sábado, 24 de novembro de 2007

Viagem no Tempo com Plutão II – A Missão


Nem sempre o tempo e a vida andam no mesmo ritmo: o Sol já está em Sagitário e eu não consegui passear com Plutão por todo o zodíaco. Mas não poderia continuar sem falar da passagem de Plutão por Câncer, onde ele foi descoberto pelos astrônomos, honrando assim seu aprendizado. Então aí vai:

Plutão em Câncer cerca de 25 anos – de 1914 a 1939
Câncer nos remete aos símbolos da família, dos vínculos de passado e afetividade que criam nosso clã. Sua sombra aparece quando não se leva em conta as macro associações sociais que vão além daquelas que protegem a “minha gente”, representado por Capricórnio. Aqui começamos a ver as conseqüências de nossas emoções primitivas mal trabalhadas.

Só a História da Igreja Católica Apostólica Romana nesse período já daria subsídios suficientes para se fazer o roteiro de Plutão em Câncer, com o início das aparições marianas, os vários santos que nascem e vivem nessa época e a posturas e inciclicas dos dois papados desse período. Ainda não será dessa vez que vou fazer isso, mas é bom levar em conta que muitos dos acontecimentos marcados aqui tem a força religiosa do catolicismo. Podemos dividir esse período em três partes: a primeira de 14 à 19, marcada pela I Guerra Mundial, a segunda compreendendo os anos 20, e a terceira à partir do crash de Nova York em 29 até o fim do trânsito, em junho de 1939.

Nesse primeiro período muitos dos heróis da II Guerra estavam nascendo, a Teoria da Relatividade foi apresentada na Prússia, rompendo com a Física Clássica, e Carl Gustav Jung publica “Die Psychologie der unbewussten Prozesse”, seu primeiro livro depois do rompimento com Freud. É na finalização da I Guerra e na Revolução Russa em 1917, porém, que podemos ver a marca de Câncer/Plutão mais clara. A Mãe Rússia perde cerca de 4 milhões de filhos durante a I Guerra Mundial, sendo esse o estopim para a prisão do Czar Nicolau II e sua família (assassinados em 16/07/1918), e a tomada do poder pelos bolcheviques. A Russia se retira da Guerra e assina o Tratado de Brest-Litovski com as Potências Centrais (Império Alemão, Império Austro-Húngaro, Bulgária e Império Otomano) em 3 de março de 1918, reconhecendo a derrota russa. Isso significou a perda dos territórios da Finlândia, dos países balticos (Estônia, Letônia e Lituânia), da Polônia, da Bielorrusia, da Ucrânia e dos distritos turcos e georgianos, onde estavam um terço da população russa, metade da sua industria e a quase totalidade de suas minas de carvão. A maior parte desses territórios vão se tornar parte do Império Alemão e, após a derrota da Alemanha na Guerra, a Finlândia, os países balticos e a Polonia se tornam independentes. A Bielorussia e a Ucrânia acabam se envolvendo na Guerra Civil Russa, voltando a ser anexadas e criando a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
Com a derrota eminente do Império Alemão na Guerra, os lideres militares alemães, conservadores e autocráticos, obrigam o Imperador Wilhelm II a abdicar e deixam para os democratas as negociações da derrota. O Tratado de Versalhes, que encerra a I Guerra Mundial, cria a Liga das Nações e impõe severas penas à Alemanha. A República de Weimar foi então instaurada, tendo como sistema de governo o modelo parlamentarista democrático: o presidente da república nomeava um chanceler, que seria responsável pelo poder Executivo, enquanto o poder Legislativo era constituído por um parlamento. Segundo alguns historiadores, nunca antes na história tantas mentes brilhantes se reuniram para construir um Estado. Um dos principais focos da Republica de Weimar foi a educação, que deveria ser gratuita e de boa qualidade para que se formasse um povo não apenas culto, mas principalmente capaz de pensar por si mesmo. A história do começo da Escola Waldorf, de Rudolf Steiner, é bem significativa nesse sentido. Em 1919, em Stuttgart, na Alemanha, Rudolf Steiner - filósofo, cientista e artista austríaco - foi convidado por Emil Molt, o proprietário da Fábrica de cigarros Waldorf-Astoria, para uma série de palestras para os trabalhadores de sua fábrica. Como resultado, os trabalhadores pediram a Steiner que fundasse e dirigisse uma Escola para seus filhos. Emil Molt não só apóia seus funcionários como se propõe a financiar a concretização da idéia. Steiner concordou, mas colocou 4 condições: a Escola seria aberta indistintamente para todas as crianças; seria co-educacional; teria um currículo unificado de 12 anos e, os professores da Escola seriam também os dirigentes e administradores da mesma. Queria que a Escola Waldorf tivesse o mínimo de interferência governamental e não tivesse a preocupação com objetivos lucrativos. Emil Molt concordou e em 7 de setembro de 1919, foi aberta a Die Freie Waldorfschule (A Escola Waldorf Livre).

