quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Lilith, a Lua Negra


“Então Deus disse: ‘Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Que ele reine sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos e sobre toda a terra (...)’. Deus criou o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a mulher. (...) E assim se fez. Deus contemplou toda a sua obra, e viu que tudo era muito bom”.

Gênese 1 – 26.31




E enquanto Deus descansava de seu grande trabalho de criar o mundo, Adão só queria fazer sexo papai/mamãe e a primeira mulher se revoltou com essa falta de criatividade. Segundo o Alfabeto de Ben-Sira (600 – 1000 d.C.), que encontrei na Wikipédia, Adão e Lilith começaram a brigar e Lilith disse: "’Por que devo deitar-me embaixo de ti? Por que devo abrir-me sob teu corpo? Por que ser dominada por ti? Contudo, eu também fui feita de pó e por isso sou tua igual.’ Quando reclamou de sua condição a Deus, Adão retrucou: ’Eu não vou me deitar abaixo de você, apenas por cima. Pois você está apta apenas para estar na posição inferior, enquanto eu sou um ser superior.’  Lilith respondeu: ‘Nós somos iguais um ao outro, considerando que ambos fomos criados a partir da terra’. Mas eles não deram ouvido um ao outro. Quando Lilith percebeu isso, ela pronunciou o Nome Inefável (que é o nome de Deus) e voou para o ar. Adão permaneceu em oração diante do seu Criador: ‘Soberano do universo! A mulher que você me deu fugiu!’. Ao mesmo tempo Deus enviou três anjos para trazê-la de volta.”

A lenda continua dizendo que quando os anjos a encontram, Lilith se nega a voltar para Adão, e então esses seres sensíveis como um bando de rinocerontes sem Rivotril a ameaçam de afogamento se ela não obedecer. A Lei Maria da Penha ainda não tinha sido aprovada no tribunal divino, pelo jeito. Ainda por cima rogam a praga de que ela irá perder cem filhos por dia, o que a transforma em uma ameaça para recém-nascidos. Aí ela se alia aos anjos caídos e se transforma em demônio. Pois comecei a pensar em escrever sobre a Lilith enquanto acompanhava as várias “Marchas das Vadias” e “Marchas pela Humanização do Parto” pelo Brasil e sempre me vinha imagem de um monte de Liliths dizendo “eu também fui feita de pó e por isso sou tua igual”.

Vamos olhar algumas imagens que peguei nas páginas do Facebook da Marcha das Vadias de Brasília e da Marcha do Parto em Casa antes de falarmos da Lua Negra e sua equipe de 
demônios:













E aqui algumas campanhas desses dois grupos







Lilith é aquele aspecto humano (sim, de homens e mulheres), que não pode obedecer aos mandatos da cultura vigente que signifiquem injustiça ou opressão, mesmo que esses mandatos venham com rótulos de virtude ou civilidade. Na Cabala, (Patai 81: 455f) ela é referida como a serpente que levou Eva a comer o fruto proibido e alguns filósofos, a partir do Romantismo, utilizaram a metáfora de Adão e Eva comendo do fruto da Árvore do Bem e do Mal para falar do inicio da vida consciente do Ser Humano. Nesse sentido é que a Lilith em nosso mapa nos obriga a uma maior consciência sobre o Bem e o Mal, pois é um ponto onde não podemos nos acomodar ao status quo, onde um instinto mais forte de vida tem lugar, onde existe a crença de que acomodar-se é igual a se deixar afogar, e a única maneira de se lidar com isso é através da consciência do que é marginalizado em nós.

