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sábado, 29 de fevereiro de 2020

Stelium de Júpiter, Saturno, Plutão e Marte em Capricórnio

“Devemos estar dispostos a nos livrar da vida que planejamos para ter a vida que nos espera.” -Joseph Campbell

Dia 3 de março de 2020 teremos em Capricórnio o inicio de um reforço na  já forte conjunção de Plutão e Saturno com a chegada de Júpiter, que irá se estender até meados de abril atingindo Aquário e englobando Marte a partir de 10 de março. Como essas conjunções e aspectos causam muita ansiedade, vamos aqui tentar pensar um pouco sobre esse stelium que nos espera depois do Carnaval.

Vamos lembrar o que está representando essa conjunção Saturno/Plutão em Capricórnio que estamos enfrentando desde o ano passado e que enfrentamos nos anos 80 em Escorpião. Aqui temos o arquétipo do Uroboros, a serpente que devora sua própria cauda, no ciclo eterno de morte/renascimento, fins/inícios, na evolução em torno do centro imutável de Plutão, se encontrando com o arquétipo do Mestre Sábio que tem como face obscura o Diabo que induz à ruína do humano de Saturno. O aspecto mais evidente dessa combinação são as obsessões ligadas a tudo que represente autoridade e poder. Esse aparente movimento organizado e deliberado para uma experiencia autodestrutiva incontrolável que vivemos parece ser o tom coletivo desde a entrada de Plutão em Capricórnio, em 2009, e que foi se adensando com a entrada de Saturno em seu domicílio (Capricórnio)  em 2017. Que atire a primeira pedra aquele que não quis matar - só um pouquinho - o tiozão surdo do pavê. Sim, vimos com clareza o lado obscuro do vizinho, mas também o nosso próprio e de toda a estrutura que vivemos e somos cúmplices. 

Júpiter traz expansão e crescimento para tudo que toca, fortalecendo e abrindo espaço para a fé em algo maior e mais abrangente, nos fazendo acreditar que somos capazes de superar aquilo que nos aprisiona e restringe. Por isso as conjunções entre Júpiter e Saturno são tradicionalmente vistos como períodos de mudanças de regime e de governo. Isso significa que Júpiter pode trazer novos caminhos ampliando nossa visão e ajudando a  ver adiante algo novo que não conseguíamos ver por causa das firmes muralhas de Saturno. Como as muralhas saturninas que estamos vendo nesse momento têm seus alicerces no Reino profundo de Hades, Júpiter terá que ser mesmo muito persuasivo para nos fazer acreditar na possibilidade de mudança. Mas essa não será a primeira vez que o Senhor do Olimpo enganará Saturno para modificar o equilíbrio das forças no poder. Os momentos mais famosos desse enfrentamento falam de Júpiter sendo escondido e alimentado pela ninfa Amaltéia, que fazia música e balburdia quando a criança chorava para que o Senhor Saturno não escutasse, e do jovem Júpiter colocando veneno na sopa de seu pai para que ele vomitasse de volta seus irmãos prontos para a batalha, após terem crescido na barriga dele. Podemos perceber que a alegria, muito mais que a força, é o principal combustível jupiteriano, além de esconder o crescimento da mudança que se aproxima. Com a chegada de Júpiter, tudo aquilo que estiver maduro para a batalha sairá das próprias entranhas de Saturno, das entranhas do lado obscuro da sabedoria adquirida através do sofrimento. E cá estou eu, escrevendo em pleno Carnaval brasileiro, com a Mangueira mostrando um Cristo mulher e outro sendo baleado pela PM, a campeã carioca, Viradouro de Alma Lavada, contando a história das lavadeiras da lagoa de Abaeté (Ora ie iê ô) que compraram a própria alforria e depois a alforria de muitas pessoas escravizadas lavando a roupa de gente branca, que nunca soube cuidar de si. E a campeã de SP, Águia de Ouro, trazendo o Poder do Saber, em um ótimo resumo de Júpiter com Albert Einstein, a Bomba Atômica e cantando jupiterianamente:

"Brincar de Deus, recriar a vida
Desafiar, surpreender
Na explosão a dor, uma lição ficou
Sou aprendiz do Criador”

E nessa alegria e festa do Carnaval pudemos escutar por baixo o choro da criança: Rebelião de PM no Ceará atacada por escavadeira (método bem jupiteriano de resolver oposição) pelo representante do poder e aquele que ocupa o lugar de presidente ameaçando fechar o Parlamento que o obedece em tudo alegando oposição. Os fatos atropelando os astros e o antigo rei resistindo o quanto pode às mudanças que exigem espaço. Ou seja, não estamos falando de uma mudança onde o velho e corrupto rei que não tendo mais energia para renovar o reino resolve morrer para que o novo possa entrar e recuperar tudo que foi transformado em poder pelo poder, sem nenhum objetivo maior. Estamos falando aqui de transformação dos diversos contratos e obrigações sociais que mantinham a sociedade coesa e unida, estamos falando de rompimento de estruturas que se mostram antigas e falidas. Vamos lembrar aqui que Donald Trump está propondo modificar a Declaração dos Direitos Humanos, é esse o nível de rompimento que estamos falando. E se não são os Direitos Humanos que irão nortear nosso processo civilizatório, o que será? Realmente aprendemos que simplesmente declarar que "todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos; dotados de razão e de consciência e devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade”, não resolve os problemas que temos em função das desigualdades que criamos. Esse é o nível da angústia que vivemos, onde o velho não traz mais segurança ou respostas, mas o novo é ainda muito jovem para trazer as respostas e seguranças que ansiamos. Ou seja, Bernie Sanders ganhar as primárias americanas não será suficiente, apesar de que seria uma boa batalha ganha. Então o que podemos esperar para os próximos meses é essa luta por mudança acompanhada de enorme resistência no sentido oposto. E aí dia 10 de março Marte entra na dança, e o detonador astral com certeza vai acirrar os ânimos dessa disputa, em meio às manifestações prometidas de ambos os lados da disputa aqui no Brasil. 


Sendo Capricórnio um dos signos cardeais, ou seja, que tem sua força voltada para fora, representando um novo patamar se iniciando, podemos esperar o nascimento de um novo momento a partir de março. A última conjunção Saturno/Júpiter em Capricórnio foi em 1961, quando vimos a explosão do ativismo dos direitos civis nos EUA, mas quando chegou a oposição Saturno/Júpiter posterior, 10 anos depois com Saturno em Touro e Júpiter em Escorpião, o que frutificou foi a Guerra dos EUA contra o Vietnã, o que mostra que a luta de um grupo não traz a libertação do todo, mas pode trazer essa ânsia de liberdade e mudança para um imaginário mais abrangente, como foi a resistência à Guerra. Plutão, tendo seu peso coletivo garantindo um olhar blasé para nossos pequenos dramas humanos, traz certo ar de tudo ou nada que, ao se juntar com a força guerreira marciana, não seria estranho se tivéssemos que viver algo bem destrutivo para realizar a mudança que precisamos para encontrar novos caminhos.  Sinto bastante medo ao escrever essas coisas, mas se quiser ser fiel ao simbolismo desse stelium em Capricórnio, o que estamos prestes a viver por aqui pode ser bem dramático. Um amigo astrólogo, Denis Matar, chega a dizer que estaremos vivendo o fim definitivo do Capitalismo, que desde muito promete morrer mas sempre ressuscita com novas artimanhas. Apesar de sabermos que a necessidade de mudança é mais do que urgente, que nossos erros comprometeram a nossa sobrevivência no planeta, inclusive, precisamos realmente que Júpiter traga muita Luz para enxergarmos um novo caminho e que Marte nos dê a coragem para entrar na boa luta e rompermos com tudo o que for velho e corrupto na estrutura em que vivemos. E que os deuses nos protejam. 

Mas pra ninguém ficar muito desolado, aqui está pra vocês um pouco do incrível Emicida, pra lembrar que a Revolução é feminista ou não é Revolução ;)


domingo, 10 de agosto de 2014

Saturno, Escorpião e Vazios Iniciáticos


“O mundo do dançarino é alcançado por dias e dias de trabalho, semanas de trabalho, anos de trabalho. É aqui no estúdio que o bailarino aprende seu ofício. O domínio de seu instrumento que é o corpo humano. Seu objetivo é a liberdade, mas a liberdade só pode ser conquistada através da disciplina. Disciplina imposta por você mesmo, sobre você mesmo. Ou o pé está esticado ou não está. Nem uma porção de sonhos o esticará por você.”

Martha Graham, bailarina contemporânea com Plutão em Trígono com Saturno.



Tenho aprendido muito esses anos em que o planeta Saturno atravessa o signo de Escorpião, principalmente com pessoas que estão passando pelo retorno de Saturno nesse signo. Em finais de 1981, Saturno inicia um processo de conjunção com Plutão nos últimos graus de Libra que vai até outubro de 1983, com Saturno já em Escorpião. Então, nos últimos três ou quatro anos, venho conversando com muita gente que ao enfrentar o retorno de Saturno também tem que enfrentar questões plutonianas. Agradeço muito a todos pela confiança e aqui vai um pouco do que andei conversando e pensando por aí sobre isso.

Tanto o retorno de Saturno quanto suas temporadas desafiantes anteriores, a cada sete anos aproximadamente, representam iniciações à vida adulta. São tempos em que temos que sacrificar confortos lunares e familiares em nome de uma maior participação no universo social mais amplo. A primeira oposição de Saturno por volta dos quinze anos costuma ser particularmente difícil e marcante porque o adolescente sabe que tem que sacrificar sua infância para poder entrar na “tchurma”, e para isso ele acredita ter que esconder muito profundamente (principalmente de si mesmo), todo o medo e insegurança que tem para não se sentir humilhado. Aí começam seus problemas com Saturno e a compreensão equivocada sobre o que é o mundo adulto.  É comum mães aflitas de adolescentes nessa fase de oposição me procurarem porque seus filhos, que eram muito cordatos  e responsáveis, começam a ir mal na escola e passam a se comportar de maneira agressiva dentro e fora de casa. Por mais solidária que eu possa ser com as aflições maternas por vivermos em uma sociedade profundamente desigual e violenta, do ponto de vista simbólico essas pessoas estão em busca de instruções para a vida adulta, precisam se arriscar para além da proteção lunar, e se estão se comportando dessa maneira “revoltada” provavelmente aprenderam em casa e no meio em que vivem que essa era a maneira para enfrentar a dor inevitável da vida. Lembrando que as crianças não aprendem através dos discursos politicamente corretos que fazemos para elas, mas através das atitudes, das brigas, reclamações e climas entre os pais, da maneira como os pais lidam com frustração e com os “outros”, com os comentários maldosos e “divertidos”, com a forma como se torce no jogo de futebol ou como se dirige no trânsito. Outra coisa que costuma se manifestar de maneira intensa porém inconsciente nessa fase, é a vida não vivida pelos pais, como diz Jung em O Desenvolvimento da Personalidade (CW XVII, Ed. Vozes, pg 47, par 87): “Via de regra, o fator que atua psiquicamente de um modo mais intenso sobre a criança é a vida que os pais ou antepassados não viveram (pois se trata de fenômeno psicológico atávico do pecado original). Essa afirmação poderia parecer algo de sumário e artificial sem esta restrição: essa parte da vida a que nos referimos seria aquela que os pais poderiam ter vivido se não a tivessem ocultado mediante subterfúgios mais ou menos gastos. Trata-se pois de uma parte da vida que (...) foi abafada talvez por uma mentira piedosa. É isso que abriga os germes mais virulentos.” Um ótimo filme que fala sobre isso é Em Um Mundo Melhor (Haevnen em Dinamarquês, que significa Vingança), da diretora Susanne Bier, de 2010.

Então o que fazer quando se revela uma grande ilusão a crença de que se você fosse um(a) bom(a) filho(a) seus problemas desapareceriam? Isso é muito frustrante, já que gastamos muito tempo da nossa infância aprendendo a reagir a nossos pais para conseguir o que queríamos e precisávamos, nos apoiando em nossas Luas. Precisamos entender que a “adultice” rebelde que se coloca no lugar também tem resultados problemáticos, já que superar as emoções infantis implica em saber reconhecê-las, não negá-las. Chega um tempo em que precisamos ver que o anseio por uma existência livre de problemas deve ser posto de lado em favor da aceitação madura da responsabilidade pela própria vida, e essa mudança constitui não apenas a ativação da consciência adulta, mas também uma forma de escolha. Esse é o significado mais profundo de Saturno, e é nesse sentido que ele ganha sua merecida fama de exigir sacrifício e trazer dificuldades.

