sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Netuno Entrando em Peixes

“Vida, que posso eu dar
A Meu Deus, que vive em mim,
A não ser perder-te, a fim
De O poder melhor gozar?
Morrendo O quero alcançar,
E não tenho outro querer,
Que morro de não morrer“

Sta. Teresa D’Ávila.


Semana passada houveram palestras produzidas pela CNA - Central Nacional de Astrologia - aqui em Floripa, e durante uma delas, em que se falava de Netuno, alguém da platéia lembrou que esse gigante nebuloso é a oitava superior de Mercúrio e não de Vênus, como alguns pensam. Isso tem rodado em meus pensamentos me fazendo refletir sobre a entrada de Netuno no signo de seu domicílio, nas confusões comuns ao se tentar entender esse planeta e as conseqüências disso tudo de maneira muito insistente, por isso resolvi escrever a respeito.

Para quem não está acostumado com essas expressões alquímico/esotéricas, as “oitavas” são uma maluquice maravilhosa onde se “vê” a matemática da música e da natureza. Pitágoras, que recebe título de grande mestre desses saberes, dizia que as oitavas musicais eram as expressões mais simples e profundas entre espírito e matéria. O “milagre da oitava” é que mesmo totalmente dividida em duas partes audíveis e distinguíveis separadamente, uma mesma nota musical permanece reconhecível - um Dó é reconhecível em qualquer altura da escala, p.ex. -, o que é uma manifestação tangível da máxima hermética “assim na Terra como no Céu”, o que aparece em cima é igual ao que aparece embaixo. Eu não sou conhecedora profunda nem de Alquimia nem de Música, por isso não vou ficar falando muito a respeito para não me perder, mas só para se ter uma idéia da coisa, essas escalas harmônicas vão mostrar todo um caminho para se ir de vibrações mais densas - mais ligadas à Terra - para mais sutis, e que hoje em dia pode ajudar pessoas leigas como eu a entender um pouquinho de medicinas tradicionais como a chinesa ou a indiana, ou os centros energéticos do corpo humano, como os chakras, as safiras da Cabala e todas essas coisas bacanas ligadas à saúde vibracional. Mercúrio, então, seria a compreensão de assuntos mais densos e Netuno dos mais sutis. A grande força de Mercúrio viria da possibilidade de conseguir fazer traduções de uma harmônica para outra.

Sempre que se fala de Netuno e sua descoberta, para daí derivar seus significados, citamos principalmente as descobertas psicológicas e parapsicológicas e o nosso despertar científico para as manifestações invisíveis, mas nem todos lembram - por incrível que pareça - de que é na época do avistamento de Netuno que começa a história da física e da química quânticas também. O “início” da descoberta de Netuno, digamos assim, se dá em 1841 com os cálculos astronômicos feitos a partir da movimentação de Urano, de onde se deduz a localização de mais um planeta, e Michael Faraday descobre os raios catódicos - aqueles feixes de elétrons que aparecem em filmes antigos de cientista maluco, sabe? - em 1838. A partir das pesquisas com esses raios catódicos temos a construção do conceito de “corpo negro” e no fim da década de 1870 se começa a trabalhar com a idéia de “feixes de partículas” e de “campos elétricos”, o que acabou dando material para que Max Planck levantasse a hipótese quântica em 1900. Só pra lembrar rapidamente, Planck é o primeiro a falar que o universo atômico era feito de elementos de energia discretos capazes de irradiar energia de maneira individual.

Com isso vemos que a descoberta de Netuno está associada às fantásticas mesas girantes que freqüentava Alan Kardec mas também aos corpos negros e feixes de partículas que físicos e químicos deduziam de suas observações. Netuno estava em Aquário enquanto Urano passeava por Peixes nessa época, o mesmo “duplo feitiço” que encontramos entre 2004 e 2011, quando Urano entra galopando em Áries. Entre os cálculos feitos em 1841 que “deduziram” a existência de um planeta para além de Urano e o avistamento de Netuno foram necessários 5 anos, o que, astrologicamente falando, significou a entrada de Urano em Áries e o encontro de Saturno com Netuno no início de Peixes. Da mesma forma, entre a descoberta dos raios catódicos e uma teoria consistente e “utilizável” mercurianamente tanto da mecânica quanto da química quântica, precisamos de um longo processo netuniano, e só quando ele chega em Gêmeos começamos a entender o que estávamos vendo.

Se pensarmos sobre esses processos na nossa história do conhecimento podemos entender melhor o que quer dizer isso de Netuno ser uma oitava acima de Mercúrio: enquanto o pequeno e rápido planeta próximo do Sol nos ajuda a entender, classificar e quantificar as coisas das esferas mais próximas de nossa experiência imediata humana, Netuno representa nossa capacidade de compreensão para além de Saturno, para além da nossa experiência em 3D, e do processo necessário para essa compreensão que envolve muito do nosso inconsciente coletivo. Mas então porque tanta gente continua a associar Netuno a uma esfera religiosa, algo que já entendemos que pertence às nossas necessidades humanas conectadas com Júpiter/Sagitário/Casa 9 mais do que com Netuno/Peixes/Casa 12? Tenho visto muitas pessoas fazendo essa confusão, então vamos tentar esclarecer um pouco isso também.

Quando estudamos os mapas individuais observamos que pessoas com problemas religiosos terão alguma coisa difícil envolvendo Sagitário, Júpiter e/ou casa 9. É bem comum pessoas com forte presença de Júpiter, por exemplo, se sentirem iluminadas e só quererem se conectar com outros iluminados, tendo muita dificuldade em lidar com “essas pessoas limitadas e comuns que não conhecem a Verdade” - ouvi isso de um cliente com esse tipo de dificuldade jupiteriana. Quando esse exagero não termina em um surto psicótico, com a pessoa se achando Jesus Cristo ou Buda, como no caso de Nietzsche (Ascendente, Lua e Cabeça de Dragão conjuntos em Sagitário e Júpiter em Peixes conjunto Urano como regente do tema natal), e ainda se encontra um grupo de iluminados que fazem juntos o “favor” de existirem nesse mundo limitado na tentativa de salvar a todos, existe aqui uma base que podemos chamar religiosa, no sentido mais literal da palavra, de crença em algo “sobre-natural", acima da média humana, que se manifesta através de doutrinas e rituais próprios, mesmo que nem se resvale na idéia de deus, mesmo se tratando de ateus convictos ou intelectuais reconhecidos. Já pessoas com problemas que se manifestam através de Netuno/Peixes/Casa 12 geralmente têm o problema contrário, de se sentirem muito abaixo da média humana, de terem uma forte atração por drogas que corroem sua personalidade e uma grande resistência a contaminações, físicas e psíquicas. É bem comum pessoas com forte presença netuniana se definirem na negativa, por aquilo que elas não são, e não conseguirem falar sobre exatamente aquilo que são. Muitas vezes se precisa de recursos visuais, poéticos e metafóricos para se poder entender e/ou expressar com seres fortemente netunianos. Interessante notar que as profissões em que mais encontro netunianos são entre músicos e engenheiros, enquanto os jupiterianos são mais comuns nas igrejas e academias filosóficas.

