quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Lilith, a Lua Negra


“Então Deus disse: ‘Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Que ele reine sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos e sobre toda a terra (...)’. Deus criou o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a mulher. (...) E assim se fez. Deus contemplou toda a sua obra, e viu que tudo era muito bom”.

Gênese 1 – 26.31




E enquanto Deus descansava de seu grande trabalho de criar o mundo, Adão só queria fazer sexo papai/mamãe e a primeira mulher se revoltou com essa falta de criatividade. Segundo o Alfabeto de Ben-Sira (600 – 1000 d.C.), que encontrei na Wikipédia, Adão e Lilith começaram a brigar e Lilith disse: "’Por que devo deitar-me embaixo de ti? Por que devo abrir-me sob teu corpo? Por que ser dominada por ti? Contudo, eu também fui feita de pó e por isso sou tua igual.’ Quando reclamou de sua condição a Deus, Adão retrucou: ’Eu não vou me deitar abaixo de você, apenas por cima. Pois você está apta apenas para estar na posição inferior, enquanto eu sou um ser superior.’  Lilith respondeu: ‘Nós somos iguais um ao outro, considerando que ambos fomos criados a partir da terra’. Mas eles não deram ouvido um ao outro. Quando Lilith percebeu isso, ela pronunciou o Nome Inefável (que é o nome de Deus) e voou para o ar. Adão permaneceu em oração diante do seu Criador: ‘Soberano do universo! A mulher que você me deu fugiu!’. Ao mesmo tempo Deus enviou três anjos para trazê-la de volta.”

A lenda continua dizendo que quando os anjos a encontram, Lilith se nega a voltar para Adão, e então esses seres sensíveis como um bando de rinocerontes sem Rivotril a ameaçam de afogamento se ela não obedecer. A Lei Maria da Penha ainda não tinha sido aprovada no tribunal divino, pelo jeito. Ainda por cima rogam a praga de que ela irá perder cem filhos por dia, o que a transforma em uma ameaça para recém-nascidos. Aí ela se alia aos anjos caídos e se transforma em demônio. Pois comecei a pensar em escrever sobre a Lilith enquanto acompanhava as várias “Marchas das Vadias” e “Marchas pela Humanização do Parto” pelo Brasil e sempre me vinha imagem de um monte de Liliths dizendo “eu também fui feita de pó e por isso sou tua igual”.

Vamos olhar algumas imagens que peguei nas páginas do Facebook da Marcha das Vadias de Brasília e da Marcha do Parto em Casa antes de falarmos da Lua Negra e sua equipe de 
demônios:













E aqui algumas campanhas desses dois grupos







Lilith é aquele aspecto humano (sim, de homens e mulheres), que não pode obedecer aos mandatos da cultura vigente que signifiquem injustiça ou opressão, mesmo que esses mandatos venham com rótulos de virtude ou civilidade. Na Cabala, (Patai 81: 455f) ela é referida como a serpente que levou Eva a comer o fruto proibido e alguns filósofos, a partir do Romantismo, utilizaram a metáfora de Adão e Eva comendo do fruto da Árvore do Bem e do Mal para falar do inicio da vida consciente do Ser Humano. Nesse sentido é que a Lilith em nosso mapa nos obriga a uma maior consciência sobre o Bem e o Mal, pois é um ponto onde não podemos nos acomodar ao status quo, onde um instinto mais forte de vida tem lugar, onde existe a crença de que acomodar-se é igual a se deixar afogar, e a única maneira de se lidar com isso é através da consciência do que é marginalizado em nós.

