sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Hannah Arendt e o Outro Filosófico


Quando analisamos o mapa de uma pessoa damos conta de vários fatores ao mesmo tempo. Além do Sol, o Ascendente, a Lua, os planetas e pontos fornecem varias informações para que se entenda aquele ser. Lendo a biografia de Hannah Arendt é possível ver todo o seu mapa. Aqui, porém vou fazer a ousadia de destacar alguns pontos de sua biografia para mostrar o itinerário do Sol em Libra e como essa essência solar foi motriz para sua filosofia. Só as parcerias, amorosas e intelectuais, de Hannah Arendt já dariam ótimos subsídios para isso, mas em lugar de usar as relações amorosas, tão exaltadas nos almanaques sobre Libra, preferi tentar entender seu pensamento libriano. Utilizo o livro Nos Passos de Hannah Arendt, de Laure Adler, Ed. Record – SP – 2007, 3ª edição, com tradução de Tatiana Salem Levy e Marcelo Jacques, como fonte de sua história.

Hannah Arendt nasceu às 21:30 h., do dia 14 de outubro de 1906, em Linden, uma vila que hoje pertence à cidade de Hanover, Alemanha. Filha de pais judeus alemães, cultos e liberais, que vêm de famílias com boa situação financeira, aos 4 anos se muda com eles para Koningsberg por causa da doença do pai: uma sífilis adquirida antes do casamento e que se pensava curada, mas que volta a se manifestar nessa época, impedindo-o de trabalhar e criando um isolamento familiar.

Aos sete anos temos nosso primeiro grande choque com a realidade externa, e algumas teorias pedagógicas modernas colocam essa idade como o inicio da vida consciente individualizada. Na astrologia essa é a época da primeira quadratura de Saturno, um planeta que nos fala dos limites da existência e da necessidade de maestria para viver. Hannah Arendt aos sete anos perde seu pai e seu avô, pai de seu pai, que era sua principal fonte para as vivencias judaicas que irão formar sua identidade. Nos relatos de sua mãe, que mantinha um diário sobre o desenvolvimento de Hannah desde os primeiros meses, vemos que a menina está mais preocupada com a tristeza da mãe do que com seu próprio pesar. Apesar de isso ser comum entre crianças, vemos que há um raciocínio típico dos signos de ar por trás desse comportamento; sua mãe anota o pensamento de sua filha a respeito: “É preciso pensar o menos possível em coisas tristes, pois não faz o menor sentido ficar triste". No enterro, Hannah estará mais interessada nas belas flores e na grande quantidade de pessoas que acompanham o caixão do que na vivencia da morte de pessoas queridas. Ao relembrar essa época, Hannah dirá: “realmente desejei não precisar mais viver, porém sem jamais questionar o sentido da vida” (Jornal de Pensée, maio de 1965). É aqui que Hannah Arendt coloca o início do seu pensar a respeito de Deus, da Autoridade e da vida humana, não como uma crente, mas como filósofa. Essa maneira de elaborar as vivências é tipicamente libriana.

Vênus, o Planeta Regente de Libra, é a deusa do Amor e da Beleza na mitologia romana, correspondente à Afrodite grega. O Planeta Regente é aquele que dá a motivação para o signo. Sendo assim, esse é um signo que precisa de beleza e bom gosto para se movimentar no mundo. Raiva, tristeza, mesquinharia, egoísmo e outros sentimentos desarmônicos, tanto gerados quanto geradores de sofrimento, são dificilmente aceitos e assimilados em um primeiro momento pelos librianos, já que mostram uma face humana que não combina com os ideais de Bem, de Belo e de Verdade que lhe são tão preciosos e que eles estão buscando em sua vida. Como o contato com isso é inevitável, librianos só serão capazes de entender o porquê da existência daquilo se puderem harmonizá-los em um todo maior e mais Belo. Esse é o grande dom e também o grande vício de Libra, pois tanto pode fazer com que se crie realmente maior compreensão e beleza como podem criar uma negação da realidade experimentada, forçando o Mal a se tornar cada vez maior para poder ser visto. Hannah Arendt, tendo vivido todo o horror da II Guerra Mundial, não foi pelo caminho da negação.