Outra maneira de se entender mais profundamente um planeta e seus correlatos de signo e casa, é através de Saturno, já que esse planeta exige nada mais nada menos do que a maestria para nos deixar em paz. Como já falei demais - pra variar um pouco... - não vou entrar nas complexidades dos relacionamentos de Saturno e Netuno ou de Saturno em Peixes, mas pensar um pouco sobre Saturno em casa 12 pode nos dar algumas pistas interessantes a respeito. O que mais encontro em pessoas que ganharam um Saturno de casa 12 ao nascer é uma dúvida muito profunda a respeito do própria identidade, mas não em função de algum trauma de infância ou algum familiar carrasco que humilhava a pobre criatura, mas em função de um saber inexplicável que faz com que a personalidade cotidiana e familiar que construímos na nossa realidade 3D e que colocamos em nossos cartões de visita sejam sem sentido. Saturno exige que essas pessoas concretizem essa visão e aí todos os problemas típicos de Saturno pra nos obrigar a amadurecer, e que geralmente faz com que essas pessoas tenham muito medo de perder aquilo que vislumbram na sua vida solitária por conta das necessidades de sobrevivência externas. Ou o contrário, de acharem que terão que abrir mão das ambições mudanas em função de uma compreensão mais profunda da própria existência. A astrologia tradicional fala muito de “exílio”, “internação”, e outras situações vistas como “castigo” ou “mau karma” quando tratam de Saturno na casa 12. Apesar disso tudo realmente parecer um castigo na adolescência, quando são despertados nossos impulsos jupiterianos e saturninos de incorporação aos grupos sociais, na verdade temos aqui a possibilidade de compreensão de como os saberes mercurianos, pessoais, fazem parte desse saber maior, anterior e posterior à experiência pessoal, que muitas vezes, inclusive, contradiz nossas experiências cotidianas. Entramos então na oitava netuniana, que nos faz entender que o Universo é infinito mas limitado, que a luz é onda e partícula ao mesmo tempo, que a matéria é feita de vazios. E o mais louco de tudo isso é exatamente a percepção de que com todas as limitações mentais e físicas que temos, somos capazes de compreender isso. Essa não é uma compreensão cotidiana - tente ver seu carro como uma porção de partículas circundada por vazio quando outro carro com a mesma composição atômica vem ao seu encontro, por exemplo, e vai perceber rapidinho que essa coisa não funciona na sua vida mercuriana do dia-a-dia. Mas isso não faz com que esse saber seja Mítico ou Religioso, mesmo que possamos jupiterianamente utilizar esses saberes para construir leis e comportamentos.

Então, escrevi tudo isso para chegar aqui no fim e entender que o que vai acontecer com a entrada de Netuno em Peixes é... NADA!!! Não nesse sentido mercuriano cotidiano, ao menos. A moda vai mudar e ficaremos mais fluidos, cheios de babados, rendas e assimetrias - depois desses 12 anos acreditando no corpo perfeito construído pela razão de Netuno em Aquário -, e talvez comecemos a pensar a respeito de todas essas maquininhas fantásticas que povoam nosso dia a dia, tão cobiçadas por crianças de 8 a 80 anos, que só chegam até nós graças ao trabalho escravo chinês. Talvez isso não faça a menor diferença. O que posso afirmar com certeza é que se uma jamanta desgovernada vier ao seu encontro vai ser importante você conseguir desviar, por mais amigos pleiadianos ou parcerias com Saint German que você tenha. Se rolar de você aprender com a jamanta desgovernada que a matéria é feita de partículas cercada de vazios, o melhor vai ser olhar em volta pra ver se encontra algum túnel de luz, tentar lembrar de algum antepassado bacana e não pensar em nada de ruim, pelo que dizem. Acho que vai ser difícil você voltar a ver o mundo através da dimensão mercuriana limitada...

Todos temos o signo de Peixes e Netuno no mapa, e você vai conseguir entender esses pontos quando se lembrar dos 2 segundos de paz e plenitude que sentiu “naquele” dia, ouvindo uma música, observando uma borboleta na flor, ouvindo a risada do seu irmão na sala, vendo uma criança desconhecida correndo na praia. Efêmero, profundo, sutil, generoso. Mas talvez seu Mercúrio estivesse tão ocupado fazendo as contas para comprar a casa/carro/comida/viagem de férias/escola das crianças/exame médico de rotina, que nem conseguiu registrar esse momento em que tudo fez sentido por 2 segundos. E se registrou, pode ter ficado achando que estava enlouquecendo ou se perdendo do que é realmente importe: se desviar da Jamanta. Mas porque tantas Jamantas vindo em minha direção? Será que estou na contramão?

Com a entrada de Netuno em Peixes não esperem ver o desenvolvimento de nenhum super poder ou transformação mundial através das crenças e comportamentos morais “corretos", mesmo achando o máximo todos os heróis e bandidos mutantes do cinema. Netuno é muito mais simples e silencioso, e não se importa com nossas necessidades representadas por Júpiter, que faz todo esse teatro divertido de fim de mundo por medo do que chama Caos. Agora, se você quiser aproveitar bastante toda essa força netuniana, a prática do silêncio e de estar consigo mesmo vai ser importante. Não se preocupe com os resultados. Quando se trata desse gigante nebuloso só entendemos realmente o que aconteceu depois de um tempo que não pode ser determinado, pois é diferente para cada um, não tem nenhuma conexão com méritos ou algo que possamos entender, e quando finalmente vemos que há um processo que se completa é porque já podemos sentir algo novo começando.

