o compartilhar daquilo que sente e sabe, seja através de informações, de conhecimento ou de compressões, de si e do mundo, pois isso será importante não só para a própria pessoa, que ficará mais consciente de si mesmo e evitará as armadilhas da arrogância intelectual que paralisa o crescimento, como também para as outras pessoas, que aprenderão e crescerão com essa troca.

Sol na Casa IV
A procura da própria identidade passa pelas raízes, pelas heranças familiares, os padrões ancestrais e a vida em família. É exigido da pessoa uma iluminação consciente das raízes criativas através da investigação e integração interiores. O Sol no Fundo do Céu precisa se diferenciar e afirmar no meio dos fortes condicionamentos infantis e das poderosas tradições familiares, de modo que ela consiga criar um espaço para fincar suas próprias raízes, únicas e luminosas, de modo livre e sem culpa. Com esse posicionamento há uma enorme necessidade de vida familiar, e o desafio é criar independência para adquirir uma percepção do sentido e propósito da vida, do contrário as mudanças na composição familiar e nos relacionamentos entre os membros da família - como filhos que crescem, pais que morrem, irmãos que casam - desestruturam toda a consciência da pessoa. Quando se consegue libertar dos primeiros condicionamentos ou se encontra um caminho que obrigue a redefinir seu senso identidade, então a pessoa passa a olhar para as suas raízes verdadeiras - fruto da existência de todos os seus ancestrais mas com características que só ele pode dar - e é possível olhar para as bases da infância como o que realmente são: o berço de onde viemos com o objetivo de construirmos uma vida adulta bem sucedida e para permitir que a individualidade se desenvolva. Quando essa consciência se forma, então se para de gastar energia para seguir o caminho socialmente aceito ou planejado pela família e se vai em busca do prazer do próprio caminho.

Sol na Casa V
Aqui o Sol está “em casa”, e a busca pelo prazer e pelo romance é que o faz se desenvolver. A criatividade artística - sob forma intelectual, emocional ou material - são importantes para a auto-expressão e também um canal das energias desse Sol. Esse tipo de posicionamento solar cria emoções ardentes, intensidade e alegria de viver. É importante que a pessoa se sinta criativa em qualquer coisa a qual se dedique, pois isso é que lhe dará uma auto imagem positiva e um papel social que realmente influenciará o mundo, através de suas ações e também de seu entusiasmo. A motivação básica, que faz a pessoa empreender sua aventura, é a busca de satisfação pessoal. Como acaba se sobressaindo por puro entusiasmo, corre o risco de criar personagens que “agradam ao público” e terá que enfrentar o perigo de perder sua totalidade para os seus aspectos mais aceitáveis. Sendo a possibilidade de desenvolver a totalidade que lhe dá tanto amor à vida e carisma, esconder alguns aspectos da consciência traz conflitos e insatisfação, apagando o entusiasmo e afastando a platéia, obrigando a ser mais reflexivo em suas ações. Existe uma eterna criança brincalhona com o Sol na V, que deve aprender a ser livre e participar inteira da vida.

Sol na Casa VI
A direção na vida e o senso de realização podem ser descobertos através do envolvimento com o trabalho, a saúde e o serviço, e se dedicar a essas áreas ajudará na definição de seu senso de identidade única, pois proporcionará canais para uma expressão pessoal. O desenvolvimento de rotinas e padrões de organização poderão proporcionar uma estruturação positiva e produtiva na vida. As questões psicossomáticas serão ricas fontes de informação para o auto conhecimento, pois a vitalidade estará fortemente ligada à integração corpo-espírito, e a pessoa tem que aprender , mais cedo ou mais tarde, a respeitar o veículo físico de sua existência. O Sol na VI faz com que a pessoa busque desenvolver suas habilidades e competência de modo a ocupar um lugar ativo no mercado de trabalho e, assim, ter um sentido de valor pessoal e de distinção. Como todo Sol, porém, o objetivo desse não é fazer os outros aplaudirem e sim criar luz própria, consciência de si, e aqui o resultado final deverá ser o aprendizado da arte de viver um dia após o outro, o que poderá ser feito com tanto gosto e sutileza que causará admiração. Como diz o ditado zen, “antes da iluminação, carregue água; depois da iluminação, carregue água”, e esse é um aprendizado importante para essa localização solar.

