segunda-feira, 28 de abril de 2008

Nodos Lunares - Cabeça e Cauda de Dragão

Como já falei de Vênus, que rege tanto Touro quanto Libra, vou aproveitar o Sol em Touro e a exaltação da Lua desse signo para falar dos Nodos Lunares, também chamados de Cabeça e Cauda de Dragão. Aproveito para agradecer à Vânia, ao Mauro, ao Filipe e à Tatiana que me fizeram rever e lembrar as portas que a análise desses pontos podem abrir. E ao meu sobrinho Téo, que me ensinou a montar em dragões.

À medida que a Terra gira ao redor do Sol é definido um plano chamado eclíptico, que sai do Sol, passa através da Terra e se expande pelo infinito. Os nodos lunares são pontos imaginários em que a Lua atravessa o equador celeste cruzando esse plano eclíptico, sendo usados pelos astrônomos para os cálculos de distância astronômica, eclipses e fenômenos celestes. O ponto onde a Lua passa da latitude Norte para a Sul é chamado Nodo Sul (Cauda do Dragão), e o ponto onde ela passa da latitude Sul para a Norte, Nodo Norte (Cabeça de Dragão). Os eclipses ocorrem na conjunção da Lua e do Sol com os nodos, e esse fenômeno, que sempre representou presságios, parece ter sido o início da elaboração astrológica sobre os nodos lunares. A distância entre os nodos é sempre de 180° , por isso as efemérides só trazem a posição do NN, já que o NS estará em oposição exata. O movimento registrado dos nodos é retrógrado, andando “para trás” à razão de 3’ por dia, o que significa que ele permanece cerca de 19 meses em cada signo e demora cerca de 18 anos e meio para completar o zodíaco. O NN é conhecido tradicionalmente como Cabeça do Dragão (Rahu), e o NS como Cauda do Dragão (Ketu), e essas representações do Dragão sugerem a idéia de que pelo NN recebemos alimentação e pelo NS expelimos os excrementos. As tradições mais antigas, como a indiana, consideram os nodos maléficos ou prejudiciais, sendo que os hindus viam o NN como uma natureza de Marte e o NS como uma natureza de Saturno, contendo em si prenuncio de eventos kármicos. Os teosofistas também trabalhavam com os nodos a partir do karma, e, segundo essa linha, o NS significa o karma das vidas passadas e o NN o dharma, ou karma que você está desenvolvendo para o futuro. Um ramo menos dogmático dessa teoria afirma que o NS são as qualidades que você desenvolveu nas vidas passadas e o NN as que você precisa desenvolver na vida presente. Seja como for, essas linhas de raciocínio se mostram limitadas quando queremos refletir sobre algum tipo de orientação construtiva para a forma de agir, produzindo apenas um pressentimento de temor que transforma a idéia de karma numa caixa enfeitiçada, cheia de bugigangas, onde se colocam todas as coisas que não podemos ou não queremos entender sobre nós mesmos e nossas vidas, pois parte-se sempre do pressuposto de que estamos no lugar errado, já que, se entendêssemos de verdades as implicações das experiências da vida nesse plano, não estaríamos aqui. O que quero dizer com isso é que, numa época fast food como a nossa, especular sobre karma sem bom senso e sólida compreensão da metafísica pode fazer com que suas teorias sejam perigosas e justifiquem posturas equivocadas, transformando-as em um jogo de apertar botões da evolução ou em um meio de sentenciar vidas ao sofrimento. Isso posto, podemos começar a pensar sobre o que os nodos lunares representam.

A primeira constatação que podemos fazer é a de que os nodos estão em oposição, logo devem ter alguma coisa a dizer sobre relacionamentos, já que esse aspecto está diretamente associado a uma identidade e uma alteridade que precisam ser integradas. Alguns astrólogos definem os nodos lunares como um modo de entender o relacionamento da pessoa com o meio ambiente, onde o NN mostra onde a pessoa se afina mais com o meio e com os outros e o NS onde se perde o passo nesse encontro com o que está fora, e é possível, realmente, analisar algumas das influencias nodais através tanto do enquadramento social quanto da habilidade de tirar proveito das oportunidades. Podemos sentir que o NN e o NS se apresentam como um par de opostos entre uma identidade e uma alteridade, que pode ser representado por um Eu x Nós, Dentro x Fora, Futuro x Passado, Separado x Junto, Negativo x Positivo, Facilidade x Dificuldade, Sorte x Azar, Estagnação x Progresso, Vício x Virtude. Em todas as oposição falamos em encontrar a harmonia entre duas coisas que se mostram antagônicas na aparência. Como com qualquer dado do mapa, os signos dos nodos indicarão COMO os expressamos, e as casas ONDE expressamos essas energias. Um outro fator que sempre é interessante investigar é a posição dos regentes nodais (regente do signo do nodo), pois eles geralmente sugerem uma dimensão adicional da vida da pessoa através do qual os nodos podem ser canalizados. Vejamos agora os nodos em si.

Nodo Sul - Cauda do Dragão
Podemos considerar a Lua como o indicador na carta natal das formas de adoção e nutrição da pessoa, e, por tanto, os seus nodos devem ter alguma coisa a ver com isso. O NS se liga à comportamentos que são sentidos como familiares e habituais, que podem ser também compulsivos e rígidos, se tornando muitas vezes inadequados, principalmente quando se precisa de mudança. Assim como alguns consideram o signo lunar o signo do Sol de uma vida passada, essa familiaridade que temos com o NS é que faz com que o associem também à vidas passadas, pois geralmente ele mostra uma faceta com a qual nos sentimos seguros desde muito cedo na vida, e por isso expressamos esse nodo como uma maneira de enfrentar as tensões. Dane Rudhyar fala do NS como “o ego centrado na Terra”, onde temos uma "vontade humana” resultante do condicionamento individual por hereditariedade e meio ambiente. Em relação oposta teremos uma “vontade Divina” no NN, centrada em algo maior que ele chama de Destino (“plano ordenado cujo atendimento perfeito pode tornar a personalidade um fato da vida como estava potencialmente contido no momento-semente do nascimento do indivíduo - ou seja na ‘mônada’” – Astrologia da Personalidade, pg. 235 - Ed. Pensamento). Há uma tendência a nos agarrarmos ao NS, retornando a comportamentos inconscientes fáceis como meio de restaurar o equilíbrio e experimentar segurança emocional. Principalmente quando passamos por crises, o NS pode ganhar um status de sobrevivência, sendo o ponto onde nos fechamos sobre nós mesmos por medo de abandonar ou desviar nossa atenção do comportamento que ele representa. Esse é o motivo pela qual o NS ganha uma dimensão negativa, pois ele acaba revelando onde falta adaptabilidade a uma pessoa, o que pode torná-la insociável, ou onde ela pode estar envolvida em condutas anti-sociais. No NS temos uma série de talentos, habilidades e forças que sentimos como dons, e que muitas vezes utilizamos primordialmente para nos relacionarmos com as pessoas e com o mundo. Mas como os comportamento do NS são geralmente compulsivos e inconscientes, acabamos expressando sua energia não só nas situações que beneficiam a nós e aos outros, mas também nas situações inapropriadas ou de modo impróprio, exagerado ou inflexível, causando problemas. Com bastante freqüência manifestamos a dimensão negativa do signo e da casa do NS - pelo menos tantas vezes quanto a dimensão positiva - porque nossa possessão compulsiva torna difícil aprendermos pela experiência e cultivarmos novos e flexíveis modos de ser consciente. Esse automatismo torna-se negativo por que nada de novo pode ser acrescentado ou desenvolvido, e está diretamente ligado a uma decisão por adotar a linha de menor resistência; e essa decisão “covarde”, digamos assim, é normalmente escondida cuidadosamente de nós mesmos e dos outros, fazendo do posicionamento do NS uma configuração das características interiores que rejeitamos firmemente, evitando reconhecê-las, e muitas vezes projetando-as nas outras pessoas. É por isso que muitas vezes, a despeito de toda as nossas capacidades de NS, duvidamos dos padrões aqui representados por signo e casa, pois há uma constante sensação de incompletude, como se houvesse um estímulo interno que continuamente nos fizesse repetir os mesmos comportamentos, numa luta por aquela fonte de satisfação que esperávamos que fosse suprida. Por mais intensa e profundamente que nos expressemos pelo NS, a satisfação que ele nos dá tem sabor de ilusão, como se nossos corpos suplicassem por um alimento salgado e nós comêssemos chocolate; e então nos entupimos de doce por sermos incapazes de entender que precisamos de outra dieta. O NS pode, de fato, fornecer motivações, estabilidade e capacidades de valor real, mas se só trabalhamos sobre ele, provavelmente sentiremos muita desintegração, solidão e sofrimento, pois ficamos desequilibrados e perdemos o propósito e a conexão emocional com o mundo. Os alicerces dados pelo NS podem ser profundos e significativos, mas se nossa relação com ele se torna promíscua e dependente, tornando-nos inconscientes, automatizados, insatisfeitos e privados de objetivo, paramos de crescer e ficamos repetindo sempre as mesmas situações insatisfatórias. O símbolo do NS lembra um fone de ouvido em posição invertida e o do NN um fone de ouvido na posição correta, e Tracy Marks comenta: “quando nos voltamos para dentro e fazemos escolhas diárias que se relacionam com nosso direcionamento de energia, podemos perguntar: ‘os meus fones de ouvido estão na posição certa? O que exatamente estou ouvindo (...): a voz do passado, (...), ou a voz do futuro (...)’, daquilo que preciso desenvolver e potencializar?” (Astrologia da Auto Descoberta, Ed. Pensamento, pg. 72). Quando estamos presos ao NS as nossas realizações ganham valor negativo por pertencerem à repetição de coisas já aprendidas, e a pessoa nunca sai atrás de seus sonhos por que tem que arrumar a casa, ou cuidar das crianças, ou trabalho para fazer, ou dinheiro para juntar, pois onde temos o NS sempre há tarefas inacabadas, e nunca temos coragem para quebrar as próprias cristalizações psicomentais e dar um passo construtivo à frente. Quando conseguimos aceitar a realidade de que sempre há muito para fazer no NS, e esquecer isso, podemos passar a dirigir nossas atenções para o NN, pois o NS só pode ser bem utilizado se auxiliar o desenvolvimento potencial mostrado pelo NN, senão nos transformamos em escravos de nossas habilidades naturais em vez de as controlarmos.