Quem sabe podemos chegar a uma compreesão mais profunda dessa vida feita de Caos e Movimento daqui a algumas décadas...


quarta-feira, 22 de junho de 2011

Conversas de Urano e Plutão





“Há dois erros semelhantes mas opostos que os seres humanos podem cometer quanto aos demônios. Um é não acreditar em sua existência. O outro é acreditar que eles existem e sentir um interesse excessivo e pouco saudável por eles. Os próprios demônios ficam igualmente satisfeitos com ambos os erros, e saúdam o materialista e o mago com a mesma alegria.”
C.S. Lewis – Cartas De Um Diabo A Seu Aprendiz.

Plutão e Urano estão se “enquadrando” nos últimos tempos, e as observações que tenho feito, levando em conta esses astros, me fazem pular de um para o outro. Tá difícil sintetizar e colocar em palavras coerentes. Obrigada Vânia, minha amiga geminiana querida, por ficar me lembrando das várias idéias que andei tendo e me mandar escrever logo. Quadratura funciona assim mesmo: a gente tem que ter calma, paciência consigo mesmo e consciência se quiser juntar as partes em vez de ficar brigando com elas. E é sempre bom ter amigos pressionando pra gente não desistir.

Quando fui buscar os acontecimentos de 250 anos atrás, quando Plutão, mesmo invisível à nossa consciência, estava em Capricórnio (1765 a 1779), encontrei Marques de Sade e sua busca obsessiva e perversa por prazer sexual. Muitos dos chamados libertinos do início do século 19 nasceram nessa época, como Bocage, poeta português que escreveu: “Todas no mundo dão a sua greta:/Não fiques, pois, oh Nise, duvidosa/Que isto de virgo e honra é tudo peta.” (vide postagem sobre Plutão em Capricórnio). Essa também foi a época em que Urano foi avistado e a Razão Humana ganha novo status, a de salvadora da espécie do obscurantismo e superstição religiosos (Urano em Gêmeos), que nos possibilita afirmar ainda hoje, que todos os Homens nascem livres e têm direito à busca da felicidade.

Ok, então vamos buscar as perversões e libertações possíveis nos dias de hoje, derivadas daquilo que nasceu a tantos anos atrás. Não é uma tarefa fácil, já que há um consenso a respeito do que é bom e o que é mal, baseado exatamente naqueles conceitos construídos durante os anos das tais “Luzes” racionais humanas. Aquela coisa de que nós somos os bons e os que pensam diferente de nós são os maus parece ter muito mais força hoje em dia do que em tempos passados, mas tomou a forma que chamamos de “tribo”, onde eu e aqueles que compartilham meu modo de vida nos reunimos e nos cumprimentamos por sermos do jeito que somos. Não conheço ninguém que não se ache aliado do Bem, independente do grupo ao qual pertença. A tribo que se reúne por motivos opostos aos meus, claro que estão equivocados, mas isso não chega a ser um problema. Difícil sair dessa dicotomia sutil em uma época em que tudo é mais ou menos permitido, se tratando da vida individual, desde que seja feito por legítima vontade e não prejudique outras pessoas. Ao menos não prejudique de uma maneira muito evidente e direta. Só como exemplo, para trazer nosso amigo Marques de Sade de volta: hoje em dia você pode perfeitamente ser um sádico e encontrar um masoquista que vai adorar seu prazer sexual ao ferir outra pessoa, e os dois poderão juntos participar de um clube para trocar experiências e até mesmo fazer parte de uma convenção que reúne pessoas de todo o mundo com os mesmos prazeres, como aconteceu há alguns anos atrás nos EUA. Ao mesmo tempo você pode participar normalmente da sociedade, ter família, emprego, seguro saúde e ser uma pessoa bacana. De verdade, não estou sendo irônica. Você teme ter um comportamento ou algum desejo meio estranho? Coloca no Google que com certeza vai encontrar sua tribo. Isso facilita muito nossa convivência social, já que, tendo um espaço para trabalhar nossas diferenças de maneira segura, podemos ser mais tolerantes e nos concentrarmos naquilo que temos em comum em lugar de ficar brigando por espaço no todo. Teoricamente.

Essa crença que compartilhamos – ao menos em cidades mais cosmopolitas -, do “viva e deixe viver”, ou, segundo a constituição norte americana, de que todos têm o direito individual de buscar a própria felicidade, deu sustentação à construção do Capitalismo que vivemos hoje, que acabou se resumindo e limitando ao direito individual de consumir. Assim sendo, se você é gay, preto, mulher, criança, idoso, sado-masoquista, mórbido, ou seja lá qual for a sua, e tiver dinheiro para cobrir suas “esquisitices”, você poderá usufruir de maneira bem significativa essa liberdade de ser você mesmo. E se você ainda por cima separar algo para fazer caridade, há grandes possibilidades de se tornar um herói. Porém, se o seu “karma” financeiro não for muito bom, será interessante você buscar alguma ONG de advogados humanitários se tiver problemas em ter esse direito garantido. Mas de qualquer maneira, você tem direito a ser quem é.

Acho bom fazer um parêntese aqui para deixar claro o que estou falando: Não quero dizer que o Capitalismo em si é mal e todos os pobres são vítimas da sociedade consumista. Ou que ter dinheiro é sinônimo de ser “mascarado”. Para mim, qualquer ideologia é vazia em si. Apenas penso que o que vivemos hoje é algo que o velho e bom Marx, que foi tão brilhante em sua análise do Capitalismo nascente em sua época, não seria capaz de imaginar. Esse texto é apenas uma reflexão sobre o que ando vendo e pensando desde dentro da sociedade em que vivo, portanto com todos os limites que possuo. Fecha parêntese.

E falando em limite, isso é algo que caracteriza nossa humanidade, já dizia nosso amigo Saturno. Assim como a busca por expandir esse limite é um impulso natural, responderia Júpiter. E vivemos nessa sístole e diástole que garante nosso batimento cardíaco humano, encarando nossos limites, buscando nosso crescimento, estruturando nossa personalidade, desenvolvendo nossos potenciais. E aí chegam esses transaturninos e bagunçam tudo! Quando encaramos os transaturninos não se trata mais da minha parte no todo, mas do todo que me faz uma parte.