Sacrifício é um tema mitológico poderoso encontrado em quase todas as culturas, um padrão arquetípico que exige a desistência de alguma coisa para que algo maior seja conquistado. Saturno é exatamente aquele que exige o abandono da dependência da infância em favor do domínio de si e da criatividade da vida adulta, mas fazer isso cortando o contato com o que se sente costuma gerar o oposto do que se busca, pois então nos deixamos abusar e nos tornamos abusadores. Simbolicamente falando, Saturno tem que ser o elemento complementar, o parceiro da Lua, e não seu inimigo ou substituto. Mesmo assim é o caminho mais comum que as pessoas costumam escolher. Como não temos mais os velhos sábios nessa sociedade que venera a juventude, as crianças acabam tendo que fazer suas iniciações entre si mesmas, o que é bem triste e sofrido. Quando vejo esses pais com medo da raiva dos filhos e/ou querendo “poupar” seus filhos do enfrentamento com a vida adulta, penso no que será que essas crianças terão que viver no retorno de Saturno para que possam assumir o fardo de sua jornada individual, com toda a dor e solidão que ela necessariamente traz. Como diz James Hollis, analista junguiano, ao falar da cura do masculino em Sob a Sombra de Saturno (Ed. Paulus, coleção Amor e Psique): “nenhuma outra pessoa, nem seus pais nem sua tribo, poderia poupar-lhe esta jornada porque senão também estariam roubando sua capacidade de lutar e alcançar seu pleno potencial”. É essa iniciação que os adolescentes buscam na época da oposição de Saturno, e isso lhes é negado há muuuitas gerações. Uma imagem que me parece boa para ilustrar essa carência de iniciação adulta é o “fenômeno” dos jovens milionários: homens que antes dos 30 anos já conquistaram tudo aquilo que se diz ser importante (que se traduz por dinheiro, muuuito dinheiro), que surgiu nos anos 90, com Urano e Netuno em Capricórnio, em trígono com Plutão em Escorpião. Que tal uma sociedade que tem como imagem de sucesso um menino branco, mimado e cercado de brinquedos? Você acha mesmo que isso trará verdadeira segurança?

Desde o início da Era Industrial somos ensinados a entregar nossos corpos e almas em troca de dinheiro para sobreviver, e agora nós e nossas crianças estamos nos dando conta de que temos que lutar para recuperá-los, pois esse preço é muito alto. Quando a nossa consciência muda, as nossas vivências simbólicas também mudam. Isso tem sido muito bonito e assustador de ver.

Uma das coisas importantes que aconteceu quando deixamos de ser tribais para construir civilizações, sociedades mais amplas e diversificadas, foi a perda gradual das iniciações masculinas, que transformava meninos em homens. Para se ter uma ideia de até onde fomos nisso, um livro lançado nos Estados Unidos no final dos anos oitenta com dados de uma ampla pesquisa feita durante mais de 10 anos, nos anos sessenta e setenta, citado em Finding Our Fathers: How a Man’s Life Is Shaped By His Relationship Whith His Fathers (“Encontrando Nossos Pais: Como a Vida do Homem é Moldada Pela Sua Relação com Seu Pai”, em tradução livre, ainda não publicado no Brasil), de Samuel Osherson, indica que apenas dezessete por cento dos homens norte-americanos tiveram relacionamentos positivos com os pais. Na maioria dos casos o pai estava morto, divorciado e ausente, quimicamente debilitado ou emocionalmente distante. Se essa estatística estiver ao menos perto da verdade e puder ser generalizada, isso significa uma quase total ausência de referencia masculina. De fato, é impressionante a quantidade de pessoas que foi criada quase que exclusivamente pelas mães ainda hoje em dia.  É compreensível, então, que muito do que construímos tenha como função substituir e/ou denunciar esse masculino que falta. Novamente, quem nos separa do universo materno infantil e nos leva até o mundo mais amplo adulto é aquilo que a psicologia analítica chama de Arquétipo do Pai, ao qual se liga Saturno, e que em nossas vidas ganha os primeiros contornos através da referencia de autoridade masculina da infância. Como não honrar profundamente todos esses homens que hoje em dia reivindicam o direito de serem pais, que se reúnem em busca de novos parâmetros de masculinidade, que aprendem a dançar com as mulheres, que se arriscam a tatear no escuro para encontrar uma nova maneira de ser no mundo? Mas abrir mão daquilo que se conhece em direção ao desconhecido não é exatamente o que precisa fazer o jovem herói que segue seu coração?

As iniciações femininas ligadas à mitologia da Grande Mãe, ao grande círculo, ao tema da morte/renascimento e ao Eterno Retorno, apesar de também terem sido violentadas de muitas maneiras, não podem ser totalmente esquecidas enquanto tivermos um corpo físico e vivermos a realidade de nascer através do corpo de uma mulher para depois morrer (o que parece ser uma tristeza para alguns neurocientistas e buscadores de Inteligência Artificial). Mas mesmo essas iniciações perdem muito do seu sentido sem uma face masculina complementar saudável e por isso acabam se distorcendo em algo muito grande, poderoso e perigoso, mais temido que reverenciado. Já a mitologia masculina fala da busca, da jornada da inocência em direção à experiência, das trevas para a luz, da saída do lar para o horizonte mais amplo, e isso significa responder ao chamado para algo desconhecido. Nesse sentido exige uma escolha do herói, e percebemos sua ausência nas enormes dificuldades que tanta gente tem de sair de casa, de abrir mão da dependência infantil e de experimentar uma existência diferente daquela em que se foi criado. Os sofrimentos ligados a Saturno tem sentido iniciático exatamente por evidenciar essas dificuldades e essa falta sem dar ouvidos ou espaço para as desculpas que nos damos para não assumirmos a responsabilidade do trabalho do nosso caminho, e essa é a verdadeira função paterna. Como disse a terapeuta e consteladora familiar Evanilde Torres: “É a partir do corpo do Pai que a vida explode para cada ser vivo. Por esta razão, Pai significa movimento, impulso. É através do nosso Pai que o mundo se abre como opção. Pai é tapa na bunda para impulsionar, é ‘levanta pra cair de novo’”. Cada ciclo mítico precisa ser cumprido várias vezes em nossa vida e a falta de um implica no desequilíbrio do outro. Hoje em dia, com a demanda que homens e mulheres enfrentam para a manutenção e exploração criativa do mundo ao mesmo tempo, precisamos mais que nunca desenvolver esses dois potenciais que nos pertencem e nos fazem inteiros.

Somos filhos de não iniciados, os manuais de instruções não funcionam e vivemos em uma sociedade decadente... Adivinhem onde vamos encontrar novos caminhos? Vai pra dentro, criatura! Uma das descobertas bacanas que C.G.Jung fez foi a de que o inconsciente busca sempre o equilíbrio e a cura, então é lá que podemos encontrar respostas que o mundo externo não tem. Jung chamava esse ir para dentro de individuação, e precisamos de coragem e um profundo desejo de conhecer a verdade para encarar essa aventura sem nos perdermos.

Nossos guias internos para esse universo inconsciente são as contrapartes opostas à nossa consciência de gênero, ou seja, os homens têm uma guia feminina que foi chamada de Anima e as mulheres tem um guia masculino chamado de Animus. Faz sentido que aquilo que nos oferece um caminho para o inconsciente tenha uma identidade oposta àquela que trabalhamos conscientemente, não? A Anima tem uma natureza de Eros, yin, passivo, ligada ao corpo, ao instintivo e às emoções, enquanto o Animus tem uma natureza yang de Logos, ligada ao mental, à ação e ao intuitivo. Ou seja, os homens falam com o inconsciente através dos sentimentos e as mulheres através do pensamento e da ação. Vocês conseguem ver o quão ruim são as caricaturas do homem que não sente e da mulher que não pensa? Não posso deixar de ver essas caricaturas de masculino e de feminino diretamente ligados à necessidade de homens e mulheres lutarem pelo direito de não serem humilhados e violentados. E claro que a melhor maneira de nos conscientizarmos desses elementos orientadores do inconsciente será através dos relacionamentos com pessoas do gênero oposto ao nosso (principalmente nos amorosos, mas não apenas), pois aqui temos a maneira mais automática e pessoal de projeção do nosso universo interno sobre o mundo externo. Buscaremos nos outros aquilo que pode nos mostrar quem somos. Claro que as primeiras pessoas a iluminarem esses arquétipos são nossos pais ou quem ocupou o lugar deles na nossa infância, tanto conscientemente, nos mostrando como homens e mulheres se comportam, quanto inconscientemente, servindo de projeção para nossa contraparte inconsciente de Anima e Animus. Com o tempo vamos colorindo essas figuras com outros encontros e no inconsciente temos uma fonte inesgotável de imagens para alimentá-las. A falta de figuras masculinas adultas e a onipresença feminina em nossas formações vão criar movimentos tanto conscientes quanto inconscientes, e nosso desafio é estar entendendo como essas partes agem para poder trabalhá-las a nosso favor, para que sejamos cada vez mais inteiros. Se as vivências com aqueles que nos criaram foram muito complicadas, teremos mais desafios na hora de trabalharmos com esses elementos inconscientes, os homens quando tiverem que trabalhar suas emoções e corporeidade individualizada e as mulheres na hora que expressam seu espírito em domínios coletivos, pois a tendência é de deixar o inconsciente agir de maneira livre demais para compensar os distúrbios conscientes. Isso costuma dar mais trabalho, afinal, aquilo que nós rejeitamos vai para o inconsciente, que aceita tudo, e aí vamos criar uma briga entre o que o inconsciente traz e a consciência que construímos de nós mesmos. E haja Rivotril para tentar aplacar essa briga... Isso será explicitado através dos relacionamentos com nossos afetos e desafetos do gênero oposto, onde nosso inconsciente se projeta para ganhar atenção e consciência. Agora, adivinhem com que tipo de forças Escorpião trabalha?

O elemento Água sempre tem um canal de comunicação com o inconsciente que precisa estar o mais limpo possível para que se viva bem onde esses signos dominam. Câncer tem esse canal via inconsciente familiar ou sistêmico, Peixes via inconsciente coletivo e Escorpião via inconsciente pessoal, que é exatamente esse campo onde nos deparamos com o estranho, o outro, o “não eu”, e projetamos nosso inconsciente. Transformamos o outro em símbolo daquilo que nos habita internamente e que não queremos ou não podemos ver. Por isso o signo de Escorpião, a casa oito e Plutão, estão tão associados à ideia de crise, no sentido de conflito mostrado pelo I Ching, onde o Céu Criativo tende a subir e a Água Abismal tende por sua natureza a descer (hexagrama seis) Aqui podemos ver o conflito entre nossa consciência racional e o material que foi parar no inconsciente por medo e/ou culpa, criando um abismo dentro de nós. As nossas ligações emocionais com os “outros” de nossa vida sempre nos forçam em direção à nossa natureza sentimental, que precisa ser primeiramente identificada e então examinada para poder ser transformada, e nada nos faz ir nessa direção mais rapidamente do que a frustração. A velha máxima satriana, “o inferno são os outros” é absolutamente real aqui. Saturno em Escorpião vai garantir que a relação com o “outro” entre nesse nível de conflito e obrigue a pessoa a passar por processos dessa natureza se ela escolher se transformar em adulto, e esse tipo de iniciação é realmente algo para quem tem coragem de ir fundo na vida. A única arma que eu consegui descobrir que funciona nessas circunstâncias é a verdade, a coragem para ver as coisas como elas são e a aceitação de que é assim que são. E gente, eu garanto que fazer Heliski no Himalaia ou BASE Jumping nas Torres Petronas de Kuala Lampur é para os fracos, pois quando o abismo está dentro, não há paraquedas que amorteça a queda. Mas só quando se experimenta pular é que se descobre que o abismo não era tão grande como parecia olhando de fora.