Sol na Casa VII
Esse Sol irá se desenvolver através dos relacionamentos, das associações e das parcerias, amorosas ou sociais. Participar de atividades conjuntas trará canais de expressão para a autodefinição de modo mais claro. O processo desse Sol geralmente se inicia com o encontro de alguém que serve de modelo para a própria modelagem. Posteriormente a pessoa acrescentará as forças e qualidades inatas através de sua participação ativa na interação social. Há o perigo da pessoa evitar o próprio desenvolvimento se escondendo atrás da identidade de outra pessoa, procurando alguém grande e forte que lhe diga o que deve fazer de sua vida, como uma tentativa de viver o princípio solar através do outro. Mas como essa tática se mostra sempre improdutiva e decepcionante, não consegue sobreviver muito tempo, e a pessoa acaba tendo que assumir as suas responsabilidades e enfrentar seus próprios desafios na construção dos relacionamentos. Aí sim, a pessoa vai aprender a ser única com a ajuda do outro, o que fará com que todos que a ele se associem fiquem maiores e mais bonitos também.

Sol na Casa VIII
Os relacionamentos que expõem paixões ocultas e esbarram em emoções primárias não resolvidas fazem parte do processo desse Sol crescer e se desenvolver. A oitava casa cria um grande interesse por tudo que está oculto ou é misterioso na vida, e o Sol aí tem que aprender a mexer em casa de marimbondo. A vida se mostra de forma intensa para esse Sol, e às vezes ele pode temer as percepções e sentimentos que o transpassam, fazendo-o resistir a uma intimidade mais profunda com a vida e rejeitar o próprio potencial de transformação. Aqui é necessário que se desenvolva coragem para explorar os próprios objetivos da vida, então as tensões se dissolverão através da auto-expressão consciente, e os relacionamentos deixam de ser um campo de batalhas para se tornar a base para o crescimento e para o prazer, já que a necessidade de união se transforma em intensificação positiva da vida. Para que esse Sol brilhe é necessário que a pessoa crie consciência da ânsia humana de nos reunirmos a algo maior que nós mesmos através do amor por outro ser humano e, com esse objetivo, ele aprenderá a se expandir e transcender seus limites emocionais que criam o separatismo e isolamento que o desvitaliza.

Sol na Casa IX
Ao aumentar a compreensão e a perspectiva da vida - seja através de viagens, leituras ou pesquisas filosóficas - esse Sol se vitaliza e potencializa. A jornada do Sol nessa casa atravessa diferentes grupos, religiões, filosofias e estudos para criar uma visão pessoal da verdade que, ao ser compartilhada com os outros, criará seu senso de identidade e sua distinção como ser único. É através da descoberta dos padrões básicos da vida que esse Sol ganhará inspiração e incorporará sua própria sabedoria. Mas tudo que esse Sol aprender em seu caminho tem que arrumar expressão para ser compartilhado, pois também será útil para os outros e só terá significado real se puder ser passado para frente. O grande aprendizado aqui é no sentido de conseguir trazer os grandes significados da vida para a realidade do aqui-agora, para que as descobertas feitas nos aspectos mais abstratos da vida possam orientar seus compromissos pessoais e iluminar a vida mais mundana.

Sol no Meio do Céu (Casa X)
O foco da identidade se volta para a carreira, as conquistas profissionais e o status social. O Sol aqui expressa seus potenciais na busca do reconhecimento de suas habilidades únicas. Existe muita pressa em ser admirado como alguém, criando impulsos ambiciosos que levam a pessoa a querer realizar seu propósito de vida rapidamente. Na luta para concretizar suas ambições, esse Sol acaba desenvolvendo auto disciplina, perseverança e habilidade de concentrar sua vontade e sua energia para atingir certo grau de realização e admiração. O ideal desse Sol é tornar a pessoa centrada, expressando suas forças e qualidades de modo direcionado, pois isso é que pode torná-la fonte de inspiração e de autoridade. Essa inspiração interna pode ser facilmente confundida com uma simples posição de destaque, que reluz como se fosse o resumo de um sonho, mas que é apenas ilusão, verdadeiro “ouro de tolo". Quando esse desvio é tomado, e o sentido de identidade ou de valor pessoal se prende demais a títulos ou posições sociais, a vida da pessoa se torna limitada e a desvitaliza, fazendo-a perder o sentido da vida se essas coisas lhe são tiradas. Em algum momento da vida esse Sol fará com que a pessoa perceba que seu poder vem dela mesma e não da necessidade que tem da admiração dos outros.