O encontro desse ponto orbital demorou muito tempo, assim como a nova consciência que Lilith nos traz demorou em ser aceita nas nossas psiques.  Os primeiros registros astronômicos que falam de Lilith apareceram na mesma época em que Netuno foi avistado, em 1846, e compartilha com ele, além de muita confusão, esse lugar misterioso e cheio de ilusões. Frederic Petit, diretor do observatório de Toulouse, na França, anuncia nesse ano a descoberta de uma segunda lua da Terra, podendo inclusive calcular sua órbita. Muitos profissionais e amadores passaram a olhar para o céu em busca desse segundo satélite da Terra. Os relatos dessa segunda lua falavam de um corpo nebuloso ou nuvem de poeira, difícil de identificar, somente podendo ser observada nas noites de Lua Nova e em posição diretamente oposta ao Sol. Em 1898, o Doutor George Waltemath, de Hamburgo, comunicou ter descoberto um sistema de pequenas luas da Terra, fornecendo elementos orbitais de uma delas, predizendo que passaria em frente ao Sol em fevereiro de 1898. Em 1918, Sepharial, um astrólogo de renome, começa a fazer investigações a respeito dessa lua de Waltemath, chamando esse satélite hipotético de Lua Negra ou Lilith, interpretando-a como um satélite escuro, obstrutivo e fatal, abrindo um novo campo de pesquisa para os astrólogos. Com os elementos orbitais de Waltermath, calculou suas efemérides para uso astrológico. Quando os primeiros satélites artificiais foram lançados em 1957 e 1958, porém, se verificou que aquilo que se consideravam luas terrestres, na verdade, eram meteoroides que tocam a atmosfera superior e perdem velocidade, fazendo com que alguns deles entrem em órbita, com um número de revoluções entre uma e cem, por um máximo de tempo de 150 horas. É possível que aquilo que Petit e Waltermath avistaram se referisse a um desses satélites efêmeros (obrigada Dani Rossi).

Mas antes mesmo dos satélites artificiais acabarem com a ilusão de outra lua orbitando nosso planeta, os astrólogos começaram a pesquisar a Lua Negra através do apogeu lunar, conforme proposto por Don Néroman, fundador do Collège Astrologique de France em 1933 - mesma época em que Plutão foi descoberto -, e que usamos até hoje.

Vamos entender o que é esse apogeu lunar, então: a Lua descreve uma trajetória elíptica ao redor da Terra, assim como os planetas ao redor do Sol. Como a elipse possui dois pontos focais, a órbita lunar é uma elipse que tem um dos focos no centro da Terra; e o foco vazio, que coincide com o apogeu lunar verdadeiro, é a Lua Negra ou Lilith, conforme esse conceito de Néroman. A projeção do apogeu da Lua no zodíaco (Lilith) desloca-se 6 minutos e 30 segundos por dia, 40 graus ao ano, percorrendo um signo zodiacal a cada 9 meses e levando 3.232 dias para dar uma volta completa no zodíaco, aproximadamente, 9 anos.


Como Plutão e Lilith foram descobertos na mesma época, alguns astrólogos acham que a Lua Negra é a contraparte feminina de Plutão, mas a Lua Negra parece trazer para nós a distorção das forças de todos os astros: egocentrismo (Sol), mágoas (Lua), dissimulação (Mercúrio), luxúria (Vênus), agressividade (Marte), exagero (Júpiter), rigidez (Saturno), rebeldia (Urano), ilusão (Netuno), sede de poder (Plutão). Um verdadeiro instrumentum diaboli essa menina, não? Na prática o que observamos é que todas as distorções que não conseguimos aceitar e elaborar conscientemente nas áreas em que atuam os outros astros irão se manifestar no ponto onde encontramos nossa Lilith, principalmente do regente do signo em que ela está. Isso pode ser tão perturbador quanto um sonho erótico para um celibatário, pois obriga a um questionamento a respeito de quão dignos somos de nossas escolhas conscientes.