A grande força que Escorpião traz enquanto Água Fixa é aquela ligada às energias criativas e procriativas que esse signo controla e através dos quais entra em contato com os outros. Nessa esfera compreendemos que sexo tem pouco a ver com o contato físico entre as pessoas e muito mais a ver com forças emocionais e químicas, além de ser uma das vivencias que mais afeta o nosso universo mental. O fluxo que pode ocorrer durante o ato sexual entre duas pessoas por um breve segundo traz a experiência de perda da percepção individual e o vislumbre de se sentir um com outro ser humano. É nesse sentido que Escorpião se liga à ideia de morte, pois aqui temos a morte da personalidade consciente que se entrega para esse tipo de suspensão. Aliás, todos os tipos de transe que utilizam meios físicos de maneira proposital, como o uso de drogas psicotrópicas com fins religiosos ou não, as danças e ritmos hipnóticos, etc., também fazem parte dessa esfera Escorpião/casa 8/Plutão, pois têm como objetivo exatamente esse êxtase de esvaziamento do eu. Claro que depois, quando o eu recupera seus contornos e percebe as modificações que a união com o outro provocou, pode ficar bem temeroso. Que atire a primeira pedra aquele que nunca se retraiu frente ao medo da aparente vulnerabilidade emocional que o envolvimento maior com o outro traz. O que as terapias sistêmicas (como a constelação familiar, por exemplo) estão verificando é que depois que a união ocorre não é mais possível excluir totalmente o parceiro, mesmo que o mental acredite piamente nisso. Se isso é bom ou ruim, cada um deve fazer esse julgamento por si só. Como tem sido a sua escolha por parceiros sexuais? E mais importante, como você tem se comportado como parceiro sexual? Pois Saturno em Escorpião vai exigir um mergulho mais profundo nesse universo e cria a necessidade de um conhecimento prático de si mesmo e daquilo que buscamos no “outro” que nem todos estão dispostos a fazer. De qualquer maneira ele irá cobrar o preço pela nossa ignorância. Tem sido uma surpresa e uma alegria ver esse povo passando por esse Retorno de Saturno com tanta disposição de ir mais fundo, e que entendem exatamente o que quer dizer isso. Parece que a única coisa que Saturno exige para fazer a iniciação adulta é a disposição para ir além da esfera lunar materna conhecida. Saturno com certeza encontrará a parceria perfeita para você fazer isso.

A estratégia tradicional de Saturno para nos levar ao processo de crescimento consciente adulto é através da falta e da frustração que criam um imenso desejo de ter aquilo em nossas vidas, e para isso nos esforçamos nessa direção. Em termos míticos representa a parte em que o herói tem que enfrentar o deserto se quiser chegar ao seu destino. Com Saturno em Escorpião o mais comum é que isso se manifeste através de um histórico de falta de contato emocional mais profundo na família, seja por morte real ou por distanciamento afetivo, principalmente por parte do pai em se tratando do nosso titã. Algumas vezes há pouco contato físico com a criança em uma fase que essa é única maneira compreensível para ela, ou então os problemas sexuais dos pais criam uma atmosfera de medo e hostilidade que é captada mas não explicitada, deixando tudo muito confuso e trazendo problemas quando se trata de contato físico, e muitas vezes há realmente uma ameaça física à criança. Seja como for, se cresce com um sentimento de isolamento e uma certeza de que não se pode compartilhar essa sensação para aliviar a dor. Em As Máscaras de Deus, Mitologia Criativa (Editora Palas Athena, 1994), Joseph Campbell diz que “O deserto (...) é qualquer mundo no qual (...) a força e não o amor, a doutrinação e não a educação, a autoridade e não a experiência prevalecem na organização da vida, e no qual os mitos e ritos impostos e recebidos não estão (...) relacionados com as verdadeiras percepções, necessidades e possibilidades interiores daqueles em quem são incutidos.” Pois com Saturno em Escorpião (e também na casa 8), a pessoa busca união como água no deserto, e isso transforma as relações afetivas em algo muito intenso e com necessidades emocionais muito profundas. Assim como os adolescentes acreditam esconder o que sentem por traz de uma cara de mal e um comportamento rebelde, a nossa tendência ao se deparar com Saturno é ficar com tanto medo que se evita o assunto ou então se finge não ter nenhuma dificuldade com isso. Os perfis típicos aqui são do celibatário cheio de hostilidade para com os sexualmente ativos, e do abertamente promíscuo, que tenta seduzir qualquer coisa que apareça pela frente. Não é preciso análises muito profundas para perceber que temos nos dois casos um problema fundamental no relacionamento emocional com outra pessoa, e tanto em um caso quanto no outro se está preso na armadilha que Saturno joga quando em signos de Água, dizendo que se pode transformar um valor emocional em um valor material. Os dois sentimentos que mais nos deparamos quando se trata de Saturno são medo e culpa, que bloqueiam os dois chacras básicos, ligados à sobrevivência e ao prazer, e ao tentar não sentir isso teremos problemas de frigidez. Pronto, confirmamos nossos medos de não conseguirmos nos unir a outra pessoa, aumentando nosso medo e nossa culpa. É importante entender não sentir é uma defesa emocional, por mais fantasias de racionalidade que se coloque em cima.

Entramos nesse ciclo porque tentamos colocar em outras pessoas a possibilidade de curar as feridas iniciáticas de Saturno, criando uma fantasia mais ou menos consciente de que se poderá renascer e transformar a dor através de alguém que não tenha as restrições emocionais que se vê em si mesmo. As vezes demoramos muito tempo nos frustrando para aceitar que a falta que tivemos em nossa história não poderá ser preenchida nunca por coisa alguma, e que portanto temos que fazer algo com aquilo que vivemos em vez de criar ilusões para tentar apagar aquilo que nos feriu. Só quando a pessoa é suficientemente honesta consigo para entender que em seu íntimo há algo que precisa se desenvolver através do próprio esforço (como todo mundo), ela estará pronta para compreender e disciplinar sua natureza sexual de modo a expressar essa força de maneira positiva, em busca da conquista de uma real união, profunda e verdadeira, feita não apenas de fantasias celestes, mas de muito trabalho consigo mesmo, e independente de quem for sua parceria. Na verdade ninguém nasce pronto, e precisamos mesmo de muita experiência em ser quem somos para podermos ficar inteiros. O primeiro passo para isso quando se trata de Saturno em Escorpião é conseguir se revelar para o outro em sua fraqueza, sabendo que o outro não pode salvá-lo, e correr o risco de perdê-lo. Uma das coisas que mais alimenta o lado negro de Saturno é a vergonha que temos das nossas dificuldades naquela área. O intenso isolamento emocional que o Saturno escorpiniano nos remete faz com que essa vergonha seja quase insuportável, e a força que se tem que desenvolver para ultrapassá-la pode parecer demasiada. Saturno governa a estrutura óssea e é através dele que desenvolvemos a mente concreta ou científica, por tanto é através da tentativa e erro/acerto que experimentamos na nossa área saturnina que vamos conseguir criar uma estrutura capaz de realmente sustentar quem somos. Na verdade o revelar-se para o “outro” é um revelar-se para si, e nisso consiste a cura, em conseguir olhar para a própria dor sem se abandonar, mesmo que o “outro” faça isso. Através do nosso inconsciente temos essa capacidade incrível de transformar coisas, pessoas e vivências em símbolos, e assim criar imagens mágicas capazes de transformar nossa existência e nos fazer viver em diferentes níveis ao mesmo tempo. A imagem mágica, ou o símbolo, é portanto a máquina que transforma a energia psíquica. Ao nos revelar ao outro podemos ver com mais clareza também quem o outro é, e ver se realmente estamos disponíveis para aquela relação ou se apenas estávamos usando a parceria para a projeção inconsciente. Entendemos que a nossa percepção da realidade muitas vezes pode conflitar com aquilo que vivemos, e assim acolher todas as dúvidas e ideias que surgem desse confronto, trabalhando simbolicamente com esse material. Normalmente fazemos julgamentos morais a respeito dessas projeções e sofremos bastante, mas isso apenas significa que a estamos olhando com olhos da consciência, e se conseguimos seguir em frente e nos perguntar de onde veio essa “ilusão”, poderemos nos voltar para dentro e descobrir todo um mundo, com novos modelos e possibilidades de liberdade. Essa é a grande vantagem de se fazer terapia, onde se cria um ambiente seguro para treinar o revelar-se para o mundo. É por isso que sempre digo que a linha que o terapeuta segue é o menos importante, pois o que se precisa é alguém que possa receber as suas projeções, que possa se sintonizar com seu inconsciente, e isso se revela na primeira entrevista e não no curriculum do terapeuta.


Saturno não dá nada de graça, como Júpiter faz, e por isso mesmo podemos reconhecer com muita consciência o valor daquilo que conquistamos por seu intermédio. Saturno sempre exigirá a “disciplina imposta por você mesmo, sobre você mesmo” para que se possa conquistar a liberdade de expressão e de realização mais profunda. Se não tivéssemos uma certeza de alma a respeito do enorme potencial que existe em nós por baixo daquela falta/dor/ferida saturnina, essa dinâmica não teria tanta força em nossas vidas. O Saturno em Escorpião tem como tarefa básica aprender a ser sincero emocionalmente para poder sair do fosso de solidão que se caiu, passando por toda a raiva, impotência, rivalidade e frustração acumulada durante a vida. Uma das boas coisas que ganhamos quando aceitamos a tarefa de nos tornarmos adultos através de Saturno é que vamos aprendendo a escolher as lutas que valem a pena em vez de ficarmos brigando conosco o tempo todo, pois aprendemos a olhar e aceitar a realidade como ela é. A sensação íntima e dolorosa de ser vencido emocionalmente por quem se ama se transforma em uma capacidade refinada de avaliação de até onde o outro está disposto a ir sem se deixar prender por isso. Os poderes de cura e de vida disponíveis no inconsciente são infinitos para quem quiser buscá-los através do coração. A união íntima que se quer tanto fora só é possível através da relação amorosa com nossa(s) contraparte(s) interna(s), pois aí se pode amar ao próximo por se amar a si mesmo. Não consigo imaginar nada que seja mais bonito e poderoso que isso.


Hoje é dia dos pais, então dedico essa postagem ao meu, que me colocou no mundo e me deu o suficiente para fazer algo bacana com a vida que ganhei dele. Muita gratidão.

sábado, 23 de maio de 2009

Passeios de Saturno Pelo Mapa II - Visitas aos Transaturninos

“De repente, num relance, percebemos a imensidão de tudo que está em jogo nas nossas pequenas existências. Nesse mesmo repente, no mesmo relance, as pequenas existências adquirem um sabor de grandeza. E depois ficam pequenas novamente. É isso que é estar entre o nada e a eternidade”
Oscar Quiroga – Entre o Nada e a Eternidade

Para falar do encontro entre os transaturninos e Saturno, precisamos entender um pouco sobre as dimensões do Inconsciente Coletivo. Segundo definição de Jung, esse é um reino que pertence a toda a humanidade de todos os tempos – passados e futuros -, que não pode ser possuído por nenhum indivíduo, ao mesmo tempo em que é expresso e atualizado individualmente. Aqui caminhamos por meio dos Arquétipos, complexos carregados emocionalmente que produzem os sonhos individuais e a cultura coletiva. Toda a astrologia pode ser pensada em termos arquetípicos também. Arquétipos são como nossas características genéticas, pois ninguém é possuidor da totalidade de um fenótipo, como a cor castanha dos olhos, por exemplo, mas o indivíduo X terá uma cor castanha específica dada por uma combinação específica de genitores específicos. Assim também, todos os seres humanos nasceram de uma mulher, mas ninguém é possuidor de uma Mãe Arquetípica. Mesmo assim, temos que lidar psicologicamente com esse arquétipo através daquelas mulheres que representarem esse papel em nossas vidas. Também na astrologia, não existe um pisciano ou um geminiano arquetípico, por exemplo, por mais influência que se tenha de Peixes ou de Gêmeos. Jung entendeu que os Arquétipos buscam a luz da consciência individual, e é nessa interação que criamos a arte, a mitologia e a cultura e também a tecnologia humana. Quando, porém, identificamos nossa consciência individual com um Arquétipo, corremos o risco de nos perder, pois somos possuídos pela força do inconsciente coletivo e agimos através de fanatismos cegos e grande rigidez ideológica, o que pode ser bem destruidor. É através dessa possessão do inconsciente que indivíduos se transformam em uma força coletiva e surgem nossos psicóticos e matadores em série. Porém, quando o Arquétipo é reconhecido e integrado pelo indivíduo de maneira criativa e sem rigidez, apesar do perigo para o ego, é possível ser o portador da força de redenção que existe também no inconsciente. Assim entendemos a força coletiva de um Gandhi ou de um Martin Luther King. Podemos também ver miticamente o fato deles terem sido assassinados, pois Luz e Sombra formam uma unidade no inconsciente coletivo.

