quinta-feira, 5 de junho de 2008

Mercúrio

O regente de Gêmeos e de Virgem é considerado em exílio apenas em Sagitário, ficando exaltado quando em Aquário e em queda quando em Leão. Seu movimento médio diário de 1°24’, com um ciclo de 87 dias e 23 horas.
Mercúrio é o planeta mais próximo do Sol, e é quem governa a habilidade mental, a capacidade verbal e a comunicação na astrologia. Esse planeta é quase um satélite do Sol - quando visto por telescópio potente apresenta as fases nova, cheia, crescente e minguante como a Lua -, o que, simbolicamente, nos diz que a habilidade intelectual só pode ser aproveitada e bem utilizada quando se vincula à essência da personalidade. No sistema solar, ele está entre o Sol e a Vênus, assim como a comunicação significativa é aquela que cria uma ponte entre o que somos e aqueles com quem queremos compartilhar a vida. Do mesmo modo, é difícil manter um relacionamento se não é possível nos comunicar com o parceiro. Mercúrio representa tanto o anseio em expressar os próprios pensamentos quanto a necessidade de ser compreendido. É através desse planeta que vemos também a forma como aprendemos com as idéias e informações que recebemos do que nos é exterior. As dificuldade em se comunicar, a sensação de não ser compreendido e a infelicidade gerada por esses tipos de problemas, geralmente estão ligadas a problemas com Mercúrio, e a única saída é - como em qualquer habilidade - a prática, seja conscientemente ou forçado pela vida. O elemento em que Mercúrio se encontra mostra as qualidades específicas que influenciam a forma de pensar e de se expressar o pensamento. Em signos de fogo o pensar é influenciado pelas aspirações, crenças e planos pessoais, indicando, muitas vezes, o uso do pensamento positivo como arma. Quando em água, a comunicação recebe as cores dos anseios mais profundos e das predisposições inconscientes, numa troca de idéias com carga emocional. Nos signos de terra, Mercúrio indicará que os pensamentos serão influenciados pelas necessidades práticas e buscarão idéias com aplicação prática. Já em ar, a forma de pensar será mais abstrata, com construções racionais mais gerais e conceituais.
Na mitologia grega, Mercúrio é o deus Hermes, filho de mais um dos casos extra conjugais de Zeus, desta vez com a ninfa Maia, sendo o único que sua esposa, Hera, não chegou a saber, e podemos dizer que Hermes é fruto de um truque bem sucedido de Zeus. Uma das características da localização de Mercúrio no mapa é a nossa capacidade de sermos enganadores, no sentido de distorcermos a verdade, mesmo que de leve, em nosso favor. Assim que Hermes nasceu, se sentiu imediatamente entediado e inquieto, o que confere também com o Mercúrio astrológico, pois onde quer que encontremos esse deus no mapa, teremos uma área de inquietude, onde precisamos de variedade, mudança e espaço para nos movimentar: Hermes tinha apenas um dia de vida quando partiu em busca de aventuras, sem saber direito para onde ia ou o que encontraria. O Mercúrio astrológico pode ser associado ao inesperado, à coincidências e à sincronicidade, a eventos que parecem acidentais mas que depois fazem sentido ou servem a alguma finalidade, o que pode ser particularmente impressionante nos casos de trânsito de Urano, quando livros caem da estante abrindo na informação que se precisa, ou se assiste por acaso um documentário na TV sobre aquilo que se estava pensando. O impulso para sair do berço do pequeno Hermes o levou até a porta da caverna em que nasceu, e lá ele encontra uma tartaruga. Admirado com seu casco ele fala para ela: “Você é muito bonita tal como é, mas posso pensar em coisa melhores para fazer com você do que apenas olhá-la”, e num rompante de inspiração matou a pobre criatura, retirou-lhe o casco, revestiu a com couro de boi, dotou-lhe de algumas cordas e fez surgir a primeira lira, mostrando a sua inventividade e sua necessidade de pôr as mãos em alguma coisa. A casa em que encontramos Mercúrio indica a área da vida em que devemos ser inventivos, brincalhões e dispostos a tentar coisas novas ao invés de apenas nos satisfazermos com o status quo, pois a colocação de cada planeta por casa e signo indica a maneira mais natural para se transformar naquilo que se deve ser, e assim realizar seu