Sol na Casa XI
Aqui o Sol se desenvolve na participação do grupo, na busca contínua de progresso social e cultural. A consciência se volta para a interação entre individual e coletivo, criando grande sensibilidade aos sofrimentos injustos de homens, animais e da natureza. Isso faz com que a criatividade, com o tempo, acabe se vinculando à consciência pública e às soluções alternativas dos conflitos do grupo. As amizades têm grande importância para o desenvolvimento da personalidade e os esforços para construir a própria identidade estarão vinculados às suas aspirações e metas coletivas. É importante que as pessoas com esse posicionamento solar façam um esforço consciente para estabelecer metas praticáveis quando se sentem inspiradas, pois será nesse esforço para a realização concreta que formarão um sentido de identidade, propósito e poder. O mais importante ingrediente para a própria realização e a própria cura é ter uma razão para viver, criando uma função pessoal e interiormente ditada. Esse Sol se alimenta com a esperança que tem na transformação social e na capacidade que temos de viver juntos de maneira harmônica, e tem que viver essa transformação internamente para poder mostrar como se faz.

Sol na Casa XII
Há um paradoxo nesse posicionamento, pois o Sol estabelece, esclarece e desenvolve uma identidade separada e única e a casa XII trabalha no sentido de dissolver, desestruturar e subverter as fronteiras individuais. Aqui há um conflito que requer da pessoa o desenvolvimento do sentido de identidade para além da conscientização normal: o ego e a vontade tem que desempenhar seu papel de servidor da alma. Na jornada heróica da casa XII a pessoa tem que aprender a manejar o limite sutil entre o que é pessoal, individual e consciente, e o que é universal, coletivo e inconsciente, e isso significa ter que gastar muito tempo consigo mesmo. Enquanto na casa IV o inconsciente é revelado através da família e na casa VIII através da intimidade com o outro (as outras duas casas em que o Sol tem que mergulhar em águas inconcientes), na casa XII a pessoa tem que se conscientizar sozinho. Durante o processo de formação do ego, há uma luta feroz para impedir a entrada de qualquer coisa mais vaga, irracional, mística ou transpessoal. Mas, quando chega a noite, tudo o que foi afastado da consciência invade os espaços, e geralmente sob formas assustadoras. O resultado disso costuma tomar a forma de conflitos de identidade, doenças e um estranho e dolorido sentimento de ser rejeitado, o que acaba levando a pessoa ao isolamento e à voltar sua atenção ao que ocorre em seu interior. Só quando se aceita conscientemente as correntes inconscientes, buscando uma expressão criativa para essas forças, será possível a esse Sol a sua realização, que implica uma coabitação entre o pessoal e o universal e uma profunda amizade entre o herói e seu Deus.