Urano, Netuno e Plutão caminham lentamente pelo zodíaco trazendo informações do Inconsciente Coletivo que farão parte da experiência de toda uma geração, a partir do signo em que estão no momento em que se nasce. Os transaturninos transitam naquilo que a psicologia transpessoal moderna chama de Inconsciente Transpessoal, pois pertencem à unidade psíquica do grupo, sua natureza não é inteiramente pessoal. Em termos bem gerais, Urano mostra os anseios de liberdade e de igualdade social, Netuno a busca de redenção e evolução espiritual e Plutão a necessidade de incorporação da sombra de cada geração (no caso de Plutão, às vezes várias), pois Urano fica 7 anos, Netuno 14 anos e Plutão pode chegar a 30 anos em cada signo. Saturno, por sua vez, representa a construção de nossos limites individuais, a fronteira que construímos entre a nossa personalidade e a força coletiva, ou seja, exatamente a identidade que nos possibilita não nos perdermos no Inconsciente Coletivo. Os encontros de Saturno com os planetas coletivos de nosso mapa, por tanto, são momentos importantes no sentido de que Saturno irá testar o quanto estamos conseguindo integrar os anseios coletivos em nossas vidas individuais sem nos perder, pois nos mostra a responsabilidade que temos frente à nossa trajetória pessoal. Urano era pai de Saturno, e tanto Netuno quanto Plutão, seus filhos. Podemos aproveitar os trânsitos de Saturno pelos planetas coletivos exatamente para fazer uma ponte entre nossas vidas e as transformações de consciência coletiva que temos a honra de presenciar, e assim integramos os esforços de todas as gerações para nos tornarmos mais humanos.

Saturno em conjunção, quadratura e oposição ao Urano Natal
Urano traz a idéia de liberdade que nossa geração irá construir. Esse planeta é o “padrinho” da revolução francesa e da constituição americana, onde nos conscientizamos que todo ser humano tem o direito de ir em busca de sua felicidade, independente da classe ou cultura em que se nasceu. Saturno vai contatar nosso Urano verificando o quanto de nossa liberdade é real e igualitária e quanto ela se transformou em uma fuga das responsabilidades individuais. Urano costuma orientar nossa ideologia de vida, mas muitas vezes pode se transformar em crença, por não termos o costume de pensar por nós mesmos, criando generalizações que nos impedem de viver a vida plenamente e justifica as distorções das nossas idéias. Você pode, por exemplo, ser um liberal que vê no capitalismo a melhor maneira da humanidade se desenvolver, mas a partir do momento em que vê os que acreditam em outras maneiras de desenvolvimento humano como um inimigo a ser combatido, vai entrar na rigidez da crença que justifica a destruição daqueles que encontraram outros caminhos de libertação. Quando Saturno entra em confronto com um Urano assim rígido, ele irá criar experiências que comprovam o equívoco desse posicionamento, e não será mais possível acreditar que comunistas comem criancinhas. Ao menos, não todos. A função de Urano é nos conectar com o processo de amadurecimento de nossos ideais humanos, mas se prendemos esse processo a nossas historinhas tristes, vamos acreditar em relacionamentos abertos por medo de intimidade e compromisso, ou pregaremos os bens comuns por não acreditar na possibilidade de ter aquilo que se quer sozinho. Na mitologia, Saturno castra Urano porque seu pai não assumia a responsabilidade que tinha sobre os filhos que gerou. Assim também, Saturno transitando por nosso Urano vai verificar o quão real é nossa liberdade de criação e quanto apenas se usa a liberdade e o livre arbítrio para fugir daquilo que precisa ser elaborado. No início desses trânsitos costumamos nos sentir presos, como se “o mundo” resolvesse que não podemos mais andar livres e despreocupados por aí, ficando muito claro como nos prendemos por aquilo que acreditamos. Mas aos poucos vai ficando mais clara a importância de agirmos à partir de uma coerência interna em relação àquilo que acreditamos e vemos que não é possível ter liberdade se não conseguimos libertar ao outro. Quando Saturno se encontra com Urano é chegado o momento de fazer uma reavaliação consciente das nossas idéias, se você não quiser que o inconsciente crie rupturas para te obrigar a isso. Nem todos conseguem pensar por si mesmos, mas essas são épocas em que é bom tentar.

Saturno em conjunção, quadratura e oposição ao Netuno Natal
Netuno parece estar ligado a um sentimento profundo de grupo, que muitas vezes exige o sacrifício de algumas características da personalidade individual em nome de uma empatia emocional com o todo. Nosso Netuno natal marca um ponto cego de nossa personalidade, onde nunca conseguimos penetrar com muita objetividade e só conseguimos entender através de vagas inspirações e percepções sensíveis. O senhor das águas não destrói e divide como seu avô Urano, mas nos conduz através da resistência passiva e da sensação de impotência, nos mostrando o poder do sacrifício por amor. Os contatos de Saturno com Netuno reforçam nosso potencial de imaginação criativa, pois Saturno irá nos provocar a transformar em algo tangível os mistérios criativos de nossa imaginação. Para quem trabalha com sons e formas artísticas, esses podem ser períodos bem criativos, mas Netuno é tradicionalmente conectado com drogas e artifícios para invocar os poderes inconscientes, e então corremos sempre o risco de invadir o inconsciente de maneira leviana, o que pode provocar problemas. Geralmente nos sentimos atraídos por experiências com o invisível, e com as novas terapias que podemos experimentar hoje em dia, como Freqüência de Brilho, Apometria, Constelação Familiar e toda uma gama de possibilidades quânticas, esses períodos podem ser bem ricos no sentido de descobrir que há mais mistérios entre o céu e a terra do que nossa vã filosofia pode imaginar, meu caro Horácio. Estamos vivendo uma época em que os que trilham o caminho espiritual ou artistico não precisam mais ser dominadas por ilusões de grandeza ou megalomanias doentias para encontrar o que está além de nossa percepção visível, e isso pode ajudar muito para entendermos melhor a Netuno.

Saturno em conjunção, quadratura e oposição ao Plutão Natal
Saturno, nos textos medievais, era muitas vezes representado por Satanás, o causador do sofrimento humano. Esse título parece ter sido passado para seu filho Plutão na era moderna, que muitas vezes ganha as cores da “Besta”. De muitas maneiras eles possuem coisas em comum, como processos que implicam doses de sofrimento e uma certa impiedade com as dificuldades que passamos em nossa biografia. No Plutão Natal encontramos um lugar em que temos medo de perder o controle, pois sentimos o poder da destrutividade, e uma tendência à paranóia, já que onde Plutão se instala em nosso mapa temos que viver processos e crises onde nascemos e renascemos para adquirir maior purificação e consciência. Saturno costuma acentuar nossas obsessões no início de suas visita a seu filho no Hades, pois reforça a consciência de que coisas devem morrer para que outras possam nascer, o que não é exatamente algo que fazemos com tranqüilidade, por mais que saibamos isso intelectualmente. Aliás, nossa cabeça não costuma ser nosso melhor aliado nesses momentos. Nos trânsitos de Saturno temos que trabalhar muitas vezes com sentimos de isolamento e medo de não dar conta de nossas responsabilidades, mas quando aceitamos seu desafio de levar aquela área a sério, ele costuma nos ajudar a criar profundidade em nossas vidas, e isso, quando se trata de Plutão, é algo realmente precioso. É importante nesses períodos não cair na tentação de se desesperar com a solidão, pois nesses processos alquímicos muitas vezes vivemos coisas internamente que não temos como compartilhar com os amigos na mesa do bar. O Guia do Pathwork costuma dizer que na dor e no sofrimento somos todos iguais, e o que nos diferencia de verdade é a nossa Luz. Então esse pode ser um bom momento para começar a fazer terapia e encontrar o caminho cheio de labirintos de nossas sombras, aceitando o que deve ser desmontado em nossa personalidade para que novos propósitos de vida possam surgir, e assim tornar nossa Luz mais forte.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Passeios de Saturno Pelo Mapa

Saturno vai impondo seriedade e amadurecimento enquanto faz visitas por nosso mapa. Assim como Júpiter, esse também é um planeta que gera crescimento, movimento e sentido no nosso caminho. Mas enquanto o senhor do Olimpo faz isso nos dando otimismo e esperança, o senhor do Tempo nos obriga a uma parada para reavaliar nossa visão de mundo e nossa estrutura pessoal para que possamos ter consciência de nosso agir e, assim, tomarmos decisões baseadas em nossas experiências reais e não apenas em fantasias e ilusões. O método mais comum utilizado por Saturno é a retirada de tudo que usávamos sem nos dar conta, fazendo com que não tenhamos mais aquela ferramenta a mão quando formos usá-la. Aí passamos um tempo procurando até percebermos que ela desapareceu mesmo, e começamos a pensar em como a utilizávamos e como realmente a queremos usar. Sabe aquele ditado que diz “quem nunca teve travesseiro não sente a sua falta”? Pois tente dormir em uma esteira no chão quando você está acostumado com colchão ortopédico. É mais ou menos isso que Saturno nos faz experimentar.

A cada sete anos, Saturno vai fazendo conjunção, quadratura e oposição com cada ponto de nosso mapa, durante aproximadamente um ano, e esse é um dos motivos astrológico para se falar de fases de sete anos em nossos processos de desenvolvimento. Vou dividir essa postagem em duas: a primeira falando dos contatos que Saturno vai fazendo com o Sol, a Lua, os planetas pessoais e Júpiter, e uma outra falando dos contatos dele com os Transaturninos Urano, Netuno e Plutão. Lembrando que todas as coisas que ando falando sobre as órbitas e os aspectos nos trânsitos são válidos também para Saturno.

Saturno em conjunção, quadratura e oposição ao Sol Natal
É comum nos sentirmos desvitalizados durante esses trânsitos. Saturno nos obriga a uma auto-avaliação profunda quando faz aspecto com nosso centro vital, então ele nos deixa com menos energia para gastar fora de nós mesmos. Essas são épocas em que precisamos reavaliar o que andamos fazendo com nossas vidas, pois esse planeta nos mostra o que plantamos e nos responsabiliza pela colheita. Nossos comportamentos viciados ficam muito claros, e esse é um tempo em que, muitas vezes, as características mais irritantes de nosso signo solar costumam ficar evidentes: arianos ficam briguentos, taurinos pão-duros, geminianos muito teóricos, cancerianos chantagistas, leoninos egocêntricos, virginianos muito críticos, etc. E, é claro, que só sua mãe vai ter paciência para te agüentar, e mesmo assim, só se for do tipo clássico. Pode-se até ficar um tempo um tanto amargo, deprimido e ressentido, por achar que o mundo ficou muito difícil de repente. Mas o que Saturno pretende, na verdade, é fazer com que nos tornemos conscientes das dificuldades que criamos em nossa vida, e assim tomemos a decisão de mudar para continuar nosso desenvolvimento. Se você tem disposição para fazer as mudanças necessárias e assumir a responsabilidade por seu próprio caminho, não há porque esse trânsito ser sombrio, e uma nova noção de auto-estima pode ser construída, baseada em uma visão mais profunda de quem se é e do que se pode oferecer à vida. O resultado dessa nova consciência é nos sentirmos suficientemente maduros para dar novos rumos a nossas carreiras e relacionamentos, levando a sério nossas crenças sobre a vida. Quando temos seriedade para olharmos para nós mesmos, acabamos encontrando a coragem e a firmeza necessária para fazer o que temos que fazer para sermos mais íntegros, e, porque não, mais felizes. Esse é um grande presente de Saturno.