O Outro, “aquele que eu não sou”, costuma aparecer bem cedo para os librianos, que em sua busca pela própria identidade vai se espelhando e comparando aos de sua espécie para tentar entender quem é. Crescendo em uma Alemanha pré-nazista, o outro irá aparecer com a face do anti-semitismo. Passando por vários insultos pelo fato de ser judia, principalmente na escola, até o fim da vida Hannah irá se definir como judia antes de ser alemã. Essa auto-definição, porém, não está baseado em uma religiosidade ou sentimento de raça. Quando da formação do Estado de Israel ela não aceita o fato de um Estado que não tenha a participação palestina, o Outro judaico. Todo o pensamento de Arendt irá percorrer esse caminho: o olhar para o outro como um estranho perigoso justifica a barbárie humana, mas esse individualismo egoísta também representa uma responsabilidade individual pelo Mal. Ela se mantém estrangeira, polemizando com seus pares, assumindo que algoz e vítima criam uma totalidade que precisa ser vista como tal se quisermos realmente entender o Ser Humano e viver em sociedade. Hannah tem a coragem de se colocar no lugar desconfortável de ser o Outro, e pensar a partir desse ponto de vista.

Quando Libra entende que ele será sempre o outro e constrói uma ponte amorosa que acolhe a diferença, crescendo nesse intercâmbio, o mundo pode realmente se tornar um lugar melhor, mais Belo e Verdadeiro, senão como um todo, ao menos nas suas relações pessoais.

O último trabalho da vida de Hannah Arendt, A Vida do Espírito, foi organizado e publicado por uma grande parceira sua, Mary McCarthy. Nesse trabalho ela percorre a filosofia de Kant para pensar sobre as faculdades humanas que nos fazem compreender o mundo e nele se orientar: o Pensar, o Querer e o Julgar. Certa vez, Mary MaCarthy perguntou a Hannah o que a impedia de ser uma assassina, e Hannah respondeu que a única pessoa com quem teria que conviver para o resto de sua vida seria ela mesma, e ela odiaria ter que conviver com uma assassina (Entre Amigas – A correspondência de Hannah Arendt e Mary McCarthy 1949-1975 – Ed. Relume Dumará – RJ – 1995). Os signos de Ar nos mostram a importância do pensamento na construção da nossa humanidade, não no sentido utilitarista, mas no sentido do Espírito Humano. Libra faz isso buscando a Beleza da existência. Provavelmente por isso Hannah escolhe um pensamento de Martin Heidegger como epígrafe de sua Vida do Espírito:

“O pensamento não traz conhecimento como as ciências.
O pensamento não produz sabedoria prática utilizável.
O pensamento não resolve os enigmas do universo.
O pensamento não nos dota diretamente com o poder de agir.”

O pensamento nos faz humanos, e pensar criativamente com beleza e amor é um dom libriano.

Um comentário:

Federico Rico disse...

Acho que era o Schopenhauer quem dizia: "O importante nao é o que os outros tém feito de mim, senao o que eu faso com o que os outros tém feito de mim."

Acredito que libra faz exatamente isso. É por isso que nao fica se recriando na dor nem na negatividade. Caso de faze-lo, trai sua própia eséncia, porque por mais que viva na procura da beleza, um dia aprende que sao justamente eles os primeiros encarregados de botar beleza lá onde nao há. Sao filhos de Venus e issa é sua missao. Entao, graças a eles, todos descubirmos um dia que a beleza sempre estive lá, perante nós, só que nao enchergávamos, né?

Amig@s librian@s, graças!

E graças a vc, Teca, por fazer um blog tao bom.