sábado, 2 de agosto de 2008

O Caminho do Sol

A primeira postagem desse blog foi sobre o Sol, introduzindo a visão daquilo que pretendia falar aqui. A astrologia que faço busca exatamente o caminho para desenvolvimento do Sol, pois é lá que encontraremos nossa Luz e nossa capacidade amorosa mais profunda. Agora vamos tentar entender mais desse astro que, em seu caminhar anual, nos trás as estações do ano, os tempos de recolhimento e de exposição, organizando o calendário de nosso planeta. Esse mês ele está "em casa", iluminando a área de nossa vida em que temos o signo de Leão e, portanto, onde também estamos aprendendo a sermos nós mesmos.
O Sol ocupa 99,8% do nosso sistema, e mostra, na astrologia, nossa essência básica. Quando agimos de modo solar, estamos em harmonia conosco internamente. A palavra “sol” deriva do latim “solus”, que significa o Único, e a sua posição, por signo e casa, nos mostra como nos sentimos únicos e centro de nós mesmos. Uma das mais antigas representações do Sol é a da realeza, e o rei era tido como a incorporação terrena da divindade, ou seja, seu papel de governante era exercido juntamente com o papel de pontífice, o “construtor de pontes”, que fazia a mediação entre o céu e a terra. Enquanto o ascendente nos fala da forma que tomamos no mundo, da porta de entrada na nossa casa, o Sol dirá o que encontraremos lá dentro, portanto não é o que reconhecemos quando conhecemos alguém superficialmente. O ascendente, nesse sentido, é como um guia que nos acompanha em nossa jornada pela vida e nos leva a aprender certas lições e assimilar certos atributos que nos auxiliarão a nos tornarmos aquilo que é representado pelo Sol. Podemos dizer que o ascendente é o caminho onde encontraremos mais perspectivas e onde somos treinados a partir daquilo que encontramos na vida. Já o Sol nos mostrará quem trilha esse caminho, o herói que estamos tentando nos tornar. Os potenciais, as dificuldades, os dilemas e as experiências do Sol são dados pelo signo em que ele se encontra, e, conforme o tempo passa e ocorrem as transformações fisiológicas e psicológicas que as idades trazem, nos tornamos mais integrados ao signo solar.
Como vimos, a Lua simboliza uma dimensão inata e instintiva da personalidade, que tem como meta consciente o desenvolvimento de objetivos no mundo que garantam a segurança e a auto preservação, possuindo uma natureza regressiva que nos atrai para o passado e para o vínculo mãe-filho - já que nossas necessidades emocionais e corporais básicas não se alteram em sua essência. Em contraposição, o Sol simboliza nossa dimensão progressiva, sendo o princípio ativo e dinâmico que se desenvolve ao longo da existência sem nunca acabar de se desenvolver. Esse é o aspecto da personalidade que está sempre em processo de vir a ser, de rumar para um futuro. O herói sempre está representando um mito solar, pois sempre está prestes a se tornar algo. Não se nasce automaticamente herói; é preciso passar pelo processo de transformação para se tornar rei e também um veículo adequado para os deuses que são seus verdadeiros pais.
A primeira característica que encontramos no herói, portanto, é que ele é um “híbrido” de deus e mortal, o que sinaliza seu destino de pontífice. Na infância o herói não conhece sua verdadeira filiação, e acha que é igual aos outros, apesar de uma estranha sensação de ser diferente e da intuição de que um destino também diferente o aguarda. Um dos principais temas da jornada do herói é a descoberta de sua verdadeira origem, que é ao mesmo tempo mortal e imortal. Nesse tema mítico podemos notar um profundo sentido de dualidade, onde a dinâmica é dada pela convicção de que não somos feitos apenas de terra e fadados a comer, procriar e morrer; ou seja, de que não temos apenas uma natureza lunar, pois cada um de nós é especial, único, e tem um destino pessoal, uma contribuição individual a dar para a vida. O Sol em nós sente que há uma busca a se iniciar, uma jornada na direção do futuro desconhecido, um mistério profundo no núcleo do “eu”. Nossa face solar não se sente sujeita aos ciclos lunares e leis do destino ao qual têm que se submeter nossas naturezas, se recusando teimosamente a ser comum. A maioria das pessoas descobrem isso na metade da vida, quando a busca de segurança financeira, emocional e mundana parecem não trazer mais satisfação e a pessoa começa a pensar que deve haver um propósito maior para se estar vivo. Geralmente essa conclusão vêm de alguma crise que deixou um rastro de descontentamento e depressão, obrigando a pessoa a criar novas metas, difíceis de serem expressas em termos concretos, pois o Sol possui metas interiores, diz respeito à experiência da vida como algo especial e cheio de significados: o Sol nos diz que não somos coelhos, nem macieiras nem outra pessoa, mas sim nós mesmos e precisamos realizar nossos potenciais únicos. Podemos ignorar a força solar por nossa conta e risco, pois se não damos o salto solar e não oferecemos nossa contribuição única ao mundo, por menor que seja, estamos fadados ao incômodo tormento de um self não vivido, e teremos todas as razões do mundo para temer a morte, pois não teremos vivido de fato.
