e
somente o mistério e a jornada permanecem. “
Rumi
Vênus
corresponde ao cobre na alquimia, e dizem os antropólogos que esse foi o primeiro
metal minerado e trabalhado pelo ser humano, encontrado em escavações datadas
por volta de 9000 a.C. no Oriente Médio. Em 5000 a.C. já se realizava a fusão e
refinação do cobre a partir de óxidos como a malaquita e azurita e em 3000 a.C.
os egípcios faziam tubos de cobre e também descobriram que a adição de pequenas
quantidades de estanho facilitava a fusão do metal, aperfeiçoando os métodos de
obtenção do bronze. Ao observarem a durabilidade do material os egípcios
representaram o cobre com o Ankh, símbolo da vida eterna. Os Fenícios, a grande
civilização de comerciantes da Antiguidade, entre 1500 a.C. até 300 a.C.
aproximadamente, importavam o cobre da Grécia, e Chipre, a meio caminho entre
Grécia e Egito, era a cidade-estado do cobre por excelência, ao ponto de os
romanos chamarem o metal de aes cyprium ou simplesmente cyprium e cuprum, donde
provém o seu nome latino e seu símbolo químico (CU). Chipre estava consagrada à
deusa da beleza, Afrodite, e os espelhos eram fabricados com este metal. O
símbolo do espelho de Vênus/Afrodite da mitologia, da astrologia e da alquimia
é a modificação do egípcio Ankh, e foi posteriormente adotado
por Carl Linné em sua taxonomia para simbolizar o gênero feminino.
Ankh |
Vênus |
O
cobre é um dos metais de transição (metais duros de altos pontos de fusão e
ebulição, que conduzem bem o calor e a eletricidade e podem formar ligas entre
si), cuja condutibilidade elétrica e térmica só é superada pela da prata. Por
isso o cobre tem seu lugar na mesma família que a prata e o ouro na tabela periódica.
Normalmente
o cobre tem um tom avermelhado, alaranjado ou acastanhado devido a uma fina
camada de manchas de óxidos, mas o cobre puro é rosa ou cor de pêssego. Apesar
de não reagir com a água, ele reage lentamente com o oxigênio atmosférico, formando
uma camada escura de oxido de cobre, e com o CO3 cria uma camada verde de
carbonato de cobre, chamado azinhavre, visto em construções e estátuas antigas.
O
cobre também é um elemento essencial à vida em geral, participando no nosso
organismo do processo de fixação do ferro na hemoglobina do sangue. Grandes
concentrações são encontradas no cérebro e fígado.
Vital,
cheio de beleza e utilidade para nós desde que nos deparamos com ele, o cobre,
como Vênus, tem sua capacidade de condução de energia facilmente associada ao
conceito freudiano de libido, a energia que alimenta o instinto de vida e tem
em sua mobilidade, na facilidade de alternar entre uma área de atenção para
outra, sua característica básica. Traduzimos Libido do Latim como “desejo”,
“anseio” e no século III d.C. Santo Agostinho já caracterizava três tipos de
desejos: a libido sciendi, desejo de
conhecimento, a libido sentiendi,
desejo sensual em sentido mais amplo, e a libido
dominendi, desejo de dominar. Esse reino que abarca desde os desejos mais
altruístas até os mais egoístas, pertence a Afrodite/Vênus.
Gehard
Dorn (c. 1530 – 1584), alquimista, filósofo e médico belga muito citado por
Jung e Marie-Louise von Franz, tem imagens bem interessantes do processo
alquímico, e uma delas fala do “dragão agitado da matéria” (o chumbo) que depois
de ser mergulhado em uma solução aquosa com “aquilo que é barato e precioso”, é
revivido pelo fogo, recupera suas asas, voa para longe, deixando em seu lugar
uma criança divina (o ouro) que “vive no fogo”, fruto da união do dragão com a
preciosidade que encontrou sob as águas. Essa criança é vermelha e atrai a vida
do fogo. Ou seja, é uma criança coberta de libido, e que é capaz de atrair e
direcionar essa força do desejo.
