segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

URANO



Até a descoberta de Urano, muito antes de Jornada nas Estrelas, Saturno era a fronteira final do nosso sistema solar, considerado, inclusive, uma influência maléfica na Idade Média e no Renascimento, pois associado ao Rex Mundi - Lúcifer. Hoje em dia Saturno é mais aceitável por termos assimilado melhor sua correlação aos padrões condicionantes sociais e familiares, às expectativas da própria vida, à construção do senso único de fronteira da identidade. Urano é visto como o seu oposto mais direto, sempre tentando despedaçar, revolucionar, liberar e irromper de todos os padrões condicionantes, o que para uma boa parte das pessoas costuma ser mais complicado de vivenciar. Quando se fragmentam os padrões que definem seu senso de personalidade e identidade, é possível chegar à natureza e à identidade essenciais, incondicionais. Essa é uma longa jornada, ou deveria ser. Podemos dizer que quando se passa por um trânsito de Urano existe a possibilidade, relativa à casa ou ao planeta aspectado, de se libertar das condições que definiram o modo como as funções simbolizadas se manifestaram na vida até então. Na carta natal os planetas com que Urano está em aspecto e a casa na qual ele se encontra proporcionam essa mesma oportunidade durante toda a vida. Mas sempre se pode resistir a essas mudanças, pois a força saturnina que cria a consciência pessoal e social através das normas, valores, crenças, costumes, regras e leis da cultura em que se foi criado, traz todo um senso de segurança social difícil de ser deixada. A resistência ao impulso uraniano está ligada à insegurança social e individual que ele gera. Não é à toa que esse deus era mitologicamente filho do Caos.
Na análise astrológica da história, Urano liga-se a guerras, revoluções, agitações civis e questões de sobrevivência econômica que parecem estar além da influência ou do senso comum individual, mas que, quando analisadas, essas situações do “destino” mostram líderes e grupos que refletem os preconceitos e atitudes inconscientes da coletividade, que está cega e precisa desse choque para despertar. O mapa de Hitler é significativo nesse sentido, tendo Saturno no MC – o estruturador comandando seus objetivos de vida - e Urano na casa XII – o revolucionador no inconsciente coletivo.
Urano foi descoberto em 1781 na constelação de Gêmeos, antecedido pela Revolução Americana em 1778 e nas vésperas da Revolução Francesa de 1789. Seu descobridor, Sir William Herschel, era um músico alemão da corte inglesa do rei Jorge III, que usava um telescópio construído por ele mesmo na observação do céu. Não foi fácil aceitar a existência de mais um planeta em nosso sistema, e existem vários relatos da observação de Urano anteriores a 1789 - inclusive de Galileu - mas que era tomado como um cometa ou outro tipo de corpo celeste.
Uma das características físicas de Urano é sua inclinação de 98 graus, que faz com que, quando visto da Terra, ele pareça estar girando de lado! Com uma revolução de 84 anos e 3 dias, o planeta Urano é o 7º planeta a partir do Sol e fica 7 anos em cada signo. Para os que estão acostumados com a simbologia esotérica esse número costuma evocar muitos significados. Em termos bem gerais, o sete está ligado à totalidade do universo em movimento. A natureza revolucionária de Urano está diretamente conectado à necessidade de movimento e mudança de vida que muitas vezes é barrada pelas convenções e crenças errôneas com as quais construímos nosso senso de segurança. Saturno e Urano são realmente muito mais parceiros do que inimigos em vários sentidos. No ciclo de Saturno temos um contato desafiador desse Titã a cada 7 anos e por isso os processos libertadores de Urano muitas vezes irão coincidir com processos estruturadores saturninos. Isso mostra que em um nível mais profundo esses dois princípios são mais complementares do que antagônicos: Urano garante que nossas estruturações não sirvam de desculpa para não nos desenvolvermos e Saturno faz com que nossa ânsia por liberdade seja acompanhada por concretizações responsáveis.
No ciclo de Urano, a cada 21 anos teremos um momento desafiador desse planeta. Com 21 anos experimenta-se a primeira quadratura (ângulo de noventa graus, desafiador) de Urano. A necessidade de ter sua própria vida e individualidade geralmente se sobressai nesta época. Como a passagem de Urano está associada a independência e ao despertar, ele irá provocar impaciência e desejo de libertação para que se defina o quanto se quer ser independente. Mas como essa também é a última quadratura do ciclo de Saturno antes do seu Retorno, essa idade estará muito mais voltada para as necessidades de estruturação para uma vida independente. É entre os 35 e 42 anos, quando temos a oposição de Urano no céu com o Urano do mapa natal, que sentimos mais profundamente a necessidade de transformar e libertar nossa vida daquilo que nos impede de ser aquilo que acreditamos ser. Essa necessidade de mudanças, essa ânsia de criatividade e de fazer algo significativo como indivíduo, de experimentar coisas novas e se arriscar a ser diferente é chamada popularmente de “crise da meia idade“ . Este desejo de conquista e criatividade associado à oposição de Urano ao seu ponto natal, costuma elevar também o desejo sexual e a excitação junto com a necessidade de realizar mudanças, o que pode acabar com muitos casamentos aparentemente estáveis.
A Astrologia Médica não costuma levar em conta esse planeta no seu estudo, porém as pesquisas indicam a influência de Urano no sistema nervoso simpático, que responde aos estímulos de alerta e estresse acelerando os batimentos cardíacos, aumentando a pressão arterial, jogando adrenalina no organismo e aumentando a concentração de açúcar no sangue para ativação do metabolismo geral do corpo de forma automática, independentemente da nossa vontade. Quem tenta “segurar” essa inquietação pode se tornar irritável e 'implodir', algumas vezes com doenças, outras vezes com o rompimento de relacionamentos, e outras ainda sendo mandado embora daquele emprego que garantia segurança às custas da criatividade e do desenvolvimento pessoal. Quem libera adequadamente esta energia se sente mais vivo e criativo e consegue transformar a própria vida. Pensadores como Rudolf Steiner e Carl Gustav Jung destacam particularmente essa crise dos 40 como aquela que revela a “missão de vida” de uma pessoa, onde se adquire a maturidade necessária para se empreender o processo de individuação e se tornar o herói de sua própria história. A vida de Jung, particularmente, é uma testemunha dramática desse processo, com o rompimento com Freud em 1913, aos 37 anos, e um mergulho no inconsciente coletivo até os 42 anos que quase lhe custa a saúde mental, segundo alguns de seus biógrafos, quando então ressurge de sua “descida ao reino dos mortos“, para construir definitivamente sua psicologia.
Através da mitologia grega podemos entender um pouco melhor esse planeta. Urano foi o primeiro deus personificado, filho do Caos primordial, e era a representação do céu e dos espaços ilimitados, que recebeu a tarefa de inventar e dar nomes à Natureza. Por isso, tudo que ele fazia era novo e original. Quando ele se deitava sobre Gaia, a Terra, concebia um novo filho, dando origem aos Titãs, aos Ciclopes de um olho só, e a um monte de outros monstros míticos. Desgostoso ao ver seus rebentos, ele os mandava de volta para dentro de Gaia, que foi literalmente ficando cheia disso. Na verdade Urano não percebia que criava rebentos junto com Gaia, e que revestir de matéria suas idéias aéreas significava uma transformação modeladora. É comum na casa em que temos Urano surgirem idéias muito boas que, ao serem trabalhadas e concretizadas se mostram diferentes do imaginado. Gaia, magoada com a repulsa de Urano pelos filhos, forja de dentro do seu peito uma foice e implora que um de seus filhos castre o pai. Saturno - quem mais? - assume a responsabilidade e se apresenta à mãe como voluntário, cortando a genitália de Urano e jogando-o ao mar. Da espuma que escorre no mar nasce Afrodite (Vênus para os Romanos), e o sangue que jorra do deus ferido penetra em Gaia gerando as Fúrias: Tisífone (Castigo, Retaliação), Megaira (Rancor, Inveja) e Alecto (A Implacável, O Nunca Acabar).
Nossas características saturninas - nossas reservas, nossos medos do desconhecido, nosso conservadorismo e respeito pelas tradições - muitas vezes cortam os impulsos criativos uranianos. Essa “castração” de impulsos caóticos pode nos ajudar se conseguirmos criar maneira mais harmoniosa de elaborar a vida - fazendo nascer Afrodites. Mas quando só conseguimos nos ressentir dos estados conservadores das coisas na área em que temos Urano, criaremos as Fúrias, culpando os outros pela nossa infelicidade e limitação - os Hitlers e Napoleões ou os guerrilheiros palestinos e os soldados judeus - com amarguras e envenenamentos que a psique precisará eliminar. Com Urano, em nível pessoal ou coletivo, temos que nos separar do conformismo e da projeção irresponsável, experimentar novas tendências e correntes de pensamento, arriscar a romper conosco e com tudo que nos dá segurança em nome do crescimento e da evolução. Na casa em que estiver Urano podemos não ser capazes de transpor totalmente as velhas estruturas, mas podemos nos empenhar para abrir espaço com as novas idéias e interesses, e, dessa maneira, conseguir mudar nossas formas de expressão. Na área ocupada por Urano, não devemos ser mais inconscientes do que realmente somos se não quisermos ser conduzidos pelo inconsciente coletivo, nos tornando bodes expiatórios ou catalisadores de destruições tirânicas.

