quinta-feira, 24 de abril de 2008

Nos Labirintos de Touro: O Mito

Júpiter se transformou em um imenso Touro branco para raptar Europa e levá-la para Creta, e lhe deu 3 filhos: Minos, Sarpedón e Radamanto. Quando foi embora, Zeus/Júpiter deixou para Europa um cão que não deixava escapar nenhuma presa, um venábulo que sempre acertava o alvo e um “robô de bronze”, eterno vigilante e guardião, que podemos usar como metáforas de características fortes desse signo. Europa acaba se casando com Astérion, rei de Creta, que, não tendo filhos, adota os do deus. Quando Europa morre recebe honras divinas e o touro em que Zeus havia se transformado torna-se constelação e é colocado entre os signos do zodíaco, marcado pelas Pléiades. Entre os anos 4000 e 2000 a.C. o Touro e a Vaca eram os animais sagrados das religiões e mitologias surgidas com as civilizações agrícolas, como aquelas à beira do Eufrates, Tigre e Nilo. Símbolos da fertilidade da terra, para os Egípcios, o renascimento do mundo se iniciava com a conjunção em Touro do Sol com a Lua. Eles chamavam essa constelação de Ápis, o boi consagrado a Osíris (o sol), que tinha, sobre os chifres, a lua, emblema de Ísis. Assim, vários mitos que tratam da fertilidade e do renascimento falam dos significados desse signo. Recorreremos aqui ao mito de Teseu e do Minotauro para ilustrar as principais dificuldade e maiores desafios da trajetória de Touro.
Quando o rei de Creta, Astério, morre, se inicia uma disputa para eleger seu sucessor. Minos, filho de Zeus/Júpiter com a mortal Europa, pede a seu pai que lhe mande do mar um touro como prova de sua ascendência divina, prometendo sacrificar em seguida o animal ao deus. Zeus manda-lhe um magnífico touro branco do mar, deixando a todos encantados e garantindo o poder para seu filho. O novo rei, porém, resolve enganar o pai e oferece outro touro para o sacrifício, guardando aquele ganho no seu rebanho. Indignado, o deus pede à Afrodite (a Vênus latina), que enfeitice a mulher de Minos, Pasifae, com um desejo irrefreável pelo touro branco. A rainha, incapaz de conter seu desejo, pede a Dédalo, o mágico arquiteto de Creta, que construa uma vaca de madeira para que ela possa se unir ao touro divino. O fruto dessa união é o Minotauro, um monstro com cabeça de Touro e corpo de homem, que se alimenta de carne humana. Nessa primeira parte do mito encontramos dois problemas característicos de Touro: a possessividade que pode torná-lo avaro e o desejo incontrolável que geram o Touro furioso, com sua humanidade eclipsada pelos desejos violentos.
O Touro de Minos (de onde vem o nome Minotauro) é a marca de sua vergonha, sendo escondido em um labirinto projetado pelo mesmo Dédalo, de onde era impossível sair, e onde eram jogados, regularmente, jovens filhos de vassalos de Creta, para saciar a fome do monstro. Teseu, filho do rei de Atenas, que já havia capturado o Touro que gerou o Minotauro, se junta ao grupo dos que iam ser sacrificados, com a intenção de acabar com aquela obrigação destruidora que sua pátria tinha para com Minos. Para isso conta com sua clava de bronze, conquistada de Perifeste, um malfeitor cruel e brutal que o cretense havia enfrentado. Ariadne, filha de Minos, se apaixona pelo herói e lhe dá um novelo de linha para que ele desenrole ao caminhar pelo labirinto e encontre a saída após matar o Minotauro. Com esse feito, Teseu liberta a Grécia do poderio de Creta e leva Ariadne consigo na volta para Atenas. A princesa acabará ficando na ilha de Naxos, onde desposará Dionísio, que, por sinal, tem muitas das suas aparições sob a forma de Touro.
Teseu também tem vários traços de Touro, e sua história nos mostra a forma que esse signo tem para escapar das trevas instintivas e libertar-se. O elemento básico a se considerar é o conflito que encontramos nos taurinos entre seu lado humano, heróico, e seu lado bestial, fruto de desejos irrefreáveis que podem torná-lo violento. O desejo é a força dominante em Touro - seja por sexo, comida, bebida, dinheiro, posição social ou qualquer outra coisa - e por isso ele corre o risco de se tornar cego quando essa força se torna obsessão. Touro demora certo tempo até descobrir o que quer e outro tempo até se decidir a ir atrás daquilo que quer, mas, uma vez começado o caminho, nada o fará parar. Se toda essa força for direcionada apenas para satisfação instintiva imediata, ele se transforma em um devorador da própria humanidade. Porém, se ele usar essa determinação contra a tentação perversa que o habita secretamente, se transformará em herói e sua clava de bronze, que destrói quando utilizada com crueldade, o fará acabar com o monstro. Na luta heróica que esse signo tem que travar consigo, não podemos esquecer do novelo dado por Ariadne, sem o qual sua missão seria impossível. Quando o taurino resolve entrar no difícil labirinto das emoções e motivações que o forma, sua maior arma é a capacidade que tem de traçar um plano e definir claramente a finalidade que irá guiá-lo. Seu gosto pelo simples e direto, que gera aversão a qualquer interferência, rodeio, meias palavras e ambigüidades, pode fazer com que se perca nos relacionamentos e em sua própria vida interior, porém, quando ele percebe o impulso amoroso que dá sentido ao desejo, ele irá conseguir uma idéia geral do mapa do local, e, então, esse mesmo gosto por coisas diretas o irá colocar no bom caminho e impedir que se desvie.
O touro mágico que Zeus mandou do mar para Minos também aparece nos 12 trabalhos dados a Hérules por Hera através de Eristeu. Depois de engendrar o Minotauro em Pasifae, o touro de Zeus se torna feroz, lançando chamas pelas narinas e destruindo tudo ao seu redor. Hércules é encarregado de levar o touro vivo para Eristeu, e não pode contar com a ajuda de ninguém, nem mesmo de Minos, que se recusa a auxiliá-lo. O herói pega o touro pelos chifres e monta em seu dorso como em um cavalo. Atravessa o mar e regressa a Hélade. Eristeu oferece o Touro a Hera, mas essa se recusa a aceitar qualquer coisa vinda de Hércules, e o solta de novo. O animal vai parar na Ática, onde Teseu irá capturá-lo e sacrificá-lo a Apolo, o princípio solar heróico. Aqui tratamos do mesmo tema, onde o herói, em seu processo de aperfeiçoamento e encontro consigo mesmo, doma e triunfa sobre a força bruta da tendência dominadora. Um detalhe importante dessa tarefa é o fato de que o touro, no fim, é solto, pois mostra o desapego por aquilo que se conquistou. Teseu, nosso herói taurino, irá capturar e sacrificar, finalmente, esse touro a Apolo, ao deus que preside a individuação.

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