Nodo Norte - Cabeça do Dragão
Assim como alguns colocam o NS sob a égide de mau agouro perpétuo, o NN muitas vezes se transformam num amuleto da sorte. Isso pode até funcionar algumas vezes, mas na maior parte do tempo podemos sentir o contrário, e nos parece que nada dá certo mesmo. O NN é um ponto de crescimento, de potencial não liberado, e por isso é realmente muito positivo. No entanto ele raramente é o que se reconheceria de imediato como o local onde o destino lhe sorri, pois sorte é visto geralmente como as coisas ocorrendo de maneira fácil, e quando começamos a olhar para o NN o fazemos com os olhos do NS, o que pode implicar em um não reconhecimento da sua positividade. Para realizar o potencial do NN precisamos dar um duro danado para, no final, quem sabe, descobrir que coisas boas estão realmente acontecendo. Não se trata, porém, de mera sorte, pois, consciente ou inconscientemente, se terá trabalhado para merecer isso. Muitas vezes superexploramos nosso NS às custas dos potenciais de NN, pois o signo e a casa do NN representam as qualidades pessoais que não puderam ser exploradas em determinada área da vida, e nos sentimos como bebês aprendendo a andar ou como adultos analfabetos tentando aprender a ler e escrever. Esse nodo precisa ser ativado através de esforço e determinação, e geralmente se passa por alguns períodos de luta para expressar sua visão de mundo, pois temos sempre consciência - clara ou mais subtilmente - de uma incapacidade muito antiga de viver da maneira que consideramos ideal. Nunca é fácil expressar as habilidades e qualidades nascentes, já que a falta de confiança e as restrições do passado acabam se tornando barreiras difíceis de se acreditar que possam ser ultrapassadas. Nos aspectos mais banais do cotidiano enfrentamos a escolha entre o NN, buscando expansão além dos limites existentes, descobrindo novas formas de ação e atualizando nossos dons e talentos para atingir uma perspectiva mais ampla e universal conosco e com os outros, ou permanecer do jeito que se está, achando que a vida e as coisas são imutáveis, cedendo às tentações do mundo familiar, e permanecendo no seguro NS, mesmo que ele seja sentido como limitante e restritivo. O apego ao status quo do NS trás solidão e sofrimento, por isso passamos a sonhar com alguém ou alguma coisa com as características do NN que irá nos dar aquilo que sentimos falta de presente, como mágica. No NN encontramos muitos de nossos sonhos “impossíveis”, e repetidamente nos damos conta de que nossos sonhos pessoais se relacionam com o signo e a casa desse nodo, e que isso implica numa mudança no estilo de vida e nas atitudes interiores para refletir essa positividade e abertura maior com relação ao mundo. Nossa capacidade de adaptação social e unidade com os outros também é intensificada através do NN, pois, enquanto no NS nos fechamos sobre nós mesmos, no NN nos abrimos à experiência com o outro. Quando consideramos o tipo de experiências mostrada por esse nodo descobrimos vários momentos da vida que nos forçaram a desenvolvê-lo constantemente, e que todo esforço feito naquela direção foram recompensados quando não nos aferramos teimosamente nas atitudes dadas pelo NS, ou seja, quando não dividimos o presente de modo desesperado entre o passado e o futuro, aquilo que eu tenho e aquilo que eu preciso ter. O NN muitas vezes aparece como algo que foi negado na infância (ou na “outra vida”), que “obrigou” a pessoa a se segurar no NS. Mesmo quando a história de vida da pessoa comprove essa afirmação, se é questionada sobre as razões atuais dela manter esse comportamento, geralmente a pessoa se justifica através de generalizações sem sentido ou desculpas que parecem querer enganar a si mesma. Um outro problema para desenvolver o NN é que ele indica também uma forma de não nos deixar explorar: no NS nossos dons são agradáveis aos outros e deixamos que eles o utilizem sem cobrar nada, por isso buscamos algo externo que represente o NN e possamos explorar no mesmo modo. Com o NN isso não ocorre, não só por termos trabalho para conquistá-lo, mas também por que nele encontramos nosso caminho mais individualizado, onde saímos da posição passiva para a ativa. Isso também contribui para que nos sintamos um tanto quanto desprezíveis ao tentar desenvolver o NN, pois esse progresso impede que todos quantos se dizem amigos o explorem. Mas depois de ter se encontrado o equilíbrio dos nodos, os problemas são atenuados, senão totalmente resolvidos.
Pense em seus sonhos mais impossíveis, e então dê uma olhada em seu dragão.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Nos Labirintos de Touro: O Mito