O encontro desse ponto orbital demorou muito tempo, assim como a nova consciência que Lilith nos traz demorou em ser aceita nas nossas psiques.  Os primeiros registros astronômicos que falam de Lilith apareceram na mesma época em que Netuno foi avistado, em 1846, e compartilha com ele, além de muita confusão, esse lugar misterioso e cheio de ilusões. Frederic Petit, diretor do observatório de Toulouse, na França, anuncia nesse ano a descoberta de uma segunda lua da Terra, podendo inclusive calcular sua órbita. Muitos profissionais e amadores passaram a olhar para o céu em busca desse segundo satélite da Terra. Os relatos dessa segunda lua falavam de um corpo nebuloso ou nuvem de poeira, difícil de identificar, somente podendo ser observada nas noites de Lua Nova e em posição diretamente oposta ao Sol. Em 1898, o Doutor George Waltemath, de Hamburgo, comunicou ter descoberto um sistema de pequenas luas da Terra, fornecendo elementos orbitais de uma delas, predizendo que passaria em frente ao Sol em fevereiro de 1898. Em 1918, Sepharial, um astrólogo de renome, começa a fazer investigações a respeito dessa lua de Waltemath, chamando esse satélite hipotético de Lua Negra ou Lilith, interpretando-a como um satélite escuro, obstrutivo e fatal, abrindo um novo campo de pesquisa para os astrólogos. Com os elementos orbitais de Waltermath, calculou suas efemérides para uso astrológico. Quando os primeiros satélites artificiais foram lançados em 1957 e 1958, porém, se verificou que aquilo que se consideravam luas terrestres, na verdade, eram meteoroides que tocam a atmosfera superior e perdem velocidade, fazendo com que alguns deles entrem em órbita, com um número de revoluções entre uma e cem, por um máximo de tempo de 150 horas. É possível que aquilo que Petit e Waltermath avistaram se referisse a um desses satélites efêmeros (obrigada Dani Rossi).

Mas antes mesmo dos satélites artificiais acabarem com a ilusão de outra lua orbitando nosso planeta, os astrólogos começaram a pesquisar a Lua Negra através do apogeu lunar, conforme proposto por Don Néroman, fundador do Collège Astrologique de France em 1933 - mesma época em que Plutão foi descoberto -, e que usamos até hoje.

Vamos entender o que é esse apogeu lunar, então: a Lua descreve uma trajetória elíptica ao redor da Terra, assim como os planetas ao redor do Sol. Como a elipse possui dois pontos focais, a órbita lunar é uma elipse que tem um dos focos no centro da Terra; e o foco vazio, que coincide com o apogeu lunar verdadeiro, é a Lua Negra ou Lilith, conforme esse conceito de Néroman. A projeção do apogeu da Lua no zodíaco (Lilith) desloca-se 6 minutos e 30 segundos por dia, 40 graus ao ano, percorrendo um signo zodiacal a cada 9 meses e levando 3.232 dias para dar uma volta completa no zodíaco, aproximadamente, 9 anos.


Como Plutão e Lilith foram descobertos na mesma época, alguns astrólogos acham que a Lua Negra é a contraparte feminina de Plutão, mas a Lua Negra parece trazer para nós a distorção das forças de todos os astros: egocentrismo (Sol), mágoas (Lua), dissimulação (Mercúrio), luxúria (Vênus), agressividade (Marte), exagero (Júpiter), rigidez (Saturno), rebeldia (Urano), ilusão (Netuno), sede de poder (Plutão). Um verdadeiro instrumentum diaboli essa menina, não? Na prática o que observamos é que todas as distorções que não conseguimos aceitar e elaborar conscientemente nas áreas em que atuam os outros astros irão se manifestar no ponto onde encontramos nossa Lilith, principalmente do regente do signo em que ela está. Isso pode ser tão perturbador quanto um sonho erótico para um celibatário, pois obriga a um questionamento a respeito de quão dignos somos de nossas escolhas conscientes.