2 comentários:

Anônimo disse...

Estou nesta fase... Muito difícil, insatisfação, sem saber como mudar, tudo saindo do lugar, perdas, muito medo e desespero e revolta.

Teca Dias disse...

Caro anônimo
NÃO PRECISA SER ASSIM!!!! A libertação de velhos paradigmas que não fazem mais sentido na vida - que é o que Urano faz - tem seus momentos de dor, mas não precisa de tanto sofrimento. Principalmente hoje em dia, quando temos tantos recursos a mão para nos ajudar quando não sabemos o que fazer. Que tal buscar uns florais ou uma constelação familiar, ou mesmo algum tipo mais tradicional de terapia para entender o que está acontecendo dentro de você e descobrir onde está a resistência para as mudanças BOAS ÓTIMAS MARAVILHOSAS que estão vindo? Vc não precisa fazer a travessia sozinho!! Mas tem que decidir sozinho se quer aproveitar esse momento para mudar aquilo que não está bem na sua vida. É possível também não fazer a mudança, mas aí não vá culpar os astros - ou a vida, ou o parceiro, ou os filhos, ou os pais, ou qualquer outra coisa fora de você -por viver algo sem sentido. Esse, como qualquer outro trânsito, vai passar, e a oportunidade de mudança também.
Força aí!!!