Então, Urano em Áries vem com a força ideológica que me liberta dos padrões coletivos e me faz acreditar que tenho o direito de “salvar” todo mundo. Plutão em Capricórnio revela aquilo que a hipocrisia reinante – chamada hoje em dia de “politicamente correto” – escondia. Bacana. Vocês assistiram Inside Job (Trabalho Interno)? É um documentário dirigido por um jornalista daqueles que adoram criar saias justas nos entrevistados (Charles Ferguson), e que dá um panorama geral do que aconteceu nos EUA em sua crise mais recente, com todas as sacanagens e jogatinas que rolaram nos bastidores. Orquestrando toda a bagunça americana estão professores doutores de economia das universidades mais conceituadas de lá, que trabalharam direto nos governos Clinton, Bush e Obama sem o menor problema ideológico. Aí você pega um livro de História como o Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil (Leandro Narloch – Ed.Leya), onde você encontra afirmações como a de que os índios não são tão amantes da natureza assim (eles são os precursores da queimada, por exemplo), que negros alforriados caçavam negros fugitivos e Zumbi possuía alguns escravos para fazer o trabalho pesado, Santos Dumont não inventou o avião mesmo, João Goulart deu a maior força para as empreiteiras, e assim por diante. Olhando essas “revelações” que vão surgindo, depois de alguma interjeição de surpresa - mesmo quando vem de um jornalista da revista Veja como o Lenadro Narloch, o que me deixa um tanto desconfiada – a gente reflete um pouco sobre o contexto geral e percebe que essas coisas fazem sentido dentro da consciência em que vivemos, e as conseqüências disso não são assim tão difíceis de digerir. Ou alguém aí acredita que, em uma economia globalizada, as bobagens feitas nos EUA vão fazer o mundo – ou o Capitalismo – acabar, ou que o fato de negros escravizarem negros em um tempo escravocrata tira o valor do movimento de consciência negra atualmente?

Então, em uma postagem do facebook de uma amiga, aparece um vídeo da Marcha Pela Desigualdade e Pelo Ódio, contra a PL 122, patrocinado pela bancada evangélica do Congresso. Sim, os evangélicos, aqueles que seguem o Evangelho, a boa nova que traz Jesus Cristo de que devemos amar nossos inimigos. A PL 122 é um projeto de lei que acrescenta aos crimes de preconceito a discriminação de homossexuais, idosos e pessoas com necessidades especiais. Você vê o vídeo e acha que é brincadeira de desocupado. Mas não é não: minha amiga de Brasília viu com os próprios olhos um povo reunido na manifestação a favor da homofobia, com camisetas, cartazes e tudo que tinham direito. Vai lá no youtube se quiser dar uma olhada no vídeo. Aqui sim, minha prepotência compreensiva de ser iluminado pela Razão foi para o saco e se transformou em prepotência de tribo contra outra tribo. Ui, aqui tem transaturnino em ação, pensei eu. Reproduzo os argumentos apresentados, com meus comentários entre parênteses:
- “nós, evangélicos, sofremos preconceito. Porque devemos evitar que os outros sofram também” (na lei, preconceito religioso também é crime);
- “o PL 122 tira meu direito de discriminar quem eu quiser, onde eu quiser” (sic);
- “então o que? Se eu bater num travesti, então eu vou preso?” (substitua travesti por preto, mulher, numa criança, em velho, num deficiente, num muçulmano, num pobre, num gordo ou qualquer coisa que você seja);
- “eu não quero que meu filho nasça num mundo onde todos tenham direitos iguais” (essa afirmação diz que essa pessoa quer ter filhos no mundo oposto em que eu quero ter o meu);
- “o PL 122 tá vindo pra acabar com a minha liberdade de expressar a minha homofobia” (aqui você pode substituir homofobia por pederastia, genocídio religioso ou cultural, ou qualquer outra possibilidade que fere a consciência que criamos dizendo que todo mundo tem direito a ser quem é sem ser violentado por isso. Incluindo o direito de ser evangélico, claro. Dá até para expressar isso na terapia, para rever trauma de infância e curar isso, mas para atacar outra pessoa é diferente);
- “com o PL 122 os homossexuais querem se fazer de vítimas, mas o que eles não conseguem entender é que no fundo (pausa dramática) eu tô lutando contra mim mesmo” (que? Eu também não entendi essa, mesmo sendo hétero. Será que se está argumentando que estará lutando contra a própria homossexualidade? Ou se está querendo dizer que o ódio aos homossexuais é algo inerente a esse pobre ser humano? Cada um tire suas próprias conclusões).

Se você já leu e assistiu documentários sobre a formação do Nazismo na Alemanha – recomendo o fantástico “Arquitetura da Destruição”, documentário sueco dirigido por Peter Cohen – vai reconhecer esse discurso. Pois bem, a construção do Nazismo foi feita exatamente durante o trânsito de Urano em Áries enquadrando com Plutão em Câncer, signo oposto de Capricórnio, portanto com a mesma modalidade básica complementar.

Em meio a tantas transformações acontecendo, será que uma manifestação dessa tchurma tem realmente algum interesse? Espero que não, mas o fato de existir essa possibilidade é importante de ser analisada. Quando surgiram, os nazistas também foram chamados de malucos desocupados pela elite intelectual da época. Deu no que deu. Se Urano em Áries está usando a força heróica individual para romper as limitações ideológicas e Plutão usa a estrutura capricorniana para mostrar as emoções obscuras que fervem por baixo da correta aparência social, então esse discurso preconceituoso faz sentido.