A Lua visível e a Lua Negra estão diretamente conectadas, assim como Lilith e Eva. A Lua precisa do princípio masculino representado pelo Sol para ser vista, assim como Eva precisou da costela de Adão para vir ao mundo. A Lua em nosso mapa representa exatamente a nossa importantíssima capacidade de adaptação ao mundo, de criar vínculos afetivos e a possibilidade de segurança emocional nessa vida. Nosso satélite se associa à imagem da Mãe exatamente porque representa a parte receptiva do processo criativo, que precisa desenvolver cuidado e confiança na Vida para que o novo possa amadurecer e vir ao mundo. Mas quando nossa receptividade lunar, que se entrega ao princípio ativo com confiança e alegria, se distorce em medo, paralisia, estagnação, vício e dependência, teremos problemas sérios. É então que precisamos reverenciar nossa Lilith, mesmo que nos pareça um impulso demasiado primitivo e incivilizado. Não para tornarmo-nos histéricos malucos que saem matando e vampirizando, além de comer criancinhas, como falam algumas lendas que demonizam Lilith, mas porque, como nos ensina o Guia do Pathwork, “todos precisam fazer contato com a sua crueldade, brutalidade, sadismo, sede de vingança e malícia oculta para aprender realmente a superar essas emoções destrutivas, vendo-as, entendendo-as e aceitando-as. Só então podem convencer-se genuinamente de que não há necessidade da destrutividade. Enquanto a destrutividade não é encarada, fica faltando essa convicção e ela é contida principalmente por se temer a retribuição e outras consequências. Somente quando se tem a coragem e honestidade de ver e aceitar totalmente as emoções e desejos danosos do interior, apenas quando estes são completamente compreendidos e avaliados é que se pode ver, sem sombra de dúvida, que eles são supérfluos como defesas e que não servem a nenhum outro propósito.” (PW 169). Esse é o caminho para integração de Lilith.

Quando analisamos a Lilith astrológica olhamos para um ponto totalmente insensível a vitimismo, imaturidade emocional ou sentimentalismos de novela. Aqui temos o foco vazio da órbita lunar, e por isso associado a sentimentos de falta, de perda, de ausência, de frustração, de coisas insatisfatórias que precisam ser bem compreendidas para que haja realmente integração. Quem pode nos orientar de maneira muito boa nesse caminho é Carl Gustav Jung, que possuía uma forte Lilith sagitariana em conjunção com o Meio do Céu e em oposição a Plutão. Jung diz que um dos primeiros passos rumo à individuação – processo de nos tornarmos quem somos interiormente –, de maneira geral, é o confronto com nossa Sombra, pois ao abordarmos o inconsciente a partir de nossas próprias raízes psíquicas, não vamos nos deparar com nenhuma “luz interior”, mas com uma espessa camada de conteúdos pessoais reprimidos. Isso representa, ao menos para nós criados em uma cultura ocidental, um conflito moral doloroso. Como ele mesmo relata em suas “Memórias, Sonhos e Reflexões”: “nada pode nos poupar o tormento da decisão ética. Não obstante, por mais duro que possa soar, devemos ter, em algumas circunstâncias, a liberdade de evitar o bem moral conhecido e de fazer o que é considerado mal se nossa decisão ética assim exigir.” Para isso é necessário muito autoconhecimento, que revela à pessoa o que há nela de luz e de trevas. Isso é precisamente o que as pessoas desejam evitar, pois parece melhor projetar o mal em outra pessoa, nação, religião, classe, etc. Onde temos Lilith, essa projeção traz sofrimento e exige responsabilidade, ou, como diz Marie-Louise von Franz (C. G. Jung, Seu Mito em Nossa Época): “o malfeito, pretendido ou pensado, se vingará em nossa alma: o ladrão rouba a si mesmo, o assassino mata a si próprio.”

Existem duas maneira de se representar a Lilith no mapa. O mais comum nos programas de computador é um circulo com uma lua minguante dentro, mas o mais significativo é esse:


Que mostra uma ligação muito interessante com este, de Saturno:



Tanto Lilith quanto Saturno compartilham a fama de malignos e de criadores de frustração. Para mim, Lilith tem significado muito mais como lado feminino de Saturno do que de Plutão. Para apaziguar Lilith é preciso dos mesmos recursos usados para Saturno: seriedade, responsabilidade e paciência. Assim como Saturno quando trabalhado e integrado nos traz estrutura e autoridade internas que nos permite enfrentar com maturidade as aventuras da vida, a integração de Lilith nos traz a possibilidade de experimentar por inteiro a aventura de ser vivo, de se entregar à vida com maturidade e consciência.