A Lua visível e a Lua Negra estão diretamente conectadas, assim como Lilith e Eva. A Lua precisa do princípio masculino representado pelo Sol para ser vista, assim como Eva precisou da costela de Adão para vir ao mundo. A Lua em nosso mapa representa exatamente a nossa importantíssima capacidade de adaptação ao mundo, de criar vínculos afetivos e a possibilidade de segurança emocional nessa vida. Nosso satélite se associa à imagem da Mãe exatamente porque representa a parte receptiva do processo criativo, que precisa desenvolver cuidado e confiança na Vida para que o novo possa amadurecer e vir ao mundo. Mas quando nossa receptividade lunar, que se entrega ao princípio ativo com confiança e alegria, se distorce em medo, paralisia, estagnação, vício e dependência, teremos problemas sérios. É então que precisamos reverenciar nossa Lilith, mesmo que nos pareça um impulso demasiado primitivo e incivilizado. Não para tornarmo-nos histéricos malucos que saem matando e vampirizando, além de comer criancinhas, como falam algumas lendas que demonizam Lilith, mas porque, como nos ensina o Guia do Pathwork, “todos precisam fazer contato com a sua crueldade, brutalidade, sadismo, sede de vingança e malícia oculta para aprender realmente a superar essas emoções destrutivas, vendo-as, entendendo-as e aceitando-as. Só então podem convencer-se genuinamente de que não há necessidade da destrutividade. Enquanto a destrutividade não é encarada, fica faltando essa convicção e ela é contida principalmente por se temer a retribuição e outras consequências. Somente quando se tem a coragem e honestidade de ver e aceitar totalmente as emoções e desejos danosos do interior, apenas quando estes são completamente compreendidos e avaliados é que se pode ver, sem sombra de dúvida, que eles são supérfluos como defesas e que não servem a nenhum outro propósito.” (PW 169). Esse é o caminho para integração de Lilith.

Quando analisamos a Lilith astrológica olhamos para um ponto totalmente insensível a vitimismo, imaturidade emocional ou sentimentalismos de novela. Aqui temos o foco vazio da órbita lunar, e por isso associado a sentimentos de falta, de perda, de ausência, de frustração, de coisas insatisfatórias que precisam ser bem compreendidas para que haja realmente integração. Quem pode nos orientar de maneira muito boa nesse caminho é Carl Gustav Jung, que possuía uma forte Lilith sagitariana em conjunção com o Meio do Céu e em oposição a Plutão. Jung diz que um dos primeiros passos rumo à individuação – processo de nos tornarmos quem somos interiormente –, de maneira geral, é o confronto com nossa Sombra, pois ao abordarmos o inconsciente a partir de nossas próprias raízes psíquicas, não vamos nos deparar com nenhuma “luz interior”, mas com uma espessa camada de conteúdos pessoais reprimidos. Isso representa, ao menos para nós criados em uma cultura ocidental, um conflito moral doloroso. Como ele mesmo relata em suas “Memórias, Sonhos e Reflexões”: “nada pode nos poupar o tormento da decisão ética. Não obstante, por mais duro que possa soar, devemos ter, em algumas circunstâncias, a liberdade de evitar o bem moral conhecido e de fazer o que é considerado mal se nossa decisão ética assim exigir.” Para isso é necessário muito autoconhecimento, que revela à pessoa o que há nela de luz e de trevas. Isso é precisamente o que as pessoas desejam evitar, pois parece melhor projetar o mal em outra pessoa, nação, religião, classe, etc. Onde temos Lilith, essa projeção traz sofrimento e exige responsabilidade, ou, como diz Marie-Louise von Franz (C. G. Jung, Seu Mito em Nossa Época): “o malfeito, pretendido ou pensado, se vingará em nossa alma: o ladrão rouba a si mesmo, o assassino mata a si próprio.”

Existem duas maneira de se representar a Lilith no mapa. O mais comum nos programas de computador é um circulo com uma lua minguante dentro, mas o mais significativo é esse:


Que mostra uma ligação muito interessante com este, de Saturno:



Tanto Lilith quanto Saturno compartilham a fama de malignos e de criadores de frustração. Para mim, Lilith tem significado muito mais como lado feminino de Saturno do que de Plutão. Para apaziguar Lilith é preciso dos mesmos recursos usados para Saturno: seriedade, responsabilidade e paciência. Assim como Saturno quando trabalhado e integrado nos traz estrutura e autoridade internas que nos permite enfrentar com maturidade as aventuras da vida, a integração de Lilith nos traz a possibilidade de experimentar por inteiro a aventura de ser vivo, de se entregar à vida com maturidade e consciência.