Júpiter se transformou em um imenso Touro branco para raptar Europa e levá-la para Creta, e lhe deu 3 filhos: Minos, Sarpedón e Radamanto. Quando foi embora, Zeus/Júpiter deixou para Europa um cão que não deixava escapar nenhuma presa, um venábulo que sempre acertava o alvo e um “robô de bronze”, eterno vigilante e guardião, que podemos usar como metáforas de características fortes desse signo. Europa acaba se casando com Astérion, rei de Creta, que, não tendo filhos, adota os do deus. Quando Europa morre recebe honras divinas e o touro em que Zeus havia se transformado torna-se constelação e é colocado entre os signos do zodíaco, marcado pelas Pléiades. Entre os anos 4000 e 2000 a.C. o Touro e a Vaca eram os animais sagrados das religiões e mitologias surgidas com as civilizações agrícolas, como aquelas à beira do Eufrates, Tigre e Nilo. Símbolos da fertilidade da terra, para os Egípcios, o renascimento do mundo se iniciava com a conjunção em Touro do Sol com a Lua. Eles chamavam essa constelação de Ápis, o boi consagrado a Osíris (o sol), que tinha, sobre os chifres, a lua, emblema de Ísis. Assim, vários mitos que tratam da fertilidade e do renascimento falam dos significados desse signo. Recorreremos aqui ao mito de Teseu e do Minotauro para ilustrar as principais dificuldade e maiores desafios da trajetória de Touro.
Quando o rei de Creta, Astério, morre, se inicia uma disputa para eleger seu sucessor. Minos, filho de Zeus/Júpiter com a mortal Europa, pede a seu pai que lhe mande do mar um touro como prova de sua ascendência divina, prometendo sacrificar em seguida o animal ao deus. Zeus manda-lhe um magnífico touro branco do mar, deixando a todos encantados e garantindo o poder para seu filho. O novo rei, porém, resolve enganar o pai e oferece outro touro para o sacrifício, guardando aquele ganho no seu rebanho. Indignado, o deus pede à Afrodite (a Vênus latina), que enfeitice a mulher de Minos, Pasifae, com um desejo irrefreável pelo touro branco. A rainha, incapaz de conter seu desejo, pede a Dédalo, o mágico arquiteto de Creta, que construa uma vaca de madeira para que ela possa se unir ao touro divino. O fruto dessa união é o Minotauro, um monstro com cabeça de Touro e corpo de homem, que se alimenta de carne humana. Nessa primeira parte do mito encontramos dois problemas característicos de Touro: a possessividade que pode torná-lo avaro e o desejo incontrolável que geram o Touro furioso, com sua humanidade eclipsada pelos desejos violentos.
O Touro de Minos (de onde vem o nome Minotauro) é a marca de sua vergonha, sendo escondido em um labirinto projetado pelo mesmo Dédalo, de onde era impossível sair, e onde eram jogados, regularmente, jovens filhos de vassalos de Creta, para saciar a fome do monstro. Teseu, filho do rei de Atenas, que já havia capturado o Touro que gerou o Minotauro, se junta ao grupo dos que iam ser sacrificados, com a intenção de acabar com aquela obrigação destruidora que sua pátria tinha para com Minos. Para isso conta com sua clava de bronze, conquistada de Perifeste, um malfeitor cruel e brutal que o cretense havia enfrentado. Ariadne, filha de Minos, se apaixona pelo herói e lhe dá um novelo de linha para que ele desenrole ao caminhar pelo labirinto e encontre a saída após matar o Minotauro. Com esse feito, Teseu liberta a Grécia do poderio de Creta e leva Ariadne consigo na volta para Atenas. A princesa acabará ficando na ilha de Naxos, onde desposará Dionísio, que, por sinal, tem muitas das suas aparições sob a forma de Touro.
Teseu também tem vários traços de Touro, e sua história nos mostra a forma que esse signo tem para escapar das trevas instintivas e libertar-se. O elemento básico a se considerar é o conflito que encontramos nos taurinos entre seu lado humano, heróico, e seu lado bestial, fruto de desejos irrefreáveis que podem torná-lo violento. O desejo é a força dominante em Touro - seja por sexo, comida, bebida, dinheiro, posição social ou qualquer outra coisa - e por isso ele corre o risco de se tornar cego quando essa força se torna obsessão. Touro demora certo tempo até descobrir o que quer e outro tempo até se decidir a ir atrás daquilo que quer, mas, uma vez começado o caminho, nada o fará parar. Se toda essa força for direcionada apenas para satisfação instintiva imediata, ele se transforma em um devorador da própria humanidade. Porém, se ele usar essa determinação contra a tentação perversa que o habita secretamente, se transformará em herói e sua clava de bronze, que destrói quando utilizada com crueldade, o fará acabar com o monstro. Na luta heróica que esse signo tem que travar consigo, não podemos esquecer do novelo dado por Ariadne, sem o qual sua missão seria impossível. Quando o taurino resolve entrar no difícil labirinto das emoções e motivações que o forma, sua maior arma é a capacidade que tem de traçar um plano e definir claramente a finalidade que irá guiá-lo. Seu gosto pelo simples e direto, que gera aversão a qualquer interferência, rodeio, meias palavras e ambigüidades, pode fazer com que se perca nos relacionamentos e em sua própria vida interior, porém, quando ele percebe o impulso amoroso que dá sentido ao desejo, ele irá conseguir uma idéia geral do mapa do local, e, então, esse mesmo gosto por coisas diretas o irá colocar no bom caminho e impedir que se desvie.
O touro mágico que Zeus mandou do mar para Minos também aparece nos 12 trabalhos dados a Hérules por Hera através de Eristeu. Depois de engendrar o Minotauro em Pasifae, o touro de Zeus se torna feroz, lançando chamas pelas narinas e destruindo tudo ao seu redor. Hércules é encarregado de levar o touro vivo para Eristeu, e não pode contar com a ajuda de ninguém, nem mesmo de Minos, que se recusa a auxiliá-lo. O herói pega o touro pelos chifres e monta em seu dorso como em um cavalo. Atravessa o mar e regressa a Hélade. Eristeu oferece o Touro a Hera, mas essa se recusa a aceitar qualquer coisa vinda de Hércules, e o solta de novo. O animal vai parar na Ática, onde Teseu irá capturá-lo e sacrificá-lo a Apolo, o princípio solar heróico. Aqui tratamos do mesmo tema, onde o herói, em seu processo de aperfeiçoamento e encontro consigo mesmo, doma e triunfa sobre a força bruta da tendência dominadora. Um detalhe importante dessa tarefa é o fato de que o touro, no fim, é solto, pois mostra o desapego por aquilo que se conquistou. Teseu, nosso herói taurino, irá capturar e sacrificar, finalmente, esse touro a Apolo, ao deus que preside a individuação.

domingo, 20 de abril de 2008

Touro e o Prazer da Matéria

O Sol começa sua passagem anual pelas terras fixas de Touro, signo regido por Vênus e onde a Lua se exalta. Muitos povos agrícolas iniciavam o ano à partir da Lua nova em Touro exatamente por conta dessa força vinda da Terra através desse signo. Aqui também temos o exílio de Plutão e de Marte, e a queda de Mercúrio, pois esse não é um signo que goste de movimento ou transformação.
Touro é tradicionalmente associado ao seu desejo de segurança e estabilidade material, pois realmente gosta de ter coisas que sejam palpáveis e imutáveis, como barras de ouro e propriedades em seu nome. Riquezas abstratas ou de natureza incorpórea - como beleza interior ou amizades atemporais - não são coisas que ele confie, pois mudam, podem ser corroídas ou podem deixá-lo sem que ele controle. Terra lida com a realidade concreta e tangível, e Touro, sendo a modalidade Fixa desse elemento, tem isso concentrado. Isso quer dizer que ele nunca é loucamente idealista ou ingênuo com relação à suas necessidades e exigências quotidianas, tendo sempre um olho fixo naquilo que é importante para sua sustentação e preservação. Isso faz dele um típico pragmático, que costuma desqualificar as idéias e os comportamentos que não se encaixam em suas fórmulas simples e confortáveis, pois geralmente leva em conta apenas os fatos que considera fundamentais para a sobrevivência: Touro pode mostrar uma total falta de compreensão quanto ao que é simbólico, emocional ou dramático demais, se as coisas não ocorrerem em uma área em que a realidade física aparente esteja envolvida. Esse signo preza pelas coisas de boa qualidade, mas Touro não gosta nem de enfeites complicados nem de muitas opções. Essa previsibilidade pode parecer um tanto aborrecida para signos mais aventureiros, mas sem dúvida é uma das maiores vantagens dos taurinos, pois os ajuda a não cometer tolices e estabelecer a veracidade absoluta de tudo que admitem em sua vida, seja com relação ao trabalho, aos relacionamentos ou aos projetos de vida.
Vênus, a deusa do amor, é a regente de Touro, e inegavelmente essa é a criatura mais sensual do zodíaco, apesar da fama maior de seu signo oposto, Escorpião. Não só por sua vida sexual, mas principalmente por seu prazer com tudo que agrada aos sentidos. Touro tem um gosto apurado para mexer com cores e música, além de um enorme prazer com o toque físico - não só em pessoas mas também em texturas macias como da seda ou do veludo -, com o paladar da boa comida e com o cheiro de boas essências - seja de flores ou de perfumes caríssimos. Os sentidos de Touro são tão apurados e intensos que ele pode achar insuportável ficar em um local que pareça sórdido, cheire mal, seja barato ou feio, e esse é o mais forte instinto taurino para a harmonia. Podemos chamar isso de bom gosto, mas, sendo um gosto de Terra, é algo que tem na consciência exigências sociais e tradicionais, ou seja, algo que prima pela qualidade mas também pela solidez e pela confiabilidade comprovada pelo tempo.
Taurinos adoram fazer coleções, de objetos, de dinheiro e de pessoas. Tudo que colecionam tem valor para eles, o que os fará guardar, cuidar, dar atenção e agarrar com todas as forças aquilo que lhes pertence. Os objetos inanimados parecem não se incomodar com isso, mas quando se trata de pessoas as coisas podem ser mais complicadas, pois, apesar da verdadeira segurança de um relacionamento estável e imutável que os taurinos proporcionam, às vezes são necessárias muitas brigas feias e conversas sérias para convencê-los que o outro tem uma individualidade própria e motivações diferentes. E isso tem que ser dito de forma direta, pois taurinos não se comunicam por telepatia nem entendem sutilezas e indiretas. As relações afetivas desse signo - com objetos e com pessoas - tem expressão corpórea, e isso quer dizer que Touro sabe - e tem medo disso - que nada é eterno, que tudo pode acabar, que a tendência natural das coisas é morrer. Quando esse medo se torna muito grande ele pode lutar contra a perda de forma realmente doentia, mostrando uma possessividade sem limites e um ciúmes assustador. Touro conhece os segredos da fertilidade da Terra, e sabe como fazer para que ela nos dê os frutos para que possamos nos alimentar, mas precisa descobrir e aceitar a transformação daquilo que fenece para fornecer adubo às novas vidas que virão. Quando os taurinos aprendem que a morte é um símbolo de mudança e que às vezes perdemos coisas para dar espaço a outras, então eles conseguem proporcionar a si e ao mundo aquilo que realmente sabem fazer com maestria: criar um ambiente onde sentimos prazer em estarmos vivos, em um mundo material e dentro de um corpo físico.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Astrologia de Boteco: Encontre seu Marte e Vá à Luta