Outro elemento importante da jornada heróica é o fato dele ser invejado ou perseguido sem saber o motivo, às vezes pelo padrasto/madrasta, às vezes por um rei usurpador ou perverso que recebe a profecia de ser destronado pelo jovem herói, ou então por alguma bruxa ou ser mágico que resolve atrapalhar a jornada heróica. Podemos ver isso desde os mitos gregos até a história de Jesus Cristo. Esse tema da inveja e da ameaça do potencial que o herói representa para o governante estabelecido é algo que geralmente acompanha o despertar do Sol, pois a expressão especial e individual da natureza de alguém costuma despertar a inveja destrutiva dos outros e representa uma ameaça ao status quo. Muitas vezes isso é vivenciado através do pai ou da mãe real da pessoa, que fazem isso inconscientemente, pois a vida solar não vivida do progenitor se tornou amarga e invejosa, fazendo com que se experimente diretamente na infância essa perseguição do herói mítico. Se olhamos mais profundamente para nós mesmos, porém, descobrimos que o verdadeiro “inimigo” mora dentro e não fora de nós, por mais que cruzemos com ele no mundo externo.
O futuro herói pode se proteger por um tempo em sua mãe lunar, mas, mais cedo ou mais tarde, terá que aprender a lidar com o governador invejoso por sua própria conta, desenvolvendo certo realismo, já que a inveja faz parte da vida e da natureza humana, e nem sempre dá para sair correndo para casa e se esconder embaixo da saia da mãe. Assim é possível desenvolver firmeza, auto suficiência, “insight”, inteligência e amigos leais para sobreviver como indivíduo, senão se correrá sempre o risco de um regresso rastejante para o ventre materno através de mães substitutas que o protejam, como empregos insatisfatórios ou relacionamentos paralisantes, reprimindo assim seus próprios potenciais individuais para evitar o mundo lá fora. Em algum ponto do processo de crescimento, o herói recebe aquilo que Joseph Campbell se refere como “o chamado para a aventura”, seja através de uma intuição ou visão interna, seja através de uma aparente perturbação ou desastre externos, onde se olha a vida com um realismo e humildade que tocam a essência do ser. Quando o herói resolve empreender sua jornada, geralmente arranja um ajudante, ou recebe ajuda de divindades ou ainda recebe assistência de algum animal, que garantem o êxito da empreitada, confirmando o direito divino do herói: ele é posto à prova, mas recebe bastante colaboração - e não indiferença - para a conquista de sua meta. A questão da fuga e do erro pode fazer parte da história do herói - até Cristo pergunta se Deus não o abandonou. Apesar disso parecer uma fraqueza indigna do herói, retrata fielmente a maneira como as pessoas normalmente se comportam ao ouvirem a chamada heróica, pois parece que precisamos choramingar e sentir pena de nós mesmos um pouco quando nos preparamos para nos afastar do conforto lunar e atender as demandas de nossa essência. Como diz a piada judaica: “Obrigado senhor por fazer de mim um dos eleitos, mas não dava para escolher outra pessoa, só para variar?”. É possível não atender à chamada, mas o progenitor divino - a imagem mítica de algo maior, o “Eu Superior” que existe em nós - não vai nos deixar em paz só por que estamos com preguiça, e teremos sempre que pagar um preço por nos recusarmos a nos tornar nós mesmos, na maioria das vezes através de depressões, sensações insuportáveis de fracasso e um vazio profundo.