Bom, então parece que estamos vivendo o momento de testar o que é verdade interna naquilo que pregamos e vivemos. E minha pergunta é: como vivemos nossos pré-conceitos individualmente? Como exemplo pessoal, conto pra vocês que a vontade espontânea que tive ao ver esse vídeo foi a de mandar prender esses manifestantes, já que compartilho da ideologia reinante do “viva e deixe viver”, e isso faz com que me sinta segura na sociedade em que vivo: essas pessoas ameaçam minha segurança e minha reação espontânea é de medo. Assim como quero que a polícia multe o idiota que quer burlar o trânsito pelo acostamento ou pára em faixa para pedestres. Vejam só: quero que os mecanismos de repressão da sociedade em que vivo limitem aqueles que ameaçam a minha segurança social. Normal, certo? E fácil, ao menos aqui. Passamos isso para Israel, com três diferentes sociedades querendo segurança para sua tribo, ou para os países em guerra na África, onde parece que o meu direito é ameaçado pela existência do outro. Mais complicado, já que o direito individual pela busca da felicidade não está condicionado ao não causar dano ao outro que também tem o mesmo direito. O que me questiono é se realmente acreditamos em uma sociedade justa e vivemos isso por consciência ou nos limitamos a aceitar as regras por medo de sermos violentados. Traduzindo pro cotidiano: não ando pelo acostamento da estrada por que acredito que somos todos iguais vivendo o mesmo trânsito e não sou melhor que ninguém para chegar mais rápido em casa, ou fico passiva naquele engarrafamento terrível por me sentir segura dentro das regras e poder criticar quem faz diferente? Acho que é um bom momento para começar a pensar a respeito. Como dizem os budistas, até que ponto minha motivação é pura?

Enfim, meus caros, não tenho nenhuma conclusão para apresentar para vocês. Estou começando a vislumbrar essa possibilidade de investigação. Dentro e fora. Saber até que ponto nossos atos são comandados por nossa capacidade de consciência positiva e quanto estamos interagindo através de nossa sombra, por medo, raiva ou confusão, vai além da boa aparência que podemos ter no filme que estamos fazendo de nós mesmos. E é nessa falta de noção sobre nós mesmos – e eu diria até certo descaso a respeito -, que os transaturninos nos pegam e nos fazem crer que algum destino externo está nos levando para onde não queríamos ir. Retomando a construção do Nazismo, vocês assistiram “Um Homem Bom” (Good – direção de Vicente Amorim)? Fala disso, e eu recomendo. Não acredito – ou me recuso a acreditar – que vamos fazer outra atrocidade como a da 2ª Grande Guerra, mesmo porque, depois das armas nucleares, destruir o Outro (seja o mocinho ou o bandido da história), significa suicídio. Mas como estamos vivendo um novo processo com essa combinação de transaturninos, é bom pensar sobre o que anda acontecendo e qual a melhor maneira de viver isso. A arma que temos é nossa consciência individual, a luzinha de vela que Jung dizia que devemos proteger a todo custo das tempestades coletivas.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Novo Ciclo de Urano

A Astrologia trabalha com ciclos, como a vida nesse planeta. Os ciclos astrológicos se iniciam com Áries, pois esse signo traz exatamente a energia dos começos. Quando o Sol entra em Áries temos o equinócio de primavera no hemisfério norte, quando o dia e a noite têm o mesmo tamanha depois de um período de noites maiores que as dias. Tudo que está em equilíbrio precisa mover-se para não se transformar em estagnação e Áries significa exatamente a quebra do equilíbrio que gera movimento e vida. O círculo astrológico funciona muito mais como uma espiral aberta do que como um círculo fechado, pois a cada novo início temos a chance de começar algo novo, que passa pelos mesmos pontos, mas com uma nova consciência adquirida através da caminhada anterior. Como no Ocidente associamos Equilíbrio com Harmonia, muitas vezes nos apegamos a esse momento efêmero e sofremos quando ele passa. O I Ching diz que as coisas não podem permanecer unidas para sempre, pois isso levará certamente à estagnação, já que o “chi” pára de mover-se e, como resultado, temos a morte.

Urano rege a mudança e o inesperado. A atuação deste planeta está associada a todo tipo de ruptura de padrões preestabelecidos e tradicionais. Assim como no céu - onde o planeta mostra que não existem regras e nem padrões rígidos - também na sua função astrológica Urano é responsável pela quebra de estruturas restritivas, para permitir o acesso ao novo, ao não tentado, ao diferente. Quando este acesso às mudanças se encontra bloqueado ou impedido, a ação uraniana se manifesta através de revoltas, revoluções e explosões em todos os sentidos. O reconhecimento de Urano no céu ocorreu em 1781, em meio à Declaração de Independência americana e à Revolução francesa, e nesses dois movimentos conseguimos identificar as novas facetas que Urano traz para nossa consciência. Tanto a declaração de que todos os homens nascem iguais e têm o direito à busca da felicidade, quanto o mote “Liberdade, Igualdade, Fraternidade” fazem parte dos novos ideais que Urano vem plantar no coração dos Homens. Urano cria rupturas através da consciência que semeia a idéia de que podemos ser mais livres e felizes do que somos na atual estrutura, e faz isso mostrando de maneira escancarada toda a injustiça e limitação em que vivemos e nos perguntando por que aguentamos isso. E enquanto estivermos vivendo restrições injustas no planeta, parece que Urano vai continuar a trazer rupturas violentas.

Alguns astrólogos já andam falando de Guerras e lutas pelo mundo por associarem o arquétipo de Áries, que é do Guerreiro, ao de Urano, que é do Revolucionário, e nesse sentido interpretam os conflitos que estão explodindo no Oriente Médio, com a ajuda do expansivo Júpiter, que já está em Áries. Eu, entretanto, concordo mais com a corrente que associa as manifestações no Líbano e no Egito aos eclipses de dezembro de 2010 e janeiro de 2011, e acho importante estarmos pensando a respeito de que tipo de Guerra e que tipo de Revolução podemos esperar nos dias de hoje através de Urano em vez de fazer essa associação direta. A análise astrológica tem muitas semelhanças com a análise se sonhos, e por isso precisamos do sonhador para ganhar sentido em vez de fazer apenas uma listagem de possíveis significados. Assim, quando falamos de processos coletivos, temos o sonhador e o intérprete misturados, e precisamos de mais recursos para fazer a análise. Uma das coisas que gosto de usar para isso são os livros de História.

Urano tem um ciclo de 84 anos e 3 dias, e nesse ano de 2011, com sua entrada em Áries, podemos esperar o início de um novo processo de consciência humana e de mudanças da nossa mentalidade enquanto coletivo. Vamos, então, dar uma olhada no que estava acontecendo a 84 anos atrás e verificar as mudanças que ocorreram, observando como se concretizaram as idéias de liberdade nesse ciclo que está terminando agora. No ciclo anterior, a passagem de Urano por Áries começou em abril de 1927 e foi até junho de 1934.

