quarta-feira, 25 de junho de 2008

Histórias para Caranguejo: Mitos de Câncer

(Essa vai prô Lenão, a irmã canceriana que sempre me pegava pelo coração e me levava de volta pra casa.)

Uma das imagens mais antigas de Deus é o Uroboros, o universo representado por uma serpente que engole a própria calda, mostrando a vida como um ciclo e uma unidade ao mesmo tempo, simultaneamente começo e fim de si mesmo. Câncer está ligado ao arquétipo da Mãe, mas uma Mãe urobólica, que cria a vida e a consome ao mesmo tempo. Essa imagem é representativa para uma criança recém-nascida, onde a mãe é o mundo todo, que a nutre e conforta ao mesmo tempo que é tão poderosa que o pode destruir. Câncer indica uma vivência profunda desse Deus Mãe - também simbolizada pela Lua em muitas culturas - onde, através de uma emocionalidade que lhe é irresistível, é exigido, como tarefa de integração interior, o resgate da própria identidade do regaço materno. Existem dois personagens nos mitos gregos que mostram esses difíceis caminhos cancerianos: o da deusa Tetis e o do caranguejo do Pântano de Lerna, um apêndice do segundo trabalho de Hércules.
Tétis era a mais bela nereida (filha de Nereu, o velho do mar) e estava sendo disputada por Zeus-Júpiter e Possêidon-Netuno quando um oráculo profetizou que o filho dela com um deus seria tão poderoso que se tornaria o novo senhor do mundo. Os dois deuses desistiram de Tetis e a obrigaram a se casar com Peleu, um heróico mortal, discípulo de Quiron. Inconformada de ter filhos mortais, Tetis acaba matando seis deles na tentativa de imortalizá-los pelo fogo. Quando nasce o sétimo, Aquiles, Peleu consegue tirá-lo das mãos da mãe enquanto ela o mergulhava no fogo sagrado, segurando pelo calcanhar da criança. Cheia de mágoa, a nereida foge para nunca mais voltar, mas sempre acaba protegendo o filho secretamente, nas aventuras que ele viveria. A primeira coisa que nos conta esse mito é que a deusa, vindo das águas do pai, é obrigada a direcionar seu enorme poder de criação e transformação para a união com um mortal, para o plano terreno, assim como Câncer precisa aprender a direcionar seu interior criativo e oceânico para a esfera concreta e para a realização de si no mundo. Tétis, tentando imortalizar os filhos, acaba matando-os, e esse é outro perigo que os cancerianos sempre correm, ou seja, de matar por amor, tanto quando se impede de crescer, pois isso significa se separar da mãe, quanto quando não quer que as pessoas próximas cresçam, porque isso também significa separação. É necessário que esse signo desenvolva um Pai que o retire desse ciclo destrutivo, salvando-o para sua real aventura individual, onde a mãe se retira para se tornar uma secreta protetora e não mais a razão da sua existência.
O Caranguejo do Pântano de Lerna retoma essa idéia com outros símbolos. No seu segundo trabalho, Hércules deveria destruir a Hidra, uma serpente de muitas cabeças que matava tudo ao seu redor com seu hálito, que vivia naquele pântano sob o comando de Hera, a mulher legítima de Zeus. Esse monstro é comumente interpretado como símbolo tanto da imaginação exacerbada quanto das ambições banais ativas. Enquanto Hércules tentava combater a serpente, que tinha o poder de fazer crescer duas cabeças a cada uma cortada, um imenso caranguejo surge por trás do herói (uma manobra típica de Câncer) e o prende pelas ancas e pelos pés, tentando imobilizá-lo. Hércules tem que, então, matar primeiro o caranguejo antes de terminar seu segundo trabalho. Assim também, Câncer tem que matar a autoridade da Mãe - real ou imaginária - que o imobiliza, para depois vencer seus vícios e ter acesso à toda criatividade e realização afetiva que é capaz. Câncer aprende, em sua jornada, que é Mãe e Filho ao mesmo tempo, que tem um ritmo misterioso e impossível de ser compreendido por uma lógica formal. Afinal, a natureza não deve explicações a ninguém, e, ou nós gostamos dela ou perdemos algo muito precioso.
Vale a pena darmos uma olhada em mais um mito para mostrar o caminho simbólico desse signo. Trigueirinho - médium brasileiro com muitos livros publicados sobre diversos assuntos - fala de Câncer através da aventura de Hércules na captura da Corça de Cerinia (Hora de Crescer Interiormente - O Mito de Hércules Hoje - Ed.Pensamento - 1988). Esse animal sagrado do bosque de Ártemis possui cascos de bronze e chifre de ouro e não podia ser morta por causa de seu valor sagrado. Nosso herói deve caçar o belo animal e não entregá-lo a ninguém nem ficar com ela. Essa corça era mais pesada que um touro e rapidíssima, e foi perseguida por Hércules por cerca de um ano, sem o menor resultado. O animal, então exausto, pára um momento para repousar, e Hércules consegue feri-la levemente, apoderando-se dele e colocando-o perto do próprio coração. Quando ele estava levando a Corça para seu primo Euristeu, o organizador de suas tarefas, aparecem Apolo e Ártemis tentando reivindicar a posse do animal, mas ele se recusa a dar sua tão dura conquista, e segue seu caminho para Micenas. Aqui temos tanto a razão (Apolo) como o instinto (Ártemis), reivindicando a posse da presa. A Corça de Pés de Bronze pode ter várias interpretações: os pés de bronze pode fazer referencia ao próprio metal, visto como sagrado e capaz de isolar o animal do mundo profano, mas que, enquanto metal pesado, o escraviza à terra, podendo pervertê-lo, fazendo-o se apegar a desejos grosseiros que a impedem de voar mais alto. Já Paul Diel diz que a corça, como o cordeiro, simboliza a qualidade do espírito que se contrapõe à agressividade da dominação. Sua captura, então, está ligada à paciência e esforço necessários para se apossar da delicadeza e sensibilidade sublimes representadas pelo animal, e também do vigor necessário para preservar esse tesouro da fraqueza espiritual, configurada em seus pés de bronze. As duas interpretações são válidas quando pensamos em Câncer como o possuidor potencial dessas riquezas sagradas, e seu crescimento vai exatamente na direção desse desenvolvimento. Trigueirinho diz que a busca de Hercules por um ano – um ciclo solar completo – persistentemente, sem desviar de seu objetivo, e vencendo os apelos do instinto (Ártemis) e as argumentações do intelecto (Apolo), o ensina a transformar obstáculos em estímulos. Quando chega no fim de sua caçada e entrega a Corça a Euristeu, que o devolve a Hera, a deusa com olhos de Corça e sua verdadeira dona, ele aprende a se desapegar das coisas que conquistou “colocando sobre seu coração”, assim como Câncer só pode deixar que aqueles que ama - e a si mesmo - crescer quando aprende a colocar tudo que o rodeia em seu precioso coração. Nesse processo, Câncer pode fazer sua grande, imensa, hercúlea liberação interior e descobrir que em seu coração cabe o mundo todo.