Saturno em conjunção, quadratura e oposição a Lua Natal
Nas épocas de trânsito de Saturno pela nossa Lua ficamos muito conscientes daquilo que nos nutre e daquilo que alimentamos. Isso significa que todos aqueles vínculos que estamos acostumados vão passar por um teste para saber quais são realmente necessários e quais não merecem mais nossa atenção. Os amigos vampiros, que só sugam nossa energia, o chefe carrasco, que não reconhece nossos méritos para nos manipular e explorar, os relacionamentos vazios, mantidos por hábito e preguiça, ficam realmente insuportáveis nessas épocas. Nossa Lua também nos remete a nossa relação com o corpo físico, e ficamos muito conscientes do que nos está fazendo mal, dos tóxicos que ingerimos e como nos cuidamos. Seja no sentido material, emocional ou espiritual, Saturno faz com que fiquemos sensíveis – e muitas vezes, dolorosamente conscientes – ao que está nos alimentando e ao que só nos intoxica sem nutrir. Aí, não temos mais “estômago” para engolir aquele amigo que fica derramando lamúrias na nossa orelha, nem conseguimos encontrar aquele grupo com crenças muito diferentes das nossas, e pode esquecer aquela noitada de sexo, drogas e samba-rock. Esses são tempos em que precisamos realmente nos sentir satisfeitos e nutridos, pois a posição de vítima não é permitida durante a visita desse amigo titã. Sempre há alguma perda emocional durante essas épocas, mas temos a oportunidade de limpar nossas relações, já que conseguimos olhar com objetividade o que nos cerca e ir direto ao ponto. Percebemos quando, quanto e como queremos nos entregar aos outros e por isso aceitamos que o outro tem o mesmo direito. Podem ocorrer alguns ressentimentos e temos que enfrentar algumas vezes um aprendizado através da solidão e abstinência forçada, mas realmente vale a pena aceitar essa dificuldades – na verdade, ficamos mais pacientes para enfrentar essas coisas – e reconstruir nossa auto-imagem de maneira mais real, baseada em vínculos mais responsáveis conosco e com os outros.

Saturno em conjunção, quadratura e oposição ao Mercúrio Natal
Saturno, quando visita Mercúrio, verifica o que realmente sabemos e o que é apenas para inglês ver. É comum conseguir uma maior disciplina para organizar os pensamentos, seja escrevendo, seja fazendo leituras e pesquisas mais específicas e aprofundadas. O deus do Tempo põe em dúvida não só o que sabemos, mas também nossa capacidade de transmitir o que pensamos, e levamos muito a sério o nosso ponto de vista, o que pode trazer algumas desavenças. Geralmente nos dispomos a trabalhar duro para aprender algo novo quando estamos bem sintonizados com esses trânsitos. Se conseguimos superar a sensação de não nos entenderem e não desistimos das dificuldades de aprendizado dessa época, acabamos tendo a oportunidade de conversar mais profundamente com quem realmente interessa. Novas formas de pensar e de se expressar podem nascer desse aprofundamento, trazendo uma maior maturidade mental. Como Mercúrio mostra a maneira como captamos as informações do mundo, ás vezes acontecem algumas alterações na nossa percepção sensorial, como um aumento do grau dos óculos ou problemas de ouvido, por exemplo, mas que passam ao final do trânsito. O que fica mais nítido nessas épocas é nossa falta de clareza ou maturidade intelectual para expressar o que pensamos, pois passamos a ter mais problemas com isso do que normalmente. Temos que ficar mais conscientes daquilo que queremos comunicar. É importante ter algumas horas de silêncio, ouvindo nossos pensamentos, e, se possível, tentando esvaziar um pouco a mente, com meditação, por exemplo, ou apenas relaxando com música instrumental. É possível alcançar novas abordagens para a vida e para nossa maneira de agir durante esses trânsitos, desde que você se disponha a aproveitá-lo para se disciplinar e descobrir o que você realmente quer aprender e aprofundar.

Saturno em conjunção, quadratura e oposição à Vênus Natal
A primeira coisa que as pessoas costumam relatar desses trânsitos é que o tesão vai embora. Isso pode trazer algumas dificuldades extras para quem está em um relacionamento amoroso, principalmente nos que têm ênfase na compatibilidade sexual. É preciso ter uma boa dose de bom humor para encarar essas épocas, pois o método de nos tirar as coisas para torná-las conscientes do velho titã é bem ruim quando se trata da nossa expressão de prazer e beleza. Na Vênus natal encontramos nossos valores mais íntimos, as coisas que gostamos de nos cercar, nossa sensação de conforto e o desejo de nos relacionar amorosamente com as pessoas e com o mundo. A reavaliação desse aspecto da nossa personalidade passa por uma escassez que serve para verificar o que realmente sustenta o nosso prazer e quais são verdadeiramente os nossos recursos. Esses são trânsitos que mudam nosso gosto, e começamos a ouvir musicas diferentes, alterar coisas na decoração e até experimentar outros estilos de visual, pois há uma insatisfação geral. Os encontros sociais e festas passam a ficar tediosos também, e não temos muita vontade de ir para o bar falar bobagem com os amigos. Apesar de um tanto árduo, esses trânsitos podem gerar muitos recursos se bem aproveitados, pois nos livramos de coisas desnecessárias e abrimos espaço para coisas novas e mais profundamente compatíveis conosco. Precisamos dar mais duro para conseguirmos o que queremos nesse período, e por isso damos mais valor e escolhemos com mais critério. Enquanto perguntamos onde foi parar nosso prazer, podemos perceber que muitas das coisas que temos atualmente são insatisfatórias, aceitas pela incapacidade de dizer não, ou por não querer assumir a responsabilidade de ir atrás daquilo que realmente se deseja. É possível, então, modificar isso, trazendo para a existência um prazer muito mais profundo e satisfatório.

Saturno em conjunção, quadratura e oposição ao Marte Natal
O Marte é o nosso princípio ativo, e Saturno entra em contato com ele perguntando: “onde você pensa que vai com essa energia?” E aí, tudo fica meio emperrado. Não temos mais munição para atirar para todos os lados e ver se algum dos tiros atinge o alvo, então precisamos saber melhor o que realmente queremos para poder gastar a única bala que temos no cartucho. O deus da guerra é uma força instintiva que não aceita tranquilamente o cabresto educador de Saturno, mas quando percebemos que a nossa ação tem melhores resultados quando direcionadas para o alvo certo, esses podem ser trânsitos bem frutíferos. Começamos a levar mais a sério e entender melhor as conseqüências de nossos atos nesses períodos, por isso ficamos apreensivos e com medo de errar. Esse passo atrás que Saturno obriga nosso Marte a dar, porém, serve para que se veja a situação de maneira mais objetiva, tornando nosso impulso mais certeiro. Como resultado, tomamos maior consciência de nossa real capacidade de agir, e nosso Marte pode aprender a se expressar com mais determinação. Nessa reavaliação de Marte percebemos onde estamos gastando energia sem obter os resultados prometidos, e simplesmente abandonamos essas tarefas, assim como fica muito claro onde não estamos dando a força necessária para que aquilo que realmente queremos aconteça e tratamos de colocar mãos à obra. Isso pode trazer mudanças muito interessantes em nossas vidas, e tenho percebido que pessoas com um Marte natal com dificuldades de expressão ganham muito mais firmeza e conseguem correr maiores riscos durante esses períodos. Como Saturno faz com que caminhemos mais devagar, é possível admirar melhor a paisagem, e isso pode trazer surpresas bem agradáveis, inclusive mostrando novos lugares a serem explorados que, na correria em que estávamos, não conseguíamos enxergar.

Saturno em conjunção, quadratura e oposição ao Júpiter Natal
Se Júpiter ao contatar Saturno nos trás coragem para assumir nossas responsabilidades, Saturno vai verificar se estamos sendo responsáveis por nossas intuições e propósitos de vida enquanto visita nosso Júpiter. É comum certa sensação de fatalidade, como se tivesse chegado o momento de cumprir a missão que nos foi destinada, mesmo sem saber direito o que isso significa, o que pode trazer certa angustia. Nosso amigo titã deixa bem claro onde estamos sendo otimistas demais através de nosso Júpiter, tirando todas as cores fortes do quadro que o senhor do Olimpo tem pintado em nossas vidas e mostrando os traços do desenho original, que muitas vezes esquecemos no entusiasmo exagerado pelos potes de tinta. Podemos perceber, então, onde estamos cegos, fazemos maus julgamentos ou especulamos de maneira equivocada em nossas vidas, pois Saturno irá mostrar as conseqüências concretas disso. A área de nossas vidas em que Júpiter tem sua morada é alimentada por nossa imaginação criativa e é onde acreditamos merecer o melhor da vida, e, por isso, conseguimos reconhecer e receber o que a vida tem de bom a oferecer. Quando Saturno no céu interage com nosso Júpiter, sentimos necessidade de transformar essa fé na generosidade da existência em algo prático, para que se possa viver plenamente aquilo que se sente intuitivamente que é o propósito de estar vivo. Geralmente no começo desses trânsitos temos mais dificuldades por que as exigências da vida prática podem parecer uma contradição à nossa visão de mundo intuitiva, e temos a tentação de perder a fé. Mas aos poucos vamos conseguindo ter a paciência necessária para olhar nossa vida de maneira mais objetiva e ver onde estávamos sendo descuidados, e, se modificamos isso, nos sentimos muito mais integrados em nós mesmos. Nossa vida pode fluir de maneira mais frutífera e consciente nesse processo. Saturno vai mostrar onde seu exagero gerou um comportamento desonesto ou onde seu otimismo se transformou em egoísmo, o que não é nem um pouco agradável de encarar. Mas esse trânsito possibilita uma integração que tem o dom de nos libertar das garras da ilusão e da desilusão se temos coragem de olhar para a verdade e buscamos o modo de agir correto.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Trânsitos de Saturno

“Um discípulo perguntou ao mestre o que era a verdade. O mestre ordenou que trouxessem uma bacia de água e mandou que o discípulo enfiasse a cabeça ali. Então o mestre apoiou-se com toda força sobre a cabeça do discípulo. Bolhas de ar subiam à superfície. Quando as bolhas ficaram muito raras, o mestre parou de apoiar-se sobre as mãos, e o discípulo, quase desmaiado, pode retirar a cabeça da água.
O mestre lhe disse:
- Quando desejares a verdade com a mesma força com a qual desejou ar, então você saberá o que ela é.”
Adaptado de um koan citado por Roland Barthes no livro Fragmentos De Um Discurso Amoroso

É interessante acompanhar o movimento de Saturno pelo mapa, mesmo que não faça aspecto com nenhum ponto, pois ele sempre estará questionando a área que visita. É como se ele entrasse em uma casa e dicesse: “Ok, vamos ver se as coisas por aqui estão tão bem como você pensa”. Então tudo fica mais lento, ficamos mais conscientes das frustrações naquele setor de nossas vidas e temos que nos organizar e ter paciência se queremos que as coisas se movimentem. Até avistarmos Urano, em 1781, esse titã era o limite de nosso Universo, e ainda hoje ele continua cumprindo o papel de mostrar onde precisamos entender e construir nossos limites pessoais antes de passar para o movimento coletivo, seja ele espiritual, ideológico ou como você quiser chamar. Por isso a maioria dos astrólogos trata Saturno como mestre examinador, que testa nossa capacidade e nossos valores de modo a nos tornarmos mais conscientes de quem somos e responsáveis por nossos caminhos. Se você está interessado em seu crescimento pessoal, esse planeta tem muito a ensinar.

Muitas vezes os trânsitos saturninos são vivenciados através de dificuldades e perdas realmente dolorosas, mas o que se verifica é que esse sofrimento é o caminho escolhido para uma reavaliação séria da própria vida, e não um fim em si mesmo. Saturno freqüentemente utiliza a roupa da Sombra – no sentido junguiano do termo – para realizar seu trabalho. Fica difícil, então, assumir a responsabilidade por aquele aspecto de nossa personalidade, nos sentimos perseguidos por uma negatividade que nos deixa bem paranóicos, passando a nos defender em lugar de analisar com objetividade o que está acontecendo, e entramos em crise moral, como é próprio desse arquétipo. Mas esse é o caminho para um confronto difícil com Saturno. Se você conseguir olhar para os problemas vivenciados fora como um reflexo das suas dificuldades internas, esse tempo mais lento e cuidadoso que Saturno promove pode fazer com que se realize coisas importantes e mudanças significativas, que antes não se tinha coragem de acreditar possível.