Marte em Áries
Se sentindo em casa, Marte costuma mostrar seu melhor e seu pior lado, sendo comum que pessoas com um guerreiro ariano achem que suas raivas e ações agressivas se precipitam para fora antes que qualquer coisa possa ser feita para detê-las. Com esse deus da guerra a pessoa costuma ser espontâneas, autentica e vitalizada, dando muito dinamismo à busca por aquilo que se quer. A energia de imposição pessoal ganha força em Áries e, sendo Marte a força que destaca o individual do grupal, é como juntar a fome e a vontade de comer, fazendo com que se tenha grande desejo de abrir seu próprio caminho e passar por provas de coragem e responsabilidade. Esse posicionamento indica tamanha coragem e autoconfiança, que pode beirar o abuso e uma insistência incansável no próprio ponto de vista. O Marte Ariano é ardente e combativo, tendo muita energia para fazer tudo sozinho, por isso lhe é sempre aconselhável a dedicação a esportes físicos e competitivos, que possibilite um direcionamento saudável de tanta tensão.
Esse é um posicionamento marciano muito encontrado em militares. Lennin possuia esse marte ariano que o ajudou a acreditar no sonho impossível da Revolução Russa. Goya, artista espanhol que tão bem retratou as atrocidades da Guerra, também era portador desse Marte.

Marte em Touro
Esse Marte pede agressividade, ações dogmáticas e audaciosas para conseguir dinheiro e posses. O deus da guerra com formas taurinas costuma ter forças hercúleas quando se mete em brigas, principalmente quando o que está em jogo é algo ou alguém que estima. Touro, porém, é um signo de natureza lenta e amante da paz, e geralmente a necessidade marciana de se provar caminha junto ao desejo de se sentir seguro. Porém, quando provocada, a agressividade taurina pode explodir violentamente, inclusive de forma física, destruindo tudo que estiver à sua volta, e é bom ter uma boa quantidade de coisas baratas por perto que possam ser destruídas durante os acessos de raiva desse Marte.
Dois bons exemplos da persistência e paciência para se conseguir o que quer desse Marte, são Hitler e Fidel Castro. Nesses dois exemplos históricos encontramos também a dificuldade de largar o osso do guerreiro taurino.

Marte em Gêmeos
Esse Marte fala aquilo que pensa e afirma seu poder e vitalidade através das palavras, das opiniões e de seu conhecimento intelectual. O Marte geminiano costuma gostar de se envolver em grande variedade de atividades e a afirmação de sua independência está vinculada a essa capacidade. Esse planeta também simboliza como nos comparamos e competimos com os outros, e um deus da guerra de Gêmeos não fará isso através da força física, mas do poder de destruir seu oponente com palavras de veneno letal. É claro que isso pode desvirtuar para uma eterna oposição, não por ter um outro tempo de vista - pois nunca teve tempo para formular um - mas pelo simples gosto da batalha verbal. O lado saudável desse Marte dá à pessoa uma grande capacidade de dar respostas espirituosas e de se desenvolver de modo natural através das linhas mentais.
Santa Teresa D’Avila tinha um Marte geminiano e o poder de sua palavra era realmente guerreiro. Interessante notar em sua biografia que muito da força que recebia para sua luta vinha dos livros que lia, o que é muito comum nos guerreiros geminianos.

Marte em Câncer
A energia aqui é emocional, e isso quer dizer que o Marte canceriano agirá conforme os impulsos internos, que nem sempre são claros e confiáveis. O lado mais terrível desse deus é mostrado quando a pessoa acha que é superior pela capacidade de manipulação emocional dos outros, e o mais iluminado é sua capacidade de luta pelas coisas que o mobilizam emocionalmente. Câncer é um signo conectado com a família de origem, e ter o deus da guerra em casa não dá exatamente um lar calmo. Muitas vezes esse guerreiro tem que enfrentar as raivas ou agressividades ocultas, que precisam ser conscientizadas, integrada à personalidade e dirigidas à conquista da própria independência. Isso pode significar crescer com alguma figura masculina dominadora ou briguenta e, com isso, ou a pessoa “engarrafa” a raiva - e fica doente ou briga com a pessoa errada - ou usa essa energia para se separar da família e construir seu senso pessoal de autonomia e liberdade de expressão.
Pablo Picasso, pintor espanhol, possuía esse guerreiro aquático, e teve que se separar de sua terra natal e ir para a França para construir sua história. Além disso, as várias famílias que conquistou também são típicas desse guerreiro.

Marte em Leão
O Marte leonino é cheio de vida e energia, mas não é muito nobre quando compete para reforçar seu ego. Capaz de realizar coisas grandiosas e trabalhar muito, também espera reconhecimento por tudo que faz, pois age para ser o melhor, o mais rápido, o mais brilhante. Quando isso degenera para o lado sombrio de Leão, que coloca a insegurança como base para a ação e depende do reconhecimento incondicional dos outros, pode se tornar abertamente agressivo, explodindo em ataques grosseiros por sentir sua individualidade atacada. A necessidade de identidade pessoal leonina e a necessidade de auto-afirmação marciana fazem, entretanto, um bom casamento quando bem trabalhado, pois a pessoa vai desejar mesmo é ser apreciada por seu verdadeiro valor individual. Como tudo que se refere a Leão, esse guerreiro tem que aprender a ouvir a voz interior para descobrir os padrões pessoais de atividade e a vencer as batalhas internas em vez de ficar buscando reconhecimento externo e vendo inimigos em todos que não concordam com ele.
Um bom exemplo de Marte leonino é Gilberto Gil, que brilha em tudo que faz. Você pode até não concordar com o seu posicionamento político, mas com certeza é um luxo vê-lo como representante do Ministério da Cultura do Brasil.

Marte em Virgem
Virgem e Marte combinam no quesito independência, e esse casamento dá grande energia para se construir a própria autonomia de forma analítica e direta. O Marte virginiano não se satisfaz facilmente com o próprio desempenho, tentando sempre melhorar sua eficiência e competindo por causa de suas habilidades práticas. A agressividade perniciosa do tímido virginiano geralmente vêm através de palavras amargas e críticas, pois esse signo observador de detalhes sabe exatamente como encontrar as palavras mais contundentes para o uso de um Marte raivoso, sendo que esse comportamento será pior cada vez que encontrar reação.
Caetano Veloso possui esse guerreiro independente, e é só lembrarmos das palavras de seu discurso no Festival da Canção para entender o que significa esse Marte: “Eu quero dizer ao júri: me desclassifique ... Eu não tenho nada a ver com isso... (...) nós estamos aqui para acabar com o festival e com toda a imbecilidade que reina no Brasil... (...) nós tivemos a coragem de entrar em todas as estruturas e sair de todas... Se vocês forem em política como são em estética, então estamos feitos! Me desclassifiquem junto com Gil... O júri é muito simpático, mas é incompetente. Deus está solto!” (sit. in Noites Tropicais - Motta, Nelson - 2000)

Marte em Libra
A necessidade de agir e de decidir de Marte, no signo das parcerias, direciona sua energia para definir a identidade e ganhar um sentido de poder através dos outros. É comum, com esse posicionamento, se atirar em casamentos cheios de paixão muito cedo, apenas para se livrar da opressão familiar. Sendo a força de dissociação do grupo, o deus da guerra costuma criar confusão quando associado a Libra, pois a inspiração de harmonia e cooperação precisa se encaixar nas necessidades de atividade e independência. As formas mais comum dessa contradição se resolver é através de um grande anseio de entrar ativa e energicamente na vida social, estando sempre em contato com as pessoas, ou lutando por uma posição de liderança em qualquer associação que fizer. Libra geralmente impede que o Marte leve as coisas ao extremo, a menos que se vivencie uma situação de injustiça, pois aí ele será capaz de deixar todas as qualidades diplomáticas e lutar ferozmente. É comum também que, sob a influência desse signo, o Marte seja projetado no parceiro, e a pessoa passa por uma série de relacionamentos violentos até aprender a usar a própria agressividade para afirmar seu valor e o sentimento de auto importância, pois tudo que se refere a Libra está ligado ao equilíbrio e à distribuição harmônica e justa.
Um bonito exemplo desse Marte é o de Sua Santidade Dalai Lama: sua luta pela independência do Tibet é sempre reforçada pela idéia de harmonia e compaixão com relação à China.