Desde muuuuuito tempo o prazer feminino tem sido associado a algo ruim e não civilizado, inclusive relatos médicos da Idade Média pregavam que o orgasmo feminino prejudicava a concepção de filhos. O rótulo adotado para as pessoas com doenças psicossomáticas em geral e descontroladas em particular como histéricas – do grego hysterikós, relativo ao útero – já fala o suficiente sobre isso. Lilith traz a humanização do feminino. Durante os últimos nove meses, com a passagem de Lilith pelo signo de Touro, milhares de mulheres, com o maravilhoso apoio de muitos homens, foram às ruas mostrando peitos, barrigas e pernas para exigir respeito, cuidado e responsabilidade. Essa postagem é minha pequena homenagem a elas e também uma homenagem à minha Lilith, que, assim como Saturno, tem me mostrado um caminho de integridade.

Salve Lilith! Salve Nanã, Yemanjá, Oxum e Yansã (salve Lucia Cordeiro!)! Salve Eva, Maria e Madalena! Porque Deus contemplou toda a sua obra, e viu que tudo era muito bom.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Parte da Fortuna II - A Missão


“O Reino dos céus é também semelhante a um tesouro escondido num campo. Um homem o encontra, mas o esconde de novo. E cheio de alegria, vai, vende tudo o que tem para comprar aquele campo.”
Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus – 13.44

         A primeira coisa para a qual temos que olhar quando se quer entender a nossa Fortuna, é para a fase de lunação em que nascemos, ou seja, se era Lua Nova, Cheia, Minguante ou Crescente quando chegamos. Lembrando: Lua Nova é conjunção de Sol e Lua, Lua Cheia é oposição dos Luminares, Minguante é a quadratura (distancia de 90°) que acontece antes da conjunção e a Crescente a quadratura que acontece depois.

         Se você nasceu durante uma Lua Nova, quando colocar o Sol no Ascendente, a Lua irá junto, e dependendo da exatidão da conjunção, a Roda estará em conjunção mais ou menos exata com o Ascendente, às vezes na casa 12 às vezes na casa 1. Como o Ascendente mostra a forma como chegamos ao mundo e como buscamos nossa maneira mais pessoal e subjetiva de expressão, esse Lot traz exatamente a possibilidade de se encontrar a alegria de ser quem se é. Quanto mais compreender a si mesmo e quanto mais desenvolver sua visão única do mundo, mais alegria e satisfação com a vida. Isso é resultado de uma utilização positiva da união entre Sol e Lua, onde as memórias e vínculos lunares servem para enraizar e alimentar esse Sol, que por sua vez aquece e ilumina essa Lua de modo que ela possa deixar no passado aquilo que não interessa mais no processo de desenvolvimento da pessoa. Isso significa aprender a olhar para si em vez de ficar se identificando o tempo todo de maneira subjetiva com o mundo externo, que muitas vezes é absolutamente impessoal, mas a pessoa vira e mexe reage emocionalmente como se aquilo dissesse respeito a si, como se o mundo estivesse olhando para tudo que está acontecendo dentro de sua vida. Isso pode se tornar um obstáculo para a criação de uma identidade pessoal, e geralmente é preciso um bom tanto de maturidade para começar a aproveitar esse Lot de Fortuna.

         Se você nasceu durante uma Lua Cheia, o Lot da Fortuna irá fazer conjunção com a casa 7 - mesmo estando no final da casa 6 -, criando um conflito aqui com o Ascendente que reflete o conflito entre os Luminares. As personalidades desenvolvidas através de uma Lua Cheia, em geral, sentem que têm um pé no passado e precisam corresponder àquilo que acham que as pessoas esperam delas, e um pé nas realizações presentes, naquilo que realmente querem ser e fazer da própria vida. A Parte da Fortuna na casa das associações faz com que as parcerias (afetivas, de negócios, etc.) habilitem a pessoa a resolver esse conflito interno aprendendo a dar e receber de maneira justa, pois se percebe muito claramente que o excesso de um ou do outro em qualquer parceria é destrutivo quando se busca completude. Essa parece ser a base mais importante para se ter um casamento feliz, em qualquer nível, já que o Outro não é alguém para salvar ou para ser salvo, mas alguém que realmente pode te acompanhar pelo Caminho em igualdade de condições.