Na mitologia, Saturno-Cronos castra seu pai Urano como um favor à sua mãe. Urano tinha ótimas idéias que queria criar sobre a Terra, mas quando de deitava sobre Gaia e via o resultado real de suas criações se decepcionava e devolvia para a mãe aquele rebento que não era exatamente como ele imaginara, como se ele não fosse responsável por aquilo. Gaia foi ficando literalmente cheia disso e pede ao seu caçula, Saturno, que fizesse o favor de acabar com essa extravagância de seu marido. Essa é uma característica fácil de perceber nos trânsitos desse planeta, pois todas as idéias fantásticas que temos naquela área em que ele está visitando perdem o sentido, nós perdemos a energia extra que tínhamos para ficar inventando coisas, e precisamos nos ater àquilo que realmente queremos e com base em nossos recursos reais.

Outra história que se conta sobre o mito de Saturno é de que ele engolia os filhos que tinha com sua esposa, Réia, por causa de uma profecia que rezava que um dos seus filhos o iria destronar. Muitas vezes vejo essa passagem sendo interpretada como símbolo do apego ao poder desse deus titã, e a imagem criada por Goya é muito impressionante na expressão de loucura e crueldade que normalmente se vê nesse ato. Nunca percebi Saturno como algo cruel, mesmo quando ele traz algum tipo de dor, e era difícil, para mim, associar essa imagem ensandecida com o aprendizado simbólico de Saturno. Foi através da Constelação Familiar que fui entendendo que o representante do “mau” em uma família muitas vezes é quem aceita receber a Sombra para tentar curar o sistema e fazer com que seus membros vejam a verdade. Saturno não mata seus filhos, mas os engole inteiros, e quando são “vomitados” de volta saem de dentro de seu pai inteiros e armados, prontos para a guerra. Tão preparados que acabam por ganhar a luta contra os titãs. Saturno não irá entregar seu trono, que custou a castração de seu pai Urano, de graça, sem a luta necessária para o amadurecimento do próximo governante, que precisa mostrar que tem força para assumir seu lugar. Nesse sentido, quando esse titã engole seus filhos, me parece muito mais apropriado falar de uma gestação para o amadurecimento apropriado, para que se nasça uma segunda vez através do pai, do princípio consciente, e não mais da mãe, do emocional inconsciente. É nesse sentido que Saturno representa o esforço de individuação, a luta que travamos para chegarmos à consciência de quem somos realmente, assumindo a responsabilidade por nossas vidas.

Olhando por esse ângulo, a sensação de ser castrado por um trânsito saturnino pode ser visto como a poda que o bom jardineiro tem que fazer em suas plantas para que elas continuem tendo força para crescer. A sensação de paralisação, muitas vezes cercada de medo, que também costuma acompanhar Saturno, é a parada necessária para amadurecer e continuar o caminho mais inteiro e íntegro.

Os momentos em que Saturno passa pelos ângulos do mapa – casas I, IV, VII e X – são particularmente marcantes nesse sentido. Com certeza, se você der uma olhada de quando isso aconteceu, vai ver que coisas importantes mudaram internamente em você, provavelmente com reflexos significativos em sua vida externa também. Saturno passa cerca de dois anos e meio em cada signo e, utilizando uma órbita aproximada de 10°, ele fará conjunção com a cúspide dessas casas por cerca de um ano, sendo esses os momentos em que o sentimos mais fortemente. Nessas épocas, é como se de repente aparecesse um muro em nossa frente e não conseguimos mais continuar a caminhar de maneira displicente. Temos muitas vezes uma forte sensação de inadequação e fica bem evidente onde e como desperdiçamos nosso tempo ou nos apegamos ao passado. Esses costumam ser momentos em que levamos mais a sério o que dizemos e o que fazemos. É comum os relatos de início de coisas novas durante esses trânsitos, seja a pós graduação adiada, seja o início de um novo trabalho autônomo depois de anos como estudante, seja a oficialização de um casamento depois de anos de namoro, ou mesmo a compra da casa própria. A idéia básica desses trânsitos é assumir as dificuldades para realizar aquilo que se quer fazer com a vida, mesmo tendo muitas dúvidas a respeito da própria capacidade ou da receptividade dos outros sobre aquilo que queremos. Ao assumirmos a responsabilidade por mudar o que queremos em nossas vidas começamos o processo de amadurecimento que pede Saturno. Isso nos dá um senso de propósito que nos estrutura internamente, porque lutamos por aquilo, e conseguimos reconhecer o mérito pessoal que temos nesse caminho.

Saturno não dá estrela no caderno pelo seu trabalho bem feito. Como aquele pai “insensível” que lhe diz que não é mais que a sua obrigação quando você mostra seu boletim cheio de notas altas, geralmente o resultado do processo saturnino representa mais e mais responsabilidades para sua vida, pois quanto mais fortes nos tornamos, maior nossa capacidade de carregar nossos próprios pesos. Mas é assim que conquistamos nosso lugar de autoridade. O prazer de fazer algo bem feito é algo interno, e se estiver bem sustentado não precisa mesmo de aprovação externa.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

O Tal Retorno de Saturno


Depois que nascemos os astros continuam seu caminho pelo zodíaco – sim, o céu não para porque nascemos – e vão se relacionando com eles mesmos no seu mapa natal. Quando olhamos para a relação entre os astros no céu e o mapa natal estamos vendo os trânsitos pelo seu mapa. Cada um a seu tempo, os astros estarão dando a volta completa por seu mapa e voltando a passar pelo mesmo lugar de quando você nasceu. A Lua, por exemplo, demora 28 dias para dar a volta completa por todo o zodíaco, e assim, depois que nascemos, a cada 28 dias temos um “Retorno da Lua”, ou seja, a cada 28 dias a Lua volta a estar no mesmo lugar que estava quando você nasceu, reforçando sua consciência desse astro. Chamamos isso de ciclo. Existem ciclos muito rápidos, como esse da Lua, que nem nos damos conta, e ciclos tão grandes que não conseguiremos viver o suficiente para acompanhá-lo inteiro, como o de Plutão que é de 248 anos.

Os ciclos astrológicos acompanham os ciclos humanos, e vemos que há uma correspondência entre as fases que vivemos e a relação que os planetas fazem com eles mesmos no mapa. Por isso temos como estar relacionando as nossas idades com fases de desenvolvimento especificas, e podemos dizer que com tantos anos a pessoa está experimentando um processo ligado a tais planetas.

O ciclo de Saturno, com a seriedade e necessidade de autoconhecimento que o caracteriza, é especialmente marcante. Como um verdadeiro mestre, Saturno vai passando pelas varias áreas de nossa vida e nos perguntando do que somos feitos e quão dispostos estamos a fazer o que devemos fazer para ser quem somos. Esse planeta está especialmente ligado àquilo que temos que fazer para realizar nossa vida concretamente. Esse é o estruturador de nossa personalidade, e prestar atenção em seu movimento em nosso mapa ajuda a ver onde precisamos trabalhar para desenvolver uma base firme na nossa existência de maneira realista. Desde que nascemos, a cada 7 anos, o Saturno no céu faz um contato desafiador com ele mesmo no nosso mapa. Segundo Rudolf Steiner, aos 7 anos começamos a ter consciência grupal, aos 14 completamos nossa consciência moral, aos 21 estamos prontos para assumir a nossa responsabilidade frente à sociedade. Entre os 28 e 30 anos passamos pelo Retorno de Saturno, que é quando temos que enfrentar nossos temores para nos tornarmos adultos, e é uma fase conhecida popularmente como crise dos 30.

Uma história vinda do oriente ilustra bem o significado desse retorno saturnino:
Em um reino distante da Arábia, o jovem príncipe havia terminado sua formação para se tornar rei e seu pai o chamou no dia de seu aniversário. Disse que agora que ele estava pronto, precisava passar por um teste de coragem que todos os homens da família passavam antes de poder governar: ele deveria matar o Leão que habitava o fundo de uma caverna na floresta, armado com apenas um pequeno punhal ritual. O príncipe passa a noite em claro, assustado com a idéia de ter que enfrentar aquela fera com apenas uma faquinha de brinquedo, e resolve fugir, pois melhor um covarde vivo do que um herói morto. Depois de cavalgar muitos dias, ele chega ao reino vizinho e pede abrigo. O rei daquele reino o recebe muito bem e ele fica vivendo por ali, ajudando o senhor do lugar em algumas tarefas e ganhando a sua confiança e carinho. O rei, então, lhe oferece a mão de sua filha em casamento para que ele permanecesse ali e o sucedesse no trono. O príncipe adorou a idéia e aceitou na hora. Ele só teria que passar por uma prova de coragem, matando um leão com um punhal ritual que era ainda menor do que aquela de seu pai. O príncipe finge aceitar e durante a madrugada foge novamente, pois não havia desistido de seu reino para morrer em outro, por mais linda que fosse a princesa. Depois de cavalgar a vários dias ele acaba entrando no deserto. Sua água estava no fim quando ele finalmente encontra uma grande tribo nômade e pede abrigo. O chefe da tribo o recebe muito bem e acaba adotando-o entre seus guerreiros. O jovem príncipe estava começando a se adaptar à nova vida e a pensar que essa poderia ser uma boa maneira de continuar seus dias, quando o chefe nômade o chama e diz que gostaria muito que ele continuasse com os seus, mas para isso ele deveria passar por um teste de coragem, matando o leão do deserto com as mãos nuas. O príncipe agradece a honra, mas diz que está na hora de voltar para o seu reino. Ele percebe que não há como fugir dessa prova de coragem, por mais longe que ele vá, então, se é para morrer, que seja em seu próprio reino, onde será enterrado com seus antepassados. Na volta para casa ele vai pensando em todas as desculpas que precisaria prestar a seu pai e uma imensa vergonha toma conta de sua alma. Ao chegar, porém, seu pai o recebe com festas, e quando ele começa a falar as desculpas ensaiadas, o rei o interrompe para dizer que todos os homens da família também passaram por essa vontade de desistir, e o importante era que ele havia voltado e estava pronto para a prova de coragem. No dia seguinte ele recebe o punhal e parte para a floresta. Ao chegar à caverna a fera avança em sua direção e... Começa a lamber seu rosto: o leão era manso como um gatinho.

O Retorno de Saturno é o momento em que precisamos desistir de fugir das feras que temos que enfrentar, aceitando a responsabilidade por nós mesmos e assumindo aquilo que queremos ser na vida sem negar nossos medos e vergonhas. As dificuldades para conseguir aquilo que queremos são muito mais internas que externas, e é se entendendo e se experimentando que nos tornamos mais maduros e sábios. Só assim podemos assumir o governo de nossa própria vida, e teremos passado pelo teste de Saturno. E acredite, o bicho é realmente mais manso do que imaginamos.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Astrologia de Boteco Sério - Encontre seu Saturno e Veja Onde o Calo Aperta


Com Saturno fica difícil fazer algo leve de manual astrológico. Geralmente temos uma relação de admiração e repulsa pelo signo onde esse deus faz morada, e é normal nos vermos cercados por símbolos desse lugar. Assim como o Sol traz aquilo que estaremos desenvolvendo toda a nossa vida na busca de nossa criatividade e individualidade, onde temos Saturno precisaremos estar sempre conquistando e aperfeiçoando aquela esfera para que nos tornemos mestres e façamos nossa parte na construção do mundo. Aqui também vale a correspondência signo/casa, ou seja, se você tem Saturno no ascendente, dê uma lida em Saturno em Áries, se na casa dois, em Touro, na três em Gêmeos, etc.

