terça-feira, 1 de julho de 2008

A LUA

O satélite do nosso planeta é considerado desde sempre pela astrologia, como a Mãe arquetípica da nossa existência terrestre. O casamento do Sol e da Lua, para os alquimistas, era o princípio da formação do mundo. Regente de Câncer e exilada em Capricórnio, esse Luminar se exalta em Touro e fica em queda quando em Escorpião. A análise da Lua nos mostra como nos ligamos à nossa existência terrestre, em um corpo físico e com vínculos emocionais.
O ser humano é um dos únicos animais que nasce “antes do tempo”, inacabado, frágil e incapaz de obter sozinho o próprio sustento, precisando de uma mãe ou equivalente para que possa depender e assim sobreviver. Essa dependência física imediata e absoluta dá origem a uma ligação emocional profunda e duradoura com a principal fonte da vida, e é a matriz de nossa consciência lunar. Como no início a mãe é todo o universo, começamos a captar o mundo através dessa primeira luz que recebemos dela, e assim aprendemos a nos cuidar e sentir o mundo conforme o exemplo fornecido. Nossa mãe, então, nos dá o primeiro modelo concreto da instrutiva característica lunar de auto-preservação, e nosso primeiro exercício sobre o que podemos conseguir da vida. É por isso que a Lua, enquanto luminar interno, pode também nos ensinar como cuidar de nós mesmos de acordo com nossas necessidades individuais quando ficamos adultos, tendo, inclusive, a capacidade de nos mostrar como tratar as feridas se nossas primeiras lições de infância não tiverem sido suficientemente boas, de modo que seja possível confiar na vida, apesar de tudo.
Na Lua teremos os padrões de resposta inconsciente, condicionados, revelando, na prática, o estado em que nos sentimos inconscientemente bem e no qual buscamos proteção. Ela mostra o estado na qual nos identificamos mais rapidamente, e que pode ser bem diferente daquela mostrada pelo Sol. Enquanto nossa estrela mostra onde precisamos nos esforçar para nos tornarmos um indivíduo consciente, nosso satélite nos fala onde existe uma tendência natural para nos curvarmos e adaptarmos ao que é oferecido, onde somos mais facilmente moldados, dispostos a hábitos e condições do passado, e, portanto, a sermos restringidos pelas noções, expectativas, valores e padrões de nossa família e cultura. Temos nos padrões lunares muito da nossa auto imagem idealizada, dos padrões que desenvolvemos para sermos amados. Dessa forma, uma pessoa com o Sol em Gêmeos e a Lua em Escorpião, por exemplo, tende a se manter calado numa situação pouco familiar até descobrir onde está e quem são aquelas pessoas, passando a falar pelos cotovelos sobre sua própria atitude “misteriosa” assim que o assunto for resolvido. A reação da Lua é aquela que vem primeiro, seguida pelo Sol.
O padrão lunar é o primeiro a ser absorvido e ativado quando nascemos, pois é nosso instinto de nutrição, desenvolvendo seu papel a partir do primeiro alento materno. Ele permeia todas as nossas experiências de modo a mediar o passado com o presente. Os signos lunares indicam a energia específica que nossa criança interior precisa experimentar e expressar para se sentir segura e satisfeita, bem como a energia com que nossa mãe interior pode responder aos nossos sentimentos e carências. Por isso é importante respeitarmos e entendermos a Lua, pois ela nos mostra onde podemos nos refugiar quando precisamos de descanso, de uma pausa, de um santuário para o esforço de individuação e de crescimento da consciência. Mas conforme crescemos precisamos começar a tomar cuidado para não nos deixarmos dominar pelas necessidades lunares, pois ela tende também a nos prejudicar ou atrasar o progresso em novas e desconhecidas direções. Lembrando que é o Sol que mostrará para onde devemos ir e como achar nossas certezas e nosso brilho, a Lua só poderá refletir esse brilho, pois não tem luz própria. Por isso, quando estamos muito ligados nas necessidades lunares, acabamos encontrando situações duvidosas e ficamos passando por fases, ora mais abertos e vulneráveis, ora mais fechados e afastados, apresentando, inclusive, comportamentos regressivos, infantis e inseguros. Enfim, a Lua nos capacita a ser nutritivos e receptivos, mas também nos prende ao passado e cria medos do futuro. A Lua nos dá a sensação de continuidade espaço-tempo, o que pode ser observada no seu movimento no céu, que passa da lua nova para um crescimento gradual até a Lua cheia, e depois no seu recolhimento até chegar novamente à misteriosa lua nova. Esse movimento continuo e inexorável fez com que se associasse a Lua ao movimento da Roda da Fortuna do Tarô, pois tudo sob a luz da Lua segue um eterno padrão cíclico, onde o apogeu é seguido pela decadência e essa pelo nascimento de novos potenciais. Esse é um estado de consciência que podemos chamar de matriarcal, pois é basicamente orgânico e feminino, que reflete os processos de concepção, gravidez, nascimento, puberdade, maturidade, envelhecimento e morte. Essa consciência matriarcal está miticamente ligada aos ciclos naturais, pois priorizam a harmonização com a vida orgânica ao invés do desejo individual ou do espírito humano capazes de transcendê-la.