A
Vênus, assim como Mercúrio, traz características muito pessoais de quem somos
no mapa astral. Nossos gostos, nossos valores e a forma como atraímos aquilo
que apreciamos para nossas vidas está sob cuidados dessa deusa. Vênus nos
permite reconhecer o que há de precioso em meio àquilo que é “barato” e assim
direcionar nossas forças criativas para o que tem valor. Aqui temos o princípio
feminino que cria, enquanto na Lua temos o princípio feminino que cuida do que
foi criado (falarei em algum momento futuro sobre a união alquímica do Sol com
a Lua, que é o centro da Opus Alquímica, para entender mais profundamente esse
princípio lunar e a criação solar). Quando o Chumbo/Saturno, chega ao estágio do Cobre/Vênus,
depois de ter passado pela dissolução do nigredo,
a purificação do albedo e a
vivificação do citrinitas, a libido
já está pronta para unir o homúnculo, que estava aprisionado no chumbo no
início da aventura alquímica, à imortalidade divina, pois então é possível entender que “o significado ou o
sentido da própria vida é a imortalidade – o estado mental em que
constantemente usufruímos a presença de Deus” (Von Franz, Imaginação Ativa, 1979, pg. 78).
O
Rubedo é a última fase do processo alquímico de transformação do chumbo em
ouro, quando o Mercurius finalmente
encontra o Sol, que se une a Lua e formam “o Renascido Divino”. Na fase
vermelha acontece a síntese interna, a união entre as forças opostas que atuam
dentro da matéria e que vai gerar a pedra filosofal. O lado masculino e o
feminino da alma se integram. Essa união é chamada de conjunctio e é o ponto
culminante da Obra. Para que essa última
fase pudesse acontecer, alguns alquimistas, inclusive o mítico Paracelso, afirmavam
a importância de criar um ambiente saudável, cheio de beleza para desobstruir
qualquer energia que provoque condicionamento e assim os metais consigam se
unir de maneira correta. Ou seja, sem Vênus não há transformação, pois se a
libido não está presente, ela estará em outro lugar e é muito
provável que esteja lá atrás, no nigredo, associado à sombra, ou embolada com
os condicionamentos passados conhecidos, muitas vezes destrutivos. Vênus não faz parte da transformação em si, não é ela que se transforma, mas sua presença é imprescindível.
Então, se você, alquimista
amig@, é muito inteligente, muito disciplinado, tem muita força de vontade, mas
não consegue reconhecer o que tem valor, não aprimora seu sentido pessoal de
beleza (que pode ser muito diferente daquele condicionado socialmente) e não
expressa essa beleza no mundo, direcionando sua libido para aquilo que te trará
alegria e bem-estar, a transformação não ocorre. A Vênus traz em seu símbolo a
imortalidade do Ankh
que também pode ser traduzido como o divino (o círculo) dominando a matéria (a cruz), e é
nesse sentido que à essa deusa se associa a Beleza e o Amor, pois é ela que nos conduz à Fonte da Juventude. Muitas vezes ao
longo de nossa história humana mais recente, de uns 2 mil anos para cá, se
condenou esse princípio feminino tão elementar das nossas vidas, tentando
substituí-lo por outra coisa, por outros símbolos, o que acredito poder ser uma
das razões de nos encontrarmos nesse estado tão patológico, social e
pessoal, onde a sensação de impotência e estagnação é óbvia.
Ou,
como disse o engenheiro que amava livros e virou editor e escritor, Franklin P.
Jones: “o Amor não faz o mundo girar. O Amor faz o giro valer a pena”
Não podia terminar esse ano regido por Vênus sem falar dela, que traz um principio muito mais de daímôn grego, de um espírito da natureza, do que de uma deusa distante do Olimpo. Espero que todos tenham aproveitado esse tempo para aperfeiçoar suas qualidades venusianas. Ano que vem será regido por Júpiter, com eleições, copa do mundo e sabe-se lá o que mais. Certamente ter os próprios valores e beleza conscientes vai ajudar bastante. Feliz Natal!
2 comentários:
ótimo texto. E em 2021 mais do que nunca a importância em equilibrar espírito e matéria. Feliz ano novo.
Grata Jaqueline! Um 2021 com Luz para encontrar o caminho em meio a tantos desafios!
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