Saturno em Áries
É fácil entender porque Saturno está em queda em Áries: aqui temos o encontro do princípio da impulsividade e da força da vontade contida pelo planeta da disciplina e do auto controle. O mais comum é que se tenha medo de se expressar espontaneamente, muitas vezes por conta de uma educação onde se teve que reprimir os impulsos mais agressivos e individualistas. Isso irá prejudicar o desenvolvimento de uma auto-afirmação positiva, que se tenta compensar controlando o ambiente. Quando tomamos consciência das exigências de nosso Saturno nossa primeira reação costuma ser a de tentarmos fugir, às vezes evitando-o ou tentando ignorar as limitações que ele nos impõe, fingindo - para nós e para os outros - que somos super resolvidos naquelas questões. Com o Saturno em Áries a pessoa pode desenvolver uma timidez e um constrangimento tenso ou parecer ser super decidido para tentar assumir o controle da situação. Seja qual for a saída que se cria, o que acontece na verdade é uma grande dificuldade em experimentar sentimentos de plenitude com a vida pois se tem bem pouco fé na própria iniciativa e na capacidade de conquistar o que se quer. A solução de Saturno está sempre dentro, nunca fora. Quando se percebe isso e se busca as verdadeiras motivações da própria vontade, sem fugir das situações que exigem força ou confrontação direta, então é possível entender que o poder da vontade cresce na proporção do autoconhecimento. Quando há maior grau de integração interna e se assume as verdadeiras energias que vêm do íntimo, então entendemos que Saturno almejava em Áries uma busca consciente de um pedaço bem maior da vida a que se tem direito, e isso não é possível seguindo impulsos superficiais e inconscientes.

Saturno em Touro
Touro é o signo que consegue entender o valor das coisas materiais, de se ter um corpo terreno e sensações físicas. O Saturno taurino vai querer garantir que esses valores não sejam superficiais e frutos do acaso, fazendo com que se entenda que todo e qualquer valor tangível é relativo, menos aqueles que você encontra dentro de si. A sensação de segurança que a matéria geralmente trás é dificultada com esse Saturno. A pessoa sente como se não pudesse ter essa segurança, o que pode gerar uma verdadeira fixação em acumular coisas ou um desprendimento cheio de medo por sentir que não consegue aquilo que se precisa, muitas vezes com uma aura “espiritualista” que encobre a cobiça. Há medo de se responsabilizar pelos próprios valores e uma desconfiança dos sentidos físicos, como se houvesse um vazio que nunca pode ser preenchido, pois há sempre a consciência de que nada é para sempre e há muita dor em se perder aquilo que se possui. De alguma maneira a pessoa cresceu em uma ambiente em que não foi possível desenvolver um senso de valor pessoal, interior e individual. Depois de passar um bom tempo buscando esses valores fora de si, a frustração por não conseguir esse sentido de segurança deve fazer com que se comece a buscar internamente. Só quando a pessoa passa a ver esses seus medos e angustias de forma mais profunda e é obrigada a encarar os labirintos dos seus desejos, percebe que os valores que procura nada tem a ver com objetos, mas sim com um valor central e inalterado que existe dentro dele, cuja definição não pode ser formulada, mas cuja realidade - para quem a experimentou subjetivamente - não pode ser questionada.

Saturno em Gêmeos
Associamos Gêmeos à esfera intelectual, à comunicação e ao movimento, à curiosidade a respeito da vida. A comunicação, é a forma com que os seres humanos têm para que o conhecimento entre e saia das pessoas, e assim novas caras possam ser dadas a velhos elementos. O Saturno geminiano tende a bloquear esse processo respiratório de inspirar e expirar, produzindo tensão na comunicação mais desembaraçada através do medo àquilo que é novo, inexplorado e irracional, fazendo com que a mente não consiga alçar vôo por causa de uma grande exigência de se pensar e comunicar “corretamente”, de maneira segura. É comum encontrar pessoas com asma ou gagueira quando se tem esse posicionamento saturnino, geralmente associado a um ambiente de infância onde se sentia julgado como estúpida, onde havia muitas críticas pelo que se dizia ou então porque se era muito falante ou muito calado. Seja qual for o fato que gerou a frustração da mente e da comunicação, com esse posicionamento há a inevitável sensação de isolamento por que a mente é profunda e séria, e, por isso, há enorme medo de ser humilhado e parecer estúpido e tolo para os outros. Como todo Saturno, a pessoa pode se manifestar tanto com o sentimento de insuficiência da capacidade mental, como um intelectual reconhecido que não admite nada de intuitivo. A briga aqui é por que Saturno exige de Gêmeos que a informação seja concreta e verdadeira, e a mente não tem como fazer essa separação espontaneamente, pois está sempre aberta, captando milhões de bits de informação por segundo sem se dar conta. Aqui o mais normal é que a pessoa se torne silenciosa e taciturna, mas o tipo compensatório, que fala pelos cotovelos sem comunicar nada de significativo, também é encontrado. Se analisarmos esse posicionamento a partir do ponto de vista da oportunidade oferecida, veremos que o sentimento de isolamento e a impaciência diante das idéias e atitudes superficiais e inconseqüentes podem se transformar numa busca interior da verdade. Forçado pelos temores e pelas circunstâncias, a pessoa é impelida a voltar-se para o íntimo e procurar a razão das coisas explorando a estrutura e os significados delas. Saturno só se torna dogmático quando a pessoa tem medo do desconhecido e de sua própria falta de conhecimento e treino intelectual, pois aquele que aceitou seu aparente isolamento diante da contribuição mais significativa que pode prestar à esfera do conhecimento, percebe que o saber deve ser adquirido por meio da experiência e observação pessoal, ao passo que o treinamento deve ser oferecido pela vida.

Saturno em Câncer
Os símbolos ligados a Câncer giram em torno das imagens de família, das raízes, do sentimento íntimo de pertencimento que cria segurança e estabilidade emocional. E adivinhe o que Saturno vai tirar para obrigar a pessoa a olhar mais profundamente essas questões? Quem adivinhar ganha um ano gratuito de terapia. A sensação de proteção que uma criança em desenvolvimento necessita como base sobre a qual construirá o ego em evolução, é negada ou frustrada, bloqueando a expressão natural do sentimento que se apóia no senso de união com um grupo básico, principalmente com os pais. Um Saturno combinado com elementos lunares costuma ser particularmente doloroso, pois ele se manifesta quanto não se tem idade suficiente para usar a consciência e a racionalidade para amparar as experiências vividas. A deformação que isso proporciona, enquanto não é bem compreendida, faz com que a pessoa fique desconfiada de qualquer vínculo emocional, em particular aquelas que giram em torno de situações domésticas, ao mesmo tempo que cria um desejo ardente de alguma coisa segura, permanente e tangível na vida afetiva. O mais comum é que a pessoa se torne ou muito apegado à família e ao lugar em que nasceu, ou odeie os familiares e se mostre frio e calculista com relação às suas mágoas. A pessoa nunca é verdadeiramente indiferente, pois sempre faltou alguma coisa muito importante para seu desenvolvimento emocional e toda a estrutura psíquica teve que se desenvolver pendendo para um lado a fim de compensar essa falta e garantir a sobrevivência do indivíduo. Saturno obriga a pessoa a criar aquilo que está faltando se quiser um pouco de paz, e aqui se consegue isso afastando-se, gradual e conscientemente, da identificação afetiva com o mundo externo, e – sim, de novo! - encontrando sua verdadeira realidade em seu íntimo, como uma parte de sua própria psique. Assim, é oferecida à pessoa a oportunidade de construir, depois de muito trabalho interno, uma sólida estrutura psíquica, impossível de ser abalada pelas circunstâncias, que possibilitam o sentimento interior de segurança e auto-aceitação verdadeiras.

Saturno em Leão
O solar Leão traz a expressão individual da personalidade, e Saturno aqui vai questionar a capacidade de auto-expressão criativa da pessoa construindo um muro entre a pessoa e sua compreensão de si, enchendo sua consciência de todos os atributos sombrios que estiverem disponíveis na psique e que a pessoa fica tentando esconder desesperadamente. É comum certo ressentimento por sentir que o mundo e as pessoas à sua volta não dão o retorno esperado quando se mostra a própria capacidade criativa. Na verdade há um sentimento profundo de incapacidade que impede que se perceba que todo esse trabalho e cansaço para se mostrar competente não tem nada a ver com o mundo externo. O sentimento de falta de aceitação ou de incentivo para as próprias criações no ambiente em que foi criado costumam acompanhar esse Saturno leonino, criando dificuldade para que se encontre entre as próprias criações. Esses intensos sentimentos de incapacidade e insignificância não têm nada a ver com a quantidade de dotes e habilidades da pessoa, mas acabam gerando dificuldades em assumir a responsabilidade pelas próprias criações. A pior conseqüência disso costuma ser a auto negação ao amor, por ter dificuldades em amar a si mesmo e porque acredita que os outros o julgam indigno de ser amado. Claro que na luta para esconder esses sentimentos de inferioridade a pessoa acaba se envenenando mais ainda com rancores e invejas, e assim acaba assegurando a rejeição dos outros e confirmando suas idéias a respeito de si mesma. Assim realmente fica difícil relaxar e criar um clima de romance. Encontrar o centro interior e se identificar acima de tudo com ele são coisas complicadas, principalmente quando se tem que escapar das armadilhas da popularidade fácil. O objetivo de Saturno aqui é que a experiência da dor e da frustração de sua criatividade faça com que a pessoa desvie o foco de sua personalidade de ego para esse eu interno mais significativo. Só assim se será capaz de recapturar aquela alegria ingênua da criança, que confia na vida através da experiência direta de amor do Universo. Uma vez que tenha encontrado o segredo da própria identidade, o indivíduo jamais tornará a perdê-lo, fazendo com que a sua integridade e vivacidade naturais se transformem em sua expressão permanente, independente dos outros o identificarem ou não. Normalmente a pessoa é levada a procurar-se dentro de si após experiências dolorosas porque já não dispõe de qualquer outro caminho. Quando se percebe que foi a própria pessoa que criou essa situação, ela poderá reconhecer o propósito oculto de sabedoria que há por trás desses desapontamentos e aceitá-los, podendo usufruir plenamente da vida e da própria capacidade amorosa.

Saturno em Virgem
Virgem simboliza a busca de síntese entre o corpo e a alma de modo a criar uma consciência autônoma capaz de ser útil à sociedade. Por isso os processos de purificação e classificação são elaborados nesse signo, de modo a que as coisas úteis ganhem destaque. O Saturno em Virgem vai se entranhar nos mistérios da interligação entre mente e corpo de uma maneira que a pessoa se sente incapaz de realizar esse equilíbrio interior de maneira natural. Há uma sensação de inadequação física e uma ansiedade com relação à desintegração tanto do corpo quanto da mente. A doença, em particular, será uma fonte de preocupações e frustrações, sendo que a pessoa pode tanto se tornar hipocondríaca quanto perigosamente displicente com a própria saúde, fingindo que não dá importância ao corpo. Esse sentimento de inadequação muitas vezes fará com que se submeta de maneira subserviente a tarefas que estão abaixo de sua capacidade por não querer arriscar-se a assumir a responsabilidade por seu auto aperfeiçoamento. O mais comum é que a pessoa passe muito tempo culpando os outros e o mundo por situações de limitação que vive por não ter podido aprender no ambiente familiar o valor da autonomia e da integração de si para ser útil ao mundo. O sentimento de ser inútil e ter sido prejudicada no aprendizado dos cuidados com o corpo, seja por negligência durante o crescimento, seja por algum fato isolado que marcou profundamente a pessoa, cria um medo muito grande de não ser capaz de fazer a integração corpo/psique. Quando o sofrimento das tentativas frustradas de adaptação externa faz a pessoa se voltar para dentro em busca da compreensão do significado mais profundo da organização interna e da autonomia, é possível conquistar a capacidade de conciliar os componentes em luta da sua natureza. Então ela será capaz também de encontrar a força que vem de uma vida com significado e que contribui para o aperfeiçoamento de todos à sua volta. Como diziam os alquimistas: “Nunca farás por meio dos outros o Um que procuras, a menos que primeiro seja feita uma coisa única de ti mesmo”.