dharma (de uma mosca é zunir, de um leão rugir, de um artista criar). Assim você deve ser curioso e inventivo onde se encontra seu Mercúrio, assim como nas casas regidos por Gêmeos e Virgem, pois essas são as áreas da vida onde se deve manter a mente aberta, onde se deve ser flexível e se manter jovem de espírito. As dificuldades em se realizar isso geralmente estão ligados a aspectos difíceis com outros planetas - principalmente Saturno -, ou se a pessoa foi excessivamente condicionada quando criança a ficar sentadinha como um bom menino(a), bem quietinho. Percebemos também, nesse pedaço do relato mítico, uma certa crueldade necessária para realização da inventividade, o que, muitas vezes pode ser o motivo para a repressão.
O deus brinca um pouco com a lira, depois se entedia, a joga no berço e vai procurar outra coisa para se divertir, dando de cara com o rebanho de seu irmão mais velho, o poderoso deus Apolo. Hermes resolve, então, roubar o gado, conduzindo-o de marcha ré para longe do pasto, fazendo com que as pegadas apontassem para o lado oposto àquele em que caminhavam, além de confeccionar para si uma sandália especial que cobriam suas próprias pegadas. Depois de ter roubado o rebanho, Hermes acende uma fogueira, escolhe duas vacas para assar e as divide em doze porções para fazer um sacrifício a cada um dos deuses do Olimpo, incluindo a si mesmo. Hermes demonstra com esse ato sua preparação para honrar e participar de todos os deuses, por mais diferentes que sejam, assim como o nosso Mercúrio astrológico simboliza a parte de nós que é capaz de se identificar aleatoriamente com os diversos princípios representados pelos outros planetas. Hermes conseguiu também surrupiar alguma coisa de cada um dos deuses, como os raios de Zeus ou o cinto de Afrodite. Quando acabou o sacrifício e saciou sua fome, voltou para casa, entrando pelo buraco da fechadura como “um filete de nuvem”, segundo o hino homérico, subiu no berço, apertou sua lira de tartaruga nos braços e dormiu como um bebe inocente. Maia, quando chega em casa e vê seu rebento inocentemente dormindo, não se deixa enganar, e lhe diz que sabia que ele traria grandes problemas para mortais e imortais. Hermes responde que não iria se conformar em ficar escondido numa caverna, mas que iria seguir o caminho que lhe oferecesse as melhores oportunidades, pois achava que merecia o mesmo status de seu irmão Apolo. Se seu pai, Zeus, lhe recusasse isso, ele se tornaria o príncipe dos ladrões, e saquearia o ouro do templo de Delfos. Apolo era o filho preferido de Zeus, o garoto de cabelos dourados, e na Atenas do século V a.C. representava a aristocracia. Hermes era a representação da nova classe que surgia na época, dos mercadores, dos novos ricos, que começavam a exigir o direito ao poder. Nesse sentido, o Mercúrio astrológico mostra também onde há richas entre irmãos, pois queremos os mesmos direitos de nossos irmãos mais velhos, ou aquilo que possa representá-los. Logo que Apolo descobriu que foi roubado, suspeitou imediatamente do seu irmãozinho e foi tirar satisfação. Hermes, com a maior cara lavada, jurou por Zeus que nunca tinha ouvido falar do gado de Apolo, que era muito novinho, e que tinha “pés macios e o chão era muito áspero” para que ele pudesse sair por aí arrumando encrenca. O senhor de Delfos não engoliu essa, e vendo como seu irmão caçula agia como um gatuno experiente, decretou que ele seria o deus dos ladrões por toda a eternidade, arrancando-o do berço e levando-o até Zeus, para que ele resolvesse a questão. Hermes segue Apolo fazendo caretas, soltando gazes, imitando o irmão e maldizendo todas as vacas do mundo, e quando Zeus vê aquela cena acha tudo muito divertido. Apolo conta para o pai o que seu irmão havia feito, mas Hermes apela para o lado sentimental de Zeus, falando de como ele era pequenino e como Apolo havia entrado em sua casa, arrancado-o do berço, e que o pai deveria defender os indefesos e oprimidos. Zeus, ainda dando risadas, disse que era para os dois fazerem as pazes, e Hermes resolve mostrar para Apolo onde estava seu rebanho, mas antes enraíza o gado na terra. Quando Apolo ia começar a se enraivecer novamente, Hermes pega sua lira e começa a cantar sobre as origens dos deuses e os ofícios que lhe