Marte em Escorpião
Aqui você pode vir quente que a coisa está fervendo, pois Marte se empenhará em criar associações onde se dá e se recebe tudo o que se tem. Isso significa que Marte, quando vestido com o manto escorpiniano poderá tanto ficar desafiando e tentando convencer os outros para participarem de seus méritos, quanto se gratificar através dos valores e méritos dos outros. Isso porquê o deus da guerra que tem que se afirmar no Hades colocará todo o seu peso em qualquer ação que estejam envolvidas as emoções. Esse Marte indica o tipo de pessoa que enfrenta toda e qualquer destruição antes de recuar um passo quando luta por algo que considera importante. Quando esses dois se juntam são capazes de grande intensidade e a pessoa com essa combinação tende a fazer qualquer coisa para quem está ligado, assim como atacar para matar aqueles por quem sente antipatia. Como todo planeta em Escorpião, Marte aqui sofre de incertezas gerais e tem necessidade de viver procurando. Como sua força básica é a certeza individual, é comum esse posicionamento em pessoas que estão sempre procurando se auto afirmar através de demonstrações explicitas de poder ou provando suas proezas sexuais. Quando a pessoa consegue controlar suas incertezas iniciais, porém, será possível direcionar positivamente esse Marte para conquistar concentração, resolução, confiabilidade e autocontrole, tornando os contatos mais saudáveis sem que se perca a intensidade.
Mahatma Gandhi e Mao Tse-Tung são bons exemplos de um Marte escorpiniano sob controle para se obter aquilo que se quer. As traições e intrigas que Mao teve que lidar e a forma traiçoeira com que morreu Gandhi também são bem característicos desse guerreiro.

Marte em Sagitário
No vasto horizonte da religião, da filosofia, das grandes viagens da educação superior, podemos dizer que Marte “caça” a Deus, sendo comum esse posicionamento em dogmáticos religiosos que promovem e defendem suas crenças com o zelo de um xiita. O deus da guerra com cores sagitarianas tem metas idealistas em que baseia sua auto-afirmação e seu senso de valor, por isso sabe como canalizar sua energia em prol de um ideal, mas pode fazer isso também em prol de coisas irreais que ele deixa tomar conta de sua cabeça. Em contraposição a esse comportamento filosófico, a liberdade pessoal e a busca de novos horizontes é altamente valorizado nas relações particulares, sendo difícil para o Marte sagitariano manter-se em um único tipo de atividade, pois há uma grande quantidade de energia e de poder que precisa ser gasta para que esse deus da guerra viajante não fique se metendo em revoluções ou guerras contra os hereges. É sempre bom mantê-lo ocupado.
Carl Gustav Jung, que em suas viagens metafísicas através do inconsciente formulou o conceito de Inconsciente Coletivo, tinha esse guerreiro sagitariano em seu mapa. Em seu livro Os Arquétipos e O Inconsciente Coletivo (Obras Completas vol. IX/I; ed. Vozes - 2001), ele expressa como pensa esse guerreiro: “A vida é ao mesmo tempo significativa e louca. Se não rirmos de um dos aspectos e não especularmos acerca do outro, a vida se torna banal e sua escala se reduz ao mínimo. (...). No fundo, nada significa algo, pois antes de existirem seres humanos pensantes não havia quem interpretasse os fenômenos. As interpretações só são necessárias aos que não entendem. (...). O homem despertou em um mundo que não compreendeu; por isso quer interpretá-lo.” (pg. 41).

Marte em Capricórnio
Esse é um posicionamento bem ambicioso do deus da guerra, pois ele vai querer ser poderoso e forte no mundo, sendo comum que a escolha da carreira esteja ligada às qualidades de iniciativa e liderança, onde possa ter um bom grau de autonomia. O rebelde e indomado Marte recebe propósito e senso de realidade sob influência capricorniana, que ajuda muito no direcionamento dessa energia. A força marciana lutará com afinco e persistência por tudo o que quer, inclusive usando força bruta se achar necessário. Esse posicionamento gera pessoas bem individualistas, mas elas sempre precisarão dos outros como pano de fundo das próprias atividades. A agressão marciana é contida por Capricórnio, mas se distorcida pode tornar a pessoa calculista e capaz de passar por cima de qualquer regra moral, o que é sempre muito complicado quando se trata de Marte.
Tanto Betinho, o sociólogo brasileiro, quanto Leon Tolstoi possuiam esse guerreiro saturnino, e são bons exemplos de como esse Marte pode usar as estruturas para reforçar sua identidade, conquistar uma posição de destaque e fazer a diferença.

Marte em Aquário
Marte lida com amigos de forma apaixonada, enérgica e afirmativa, além de, é claro, querer ser o chefe da turma. O impulso marciano de tornar-se livre e distinguir-se dos outros encontra expressão em Aquário mostrando agudeza e rapidez de argumentação na participação de debates em seus grupos de afinidades. Esse é um posicionamento mentalmente provocativo e dá um grande poder executivo das idéias se a pessoa se identificar com aquilo que pensar e fizer. Claro que se a identificação ficar apenas em ideais isolados, passando por cima das opiniões dos outros, a mente se torna um mero instrumento de afirmação, e os fracassos farão com que se torne cada vez mais frio até ocorrer alguma crise ou acidente que obrigue o redirecionamento dessa energia.
Esse é um guerreiro facilmente encontrado em figuras públicas que de alguma maneira se tornaram líderes coletivos. Ayrton Senna e Roberto Carlos, no Brasil, mostram muito bem o que significa isso. Mas um exemplo mais claro do funcionamento desse Marte é o militar e político alemão Otto von Bismark, que buscava a união alemã sob o Império de Guilherme I no século 19, e que, com seu sistema de “paz armada”, mostra bem o que é capaz um guerreiro aquariano que acredita nas “razões de estado” e luta por isso.

Marte em Peixes
O deus da guerra vestido com a máscara de Netuno faz com que nunca se saiba ao certo onde ou como ele irá aparecer. Podemos dizer que a ação é passiva e impressionável por fora em contraposição a uma atividade interior - principalmente nos sonhos, nas fantasias e nos processos emocionais - bastante intensa. São as emoções que levam à ação, e a distinção afirmativa é conquistada através da energia e do entusiasmo inconscientes que a pessoa tem para trabalhar a favor do bem estar dos outros. Esse Marte pode muito bem se deixar explorar, pois não sabe o significado da auto preservação e costuma reagir muito prontamente às atmosferas e ondas emocionais que o cercam. O desejo de liberdade de expressão costuma levar o Marte pisciano mais para dentro, para as regiões mais profundas da psique, e é bom que a pessoa aprenda a trazê-lo para fora através da música e da dança, para que ele não faça “arte” lá dentro. Como esse Marte é impressionável, ele acaba sendo mais ativo quando cercado de pessoas ativas, e mais passivo com pessoas mais calmas.
Giacomo Girolamo Casanova, com seu Marte pisciano, fez história pulando de cama em cama e envolvendo sua vida em uma nuvem de sedução netuniana. Michelangêlo também possuia esse Marte de ação inconsciente, e pode ilustrar bem o tipo de identidade artística que guerreiro é capaz de conquistar. Outro exemplo de ação pisciana é o de Getúlio Vargas, que com um tiro no coração sai da vida para entrar para a história, em um sacrifício também típico desse signo.

sábado, 29 de março de 2008

Marte: Você Tem Fome De Que?

