domingo, 12 de abril de 2009

Trânsito de Júpiter

“Porquanto não recebestes um espírito de escravidão para viverdes ainda no temor, mas recebestes o espírito de adoção pelo qual clamamos: Aba! Pai!”
São Paulo – Carta aos Romanos 8, 15

Com Júpiter e Saturno entramos na esfera social de nosso relacionamento com o mundo, com seus movimentos de expansão e recolhimento próprios. Alguns astrólogos ainda associam os trânsitos de Júpiter à idéia de Sorte, e os de Saturno à de Azar, ou, para usar uma linguagem mais antiga, o Senhor do Olimpo traria um destino benéfico e o Senhor do Tempo, maléfico. Dane Rudhyar, um dos primeiros a apresentar os princípios astrológicos através da linguagem psicológica, dizia que Marte, Júpiter e Saturno simbolizavam processos ativos complementares em nossa vida. Marte representa a força de reprodução da energia universal, Saturno o processo pelo qual essa força vital universal se torna “diferenciada, limitada, particularizada como célula viva” - onde criamos um eu diferenciado com o qual nos identificamos -, e Júpiter irá mostrar o poder da ação correta desse eu diferenciado em busca de propósito – “a voz do nosso verdadeiro Destino”. O que é maléfico ou benéfico nesses processos fica por conta de cada um.

A abordagem mais típica com relação aos trânsitos jupiterianos fala de abertura para o novo e de expansão da consciência, o que pode muito bem significar irmos todos para a praça pública tomar LSD e cantar Aquarius esperando a chegada da Nova Era, como parece que Júpiter em Aquário andou sugerindo para algumas pessoas. Depois que voltarmos para casa ainda precisaremos lidar com a crise econômica, com o vizinho abusado e barulhento, com as cobranças do chefe de mau humor, e, claro, com uma baita ressaca. Liz Greene associa Júpiter ao puer aeternus, o “eterno jovem”, de Jung. Símbolo de novas potencialidades, aqui temos o jovem rei cheio de esperança e otimismo, que herda o trono após a morte de seu velho pai, e que pode criar as melhorias de vida que vislumbra no horizonte. O problema do jovem rei é sua falta de experiência, e só o tempo poderá dizer quais de suas iniciativas darão realmente certo. Isso, porém, não diminui a importância da possibilidade de se iniciar o plantio de algo novo.

Com essa energia para nos mostrar novas possibilidades a serem exploradas, Júpiter traz a visão de um novo patamar de experiências mais positivas nas áreas de nossa vida em que está passando. Isso pode, muitas vezes, ser traduzido como coragem para desenvolver novos potenciais e abrir novas portas. O senhor do Olimpo nos mostra o que falta para nos tornarmos inteiros e garante que temos o direito de ir atrás disso. Na mitologia Greco-romana, uma das características marcantes de Zeus-Júpiter era sua enorme fertilidade, sendo ele o pai da maioria dos heróis daqueles povos, inclusive do mais emblemático entre eles, Héracles-Hércules, aquele que conseguiu passar por todas as provas e alcançar a individuação, se tornando imortal e indo viver no Olimpo. Mas é bom lembrar que Héracles entra nessa aventura em busca de redenção por ter matado sua família em meio à loucura enviada por Hera. Muitas vezes os trânsitos de Júpiter podem nos levar ao exagero exatamente para trazer à consciência onde nos falta equilíbrio e sabedoria, e se isso nos levar a uma busca de maior aprofundamento em nós mesmos, com certeza poderemos contar com a ajuda dos deuses.

O ciclo de Júpiter é de 11 anos e 315 dias, o que significa que ele leva quase 12 anos para voltar ao mesmo lugar em que estava quando nascemos, e a cada 3 anos, mais ou menos, ele entra em conflito com ele mesmo em nosso mapa. A primeira coisa que precisamos entender, portanto, é como e onde vivenciamos nosso Júpiter natal – por signo e casa –, e, assim, perceber a maneira como nos conectamos com esse planeta. Se você tem mais de 12 anos, buscar lembranças por volta dos 3, 6, 9 e 12 anos pode dar dicas importantes, assim como suas idades múltiplas de 12, como 24, 36, 48, etc. Os anos em que Júpiter passa por nossas casas angulares (Ascendente, Fundo do Céu – casa IV -, casa VII e Meio do Céu – casa X) também são anos em que temos força para iniciar processos importantes de expansão para novos horizontes, e geralmente experimentamos mudanças jupiterianas nessas épocas. Quando esse planeta passa por nosso Ascendente as qualidades do signo que o rege ficam mais evidentes em nós, e como a primeira casa mostra como iniciamos coisas em nossa vida, esse costuma ser um tempo onde muitas coisas novas aparecem e temos vontade de promover mudanças em nossas vidas. Na sua passagem pela casa IV, Júpiter mostra formas de ampliar nossas raízes, podendo curar muitas das nossas feridas de infância através da visão mais expandida da nossa família. Enquanto passeia por nossa casa VII, Júpiter nos anima a ver nossos relacionamentos de modo mais generoso e nos dispõe a encontrar parceiros que acrescentem mais ao que somos e também a renovar nosso olhar para os relacionamentos que estamos vivendo. Quando transita pelo Meio do Céu podemos perceber que aquilo que construímos, nossa carreira, nossas ambições, têm um propósito de alma a ser alcançado, e por isso ficamos mais abertos para novas idéias, novas abordagens e aqueles que respeitamos como autoridade têm o poder de nos inspirar e ajudar. Os conflitos que temos nessas áreas norteadoras de nossas vidas também são expandidas, o que significa que esses anos podem não ter sido “bons”, no sentido popular do termo, mas é importante ver o que surgiu de novo, que sementes foram plantadas.

Semana que vêm falaremos um pouco mais de Júpiter, através de seu encontro com os outros planetas.

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