terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Construindo um Mito para Capricórnio


Havia um príncipe que aprendera de seu pai que no mundo não havia nem ilhas, nem princesas nem magos. Um dia, viajando no barco real, chegou até uma porção de terra cercada de água por todos os lados. Curioso, desembarcou na praia e viu um grupo de mulheres ricamente vestidas brincando com as ondas. Intrigado, o príncipe perguntou a um homem que passava, vestido com um estranho manto de estrelas, que terra era aquela e o homem lhe disse que aquilo era uma ilha. Disfarçando seu espanto, príncipe perguntou, então, quem eram aquelas mulheres, e o estranho respondeu que eram princesas. Depois de um silêncio incômodo, o príncipe perguntou quem era o estranho homem, e ele se apresentou como um mago. Se sentindo enganado pelo pai, o príncipe voltou para casa e, raivoso, contou ao rei sua viagem e o acusou de mentiroso. O rei, entretanto, lhe diz que aquela viagem havia sido um sonho, e que quem havia mentido, na verdade, era aquele homem estranho, que não era um mago e sim um criador de ilusões. Confuso, o príncipe embarca novamente e sai navegando para tentar espairecer a cabeça, mas acaba chegando novamente à ilha. Ao ver o homem vestido com o manto de estrelas andando pela praia, grita-lhe que aquilo era um sonho e que iria prendê-lo como mentiroso e criador de ilusões. O mago, muito sério, diz ao príncipe que quem mentira fora o rei, que não queria que o príncipe soubesse a verdade. Completamente perdido, o príncipe desembarca na ilha e manda o barco real de volta. Sozinho e angustiado, o príncipe passa a explorar a ilha e a conversar com as princesas. Depois de muitos anos, quando teve certeza da existência real da Ilha, se casou e teve filhos com uma princesa. Foi, então, conversar com o mago e se tornou um iniciado dos poderes da magia. Aí voltou para o reino para desmentir seu pai, mas quando chegou em frente do trono, o rei se revelou como o mago da ilha.

Os capricornianos têm uma relação muito especial com o Pai, que não é só o marido da mãe, mas também o iniciador da vida adulta. Quando conseguimos olhar dentro de um Capricórnio, encontramos profundas cicatrizes, feitas desde os primeiros anos de vida por uma relação difícil com o pai ou com a figura de autoridade que o criou. Às vezes isso é decorrência da perda prematura dessa figura, que fez o capricorniano(a) assumir esse papel muito cedo; ou então o pai é muito severo e respeitado na família, mas se mantêm distante da estrutura familiar; ou ainda o pai é fraco e instável, fazendo com que a mãe se torne toda poderosa por ter as decisões importantes em suas mãos. Seja qual for a história pessoal de cada um, a criança de Capricórnio sente o pai como alguém com quem não se pode nem confiar nem competir ou cujo amor é impossível de obter, e assim essa figura se transforma num mistério, num desafio e num problema central, difícil de resolver. Na verdade, o Capricórnio se sente traído pelo Pai, e por isso os primeiros trinta anos desse signo são tão difíceis, pois ele passa o tempo todo buscando as qualidades de força, autocontrole, vontade, capacidade de proteção e estabilidade nas outras pessoas, num emprego ou numa hierarquia reconfortante de grande empresa, para a qual se sente atraído inicialmente, em uma mistura de rebeldia e tentativa de corresponder àquilo que ele acha que o Pai espera dele, como se ele ficasse viajando do reino à ilha várias vezes em busca da verdade do mundo. Moralidade e culpa, lei e desrespeito às leis, parecem ser polaridades que compõe Capricórnio.

Joseph Campbell nos ensina que quando a criança deixa o paraíso idílico materno - onde berramos e somos atendidos - e encara o mundo externo adulto, ela entra espiritualmente na esfera paterna. O Pai é o pastor iniciático através do qual se entra num mundo mais amplo. Capricórnio anseia desesperadamente por essa iniciação, que geralmente lhe é negado pelo pai real, e, então ele terá que vivenciar o pai através da exigência de obediência às regras e condições que lhe são impostas pelo mundo, para então descobrir o pai misericordioso e imortal que carrega dentro de si. Essa tarefa de autotransformação exigirá um profundo mergulho dentro de si mesmo. Capricórnio e Saturno estão intimamente ligados a esse processo. A mitologia greco-romana nos conta que Cronos/Saturno, depois de ter sido abatido e derrotado por seu filho Zeus/Júpiter, é aprisionado no Tártaro, região subterrânea muito abaixo do reino de Hades. Depois que Júpiter consolida seu poder ele liberta o pai e o envia para a Ilha dos Bem Aventurados, onde Saturno passa a reinar sobre os grandes heróis que nunca morreriam. A Era de Saturno é conhecida como a Idade de Ouro, onde a terra é farta e abundante e não há guerra nem discórdia, ensinando aos homens como viver com paz, justiça, fraternidade e liberdade através da delegação responsável de poderes dentro da comunidade. Por isso Capricórnio e Saturno têm profunda ligação com limitação, solidão e isolamento, ao mesmo tempo em que é símbolo do ouro alquímico, obtido com a purificação do chumbo. Assim como a semente precisa ficar sob a terra para desenvolver sua fecundidade, Capricórnio precisa incorporar em si a fecundidade do Pai, para então sacrificar esse Pai em nome do seu próprio desenvolvimento, e então frutificar. Aí esse signo descobre que Pai e Filho são um só ser, e se transformam em verdadeiros Bodhisattva, que são almas que encontraram a iluminação como Buda, mas em vez de ficarem em estado místico de união com Deus, voltam ao mundo por compaixão pelo resto da humanidade, aprisionada e sofredora que labuta nas trevas. Esse simbolismo é muito profundo e representa o verdadeiro destino dos capricornianos. Seja qual for o cimo da montanha a que aspira escalar - material, espiritual ou ambos -, ele não pode ficar lá no alto e tem que descer de novo ao mundo, mesmo não tendo mais obrigações com o trabalho ou o empreendimento, pois sua competência ainda pode ser útil. Capricórnio tem em sua raiz a semente dessa figura, que escolhe, por sua própria vontade, permanecer nas restrições e frustrações de uma vida comum e assumir responsabilidades, para mudar, mesmo que só um pouquinho, as coisas, deixando-as, quem sabe, um pouco mais brilhantes e melhores.

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