são atribuídos. Apolo se encanta e promete ao irmão uma posição de respeito entre os deuses se Hermes lhe ensinasse o segredo daquele instrumento. O pequeno deus diz a Apolo que ele, em sua generosidade, teria prazer em ensinar-lhe o segredo da lira de graça, desde que Apolo o deixasse compartilhar do rebanho, criando assim a barganha, e ficando amigo do irmão. Zeus encarrega Hermes de estabelecer a arte da troca na Terra, e Apolo faz com que o irmão jure solenemente que nunca mais iria roubar seu gado, ou que retomaria a lira para si, o que é feito, transformando Hermes também no patrono dos juramentos e da garantia nos negócios. Do mesmo modo, Mercúrio nos mostra onde melhor fazemos negócios, onde temos capacidade de criar barganhas e agir como gatunos. Gatunos não são assaltantes, pois não atacam aberta e agressivamente, mas agem de forma sutil e furtivo. Essa capacidade de ação furtiva e inteligente fez com que Zeus costumasse mandar Hermes para salvar pessoas em perigo, como livrar Ares que havia sido “engarrafado” por gigantes, ou libertar o pequeno Dionísio das garras de Hera e dos Titãs. Hermes também está sempre ajudando as crianças heróicas, como no caso de Hércules, que era mortal, mas que, graças às artimanhas do deus, conseguiu mamar um pouco do leite de Hera e se torna divino. Analogamente, uma das funções do Mercúrio astrológico é manter viva a nossa “criança divina”, aquela parte de nós que é sempre jovem, aberta e curiosa para a vida, independente da quantidade de anos que tenhamos vivido. Assim, se mantemos a mente aberta e viva na área em que temos Mercúrio, nosso coração se mantêm jovem, por mais rugas que tenhamos no rosto. Outra associação importante a ser feita é com as características de Hermes que o mostra como o mago do Tarô: ele se transforma em nuvem de fumaça para passar no buraco da fechadura, enraíza o gado de Apolo, encanta Cérbero para entrar no submundo de Hades, e tem o poder de tornar as coisas invisíveis. Hermes é um mestre das palavras mágicas e das fórmulas mágicas, é o poder transmutador da Alquimia. Hoje sabemos do poder das palavras, e de como os mantras, as preces e os cânticos podem afetar as emoções, a fisiologia e a vida das pessoas, inclusive afetando a consciência do próprio planeta. “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus (...) Tudo foi feito por ele, e sem ele nada foi feito” - João 1,1-3. A palavra e os pensamentos têm poder, e, como dizem os Yoguis, “o pensamento é a base da ação”. De acordo com a astrologia esotérica, Mercúrio, e não Marte, é o regente de Áries, o que nos remete a essa passagem de São João e nos lembra as práticas de pensamento sinestésico, neurolinguística e todo tipo de utilização construtiva da imaginação e de tela mental, pois comprovam que a energia segue o pensamento. Onde encontramos nosso Mercúrio podemos descobrir o valor da imagem mental como auxiliar da destreza e do sucesso.
Hermes é análogo ao Orixá Exú da mitologia Iorubá. Em grego, a palavra “truque” é a mesma usada para “capacidade técnica”, assim como em inglês stealthy, pode ser traduzida por ardiloso, e se refere tanto a pessoas hábeis em algo quanto alguém traiçoeiro. Essas qualidades também fizeram de Hermes o mensageiro olímpico, que levava mensagens dos deuses a outros deuses e aos mortais e vice versa, sendo conhecido o seu papel como deus das fronteiras e das encruzilhadas, servindo como intermediário entre os mundos, assim como o Mercúrio astrológico indica comunicação, viagens, troca de informações e idéias, pois Hermes pode viajar das alturas do Olimpo até as profundezas do Tânato. O nome Hermes significa “aquele do marco de pedras” e seu templo eram as estradas e encruzilhadas, onde os viajantes depositavam pedras como marcos, chamadas hermas, que assinalavam lugares onde os viajantes podiam parar e conversar, além de serem lugares onde aconteciam negócios e transações comerciais. Assim, as hermas funcionavam como pontos de comunicação entre estranhos, assim como Mercúrio é símbolo daquela parte da nossa psique que atravessa as fronteiras e que associa o desconhecido e o conhecido. Hermes era chamado também de Psicopompo, o condutor da alma, pois era responsável por levar à Hades as almas dos mortos.