A primeira coisa que salta aos olhos quando verificamos o que aconteceu entre 1927 e 34 não é nenhuma guerra em particular, mas toda a armação do cenário sócio-político-econômico para a 2ª GG. Alguns fatos que, em linhas bem gerais, podem ilustrar isso:

- Os países começam a se desligar da Liga das Nações, órgão de união entre as nações que se propunha a gerar soluções justas e conjuntas para os conflitos mundiais após a Primeira Guerra. A razão disso foi que a Liga não dava conta de criar uma solução rápida para os problemas gerados pela 1ª Grande Guerra ou qualquer outro conflito, pois era necessária a decisão unânime de todos para se gerar qualquer ação. Bom, me parece que ainda hoje não temos como colocar em prática esse refinado conceito anarquista, e continuamos a viver na base da “farinha pouca, meu pirão primeiro”.
- E falando em anarquistas, Trotsky é deportado da Rússia por Stalin, que efetiva a eliminação de toda a concorrência para sua ditadura.
- Sandino começa a ofensiva conta as tropas dos EUA que haviam invadido a Nicarágua, e vai estruturar sua ditadura, assim como em Portugal Salazar começa sua campanha entre os militares enquanto revoltas estouram pelo país.
- Rei Alexandre da Iugoslávia dissolve o governo e abole a constituição, enquanto na Espanha começa o troca-troca de governos que vai gerar a terrível Guerra Civil posteriormente.
- O Japão invade a Manchúria
- Mussolini e o Vaticano assinam o Tratado de Latão, criando o Estado do Vaticano e tornando a Itália um Estado Confessional, ou seja, o país se torna um Estado Católico, transformando em lei secular essa doutrina religiosa.
- Acontece a Grande Depressão nos EUA, quando Roosevelt assume o poder e implementa o New Deal, que controla os preços dos produtos, aplica os recursos do governo em obras de infra estrutura e diminui as horas de trabalho para gerar empregos. A inauguração do Empire State no final desse ciclo de Urano é bem significativa.
- Por fim, mas não menos importante, temos toda a articulação da tomada de poder pelos nazistas na Alemanha, começando com o primeiro discurso de Hitler em Munique em 15/3 de 1929, em 1930 o Partido Nacional Socialista surge nas eleições como o segundo maior da Alemanha e começam os boletins da SS limitando o comportamento dos seus membros, de modo a manter o partido “ariano” - como o significativo boletim de 1931, que comunica que os soldados da SS precisam de autorização do departamento de raça do partido para se casar -, Mein Kampf vira sucesso, é fundada a GESTAPO, polícia política nazi, em março de 1933 e por fim Hitler é nomeado chanceler pelo presidente Hindenburg.
- No Brasil temos a Revolução de 30, com a subida de Getúlio ao poder e a Revolta Constitucionalista de 32.

Parece que há no ar problemas urgentes a serem tratados, e pouquíssima articulação, flexibilidade e paciência para se resolver as coisas de maneira coletiva. Nada melhor que um tirano, no sentido grego do termo, para resolver os problemas do meu quintal, mesmo que isso signifique jogar lixo no quintal do vizinho. Mas paralela a toda essa armação, outras coisas também estão acontecendo, que parecem também apontar para a mudança de mentalidade que está sendo proposto por Urano:

- Gandhi, que já vinha fazendo discursos libertários e boicote aos produtos ingleses, inicia a Campanha de Desobediência Civil.
- Chico Xavier também começa seu trabalho com Urano entrando em Áries, abrindo um novo caminho espiritual no interior católico e tradicional do interior de Minas Gerais de uma maneira mansa e pacífica.
- As mulheres começam a votar efetivamente no Brasil em 1932, depois de terem tido seus votos anulados em 1928, e nos EUA várias mulheres que pilotavam aviões exigem o direito de tirar prevê para voar oficialmente, conquistando isso.
- Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral e Raul Bopp lançam o movimento antropofágico, que garante ser possível absorver tudo que vem de fora e criar coisas novas passando por um olhar pessoal. Também é nessa época que se formam as escolas de samba do Rio de Janeiro, que modernizam o samba, que era um derivado do maxixe, criando um novo ritmo, que até hoje nos caracteriza.
- Freud tem seu trabalho reconhecido no mundo, e a primeira sociedade de psicanálise da América Latina é aberta em São Paulo. Também é nesse periodo que a psicanálise é taxada de “ciencia judaica”, e excluida da Alemanha. Isso faz com que os fundadores da psicanálise se expalhem pelo mundo, ensinando e praticando-a.

Outra coisa que o movimento uraniano acompanha são os avanços tecnológicos, pois, desde a invenção dos instrumentos de pedra, nosso horizonte cresce com a criação de nova tecnologia. A primeira coisa que me chamou a atenção foi a enorme quantidade de asteróides e outros corpos celestes que foram avistados, principalmente por astrônomos alemães, graças as novas lentes que estavam sendo feitas por ali. E, claro, não podemos esquecer das primeiras fotografias feitas de um novo planeta, o ainda inclassificável Plutão (a última que ouvi, fala que Plutão vai deixar de ser planetoide e se transformar em um bi-planeta com Caronte, sua talvez ex lua). Parece unânime a associação entre a descoberta de Plutão e o deflagar da 2ª Guerra. Outra coisa que acontece nesse periodo de Urano em Áries é o primeiro voo de Lindenberg sobre o Atlantico Norte, entre Nova York e Paris, e o brasileiro João Ribeiro de Barros faz Cidade do Cabo/Fernando de Noronha de avião aqui no Atlantico Sul, também pela primeira vez. Companhias Aéreas surgem pelo mundo, como a VARIG e a Pan Air, no Brasil, ou a Ibéria, na Espanha. Essa também é a época aurea dos dirigíveis, inclusive com o Zeppelin alemão completanto a inédita volta ao mundo. No cinema é exibido o primeiro filme sonoro da história – The Jazz Singer -, a tv nos EUA ganha os primeiros serviços analógicos e alguns testes com a tv a cores. A Dupon apresenta a primeira borracha sintética, um novo elemento químico, o Halogênio, é descoberto, e a vitamina C é isolada pela primeira vez. Adoraria comentar cada um desses tópicos para pensarmos juntos o que significaram em termos de mudança de mentalidade, mas como já escrevi um montão e isso aqui é um blog e não uma tese, deixo aqui essa pequena listagem para vocês pensarem a respeito.