         Quando se nasce durante uma Lua Minguante ou Crescente, o Lot normalmente estará no Meio do Céu ou no Fundo do Céu, fazendo conjunção com a cúspide da casa 10 ou da casa 4. Mas dependendo do processo de dominação (divisão de casas) que você utiliza, pode ser que ela esteja na casa 9 ou na casa 3, como acontece algumas vezes para quem usa o método de Placidus, que é o mais popular. De qualquer maneira, a Roda estará enquadrando com o Ascendente mesmo que o MC e o FC não o façam, e assim retomando esse conflito entre os Luminares. Personalidades “minguantes” e “crescentes” normalmente acreditam que para se relacionar afetivamente têm que abrir mão de serem quem são, ou então que têm que abrir mão de seu passado, de suas origens e mesmo de vínculos afetivos muito fortes para se desenvolverem como indivíduos. A quadratura traz um impulso muito poderoso de auto superação, e isso é possível quando a pessoa entende que seus esforços têm que ser direcionados para seu desenvolvimento e não para a tentativa de provar que se é merecedor de atenção e/ou aceitação. Quando a Parte da Fortuna aparece na casa 4, as inadequações sentidas quando se é pequeno precisam ser aceitas e usadas como força para se ser aquilo que se é, e consequentemente se encontra a aceitação da Vida como um todo exatamente como ela é. Quando a Fortuna está no MC, a autoridade que parece barrar o desenvolvimento pessoal tem que ser encarada como mestre que encaminha a pessoa obrigatoriamente para a realização dos seus potenciais únicos para se libertar. Nesse trabalho de buscar o próprio potencial apesar das tempestades que parecem impedi-lo, a Roda da Fortuna começa a girar de modo a criar na vida pessoal a abundância e satisfação por ser quem se é e realizar algo significativo com sua vida.

         E já que estamos falando de relacionamentos entre Sol e Lua, não vamos nos esquecer do Trígono, (distância de 120°) entre os Luminares, que fará a Roda da Fortuna estar nas casas 5 ou 9, que são as duas casas além do Ascendente que falam da construção da nossa personalidade. Essa relação traz também um Trígono entre o Lot da Fortuna e o Ascendente que reforça a nossa maneira de ser no mundo. A facilidade de expressão representada pelo Trígono fazem com que a Roda da Fortuna na casa 5 traga mais força para a vontade de criar e na casa 9 mais benefícios para a personalidade através de inspirações e propósito de vida. Esse posicionamento da Parte da Fortuna geralmente se associa a golpes de sorte na vida, pois o Trígono nos mostra circunstâncias que muitas vezes estão em um nível inconsciente, mas que a pessoa aceita e colabora, pois não tem necessidade de controle e confia na vida. Fica mais fácil mesmo quando conseguimos ver  um propósito para nossa vontade e inspiração de modo a sustentar nossa vida e alimentar nossa personalidade. Esse Lot traz alegria e satisfação para o desenvolvimento de nossa vontade interior e para aprender as lições que a vida traz.

Agora vamos abrir o Boteco e dar uma passada na Parte da Fortuna através dos Signos. Lembrando que aqui vão apenas algumas imagens e dicas básicas para você pensar sobre o Lot que a Fortuna te reserva, ok? Para entender a casa onde está sua Fortuna, vale buscar a analogia entre signo e casa, ou seja, se seu Lot está na casa 2, dê uma lida em Touro, se na 3 em Gêmeos, etc., que sempre trazem algumas luzes para compreender a área de atuação desse ponto do mapa.