Desde muuuuuito tempo o prazer feminino tem sido associado a algo ruim e não civilizado, inclusive relatos médicos da Idade Média pregavam que o orgasmo feminino prejudicava a concepção de filhos. O rótulo adotado para as pessoas com doenças psicossomáticas em geral e descontroladas em particular como histéricas – do grego hysterikós, relativo ao útero – já fala o suficiente sobre isso. Lilith traz a humanização do feminino. Durante os últimos nove meses, com a passagem de Lilith pelo signo de Touro, milhares de mulheres, com o maravilhoso apoio de muitos homens, foram às ruas mostrando peitos, barrigas e pernas para exigir respeito, cuidado e responsabilidade. Essa postagem é minha pequena homenagem a elas e também uma homenagem à minha Lilith, que, assim como Saturno, tem me mostrado um caminho de integridade.

Salve Lilith! Salve Nanã, Yemanjá, Oxum e Yansã (salve Lucia Cordeiro!)! Salve Eva, Maria e Madalena! Porque Deus contemplou toda a sua obra, e viu que tudo era muito bom.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Parte da Fortuna II - A Missão


“O Reino dos céus é também semelhante a um tesouro escondido num campo. Um homem o encontra, mas o esconde de novo. E cheio de alegria, vai, vende tudo o que tem para comprar aquele campo.”
Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus – 13.44

         A primeira coisa para a qual temos que olhar quando se quer entender a nossa Fortuna, é para a fase de lunação em que nascemos, ou seja, se era Lua Nova, Cheia, Minguante ou Crescente quando chegamos. Lembrando: Lua Nova é conjunção de Sol e Lua, Lua Cheia é oposição dos Luminares, Minguante é a quadratura (distancia de 90°) que acontece antes da conjunção e a Crescente a quadratura que acontece depois.

         Se você nasceu durante uma Lua Nova, quando colocar o Sol no Ascendente, a Lua irá junto, e dependendo da exatidão da conjunção, a Roda estará em conjunção mais ou menos exata com o Ascendente, às vezes na casa 12 às vezes na casa 1. Como o Ascendente mostra a forma como chegamos ao mundo e como buscamos nossa maneira mais pessoal e subjetiva de expressão, esse Lot traz exatamente a possibilidade de se encontrar a alegria de ser quem se é. Quanto mais compreender a si mesmo e quanto mais desenvolver sua visão única do mundo, mais alegria e satisfação com a vida. Isso é resultado de uma utilização positiva da união entre Sol e Lua, onde as memórias e vínculos lunares servem para enraizar e alimentar esse Sol, que por sua vez aquece e ilumina essa Lua de modo que ela possa deixar no passado aquilo que não interessa mais no processo de desenvolvimento da pessoa. Isso significa aprender a olhar para si em vez de ficar se identificando o tempo todo de maneira subjetiva com o mundo externo, que muitas vezes é absolutamente impessoal, mas a pessoa vira e mexe reage emocionalmente como se aquilo dissesse respeito a si, como se o mundo estivesse olhando para tudo que está acontecendo dentro de sua vida. Isso pode se tornar um obstáculo para a criação de uma identidade pessoal, e geralmente é preciso um bom tanto de maturidade para começar a aproveitar esse Lot de Fortuna.

         Se você nasceu durante uma Lua Cheia, o Lot da Fortuna irá fazer conjunção com a casa 7 - mesmo estando no final da casa 6 -, criando um conflito aqui com o Ascendente que reflete o conflito entre os Luminares. As personalidades desenvolvidas através de uma Lua Cheia, em geral, sentem que têm um pé no passado e precisam corresponder àquilo que acham que as pessoas esperam delas, e um pé nas realizações presentes, naquilo que realmente querem ser e fazer da própria vida. A Parte da Fortuna na casa das associações faz com que as parcerias (afetivas, de negócios, etc.) habilitem a pessoa a resolver esse conflito interno aprendendo a dar e receber de maneira justa, pois se percebe muito claramente que o excesso de um ou do outro em qualquer parceria é destrutivo quando se busca completude. Essa parece ser a base mais importante para se ter um casamento feliz, em qualquer nível, já que o Outro não é alguém para salvar ou para ser salvo, mas alguém que realmente pode te acompanhar pelo Caminho em igualdade de condições.