Antes de terminar gostaria de colocar outro recurso muito bom para entendermos uma época, que é verificarmos o que aconteceu com as crianças que nasceram nesse período de Urano em Áries, para assim verificarmos que tipos de ícones frutificaram com essas novas sementes trazidas por Urano. Não sei se sou só eu, mas fiquei alegremente surpresa ao encontrar aqui os principais líderes de movimentos de liberdade do século XX. Vejam só as crianças que estão nascendo entre 1927 e 1934:

Dalai Lama
Che Guevara
Martin Luther King
Harvey Milk
Yasser Arafat
Mikhail Gorbatchev
Desmond Tutu

Lindas sementes, não? Calma, antes de se animar demais vamos lembrar que Paulo Maluf e ACM, que possuem uma atuação no mínimo duvidosa em termos de liberdade, também fazem parte dessa geração. Não creio que esses personagens passem para a posteridade como as citadas anteriormente, mas é interessante pensar que essas figuras se mantiveram civis em meio a uma ditadura militar.

Ok, já falei demais e ainda não falei de tudo que gostaria. Estamos em um ano de Mercúrio, então tenho essa desculpa. Obrigada por me acompanharem até aqui. Se vocês agüentarem, ainda tenho algumas coisas que andei coletando por aí para entender esse novo início do ciclo de Urano, e assim que der continuarei publicando. Quero também fazer uma análise mais simbólica de tantos fatos e verificar as pistas que temos para o novo ciclo uraniano que se inicia em março de 2011. Vamos ver se dou conta de escrever tudo que minha cabeça anda me apontando...

sábado, 15 de janeiro de 2011

Mercúrio na Sinastria - ou o que é diálogo

" Instintivamente, (as pessoas) supõem que sua própria constituição psíquica seja generalizada, e que todas as pessoas são essencialmente semelhantes às outras, isto é, a elas próprias... como se a sua própria psique fosse uma espécie de psique-matriz que servisse para todas as situações, e as autorizassem a supor que a sua própria situação fosse a regra geral. As pessoas ficam profundamente espantadas, ou mesmo horrorizadas, quando essa regra geral não se aplica – quando descobrem que outra pessoa é, na verdade, muito diferente delas. De forma geral, não consideram essas diferenças psíquicas, de modo nenhum curiosas e muito menos atraentes, mas, sim, falhas desagradáveis difíceis de tolerar, ou defeitos insuportáveis que devem ser condenados”.
C.G.Jung – Tipos Psicológicos

Aproveitando que o ano de 2011 será um ano mercuriano, vamos falar um pouco de Mercúrio nas sinastrias, na comparação de mapas. Quem sabe podemos aproveitar o ano para despertar a curiosidade e a alegria de encontrar os “diferentes” de nossa vida.

Mercúrio é um ponto importante no nosso mapa natal, apesar de sua rapidez e transitoriedade. Como nossa mente. Madame Blavatsky dizia, na Doutrina Secreta, que “Mercúrio e o Sol são um”, mostrando a unidade entre a essência, representada pelo Sol, e a função que nos permite conhecer e transmitir a essência, Mercúrio. Quando entendemos esse pequeno planeta no nosso mapa, entendemos melhor como funciona nossa mente, o que possibilita tanto aproveitar mais esse recurso valioso quanto aprender o que fazer quando nossa cabeça não para de ficar dando voltas vazias sem chegar a lugar nenhum. O objetivo de Mercúrio não é chegar a algum lugar. Mercúrio serve para recolher informações, buscar novas explicações, enriquecer nossa maneira de observar o mundo, entender aquilo que é diferente de nós e em nós e trocar tudo isso com os outros. Assim sendo, claro que é importante verificar como é o relacionamento mercurial quando a proposta é a nos entendermos com algum tipo de Outro. Muitas vezes conseguimos resolver os conflitos encontrados nos relacionamentos exatamente porque os Mercúrios estão em uma relação harmônica e entendemos a lógica com a qual o Outro funciona. Assim, podemos contornar e mesmo dissolver os nós que aparecem pelo meio da relação e que nos afasta d@ parceir@. Mas é também a terrível mania humana – e parece que todas as culturas de todos os tempos possuem essa característica em algum grau – de acreditar que a minha maneira de ver e entender a mim e ao mundo é a melhor e mais evoluída maneira de se fazer isso, que traz a maioria das Guerras e Discórdias entre pessoas e povos.

Como sempre, voltamos à base dos elementos e modalidades para entender como funciona a dinâmica astrológica. Aos estudantes e diletantes astrológicos sugiro que estudem, entendam e revejam sempre isso. Eu sempre encontro novas maneiras de estudar essa parte. (Falando nisso, vocês assistiram "O Último Mestre do Ar"? Bacana. Uma técnica diferente de arte marcial para cada elemento. E o desenho Avathar também é legal.)

Quando os Mercúrios de duas pessoas estão no mesmo elemento – Fogo, Ar, Água ou Terra – elas irão pensar e buscar informação da mesma maneira. Fogo vai querer informações inspiradas e entenderá as coisas de maneira mais intuitiva que racionalmente. Água vai buscar a lógica emocional que está por baixo da racionalidade aparente, mais obvia, e fazer um julgamento afetivo a respeito. Já Ar buscará a lógica abstrata daquilo que se apresenta, entendendo como uma idéia se combina e encaixa com outra, numa construção que possibilita a generalização dos raciocínios. Terra, por sua vez, entenderá como as idéias funcionam no mundo concreto e prático, baseado principalmente naquilo que seus sentidos físicos dizem. É fácil perceber, então, que se duas pessoas possuem Mercúrio no mesmo elemento, vai ficar mais fácil estar explicando o que se está vivendo e como se entende aquilo que é vivido, tanto no plano pessoal quanto no relacionamento, de uma maneira que o outro possa entender e pensar junto.

É bem interessante perceber como os elementos complementares atuam através de Mercúrio. Quando encontramos alguém com Mercúrio no signo oposto do nosso, essa pessoa provavelmente poderá nos mostrar outro lado do nosso raciocínio, o que é sempre enriquecedor. Claro que quando nos apoiamos demais na nossa maneira de raciocinar e pensar, alguém nos dizer que não conseguimos ver tuuuuuudo, pode ser um golpe no ego, principalmente se estamos muito entusiasmados com alguma idéia particular. E você vai sentir isso como provocação se o seu real objetivo não for um diálogo, mas a imposição da sua idéia a respeito de algo.