Saturno em Libra
Libra significa a nossa busca por equilíbrio com o Outro, com aquele que eu não sou e com quem escolho me unir. Não é à toa que Saturno está exaltado nesse signo, pois nada como uma boa parceria para se depositar a responsabilidade por não ser feliz. A busca do parceiro ideal e o medo de se ferir com esse Saturno geralmente atraem situações que envolvem sofrimento, isolamento, rejeição e desapontamento, até que comece a se reorientar para a busca interior em busca de integração e equilíbrio dos opostos da psique. Normalmente se tenta escapar desse “destino” amoroso evitando relacionamentos ou saindo de uma relação frustrante - onde o parceiro não compreende a pessoa, ou é muito dependente e se torna mais uma responsabilidade do que um companheiro, ou simplesmente é incompatível ou infiel - só para entrar em outra igual. Até conseguir perceber que a culpa por não se conseguir um relacionamento satisfatório não pode ser totalmente creditada às deficiências do outro, os sentimentos de isolamento e restrição, representativos de Saturno, não poderão ser apaziguados. Não é tão difícil assim entender que uma pessoa em guerra consigo mesma possa ser impelido por motivos inconscientes, dos quais não tem percepção, a escolher um parceiro que reflita essa guerra de alguma forma. O Saturno libriano busca a responsabilidade pessoal por uma união em todos os níveis, mas enquanto se evitar os perigos da dependência ou da vulnerabilidade, da exposição e do trabalho com a sombra, necessárias para um encontro real, o Outro vai servir apenas para causar sofrimento mesmo. Essa exigência saturnina pode ser particularmente depressiva por dar a impressão de algo oculto bem no fundo da psique que nunca deixará a pessoa ser feliz em seus relacionamentos. Na realidade essas experiências tentam mostrar que a pessoa nunca será feliz se basear suas uniões em valores comuns, aceitáveis socialmente e absolutamente superficiais, tais como aparência física, condição financeira ou posição social. O disfarce favorito desse Saturno é feito dando uma ênfase muito grande à estrutura formal, ao mesmo tempo que procura evitar o intercâmbio interior do qual essa estrutura formal deveria ser apenas signo. O medo de uma vida isolada e sem amor costuma ser profundo com esse Saturno, até que se perceba que o papel de mártir que está representando tem muito mais a ver com não dar nada sem uma expectativa absurda de receber de volta, do que com as ações do parceiro. Saturno obriga à percepção de que o Outro pode ser tanto fonte de sofrimento quanto de crescimento mútuo, e essa escolha é livre para a pessoa, mas antes ela tem que perceber que existe uma escolha.

Saturno em Escorpião
Quando Saturno adentra aos reinos profundos de Escorpião a responsabilidade pelas próprias emoções não pode ser evitada. Os signos de água têm como material de trabalho o intercâmbio emocional, e o Saturno escorpiniano vai gerar um grande medo da intimidade e da troca mais profunda por conta da frustração e da dor que o encontro de almas pode gerar. O planeta da disciplina e do autocontrole quando se aloja em Escorpião costuma estar conectado a feridas muito profundas, impossíveis de ser superadas sem um trabalho consciente através das lembranças mais difíceis de infância. É comum histórias doloridas, onde se cresce em ambientes muito agressivos ou frios e com segredos sombrios, e a pessoa aprende que a intimidade e a vulnerabilidade afetiva podem ser perigosas. Com isso se cria um sentimento de isolamento ligado à percepção de que ninguém pode compartilhar ou aliviar as dores das feridas. Questões sexuais podem ser evitadas através de um celibato rancoroso ou então a pessoa até consegue se apaixonar no início para depois ficar assustada e arisca na hora de maior intimidade. A morte também costuma ser algo com tanto fascínio quanto horror, o que também gera bastante instabilidade emocional. Há uma percepção da necessidade de uma união do tipo muito mais intensa e transformadora do que o normal, e Saturno irá garantir que a pessoa aprenda a construir isso sozinha, pois a transformação e ressurreição em uma consciência maior, fruto de um profundo conhecimento e interação do inconsciente, só podem vir do interior. Quando consegue isso, o indivíduo se torna possuidor dos segredos dos poderes mais profundos do inconsciente, que são, literalmente, vivificantes para a própria cura e para a cura do outro.


Saturno em Sagitário
A força de expansão em direção da nossa verdade divina, característica de Sagitário, irá ser posta em cheque quando Saturno se aloja nesse signo. A intuição e a percepção da vida, que cria a filosofia e a religião e faz com que se encontre significado na própria existência, fica restrito de modo a tornar essas questões muito frustrantes. Aprende-se desde tenra idade o quão penoso pode ser acreditar na interpretação de outras pessoas sobre a vida, a justiça e as questões da existência, se tornando desconfiado com relação a qualquer autoridade, temporal ou espiritual. Pode-se reagir, então, construindo uma barreira de ceticismo e cinismo quando se trata dessas questões ou super compensar pulando de uma religião ou filosofia para outra na tentativa de preencher esse vazio, apenas para cair em frustração e dor existencial novamente. Depois de superado esse primeiro estágio de desilusão e de reconstrução relacionado a Saturno, se a pessoa insiste em seu progresso, o desenvolvimento de sua intuição dentro do mundo dos significados garantirá uma autoridade muito mais direta e real: ela mesma. Com freqüência encontramos em um Saturno sagitariano uma mente profunda e penetrante, mas isso só é conseguido de maneira indireta, depois de se ter experimentado os opostos de absoluta credulidade e medo e absoluta falta de fé e isolamento, pois só aí Saturno vai libertar a pessoa dos efeitos sobre sua mente. O indivíduo realmente tem a possibilidade de encontrar respostas muito valiosas para perguntas muito amplas, mas deve fazer isso por si mesmo, sem a menor ajuda. Com um Saturno desses é possível descobrir que se é seu próprio sacerdote e salvador, pois não será tolerada a autoridade de nenhuma outra pessoa, e o indivíduo terá que encontrar seus valores éticos e morais em seu interior. Nessa luta entre o vazio sem propósito, que significa o abandono de todos os sonhos, e a busca incessante por qualquer coisa que simbolize autoridade moral, Saturno possibilita o encontro de uma liberdade única e profunda, cuja mais clara manifestação é a alegria de viver em toda e qualquer circunstancia.


Saturno em Capricórnio
Capricórnio é o signo da escalada lenta e gradual rumo à maestria que pode iluminar a toda a sociedade, e claro que um Saturno em casa vai deitar e rolar. Qualquer planeta em Capricórnio busca informações a respeito da sua manifestação na sociedade que se faz parte, e Saturno aqui faz com se fique muito sensível a como se aparece para o grupo e qual o propósito social da própria existência. Assumir a responsabilidade das escolhas de vida é muito importante para esse Saturno, mas o medo de inadequação e de ser dominado pelo ambiente costuma fazer com que se abra mão da autodeterminação e se passe a buscar segurança em estruturas externas de sucesso que nunca serão satisfatórias. Há também quem projete a própria ambição no mundo e nos outros na tentativa de se desviar das dores que envolvem essa busca de propósito. Claro que isso só cria mais frustração e limitação para a própria vida até que se perceba a necessidade de desenvolver internamente um senso de importância que leve em conta as necessidades mais profundos daquela sociedade. Em algum momento da formação da personalidade a figura de autoridade foi uma decepção ou um peso, criando um vazio e uma dor com respeito ao rumo que se deve tomar na vida. Esse Saturno vai criar um verdadeiro pavor de humilhação pública, fazendo a pessoa fugir da publicidade, ao mesmo tempo que sente um desejo igualmente forte de se colocar em evidência. Por isso será difícil trabalhar sobre as ordens dos outros, pois a própria ambição e a busca por sucesso fará com que se aja por conta própria mesmo quando se tem que submeter hipocritamente. Quando se vê tudo de maneira mais ampla, notamos que a sensibilidade, o constrangimento, a atenção dada à apreciação pública e o esforço constante para demonstrar utilidade e valor através do progresso profissional podem conspirar para prepararem o indivíduo a lidar com a grande responsabilidade que é ter autoridade sobre os outros. O trabalho do Saturno em Capricórnio consiste em dar estrutura e forma a alguma necessidade de mudança do grupo e se o indivíduo com esse posicionamento se recusa a aceitar essa oferta e tenta realizar sua tarefa por meio dos outros, se verá obrigado a aceitar o preço da frustração e da sensação de inutilidade. Se aceitar o desafio do seu eu interior, porém, ele poderá vir a ser o próprio Saturno, o mestre, em sua forma mais benéfica.

Saturno em Aquário
Aquário é o símbolo da consciência grupal em busca de aprimoramento e entender nosso papel nesse desenvolvimento nem sempre é fácil. Pois o Saturno aquariano costuma dificultar mais ainda essa integração na família humana. Uma das sensações mais comuns é a de isolamento quando se trata de grupos, e na maioria das vezes a pessoa se sente como uma intrusa. Saturno dificulta as interações superficiais e faz com que a pessoa se isole de todos ou então tente compensar sua inaptidão social sendo super popular mesmo que isso lhe custe ter que violentar seus sentimentos. Saturno tem uma inimizade crônica à superficialidade, e pode ser bem difícil para uma pessoa com Saturno aquariano simplesmente sentar com os amigos para beber e falar bobagem. A pessoa geralmente sente como dolorosamente difícil expressar suas qualidades comuns, sendo que são essas qualidades comuns, essa mistura com o grupo, o que mais se deseja. Só o mergulho para dentro exigida por Saturno pode trazer à tona uma visão ampla de unidade humana e para isso a pessoa tem que desenvolver uma lenta e gradual compreensão que distingue a verdadeira mente progressiva. Se a pessoa se deixa dominar pelo medo de rejeição nunca encontrará solução para seu isolamento, pois alguém que sente tal desconfiança dos outros, está “destinada” a atrair em troca algo muito semelhante da parte de seus companheiros. Se ela, porém, investigar com cuidado os valores que unem a humanidade e desenvolver um interesse abrangente e verdadeiro com relação ao Homem, enfrentando o desafio de encontrar uma expressão significativa para os anseios humanos, então ela poderá construir uma integração profunda e inabalável de si na interação com as pessoas. Com Saturno não existe uma segunda escolha e, quando há esse posicionamento, o senso de compromisso com o grupo e de participação da vida comunitária deve ser real.

Saturno em Peixes
Saturno em Peixes é como se a pessoa estivesse no meio do sonho de Santo Agostinho tentando enfiar o oceano em um buraco feito na praia. Peixes é o último signo da roda zodiacal, onde se busca a síntese de todas as emoções humanas, o que significa o sacrifício da individualidade em nome de algo muito maior do que nossa capacidade de compreensão racional. As energias saturninas geralmente são inicialmente impregnadas de um sentido de autoproteção e de defesa contra o ambiente, o que no reino de Netuno torna-se inútil. Isso gera medo e o sentimento vago de um destino ou fado que vem para destruir a pessoa. Então entram em cena os companheiros saturninos de busca de proteção do contato com os outros ao mesmo tempo que se sente esmagado por uma solidão opressiva e pela sensação de incapacidade. O mais comum com esse Saturno pisciano é que se decida cuidar do sofrimento dos outros em detrimento do próprio desenvolvimento, ou então se afastar assustado de qualquer pessoa que precise dele por causa de um apego à própria identidade e individualidade, que parecem poder sumir de uma hora para outra. Esse Saturno faz com a pessoa se sinta indefesa frente a si mesma. A psicologia mais ortodoxa costuma dar conta de um Saturno em Câncer e em Escorpião, mas quando chegamos a Peixes é preciso reconhecer a busca por evolução e significado espiritual da vida como um instinto essencial da psique humana. Apesar da aceitação cada vez maior disso, o verdadeiro potencial saturnino em Peixes parece que, atualmente, está ao alcance somente daqueles que têm uma disposição mística de tentar o caminho da contemplação interior, pois aqui nosso poder de análise pode muito pouco. É preciso entender de uma maneira profunda que o poder de ser útil não tem nada a ver com ser “bonzinho”, mas sim com experimentar a sensação de união procurada pelo místico e o sentimento de responsabilidade e amor imparcial que acompanham essa união. Essa idéia não agrada pessoas mais mundanas e pode até ofender astrólogos mais pragmáticos; mas o fato que permanece é que Peixes, assim como a natureza humana, ainda não foi suficientemente compreendida. Para o indivíduo com um Saturno pisciano, porém, é bom reconhecer que suas possibilidades de paz interior, compreensão e sabedoria são tão grandes quanto suas possibilidades em termos de sofrimento, bastando apenas que ele se volte para seu íntimo, para o reino dos sentimentos e do inconsciente.