Esses dois exemplos de nações “derrotadas” na I Guerra que buscam um caminho que abrigue seu povo, onde o poder patriarcal como o do Czar ou do Imperador é arrancado em nome do sofrimento que geraram, têm um caráter bem canceriano. Os acordos de paz que concretizam, porém, cria mais sofrimento por conta da desconsideração das necessidades práticas e econômicas que envolvem uma nação em reconstrução. Esse será o solo fértil para o nascimento tanto da Ditadura de Stalin quanto do Nazismo de Hitler, que irão crescer até se mostrar completamente durante a II Guerra. Em 1919 o mundo está caminhando para uma zona sombria e cheia de tensão: Benito Mussolini deixa o Partido Socialista e funda o partido fascista na Itália (Fasci di Combattimento) enquanto Adolf Hitler filia-se ao Partido Trabalhista Alemão (futuro Partido Nazista); estudantes chineses protestam contra o Tratado de Versalhes, em um manifesto que gera o Partido Comunista Chinês, e Rosa Luxemburgo é assassinada sendo que seu corpo é encontrado 3 dias depois; a Primeira Conferência Comunista do Brasil é realizada ao mesmo tempo em que a Organização Internacional do Trabalho se espalha pelo mundo; o Governo dos Estados Unidos proíbe que soldados afro-americanos desfilem em Paris e distúrbios raciais acontecem em Washington.

Os anos 20 ficaram para a história como uma época de grande efervescência cultural e comportamental entre duas Guerras Mundiais. Todos vão a Paris, onde é aberto Cabaré Lido. Isadora Duncan se apresenta na Cidade Luz, as melindrosas escandalizam dançando jazz com seus cabelos curtos e Chanel lança o seu perfume nº. 5. É feita a primeira coroação da Miss América nos Estados Unidos e em Genebra se realiza a I Convenção para a Repressão do Tráfico de Mulheres e Crianças e a Primeira Conferência Internacional Feminista. Temos a publicação de Psicologia Pedagógica de Lev Vygotsky, e de A Função do Orgasmo (Die Funktion des Orgasmus) de Wilhelm Reich junto com a nomeação de Jean Piaget como diretor do Departamento Internacional de Educação na França. O dirigível Zeppelin dá a volta ao mundo enquanto Diego Rivera se casa com Frida Kahlo e Scott Fitzgerald publica The Great Gatsby. André Breton se encontra com Freud e publica o Manifesto Surrealista. No Brasil temos a Semana de Arte Moderna de 22, o início da publicação semanal da Revista de Antropofagia e Tarsila do Amaral criando o ABAPORU para presentear o marido Oswald de Andrade. São fundadas as primeiras Escolas de Samba do Rio e os primeiros Clubes de Futebol Brasileiros enquanto Carmem Miranda monta seus balangandãs para mostrar ao mundo o que que a baiana tem. Chico Xavier participa de suas primeiras reuniões espíritas e Freud escreve a Durval Marcondes agradecendo a primeira tradução brasileira de seu trabalho. O Ser Humano perde seu pedestal de superioridade racional e os artistas caem de cabeça nas águas do inconsciente em busca de inspiração e expressão para essa nova face. Eu poderia preencher varias páginas com uma listagem infinita de coisas que estavam acontecendo nesses loucos anos 20, mas espero que seja o suficiente para entender o espírito reinante na cultura mundial.