O herói realiza sua tarefa por ser compelido de dentro para fora. Se ele fizer isso apenas para agradar aos outros, por mais humanitário que possa parecer sua ação, vai acabar encrencado, pois não está sendo sincero consigo mesmo. Essa busca deve ser feita por causa da pressão interior, não para que as pessoas nos amem. Contudo, no ato de se tornar um indivíduo ele está dando sua contribuição aos demais. O Sol pode parecer profundamente paradoxal, pois quando nos tornamos nós mesmos temos muito mais a oferecer do que se nos esforçássemos para tentar salvar o mundo como forma de compensar um vazio interior. É dessa forma que o herói é capaz de atingir o que Campbell chama de “Travessia do Limiar”, onde encontramos alguma coisa bem desagradável que quer nos impedir de atingir nossas metas heróicas. Cada mito irá descrever o Inimigo, o Guardião do Limiar, de formas típicas, podendo ser um irmão sinistro, uma mulher fatal, a bruxa malvada, um monstro, dragão ou gigante. Cada uma dessas imagens tem seu significado próprio que pode ser associado com os aspectos e posicionamentos solares, e mostra o tipo de lutador que precisamos ser para vencer nosso próprio lado sombrio: às vezes precisamos matar a bruxa representada pela Lua que quer nos engolir, ou vencer as tentações geradas por Vênus, ou então vencer o monstro de nossos instintos cegos e primitivos ligados a Marte, ou nos livrarmos da prisão saturnina que impede de nos revelarmos ao mundo. Aspectos do Sol com planetas transaturninos costumam representar transformações muito profundas no trajeto heróico, assim como em muitos mitos vemos que às vezes o herói deve morrer para conseguir a ressurreição e a transformação necessária, como Jesus Cristo ou Dionísio. Diversos fatores do mapa astral podem descrever o dilema dessa travessia, inclusive o próprio signo e casa do sol, pois há tanto virtudes como fraquezas em cada um dos signos. Só depois desse enfrentamento é possível receber o prêmio ou tesouro que aguarda o herói. Esse prêmio pode ser uma jóia, a água da vida, a fonte da imortalidade, o domínio do reino, a mulher amada, o dom da cura ou da profecia, e também está ligado simbolicamente ao posicionamento solar. Sempre é algo altamente individual, que tem grande valor para aquele herói específico. O Sol, como corporificação do herói mítico, luta pela recompensa final guardado em um núcleo indestrutível de identidade que justifica e convalida a existência: o herói e seu premio são, na verdade, a mesma coisa, pois o tesouro é seu lado divino oculto em sua vida mortal. Por mais terrivelmente abstrato que isso possa soar, o sentido inerente de sermos um “eu” real e único, sólido e indestrutível é algo precioso e mágico, além de ser obtido a duras penas.
No estado nu e cru do “Eu Sou” não há uma casa para se voltar nem uma coletividade que possa nos oferecer um paliativo para nossas dores, e essa é a razão pela qual o Sol começa a emergir de fato na meia idade, quando a pessoa está suficientemente forte e formada para enfrentar o desafio. O problema da solidão, que sempre acompanha qualquer manifestação do self individual, é o significado mais profundo da travessia do limiar no mito heróico. Outra coisa que o herói sempre encontra no final de sua jornada é seu verdadeiro pai, que também sai redimido do mito, pois assim como a Lua representa a mãe arquetípica com a qual compartilhamos nossos instintos, o Sol reflete a visão essencial que compartilhamos com o pai arquetípico, no nível criativo que só pode frutificar após gerações de busca solar. Sendo a solidão e inimizade do coletivo o equivalente emocional aos perigos que defronta o herói, podemos perceber que a culpa - e o medo da represaria que a acompanha - é a principal manifestação de nossa dificuldade em roubar o elixir da vida que exige nossa jornada heróica, pois há algo ilícito em nos tornarmos nós mesmos, e quanto mais nos sentimos separados da coletividade, maior nossa sensação de culpa, que pode se tornar tão grande a ponto de nos paralisar como estatuas de sal. O furto da árvore da vida é um profundo rito de passagem, e uma vez consumado, as coisas não podem voltar a ser como antes, e esse é uma realidade que muitas vezes nos amedronta. Várias vezes na vida temos chamados heróicos para atender, e várias vezes temos que abrir mão do conforto do lar e da identidade com o grupo, e enfrentar os guardiões dos limiares coletivos, pois as ameaças que sentimos de represária não é mera paranóia, já que o coletivo retruca de fato, e precisamos ficar atentos para perceber que tudo aquilo que está sendo mostrado fora tem sua representação mítica interna, pois todos esses personagens estão dentro de nós.
Nunca concluímos totalmente nossa jornada heróica, pois sempre estamos tendo desafios para nos tornarmos nós mesmos. Mas, assim como Apolo no panteão grego, uma das funções do Sol é desfazer as maldições, o que significa que quanto mais nos valorizamos, menos precisamos satisfazer as expectativas dos outros, nos sentimos menos assustados com as obrigações da vida e ficamos menos ressentidos com os potenciais não vividos. Como diz Polônio em Hamlet: “Acima de tudo, isto: sê leal contigo mesmo,/ E seguirá, como a noite ao dia,/ Sem ser falso com ninguém.”