Nosso vizinho vermelho é regente de Áries e co-regente de Escorpião, tem seu exílio em Libra, exaltação em Câncer e queda em Capricórnio. Seu movimento médio diário é de 0°12’, com ciclo de 1 ano, 11 meses e 26 dias.
Áries é o nome dado pelos Gregos ao Marte romano, e era, enquanto deus da guerra, considerado terrível e absolutamente destratado por aquele povo filosófico. Ele era fruto da raiva e do despeito de Hera, que se sentiu ultrajada ao ver seu marido Zeus parir Atená diretamente de sua cabeça, e por isso gera o deus da guerra sem recorrer a ele. Nas batalhas Áries tinha como escudeiros Dermos (o Terror), Fobos (o Medo) e Éris (a Discórdia). Esse grupo nem um pouco bonito de se ver, ao contrário do que se poderia esperar, não vencia todas as suas batalhas, e geralmente aparecem nos mitos como um grupo de tolos que são expostos ao ridículo: Atená atira em Áries uma pedra, como em um cachorro, e ele cai por terra “chorando como 10 mil homens”; dois simples mortais capturam o deus e o deixam preso em uma garrafa por 13 meses - assim como muita gente faz com a própria raiva -; enquanto amava Afrodite fica preso em uma rede feita pelo marido corneado - Hefesto - e serve de escárnio para os outros deuses, que vêm rir do ridículo espetáculo. Já Marte era honrado e respeitado pelo bélico povo romano, que o consideravam não só o deus da guerra, mas também da vegetação e da fertilidade, sendo cultuado na primavera. Mar, de onde deriva Marte, quer dizer brilho e o deus era comumente chamado Mar Gradivus “o brilho que cresce, que se torna grande”. Seus escudeiros eram Honos (a Honra) e Virtus (a Virtude). O desprezo grego e a reverência romana mostram dois aspectos desse planeta indicador da agressividade pessoal: um deles é a brutalidade estúpida, baseada no terror e que cria discórdia; a outra é aquela necessária para uma auto-afirmação saudável, que busca a independência e o crescimento pessoal com base na honra e nas virtudes próprias. A posição por casa e signo de Marte indica as formas com que os impulsos agressivos irão operar, nossa necessidade de atacar a vida de modo direto, de afirmar nossa liberdade e independência, assim como nossa tendência à beligerância e à competição, à paixões cegas e à acidentes. Sasportas chama Marte de “capanga do Sol”, pois ele representa o princípio do lutador solar, e também de qualquer planeta a ele relacionado.
É bem fácil encontrarmos o lado negativo de Marte em nossa sociedade. É só darmos uma olhada nos jornais para nos convencermos da necessidade que temos de um princípio de luta para enfrentarmos o mundo lá fora, que parece ameaçar nossa individualidade, nossos valores e até nossa sobrevivência física e psíquica. Na verdade Marte representa a força que desenvolvemos na luta para sair do útero e afirmamos nossa individualidade. Na Idade Média, Marte era considerado um princípio malévolo, e ainda hoje encontramos essa conotação em textos astrológicos mais “espiritualizados”. O reino da agressividade, da guerra e do conflito ainda é uma esfera espinhosa, difícil de encaixar num mundo perfeito, sendo realmente trabalhoso aprender a lidar com Marte de modo consciente e construtivo. Sem ele, entretanto, somos impotentes e vulneráveis e nos sujeitamos a receber uma boa surra do Marte dos outros. Esse planeta vermelho é quem nos dá a definição inicial da vida, que serve como instrumento básico da separação do útero e da coletividade. A maior dificuldade para conscientizar esse princípio é porque no momento em que assumimos certa postura em relação ao que somos, desejamos ou valorizamos, definindo-nos como entidades separadas, é impossível voltar atrás. Quando Marte é trazido à luz do dia e a declaração é feita, não pode mais ser desfeita - assim como não podemos voltar para o útero depois que respiramos sozinhos e nosso cordão umbilical é cortado - e é exatamente por que a ação marciana é absoluta e irreversível que muitas pessoas sentem dificuldade para lidar com ela. A principal característica de Marte é que ele não consegue se manifestar por rodeios e duplos sentidos para encobrir seus passos, simplesmente dizendo, como Lutero: “Eis-me aqui; e que Deus me ajude”. Quando Marte age, mesmo que se peça desculpa depois, nunca se voltará à fusão sem conflito anterior. Pode-se perceber isso claramente nos relacionamentos amorosos, quando a primeira briga sempre se torna um divisor de águas. No início do enlace amoroso, Netuno e Vênus presidem a corte, nos dando a impressão de que os dois corações batem em uníssono e “amar é nunca ter que pedir perdão”. Acontece que a única vez que experimentamos dois corações batendo juntos é quando estamos no útero, e quando Marte faz sua entrada, descobrimos que essa fusão cessa com o nascimento, seguindo-se uma discussão que define as identidades separadas de duas pessoas. Há sempre um lado nosso que teme usar Marte, pois quando agimos em nosso próprio benefício não há como voltar ao Jardim do Éden. Na jornada do herói há sempre aquela fase em que ele tem que enfrentar o dragão ou o irmão sinistro ou o inimigo mortal, e é nessa hora que precisamos fazer a entrada de Marte, com sua espada e o espírito de luta do herói. Há um ponto do desenvolvimento do Sol em que Marte deve ser evocado para defender a individualidade florescente, onde temos que nos definir como indivíduos separados contra todas as forças de atração regressiva da fusão com a mãe e o coletivo, cumprindo a tarefa implacável de analisar e definir a realidade de maneira objetiva, cortando-a para criar uma vida individual. Numa análise psicológica básica, as batalhas marcianas, a raiva, a agressividade e a afirmação do eu, são os implementos da separação da mãe e da formação de um ego individual nos primeiros estágios da vida. Essas emoções primitivas são as armas com que lutamos contra o dragão que toda mãe - por melhor que seja - se torna em certas fases do desenvolvimento do filho. A natureza primitiva e direta dessas emoções também confere uma clareza que só pode vencer o inimigo através de uma batalha de frente. A função marciana não consegue lidar com elementos misteriosos ou inimigos escusos - embora um Marte em água possa lidar melhor com confrontos indiretos. A natureza marciana pode ser insensível e bruta, mas é aberta, honesta e objetiva em essência, e, com isso, caso consigamos confiar na honra do inimigo, podemos lutar com igualdade e até perder com graça, retornando ao combate mais tarde. Mas não há como Marte se defender de uma facada nas costas, e não há faca escondida mais afiada do que a manipulação emocional. Podemos deduzir disso que um dos maiores problemas para a expressão saudável de Marte é a educação em um ambiente em que as brigas são veladas, onde a agressividade e o isolamento franco são coibidos e os esforços para se conseguir o que deseja são feitos por vias inconscientes. As doenças com fundo manipulativo - onde a raiva, a agressividade e a vontade são comprimidas em uma forma de controle velados mediante sintomas físicos - geralmente estão ligadas a um Marte aflito no mapa.
O herói que melhor traduz a natureza de Marte é Héracles - Hércules romano -, que era visto, tanto por gregos como por romanos, como o ideal de herói. Ele não era um sujeito muito inteligente, e sua jornada é repleta de erros, onde ele acaba matando quem não devia - como Hipólita, Rainha das Amazonas - ou ferindo amigos acidentalmente - como Quíron. Parece que ele sempre está coçando a cabeça e falando: “Ops, desculpe. Acho que exagerei um pouco”. Marte tem essa qualidade meio tola, mas é quando entra em batalha que mostra seus talentos. O padrão dos doze trabalhos de Hércules - que ele tem que se submeter por ter matado toda a sua família num ataque de loucura mandado por Hera - pode ser visto como uma série de mini mitos, sendo que cada um reflete uma faceta do treinamento de Marte. O ciclo dos doze trabalhos descreve as muitas facetas da batalha que devemos travar ao longo da vida, e como teremos que aprender a reagir através de um Marte rigoroso. Hércules completa seus trabalhos tendo aprendido a ser um pouco mais polido e autocontido, mas ainda sendo Hércules, e é o único herói que ganha um lugar no Olimpo em vez de ir para a Ilha da Bem Aventurança. A natureza marciana é, porém, anti-social: ele serve aos meus propósitos, e não aos da sociedade. Isso significa que, mais cedo ou mais tarde, a vida coletiva acaba temperando nossos instintos agressivos, já que ninguém é obrigado a agüentar o Marte estúpido de ninguém. Na melhor das hipóteses nos isolam, na pior, nos jogam na cadeia. Se conseguimos responder conscientemente aos desafios “equilibradores” do mesmo modo que Hércules aprendeu com seus trabalhos, acabamos aprendendo a expressar Marte de modo muito mais positivo, contido - não reprimido - e criativo.
Vamos olhar um pouco mais para o mito grego de Áres para entender as características dos nossos impulsos agressivos simbolizadas por esse planeta. Primeiramente, Áres não tem pai, é fruto de uma partenogênese de Hera, que está furiosa com o nascimento de Atená da cabeça de Zeus. Enquanto Atená não participa do reino do corpo e dos instintos, pois não tem mãe, Áres não tem um princípio paterno, sugerindo que ele não participa da dimensão intelectual do logos masculino. Isso faz dele um homem de instinto puro, sem a dimensão reflexiva ou simbólica. Assim, embora Áres seja inegavelmente fálico e macho, não participa do desapego dos deuses olímpicos. Podemos dizer que ele é lunar e ctônico, sendo descrito como um brutamontes de 100 metros de altura, peludo, mas que brilhava nas batalhas: ele é estúpido e desajeitado, mas tem luz sob a embriagues das lutas, e nada pode lhe fazer mal, lembrando o efeito na adrenalina e outras substâncias produzidas por nosso corpo em momentos de estresse, que parece nos tornar invencíveis, como que “possuídos” por um deus. A excitação da conquista deixa Áres sequioso por mais conquistas, e o único ser que consegue domar esse deus é Afrodite, por quem o senhor da Guerra se sente irresistivelmente atraído. É suficiente contar que o filho de Áres e Afrodite é Eros, o Cupido romano. Os mitos de Áres nos falam que estamos lidando com uma força instintiva básica e pura de sobrevivência, que encontramos tanto na agressividade quanto na sexualidade. Na Alquimia, Marte é o princípio do enxofre, geralmente retratado como um lobo, símbolo do instinto agressivo, da força vital básica em seu estágio bestial, antes da sujeição aos processos de transformação que resultam em sua humanização e que dá origem ao ouro alquímico. Isso pode ser traduzido como a forma primitiva e animal do Sol. O herói solar, antes de se tornar humano e desenvolver a capacidade de consciência reflexiva, é o lobo solitário, o enxofre que queima. Isso é facilmente observável na criança em torno dos dois anos, quando ela começa a se comportar de maneira horrível, com ataques desagradáveis e muitas vezes perversos. Essa fúria primitiva apresentada pela criança está ligada ao verdadeiro início da formação da individualidade, quando ela percebe que tem que lutar para conseguir o que quer. Essa fúria infantil dos dois anos precisa ser contida e temperada pelos pais, mas se for reprimida ou bloqueada por meio de culpas ou chantagens emocionais, dificilmente superará sua forma animal e o enxofre não se transforma. Quando isso ocorre acaba se descobrindo nos processos terapêuticos que ainda temos uma terrível criança de 2 anos solta no eu interior, como um vulcão ativo. Para transformar o lobo em rei, na Alquimia, corta-se suas patas e ele é colocado em um alambique selado e depois cozido, sem que seja morto, já que é divino, a forma animal do ouro alquímico. O lobo uiva e se agita muito, mas o alambique continua selado, senão não nasce rei algum e não se forma ouro. Isso pode parecer meio bárbaro, mas é uma imagem que apresenta o estranho paradoxo da educação de nosso Marte, que combina o reconhecimento de um grande valor com a necessidade de sofrimento para a transformação. É interessante nesse sentido lembrarmos o que ocorria em nossa infância quando nos sentíamos realmente zangados, e ver se conseguíamos expressar raiva e receber advertências sem nos sentirmos inúteis, ou então se a repressão era algo tão forte que simplesmente nunca sentíamos algo semelhante a raiva. Os pais não são responsáveis pelo nosso caráter básico e um Marte difícil no mapa não é “causado” pela forma como somos tratados. Mas o modo como nosso Marte é tratado pode fazer uma grande diferença na forma como tratamos essa nossa faceta na vida adulta, já que, de certo modo, a colisão entre o Marte de uma criança e o Marte dos pais acaba suscitando, no mínimo, uma raiva mútua, e, nesse caso, uma surra ou uma discussão feia pode ser muito mais saudável do que a profunda castração decorrente de ensinamentos que nos falam que a raiva e a agressividade são coisas ruins, indecentes e imorais em si. A culpa que vêm dessas mensagens é corrosiva, e de todo modo todos temos um pouco de culpa com relação a Marte, pois o deus da guerra é basicamente anti-social e tem cem metros de altura, não sendo interessante encontrar com ele numa ruela escura. Um Marte bloqueado significa uma enorme sensação de impotência e um sentimento de vitimização, o que representa uma grande raiva inconsciente que se expressa das mais variadas maneiras. Estudos americanos sobre depressão dizem que pensamentos com raiva ou fantasias sexuais são usadas por pessoas deprimidas para sair da cama, o que ilustra bem o que quero dizer.
Parece claro que se queremos um mundo mais harmônico e menos agressivo, é muito importante que entremos em contato com nosso Marte conscientemente, para assumir nossa individualidade e educarmos nossa criança guerreira.