Fogo se complementa com Ar, e o Mercúrio em Fogo gosta de criar idéias originais. O Mercúrio em Ar vai pegar a idéia de Fogo e generalizá-la, o que a despersonaliza para colocá-la em um contexto mais coletivo. O Mercúrio em Fogo não vai achar isso divertido, mas pode ampliar seu horizonte, com um pouco de boa vontade. Já o Mercúrio em Ar vai estar envolto com as teorias e ideologias que norteiam o “bom pensar”, e o Mercúrio em Fogo vai pegar aquelas teorias e dar personalidade e ação a essas idéias todas, intuindo caminhos. Isso pode fazer com que toda a harmonia ideal dos raciocínios de Ar se veja desarrumada por tantas cores fortes e movimento, mas entender como esses ideais podem ser aproveitados de maneira mais pessoal traz muitas vantagens para o raciocínio aéreo, indo além da teoria.

Água e Terra também vão criar pensamentos complementares. O Mercúrio em Água vai estar ligado ao subtexto do que vê e conhece para poder entendê-lo, sendo muito comum que a compreensão venha através de imagens e sons. Terra vai pegar todas essas idéias emocionalmente carregadas e buscar uma aplicação prática para isso, de modo a poder utilizá-la para entender melhor a maneira que o mundo funciona. Claro que as imagens muito delirantes e as mensagens de outras dimensões podem se sentir um tanto esvaziadas quando precisam ser colocadas em prática, mas também vai ajudar a perceber o que é apenas brincadeira mercuriana e o que realmente pode ser aprofundado. O pragmatismo de um Mercúrio em Terra muitas vezes pode ser dissolvido quando o Mercúrio em Água capta a raiva, ternura, inveja ou insegurança emocional, por exemplo, que há por baixo de pensamentos e idéias aparentemente tão isentos de emoções e tão “realistas”. Isso ajuda muito o Mercúrio terráqueo a não levar seus pensamentos tão ao pé da letra e também a perceber que as idéias que se apresentam no consciente têm uma ligação direta com o mundo inconsciente. Aliás, essa é uma função bem importante de Mercúrio: trazer e levar mensagens do inconsciente para o consciente e “vice-versa-ao-contrário”.

Se a complementaridade é razoavelmente fácil de detectar e apreciar com um pouco de boa vontade – no mapa astral aparece como oposição, ou signo oposto -, as quadraturas e quincuncios costumam ser bem mais irritantes e frustrantes. Isso acontece em relação a qualquer planeta ou ângulo do mapa, mas com Mercúrio costuma nos fazer entrar em discussões bem difíceis, algumas vezes de modo compulsivo. Eles são reconhecíveis no mapa por uma distância de 90° e 150°. Terra e Água fazem esses tipos de aspectos com Ar e Fogo, e vice-versa. O negócio é mais ou menos assim: você faz uma piada maldosa sobre uma notícia no jornal e o outro começa a falar de política a sério; ou você tenta marcar um cinema e o outro pergunta se você está querendo compromisso; ou você quer falar sobre compromisso e o outro fala do jogo du coríntia no domingo; ou se planeja uma viagem juntos e um quer ir conhecer as maravilhas exóticas da Índia e o outro sonha com a maravilhosa civilidade da água de torneira da Holanda. Acordar no dia seguinte da balada ao lado daquele gostoso que você descobre ter perdido o cérebro ou da frágil Barbie que se levanta sendo professora titular da Sorbonne e falando em aramaico, pode ser um tanto chocante, mas depois acaba se transformando em uma história divertida para compartilhar com amigos – também conhecidos como “aqueles que realmente me entendem”. Mas se a coisa já passou dessa fase, é bom prestar mais atenção no que se escuta e no que se fala com uma relação conflituosa desse tipo entre os Mercúrios. Principalmente se a relação não for romântica, no sentido popular, mas se tratar de um pai/mãe com filho/filha, ou com sócios de negócios ou com algum chefe ou subordinado no trabalho.

Um Mercúrio em Ar privilegia o mundo das idéias em sua compreensão do mundo e de si, e estabelece as diferenças entre “isto” e “aquilo”, pesando uma coisa contra a outra, classificando informações e possibilitando uma avaliação impessoal das coisas e situações. O Mercúrio em Água estará interessado em todo o espectro do mundo do sentimento, desde suas partes mais claras até as profundezas mais escuras, já que no sentimento não há distinções baseadas em princípios “certos” ou “errados”, isto ou aquilo. Em Fogo, Mercúrio se encanta com os infinitos caminhos que a mente pode seguir, e estará sempre construindo sua compreensão exterior a partir daquilo que sua mente experimenta interiormente. Quando em Terra, Mercúrio estará curioso a respeito daquilo que existe no mundo concreto, principalmente sobre aquilo que chega até seu corpo físico desde fora, e costuma também fazer seus raciocínios mais apurados através de fatos que lhe acontecem. Se cairmos em uma discussão para saber qual o raciocínio “melhor” ou mais “evoluído”, tudo irá travar e não chegamos a lugar nenhum. Esse é um antigo e eficiente truque de Mercúrio para perdermos ao outro e a nós também. Quando você entrar em alguma discussão que parece não ter fim, ou em uma mesma conversa que fica se repetindo e repetindo – muitas vezes consigo mesmo – talvez seja bom lembrar que estamos em um sistema comandado por uma estrela de quinta grandeza, na periferia de uma galáxia menor. Não dá para saber tudo. Simplesmente não dá. Muitas vezes, mesmo prestando muita atenção, nós realmente não conseguimos entender o que o outro quer nos comunicar. Se aceitarmos isso, podemos compreender que há momentos em que o outro também não vai entender nada do que estamos falando, mesmo prestando atenção naquilo que dizemos. Esse desconcertante momento de reconhecimento da própria ignorância pode ser o começo de uma verdadeira e mais profunda compreensão, de si, do outro, do mundo, da vida. Muitos amigos músicos que compõem me disseram que a música começa no silêncio. Talvez aqui seja a mesma coisa.