A política mundial, porém, mostra os conflitos desse inconsciente emergente: Gandhi lança a campanha anticolonialista na Índia, a Irlanda é dividida em duas partes, Vladimir Lenin sofre um derrame e morre dois anos depois, pouco antes do início da Guerra entre Rússia e Polônia. Stalin sobe ao poder e condena Leon Trotski à deportação enquanto o México nacionaliza os bens eclesiásticos. Mussolini reivindica o poder em Nápoles ameaçando marchar sobre Roma, sendo então convidado para ocupar o cargo de primeiro-ministro. Os Fascistas marcham sobre Roma mesmo assim, e Benito Mussolini incorpora a milícia fascista ao exército italiano. Adolf Hitler tenta um golpe em Munique que fracassa. Ele é aprisionado ficando detido por 9 meses, quando escreve o livro Minha Luta (Mein Kampf), publicado no ano seguinte. No Brasil Getúlio Vargas toma posse no governo do Rio Grande do Sul e revoltosos tomam São Paulo destituindo seu presidente, Dr. Carlos de Campos. Lampião vence as tropas da polícia, Prestes caminha com sua Coluna e Olga Benário vem ao Brasil, se casa com Prestes, é presa e deportada estando grávida.

Nos anos 20, os Estados Unidos vivem um momento de afirmação do seu poder econômico frente ao mundo. Para se ter uma idéia, em julho de 1923 o dólar passa a valer 1 milhão de marcos alemães e no mês seguinte 3 milhões de marcos. Surge em Nova York a primeira emissora de rádio comercial e é feita a primeira demonstração pública da televisão colorida. Esse também é o período do auge de Al Capone e do primeiro congresso nacional da Ku Klux Klan, que anuncia ter 4 milhões de militantes. John Scopes é julgado por ter ensinado a Teoria da Evolução na escola e é concedido o direito de cidadania a todos indígenas americanos (SIC), enquanto Walt Disney recebe o registro da marca Mickey Mouse. Então, em outubro de 1929, temos a quebra da bolsa de Nova York e as coisas se precipitam para cair na II Guerra Mundial.

Começamos então esse último período de Plutão em Câncer, quando temos no Brasil a Revolução de 30, que coloca Getulio Vargas, o pai dos pobres, no poder até 1954 - com várias revoltas e reviravoltas -, a Guerra entre Paraguai e Bolívia e a Guerra entre China e Japão, a “Longa Marcha” de Mao Tse-Tung que percorre a China com 90.000 soldados, a invasão da Etiópia pela Itália, as lutas de Gandhi pela libertação da Índia, e uma série de outras brigas, articulações e curiosidades que precisariam de muitas páginas para ser enumeradas. Lembrando que essa é a época em que toda a estrutura nazista e fascista está sendo montada, vamos dar uma averiguada na Guerra Civil Espanhola para exemplificar o significado desses últimos tempos de Plutão em Câncer.