Lot em Áries
Esse é um Lot cheio de energia vital, e quando se conecta a ele, a pessoa é capaz de enfrentar e vencer os obstáculos que aparecem na sua frente se divertindo no processo. O problema aqui é conseguir focar sua energia em metas pessoais e ter independência com relação à opinião e às dificuldades dos outros. É comum a pessoa ter empatia com relação àqueles que não conseguem tomar decisões e agir, além de perceber com clareza quando os outros estão sendo insinceros por medo, e querer ajudar, o que só o desvia do caminho. Quando a pessoa consegue acreditar no valor dos próprios desejos de realização, é possível se libertar da influência das vidas das pessoas que lhe são próximas, criando uma unidade entre sua mente e sua vontade. Quanto mais fluir em direção a essa meta, mais satisfação com a vida pode trazer essa Parte da Fortuna.

Lot em Touro
A Fortuna taurina é baseada na habilidade em sustentar e desenvolver a substância da vida em algo sólido e duradouro seja em suas conquistas materiais seja nas afetivas. Para isso é preciso usar a consciência de que a vida em si tem uma imprevisibilidade e instabilidade inerente, e que há coisas que devem morrer para serem transformadas. Só assim é possível perceber o que é eterno de verdade e construir algo que realmente sustente sua existência de maneira profunda e feliz. Essa possibilidade de conquistar a alegria de estar vivo em um corpo físico em um mundo material dada pela Roda da Fortuna em Touro precisa, em primeiro lugar, aprender a deixar de lado a possível insatisfação que as pessoas ao seu redor sentem com a própria vida, para então poder aceitar e se entregar à possibilidade de vida bela, amorosa e pacífica que deseja e que pode conquistar.

Lot em Gêmeos
A alegria de poder se comunicar com tudo o que o cerca, juntando novas compreensões de tudo que encontra, percebendo as múltiplas facetas da vida que frequentemente se contradizem, que possibilita a pessoa agir e reagir rapidamente às mudanças que ocorrem na própria vida, é a felicidade prometida por essa Parte da Fortuna geminiana. Para isso é necessário um trabalho consciente em não julgar aos outros, de não se identificar com a autoridade de um juiz que o afasta de uma relação de camaradagem com o mundo ao seu redor, possibilitando o desenvolvimento dessa habilidade em lidar com a realidade imediata, com o aqui/agora, com todas as suas limitações e circunstâncias temporárias. O prazer e a alegria de se viver em um mundo em eterna mudança e saber aproveitar essa liberdade são as delícias desse Lot.

Lot em Câncer
A alegria de dar nascimento ao novo, seja qual for a sua manifestação, é a grande possibilidade de satisfação dada por essa Roda da Fortuna. A promessa de entrada no Reino dos Céus para aqueles que voltarem a ser crianças, pode ser alcançada por esse Lot se a pessoa conseguir se distanciar da demanda por concretização “correta” que percebe ao seu redor. O cuidado com aquilo que está nascendo ou crescendo não depende daquilo que surgirá quando chegar à maturidade, por isso quando somos pequenos podemos ser professor e astronauta ao mesmo tempo, casar e ter 12 filhos e ir dançar todas as noites com o príncipe encantado. O respeito amoroso para com esse potencial nascente é determinante para o resultado da sua maturação. A proximidade com a natureza pode ajudar nisso, pois é fácil observar a maneira integradora com que o cuidado dos pequenos gera a fortaleza dos grandes. Poder existir de uma maneira simples e vigorosa como uma criança, mas com a consciência da alegria e prazer de se poder alimentar generosamente tudo aquilo que o cerca – inclusive a si mesmo – é a Parte da Fortuna canceriana.