quarta-feira, 26 de março de 2008

O Guerreiro Mítico de Áries

Áries é o deus grego da guerra, e seu correspondente romano é chamado de Marte. Qualquer história de guerreiros corajosos, que têm que cumprir uma difícil missão e salvar o mundo, pode servir para ilustrar esse signo, de Robin Hood a Guerra nas Estrelas, de Joana D’Arc ao Cavaleiro do Dragão, Eragon. Aqui vou falar do mito clássico ligado a esse signo: Jasão e os Argonautas, que vão em busca do Tosão de Ouro.

O Tosão é o velo de ouro de um carneiro, o que vêm bem a calhar, pois esse animal é o símbolo de Áries. Podemos vê-lo como o objetivo final desse signo, seja como a realização da própria individualidade, o término de uma investigação ou a morte do dragão. Filho de Esão e Alcímede, Jasão havia sido exilado de sua terra com seus pais, pois o tio, Pelias, usurpara o trono de Iolco, destronando e ameaçando de morte Esão. Após sua educação e iniciação por Quiron, Jasão, volta a Iolco para retomar o trono de direito de seu pai, e, como bom ariano, faz um acordo de trazer o fantástico tosão de ouro guardado no bosque consagrado ao deus Áries-Marte pelo “dragão que nunca dorme”, sendo que a impossibilidade de achá-lo apenas o anima. Reúne seu bando de Alegres Companheiros - os cinqüenta heróis Argonautas - e vai para a Cólquida, onde passa por muitas aventuras e toma o tosão para si. Mas essa história não tem o final feliz de Robin Hood. Jasão conta com a ajuda de uma feiticeira, Medéia, filha de Eetes, rei da Cólquida, que se apaixona por esse herói tão intrépido, bravo, audacioso e nobre. Eetes, que não poderia simplesmente dar o tosão ao herói, impõe quatro tarefas impossíveis a um mortal: subjugar dois touros bravios, presente de Hefesto, com cornos e cascos de bronze, que soltavam fogo pelas narinas; atrelá-los a uma charrua de diamantes; lavrar com eles uma vasta área e nela semear os dentes do dragão de Cadmo; matar os gigantes que nasceriam desses dentes; e finalmente matar o dragão que nunca dorme, guardião do velocino de ouro; sendo que o herói teria um dia, do nascer ao por do sol, para fazer tudo. Jasão já estava começando a pensar na idéia de desistir, quando Medéia se apresenta e promete ajudá-lo a sair vitorioso, desde que ele se casasse com ela e a levasse para a Grécia. Ele aceita o acordo e deixa que Medéia faça, com sua magia, o que deveria ser o seu trabalho. O conjunto dessas tarefas preliminares representa a luta contra as tendências à dominação perversa, de que o aspirante ao trono terá primeiro que purificar-se. O herói tem que mostrar não apenas que tem méritos para apossar-se do velo de ouro e assumir o poder, mas ainda, em razão da força que o anima, de permanecer como digno detentor do troféu conquistado. “Arar a terra” significa torná-la fecunda, e fazer isso com a ajuda de touros domados é uma prova da força sublime, da sabedoria, que doma o perigo e a tentação do abuso brutal, inerentes ao poder. Os touros com pés de bronze retratam a tendência dominadora, a ferocidade e o endurecimento do espírito. Medéia dá a Jasão um balsamo para que cubra seu corpo e suas armas que o torna invulnerável. Esse bálsamo, assim como o fio que Ariadne dá a Teseu, é símbolo do amor, que converte o impossível em possível, desde que as intenções da alma sejam puras. A questão é: Jasão tem esse amor ou está se servindo dele? Medéia é de uma família ligada à noite e aos poderes malignos da terra, e somente um herói já purificado poderia fazer essa sizígia sem sucumbir ao egoísmo e à intriga perversa que alimentam os poderes ctônios. Jasão é dotado de força heróica, mas está se respaldando em forças obscuras, por isso não lhe basta dominar os touros, e a prova “se repete”, para que o herói mostre com exatidão sua verdadeira intenção. O poder “semeia” inveja, ciúme e intriga, por isso Jasão tem que matar os gigantes de ferro, que se erguem contra o pacificador em busca de uma dominação perversa à custa do governante. Em vez de usar sua força heróica nessa prova, ele aceita o conselho ctônio de Medéia, e joga uma pedra em meio aos recém nascidos gigantes, que acabam se massacrando entre si, pois um pensa que está sendo atacado pelo outro, já que num ambiente de intrigas cada um se sente ameaçado pela inveja exaltada do outro e espera tirar proveito da briga. A astúcia não pode vencer a violência de maneira definitiva, pois trata-se de um emaranhado perverso que reina sobre o mundo e que, incessantemente conduz às explosões de violência. Jasão percorre muito rapidamente as 3 primeiras provas, e aquilo que deveria fortificar sua intenção sublime ameaça arrastá-lo para uma futura realização banal. Apesar do mal presságio, essas foram apenas preparações para seu real objetivo, que é o velocino de ouro. Mas aqui também Jasão usará das artimanhas de Medéia em vez de sua força heróica. A filha de Eetes adormece o dragão que guardava o velo, e Jasão não mata o monstro, que é a imagem de sua própria perversão, em luta heróica, e sim de uma maneira inglória, apenas se apossando do velocino sem maiores dificuldades. Utilizando o poder mágico de Medéia para cumprir seus trabalhos, Jasão se torna insolente face ao espírito e suas exigências de aperfeiçoamento, e assim se prende às suas intenções mais exaltadas, à corrupção dominadora, graças ao desencadeamento inescrupuloso dos desejos egoístas, e isso equivale a vender a alma ao demônio. Assim sendo, o rei não pode deixar que lhe levem o tesouro espiritual, representado pelo velo, e isso ocorre não só no plano externo, mas também no íntimo de Jasão, através de um grande sentimento de culpa por se saber não merecedor do troféu que leva. A fuga de Jasão e Medéia é a tentativa de recalcar essa falta, e por isso a feiticeira trai o próprio pai, e, ao fugir da Cólquida com Jasão, esquarteja seu irmão e vai jogando os seus pedaços no mar para atrasar o pai que os persegue, assim como em muitos tempos e lugares se costuma sacrificar os “filhos da verdade”, por ser essa insuportável. Mas eles escapam e tudo parecia ir bem até a volta, quando a vitória sobe à cabeça de Jasão e, claro, ele passa a se comportar como um carneiro estúpido e não como o possuidor de um velo de ouro: ele tenta descartar Medéia para se casar com uma princesa mais jovem, Creusa, vaidosa e ambiciosa filha do rei de Corinto. Só que Medéia não é mulher de se deixar afastar, e Jasão terá que aprender que não se faz pactos com o lado obscuro do inconsciente de forma leviana. Em vez de deixar o caminho livre, ela trucida os dois filhos que teve com Jasão, envenena a nova favorita com um manto mortífero, fugindo em seguida em uma carruagem puxada por dragões. Jasão se torna rei, mas com uma tirania tão perversa, que acaba devastando seu reino até ser expulso. O ex herói morre quando descansava sobre a nau Argos, atingido por uma viga caída do próprio barco que deveria tê-lo conduzido a uma vida heróica.