A crise econômica pós-queda da bolsa de NY abala o sistema tradicional espanhol, representado pelo ditador monarquista Primo de Rivera, e em 1931 é proclamada a Segunda Republica Espanhola sob o governo de Niceto Alcalá Zamora, pondo fim a uma longa história monarquista apoiada no poder da Igreja Católica, do Latifúndio e do Exército. A Esquerda Espanhola que sobe ao poder é formada por um saco de gatos que reúne socialistas, comunistas stalinistas, trotsquistas, anarquistas, sindicalistas e autonomistas catalãs, galegos e bascos. A Direita, por sua vez, reunia os latifundiários, monarquistas, tradicionalistas e os fascistas da Falange Espanhola. A tensa convivência entre os dois lados estava, na minha humilde opinião, coberta pela inocência racional da esquerda, exemplificada na Constituição do Partido de Esquerda Republicana, onde Manuel Azaña escreve: “Me espanta que a Espanha possa ser um país convulsionado. Isso é um fracasso político. Mas será assim. Querem nos varrer da face da política espanhola. Que vamos invocar frente a essa idéia? Simplesmente a necessidade que se fundamenta na paz, na liberdade, na justiça e na ordem, o que não vem das mãos do carrasco, mas do respeito ao regime de igualdade”. Ler isso depois da própria Guerra Civil Espanhola, da II Guerra Mundial, com as atrocidades nazistas, e mesmo dos horrores dos EUA no Oriente, soa como uma grande utopia futurista, comparada apenas às imagens espirituais da Nova Era que há de vir. É interessante notar que a peça “Bodas de Sangue”, de Federico Garcia Lorca, estréia exatamente na época da proclamação da República, mostrando como a sensibilidade artística já era capaz de prever toda a dor irracional, sofrimento e paixão que estavam prontos para explodir no inconsciente. Falangistas e anarquistas passam a se atacar passionalmente, como só os espanhóis são capazes, e o clima de turbulência cresce agravado pelos problemas econômicos mundiais. Então surge o “Generalíssimo” Franco colocando o exército contra o governo republicano e as milícias anarquistas e comunistas para combatê-lo. Começa a Guerra Civil Espanhola com uma matança generalizada, onde religiosos e donos de terra eram fuzilados do lado republicano e professores e sindicalistas do lado militar nacionalista. A Espanha é dividida em dois e o mundo também: fascistas e nazistas de Portugal, Itália e Alemanha irão apoiar militarmente Franco, e Stalin coloca a Rússia ao lado dos Republicanos. França e Inglaterra se colocam suiçamente neutros. Nas áreas republicanas as terras foram coletivizadas, as fábricas dominadas pelos sindicatos, assim como os meios de comunicação. Em algumas localidades, os anarquistas chegaram até a abolir o dinheiro. Milhares de voluntários esquerdistas e comunistas vieram de todas as partes (53 nacionalidades) para formar as Brigadas Internacionais, com 38 mil homens, para lutar pela defesa da República. A Guerra Civil Espanhola se torna a catalisadora de toda a tensão que paira no mundo, com a disputa entre o nazi-fascismo e o comunismo que buscam se afirmar como os caminhos “corretos” para a Humanidade. Stalin, porém, se assusta – para usar um termo educado - com a radicalização dos anarquistas e trotsquistas, e orienta o PC espanhol a suprimir essa parte da milícia. Esquerda dividida, a superioridade militar dos nacionalistas vence a Guerra, e em 1º de abril de 1939 a Guerra Civil Espanhola termina e o General Franco se torna ditador na Espanha. Plutão então vai para Leão e se inicia a II Guerra Mundial.

Câncer, o signo mais sensível do sensível elemento água, mostrou sua face mais sangrenta e criativa durante o trânsito de Plutão. A Humanidade perdeu a inocência de achar que bons sentimentos são suficientes para criar novas realidades. Perdemos nossa inocência infantil para adquirir responsabilidade sobre nossos sonhos. Em 2008 Plutão entrará em Capricórnio, o signo oposto de Câncer e o mais realista dos realistas signos de Terra. Com certeza estaremos presenciando a verdade escondida atrás das realidades que construímos para nos proteger. Quem viver, verá.

Um comentário:

Anônimo disse...

massa