Lot em Leão
O prazer de criar a si mesmo, dando ao mundo o seu melhor, é a promessa de satisfação do Lot leonino. Para isso é preciso abrir mão da sensibilidade a respeito do que o resto da Humanidade pensa a seu respeito e se focar mais no próprio ideal daquilo que se quer ser. Então toda dificuldade externa de expressão virá acompanhada com maior força para afirmar internamente a própria vontade, alimentando o valor de quem se é, possibilitando que a pessoa desenvolva a sensibilidade para ver que sua generosidade, suas ambições pessoais e suas metas o estão levando pelo caminho correto. Honra, dignidade, prestígio e respeito são presentes derivados dessa Roda, cuja verdadeira satisfação vem da auto realização, de criar em si os valores nobres que acredita mais profundamente seu Ser, independente do que se vive exteriormente.

Lot em Virgem
A possibilidade de dar uma finalidade útil para tudo que existe em sua vida é a deliciosa promessa desse Lot virginiano, seja através de habilidades manuais, mentais e/ou emocionais. Sobras de comida da geladeira que se transformam em banquetes, latas velhas que se transformam em esculturas, ideais ultrapassados que ganham atualidade, sonhos desfeitos que se transformam em novas esperanças são possibilidades inerentes a essa Roda, que consegue juntar coisas aparentemente desconectas de maneira a lhe dar sentido, eliminando fatores externos desnecessários através da experiência de simplicidade de um pensamento claro. Para isso é preciso que a pessoa pare de se preocupar com as confusões mentais e emocionais que a cercam e aprenda a desfrutar da capacidade de perceber a vida e o mundo de uma maneira prática e presente, atuando no mundo concreto e trazendo para a matéria novas possibilidades de organização para a Vida.

Lot em Libra
O Lot libriano traz a imensa alegria de dividir a existência humana com outro ser de maneira equilibrada e harmônica. Para isso é necessário entender que toda ação gera uma reação, que toda associação significa o equilíbrio entre duas individualidades com vontades próprias. A Roda da Fortuna aqui significa a satisfação em poder observar de maneira impessoal as relações que são estabelecidas de maneira a entender como essa associação pode se realizar de maneira harmônica e prazerosa. Então o senso de Justiça libriano pode atuar através do Lot da Fortuna, equilibrando os sentimentos e as experiências de modo a encontrar paz nas relações, fluindo na vida junto com as pessoas às quais se associa de modo a dar e receber com igualdade.

Lot em Escorpião
A força de Escorpião vem da sua capacidade de ir além das belas aparências e encontrar as verdades escondidas, e essa Parte da Fortuna traz o prazer de enxergar o que precisa ser derrubado para que a verdade seja trazida à superfície, juntamente com a alegria de fazer picadinho daquilo que estava lá só para se ficar bem no filme. É fácil perceber que essa não é das Fortunas mais populares. Atire a primeira pedra quem não convive com pequenas mentiras que garantem alguma falsa segurança confortável ou uma harmonia aparente pela vida. Para que essa Roda possa girar a pessoa tem que aprender que aquilo que é real não pode ser destruído, e então aprender a fluir através dessa realidade mais profunda e intensa. Isso significa ter confiança em forças muitas vezes desconhecidas e invisíveis que podem inclusive contradizer aquilo que mostra a aparência. Essa Parte da Fortuna traz a possibilidade de se trabalhar ativamente na construção de uma vida verdadeiramente mais segura e pacífica, e, portanto mais íntima, pois confiável, já que não se tem medo de enfrentar aquilo que pareça feio, mau, incorreto ou desagradável. É muito mais fácil a existência sem ficar acumulando fantasmas no armário.

Lot em Sagitário
O Lot sagitariano faz com que novas experiências, paisagens e conhecimentos tragam mais alegria e satisfação para a própria vida. Quanto mais a pessoa entende que a vida pode ser abundante e feliz, mais naturalmente isso passa a ser experimentado. Para isso é preciso parar de se preocupar tanto com aquilo que as outras pessoas pensam e experimentam em suas vidas particulares, e perceber que muitas vezes o que vivemos em nossa existência não é compartilhável com aqueles que convivemos. Se conseguir superar a frustração de não ver a si mesma através dos olhos dos outros, a Fortuna poderá mostrar à pessoa que não há um objetivo na vida, que todas as direções tomadas levam ao centro, que qualquer lugar onde se pendure o chapéu (essa expressão é antiga, hem?) é seu lar, qualquer maneira que se ganhe a vida é boa, que quem estiver em sua companhia é seu amigo, e assim se vive em contínua expansão, quase a despeito de si mesmo. E assim, a vida vai se tornando cada vez mais ampla e significativa. Felicidade não é algo que possamos transferir para outra pessoa, mas isso não pode impedir quem tem essa Parte da Fortuna de acreditar na sua própria.