Áries tem que aprender com a vida que não se pode subestimar ou negligenciar o poder e o valor yin, feminino, assim como o mundo povoado por heróis e nobres causas ariano tem que abrigar também o poder da gentileza, da paciência, do compromisso, da compreensão, da justiça e da concórdia, que lhe mostra seu signo oposto, Libra. Esse herói, para conquistar o reino que lhe é destinado, tem que usar sua força e audácia não para conquistar uma gloria aparente que justifique sua vida, mas sim para domar seus desejos egoístas que levam à banalização da violência e das suas tarefas mais profundas. Só quando Áries confronta o seu ditador interior - que quer tudo de sua maneira e já, sem admitir as fraquezas dos outros e as suas próprias, sem admitir nada que não esteja de acordo com seu universo mítico -, essa enorme força pode ser libertada de modo positivo. A derrota, como Áries tem que acabar aprendendo em sua vida e em suas relações, não está no fato de não conseguir alcançar sua meta, seja ela ter o Tosão de ouro ou qualquer outra coisa que Áries coloque como meta para si, e sim aprender a refletir sobre suas ações, reter sua mente crítica e muitas vezes cheia de preconceitos, levando em conta as verdades do Outro, como ensina Libra. Aí sim esse herói de capa e espada poderá amadurecer e não precisará buscar saídas fáceis nem matar aliados. Quando Áries se transforma no verdadeiro herói que é potencialmente, então todos nós poderemos aproveitar a nova trilha aberta que só esse guerreiro é capaz de abrir.

sexta-feira, 21 de março de 2008

Áries e o Impulso de Ser

Todos os que militam
Debaixo dessa bandeira,
Já não durmam, já não durmam
Pois não há paz na terra.


Se como capitão forte
Quis Nosso Deus morrer,
Comecemos a segui-lo,
Pois damos a ele nossa morte,
Oh venturosa sorte,
Se o seguimos nessa guerra.
Já não durmam, já não durmam,
Pois falta Deus na terra.


Com grande contentamento
Se oferece a morrer na cruz
Para dar luz a todos
Com seu grande sofrimento.
Oh, gloriosa vitória!
Oh, afortunada esta guerra!
Já não durmam, já não durmam
Pois falta Deus na terra.


Não haja nenhum covarde,
Aventuremos a vida,
Pois não há quem melhor a guarde
Que aquele que a dá por perdida
Pois Jesus é nosso guia
E também o prêmio dessa guerra.
Já não durmam, já não durmam
Pois não há paz na terra.

Teresa de Jesus - Sta. Teresa D’Ávila - Amante ariana de Deus.

Com o Equinócio de Outono no Hemisfério Sul, o Sol entra em Áries e iniciamos o ano astrológico. O mais impulsivo dos signos de Fogo mostra exatamente a energia necessária para sairmos da força regressiva da massa emocional de onde viemos e afirmarmos nossa individualidade única. Além de ser regido por Marte, o deus da guerra, e ser o exílio de Vênus, a senhora da beleza, o Sol, princípio da individuação, está exaltado em Áries e Saturno, o estruturador, em queda. Dá para se notar que ordem e harmonia não são a praia desse signo guerreiro. Geralmente as pessoas se dão muito bem ou muito mal com arianos. Os que tiveram experiências ruins com Áries dizem que ele é egoísta e autoritário, incapaz de escutar os outros. Já os que ficaram amigos de arianos falam de sua enorme capacidade de lutar pelo que quer, da incrível velocidade mental e da generosidade com que compartilha suas conquistas. Pois Áries é tudo isso ao mesmo tempo.

A personalidade ariana tende a ser iniciadora e pioneira, mostrando alguém ambicioso, que luta por aquilo que quer ou acredita. Desta forma, os atos e decisões tomadas são coloridas com traços de espontaneidade, impulsão e impaciência, justificadas através de uma idealização das causas que defende. Colocando-se sinceramente (às vezes ingenuamente) como defensor dos injustiçados e oprimidos, os arianos conseguem lutar contra as próprias amarras, que impedem a independência e liberdade que anseiam para agir. O ariano realmente parece sofrer daquilo que Liz Greene chama de “Síndrome do Cavaleiro Andante” ou “Síndrome de Joana D’Arc”. Dê-lhe uma causa - que pode ser desde o combate ao fumo ou o direito ao aborto, até as grandes revoluções políticas, contanto que se refira ao bem estar geral - onde exista um mal a ser desafiado e se possa trucidar o inimigo - que o ariano logo saca sua velha armadura, devidamente limpa e polida. O elemento Fogo mitifica a vida e Áries necessita achar alguma causa para defender, pois assim pode mostrar todo seu gênio e coragem. Essa descrição pode dar a impressão de que Áries é um signo um tanto quanto anacrônico, porém o espírito cavalheiresco é decididamente uma das qualidades arianas. No fundo da alma do ariano a época do amor cortês ainda existe, e ele procura alguma Ordem que possa declará-lo Real e Fiel Cavaleiro e lançá-lo na aventura de caçar dragões e defender donzelas. Áries se portará sempre honradamente, seja como amigo ou como inimigo; será generosos e leal com os amigos e raramente se inclinará a revanchismos ou mesquinharias para com os inimigos. Isso faz com que haja sempre um forte traço de impaciência, no limite da arrogância em Áries, pois ele não suporta nada que considere bobagem, atraso, insubordinação, estupidez e indiretas; enfim, não suporta nada de boa vontade, mas sim com nobreza. Como todo signo de Fogo, Áries é, na verdade, uma criança, o que quer dizer que ele pode parecer infantil, mas também que tem uma inocência corajosa e de bom coração. Deslealdades, intrigas e maldades de qualquer espécie realmente o desnorteiam e ferem. E isso acontece sempre, pois, vivendo em um mundo de ideais nobres, ele tende a se esquecer dos fatos e situações reais, onde as coisas são diferentes do que poderiam ou deveriam ser. Áries não tem grandes preocupações com o status quo, pois sua maior necessidade é de ação, de algo que o desafie e que lhe permita colocar sua energia, estimulando e oferecendo novas possibilidades, de preferência com muita liberdade pessoal para dar andamento a seus projetos sem interferência. Nem todos os arianos tem a disposição física do deus da guerra, mas a maioria aprecia esportes e competições, pois aí encontram o espírito de desafio e vitória que procuram. Isso se dá com freqüência também no plano intelectual, onde a energia dinâmica que Áries possui é mostrada na sua impressionante vivacidade mental. Mercúrio, o planeta da comunicação, é considerado o regente de Áries na Astrologia Esotérica. Seja como estudante, filósofo, profeta, artista ou líder religioso, o ariano mais mental adora desafios intelectuais, problemas difíceis de resolver, textos impenetráveis que o faça batalhar.

O carneiro de Fogo é capaz de pensamentos profundos e considerável ternura, mas é também capaz de largar qualquer compromisso mundano para se embrenhar em alguma Cruzada. Isso quer dizer que Áries tem uma tendência a criar crises se não houver uma pronta para enfrentar. Ele poderá atormentar pessoas e abalar situações muito estáveis, que ele considere paradas e estagnadas, até a grande explosão final. Ele gosta de fazer o papel de Advogado do Diabo, mesmo que o preço seja o de que todos se aborreçam com isso, pois isso gera ação, e ação, para Áries é sinônimo de vida.