Hermes viajava levando mensagens do Olimpo, da Terra e do Hades, e podemos comparar esses três espaços míticos com o plano supraconsciente - espiritual ou transpessoal -, o plano consciente da vida linear cotidiana - onde se paga contas, se vai ao supermercado e se conversa com os amigos sobre a última fofoca dos jornais - e o plano inconsciente, onde as coisas boas e más não integradas à consciência são enterradas e reprimidas. Hermes é a Internet mítica, sempre mudando de site em busca de informação para trocar figurinhas nos chats de bate-papo. Analogamente, Mercúrio nos equipa para aplicarmos à vida cotidiana quaisquer insight que tenhamos em níveis mais elevados ou profundos, pois é ele que media a visão supraconsciente e a inconsciente, tornando essas visões acessíveis ao nosso consciente. Não é mera coincidência o fato de hermenêutica ser o nome dado à arte e à ciência de interpretar as Escrituras e tudo o mais que é considerado sagrado e divino. Resumindo, Mercúrio é nossa capacidade de cruzarmos nossos limiares e também de nos comunicarmos com estranhos, com o “não-eu”, pois, acima de tudo, Mercúrio representa a autoconsciência reflexiva, a capacidade humana de mediar conscientemente o eu e aquilo que ele está fazendo.
Sallie Nichols, em Jung e o Tarô chama Mercúrio de “espírito criador do mundo”, mas também de “espírito aprisionado e contido na matéria”, pois de muitos modos criamos o mundo através de Mercúrio, e depois nos vemos aprisionados nesse mundo que criamos, pois moldamos nossas vidas segundo nossas crenças, preceitos e percepções do que é a realidade, e depois nos limitamos por nossas próprias percepções. Por isso a nossa mente pode representar uma maneira importante de nos enganarmos. Uma historia do Exu Iorubá ilustra bem como isso funciona:
“Dois camponeses amigos puseram-se bem cedo a trabalhar em suas roças, mas um e outro deixaram de louvar Exu. Exu que sempre lhes havia dado chuva e boas colheitas! Exu ficou furioso.
Usando um boné pontudo, de um lado branco e do outro vermelho, Exu caminhou na divisa das roças, tendo um à sua direita e o outro à sua esquerda. Passou entre os dois amigos e os cumprimentou enfaticamente.
Os camponeses entreolharam-se. Quem era o desconhecido?
“Quem é o estrangeiro de barrete branco?”, perguntou um.
“Quem é o desconhecido de barrete vermelho?, questionou o outro.
“O barrete era branco, branco”, frisou um.
“Não, o barrete era vermelho”, garantiu o outro.
Branco. Vermelho. Branco. Vermelho.
Para um, o desconhecido usava um boné branco, para o outro, um boné vermelho. Começaram a discutir sobre a cor do barrete. Branco. Vermelho. Branco. Vermelho. Terminaram brigando a golpes de enxada, mataram-se mutuamente.
Exu cantava e dançava. Exu estava vingado.”
(Mitologia dos Orixás - Prandi, Reginaldo - Cia. das Letras - 2001)
Mercúrio representa um importante papel na forma como a realidade nos aparenta e da forma como avaliamos o mundo, o que é chamado de disposição mental. Assim, se minha disposição mental me diz que sou inútil, tudo que aparecer na minha frente será interpretado como para confirmar essa crença, e provavelmente vou me dedicar a coisas que reforcem meu lado negativo, em vez de aprimorar meu lado positivo. Aprender a flexibilizar a mente é aprender a lidar com Mercúrio de uma forma positiva, mudando o foco e trazendo à tona a função transcendente desse planeta, que era a representação de Mercúrio na Alquimia. Escolha um problema que deseje resolver e faça as perguntas: “O que esse problema está me forçando a aprender? O que eu precisaria desenvolver ou dominar em mim para lidar melhor com isso?” A lista de coisas que precisam ser dominadas ou desenvolvidas com certeza são boas qualidades e recursos, e se assim são, como é que isso pode ser um problema? Quem, senão um amigo, poderia desejar essas coisas boas para você? Essa é uma das principais armas que temos através de Mercúrio, de transformar problemas em amigos, e assim transformar chumbo em ouro, pois tudo que é fixo e rígido pode ser flexibilizado e movimentado por Hermes-Mercúrio.

3 comentários:

Anônimo disse...

Gosto muito de Mercúrio, é um planeta muito interessante!

:)

Teca Dias disse...

Eu também. Mesmo quando ele me prega peças...

Anônimo disse...

É SERVIU PARA TRABALHO!!!