Lot em Capricórnio
Tudo que envolve Capricórnio precisa de tempo para se realizar, pois envolve uma estruturação que vai além do indivíduo. Para que essa Roda comece a girar é preciso desenvolver paciência, principalmente para consigo mesmo. O prazer de um Lot capricorniano está em construir sua vida com as próprias mãos, e isso significa trabalhar duro para superar as limitações impostas pela origem familiar e criar um projeto pessoal de existência. Para isso é preciso desenvolver habilidade e força através de suas experiências de vida, de modo a se capacitar a liderar a si próprio, independente das situações e circunstâncias externas. Com a maturidade a pessoa pode perceber que tudo em sua vida o levou para um objetivo que se torna cada vez mais claro, que nada em sua vida foi para distraí-lo ou desviá-lo, que tudo pode ser encaixado em um plano maior. Esse plano só pode se revelar depois de entender que o envolvimento com a negatividade emocional daqueles que o cerca só o deixa confuso e enfraquece seu autorrespeito, já que não há como salvar outras pessoas de seus próprios sentimentos, de suas próprias vidas. Apesar dessa Parte da Fortuna geralmente demorar bastante para se manifestar conscientemente, o desenvolvimento interior que ela permite  não depende de sorte ou de ajuda externa, e por isso pode trazer uma satisfação duradoura e poderosa.

Lot em Aquário
A alegria do Lot aquariano vem de compreender a enorme benção que é poder compartilhar essa vida humana preciosa, como dizem os budistas. Para isso a pessoa precisa começar a perceber que mesmo que cada individualidade – inclusive a sua – tenha vontade própria, não é preciso se envolver com os princípios pessoais dos outros para se viver a própria vida, o que leva à quebra dos preconceitos e do julgamento a respeito de como os outros devem levar a própria vida. Isso abre o horizonte pessoal permitindo que novas ideias e modos de ver o mundo estimulem seu espírito inventivo e a originalidade de perspectivas ao direcionar a própria vida. A existência passa a ser algo incrivelmente interessante, onde se quer saber de tudo a respeito do Homem, do Mundo, do Universo, em um incessante prazer por estar vivo e desenvolver a própria humanidade. Uma incrível liberdade pode fazer parte da vida da pessoa com essa Roda girando, e quase nada pode abalar essa vida onde há espaço para aceitar qualquer acontecimento como válido. Isso leva à alegria de conscientizar-se de tudo que pareça diferente em si mesmo, qualificando todos os seus desejos e ideias únicos, entendendo que assim como a Humanidade, a pessoa também se encaminha para uma maior consciência da vida e do universo.

Lot em Peixes
Com um Lot pisciano temos a promessa divina de se sentir em unidade com tudo o que o cerca, de viver em sintonia com toda a Vida por baixo de qualquer manifestação material. Claro que isso implica em conseguir se desligar das cobranças externas de que se deve planejar e objetivar a própria vida, o que não é simples nem fácil na sociedade em que vivemos, principalmente quando se é muito jovem. Acreditar nos próprios sonhos e desejos, por mais quiméricos que pareçam para os outros, é que permite essa Roda começar a girar, até que a pessoa perceba que tudo aquilo que ela imagina acaba se tornando realidade, e assim criar confiança no fluir suave através das experiências da vida. A Parte da Fortuna em Peixes significa a vantagem de saber que a vida, as ideias e todas as limitações humanas são apenas aparentes, e que é possível existir nesse mundo através da alegria e do amor de uma verdade maior e mais profunda. Essa parece ser a maior alegria e felicidade que um ser humano pode alcançar.