Os avanços desenfreados da vontade e do espírito humano acabaram criando desequilíbrios de dimensões planetárias, e é isso que nos faz hoje em dia produzir movimentos e expectativas lunares tão fortes - que vão do retorno das bruxas ao Green Peace - mas precisamos tomar cuidado com esse retorno da Grande Deusa por que a consciência puramente matriarcal subestima os valores individuais, dando importância primordial à família e ao clã, justificando a supressão e a destruição da auto-expressão individual em caso de ameaça do status quo do grupo, o que significa ausência de ética, princípios ou de qualquer uso disciplinado da vontade, já que tudo é justificado pela necessidade instintiva da preservação da espécie. Por esse motivo as deusas lunares eram consideradas não apenas protetora e nutridora de crianças, mas também engolidoras e castradoras. A Lua pode ser manipuladora, traiçoeira e inconstante, criando grande voracidade emocional, acabando com o bom senso e a cooperação pessoal. Ao mesmo tempo, se nos mantemos afastados da Lua, perdemos nosso senso de ligação e cuidado com o corpo, o que, ampliado, significa desligamento e falta de cuidado com a natureza e com a própria vida na Terra. O corpo serve para nos lembrarmos de que somos mortais, pois ele sofre dores, doenças, envelhecimento, mas também sente prazer. Também temos estados de humor corporais, pois nossos estados emocionais estão intimamente ligados aos nossos corpos. A não expressão lunar significa sofrimento do corpo e também prejudica nossa capacidade de vivenciar o presente, o que acaba fazendo com que muitas pessoas acordem de repente - muitas vezes em um hospital - percebendo que não haviam realmente vivido, pois não há lembranças nem sensação de continuidade, nem sensação de aproveitamento do passado. O corpo controla a si mesmo - não pensamos em respirar, ou fazer o coração bater ou fazer um óvulo amadurecer - e esse processo ainda hoje tem algo de mágico, pois apesar de nosso grande conhecimento sobre fisiologia do corpo, a verdadeira compreensão da natureza do princípio anímico da vida não progrediu muito nos últimos 6 000 anos. O corpo possui uma sabedoria interior que faz com que ele consiga se curar sozinho com muito pouco estímulo. As imagens míticas ligadas à Mãe Terra trazem em si o poder que a natureza tem de manter e perpetuar a si mesma: Gaia, Demeter, Ártemis e Hécade são retratadas nos mitos como deusas da concepção e do nascimento por representarem esse princípio inteligente, criador e animador dos veículos necessários para a continuidade da vida física nesse mundo. Da mesma forma, Eva, no Antigo Testamento, significa “vida” em hebraico, e é a mãe de toda a humanidade.
Os bebês nascem sem um ego capazes de pensar: “em primeiro lugar eu sou eu mesmo, apesar de encarnado em um corpo físico”. O senso de um “eu interior”, abstrato e independente do corpo, é refletido na astrologia pelo Sol, que desabrocha à medida que amadurecemos, mas a Lua está presente desde o início, já que a primeira experiência de uma criança é corporal, e durante as primeiras semanas de vida só existem sensações e necessidades físicas. Quando nossas necessidades instintivas e básicas são preenchidas, ficamos satisfeitos e a vida se torna um lugar seguro. Assim a capacidade de expressar a Lua de uma maneira saudável significa ter a possibilidade de vivenciar e expressar as necessidades e apetites da sobrevivência corporal, sem precisar justificá-los pela autoconsciência ou pelo raciocínio, que derivam do ego solar. Isso significa que o princípio psicológico representado pela Lua está ligado às necessidades básicas de segurança e sobrevivência, e o resultado da sua não expressão é principalmente ansiedade, pois esse é o resultado emocional da sensação de que a vida lá fora não é segura, de que seremos contrariados e de que algo terrível pode nos acontecer. Seja qual for o gatilho ativador desse estado na vida adulta, provavelmente suas raízes estão plantadas em antigas vivências do sentimento de insegurança na infância. Algumas pessoas ficam inseguras ao serem ameaçadas de rejeição ou abandono, outras por qualquer mudança de ambiente, outras ao começar qualquer coisas e outras por terminar qualquer coisa. Quando estamos ansiosos e precisamos recuperar nossa segurança, nos voltamos para a Lua e para coisas que a representem. No mapa natal, o signo e casa da Lua oferecem uma descrição bastante detalhada do tipo de coisas que nos proporcionam sensação de segurança. Nossa fome lunar é uma característica humana básica, apesar dos modos de expressão poderem variar. Se não soubermos como acolher e expressar nossa inata sabedoria lunar, a Lua não consegue operar diretamente através da personalidade, e vai se manifestar indiretamente, através dos mecanismos cegos que adotamos quando estamos inconscientemente ansiosos e precisamos recuperar a segurança, criando nossos comportamentos compulsivos. Todos nós temos certo grau de compulsão, pois a vida muitas vezes é realmente insegura, mutável e desconhecida, e ninguém consegue ter segurança suficiente para nunca ter medo. Se conseguimos, porém, conhecer, aceitar e respeitar nossa Lua, podemos aprender a nos nutrir com o tipo adequado de alimento, que por sua vez nos permita lidar com a ansiedade de modo mais sensato e criativo.

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