5 comentários:

Lúcia Satiko disse...

Querida Tê!
muitas saudades!!
agora estou em Sampa, mas sempre lembrando das minhas grandes amigas e óbvio visitando seu blog!
Um grande beijo desta canceriana q tanto te admira!
Lúcia Satiko

Teca Dias disse...

Ai Lucia querida do meu coração! Quer dizer que voltou para as raízes? Muitas saudades!! Quando eu fôr para Sampa, te ligo pra gente tomar um café.
Beijos
T

Anônimo disse...

na verdade,penso,esse caranguejo entregou a própria vida lutando contra algo muito mais poderoso do que ele,foi imortalizado pelo sacrifício(típico...) um canceriano da cardeal
e dos restauros yorikjuanpa@yahoo.com.br

Anônimo disse...

esqueci de perguntar...vc também entende de astrologia indiana?parece que esta ajuda a tomar medidas para "melhorar"o carma,acho que tudo é válido quando se deseja crescer...
canceriano gemeos yorikjuanpa@yahoo.com.br

Teca Dias disse...

Oi Juan
O caranguejo do mito é instrumento de Hera, a esposa de Zeus e patrôna dos Trabalhos de Hercules, e acho que ele age mais por instinto do que por espírito de sacrifício. Peixes costuma ser mais movido por sacrifícios, enquanto Câncer parece ser mais motivado por um instinto de sobrevivência. Não conheço muito da astrologia ayuvédica indiana, mas quem estuda se encanta, pois eles têm uma abordagem de cura incrível, que envolve pedras, aromaterapia, ervas e um monte de coisas interessantes. Dizem que vc só pode começar a estudar astrologia indiana depois dos 40 anos, por isso estou começando a olhar para o oriente com olhar de aprendiz.
Um abraço
Teca