         Quando se nasce durante uma Lua Minguante ou Crescente, o Lot normalmente estará no Meio do Céu ou no Fundo do Céu, fazendo conjunção com a cúspide da casa 10 ou da casa 4. Mas dependendo do processo de dominação (divisão de casas) que você utiliza, pode ser que ela esteja na casa 9 ou na casa 3, como acontece algumas vezes para quem usa o método de Placidus, que é o mais popular. De qualquer maneira, a Roda estará enquadrando com o Ascendente mesmo que o MC e o FC não o façam, e assim retomando esse conflito entre os Luminares. Personalidades “minguantes” e “crescentes” normalmente acreditam que para se relacionar afetivamente têm que abrir mão de serem quem são, ou então que têm que abrir mão de seu passado, de suas origens e mesmo de vínculos afetivos muito fortes para se desenvolverem como indivíduos. A quadratura traz um impulso muito poderoso de auto superação, e isso é possível quando a pessoa entende que seus esforços têm que ser direcionados para seu desenvolvimento e não para a tentativa de provar que se é merecedor de atenção e/ou aceitação. Quando a Parte da Fortuna aparece na casa 4, as inadequações sentidas quando se é pequeno precisam ser aceitas e usadas como força para se ser aquilo que se é, e consequentemente se encontra a aceitação da Vida como um todo exatamente como ela é. Quando a Fortuna está no MC, a autoridade que parece barrar o desenvolvimento pessoal tem que ser encarada como mestre que encaminha a pessoa obrigatoriamente para a realização dos seus potenciais únicos para se libertar. Nesse trabalho de buscar o próprio potencial apesar das tempestades que parecem impedi-lo, a Roda da Fortuna começa a girar de modo a criar na vida pessoal a abundância e satisfação por ser quem se é e realizar algo significativo com sua vida.

         E já que estamos falando de relacionamentos entre Sol e Lua, não vamos nos esquecer do Trígono, (distância de 120°) entre os Luminares, que fará a Roda da Fortuna estar nas casas 5 ou 9, que são as duas casas além do Ascendente que falam da construção da nossa personalidade. Essa relação traz também um Trígono entre o Lot da Fortuna e o Ascendente que reforça a nossa maneira de ser no mundo. A facilidade de expressão representada pelo Trígono fazem com que a Roda da Fortuna na casa 5 traga mais força para a vontade de criar e na casa 9 mais benefícios para a personalidade através de inspirações e propósito de vida. Esse posicionamento da Parte da Fortuna geralmente se associa a golpes de sorte na vida, pois o Trígono nos mostra circunstâncias que muitas vezes estão em um nível inconsciente, mas que a pessoa aceita e colabora, pois não tem necessidade de controle e confia na vida. Fica mais fácil mesmo quando conseguimos ver  um propósito para nossa vontade e inspiração de modo a sustentar nossa vida e alimentar nossa personalidade. Esse Lot traz alegria e satisfação para o desenvolvimento de nossa vontade interior e para aprender as lições que a vida traz.

Agora vamos abrir o Boteco e dar uma passada na Parte da Fortuna através dos Signos. Lembrando que aqui vão apenas algumas imagens e dicas básicas para você pensar sobre o Lot que a Fortuna te reserva, ok? Para entender a casa onde está sua Fortuna, vale buscar a analogia entre signo e casa, ou seja, se seu Lot está na casa 2, dê uma lida em Touro, se na 3 em Gêmeos, etc., que sempre trazem algumas luzes para compreender a área de atuação desse ponto do mapa.

Lot em Áries
Esse é um Lot cheio de energia vital, e quando se conecta a ele, a pessoa é capaz de enfrentar e vencer os obstáculos que aparecem na sua frente se divertindo no processo. O problema aqui é conseguir focar sua energia em metas pessoais e ter independência com relação à opinião e às dificuldades dos outros. É comum a pessoa ter empatia com relação àqueles que não conseguem tomar decisões e agir, além de perceber com clareza quando os outros estão sendo insinceros por medo, e querer ajudar, o que só o desvia do caminho. Quando a pessoa consegue acreditar no valor dos próprios desejos de realização, é possível se libertar da influência das vidas das pessoas que lhe são próximas, criando uma unidade entre sua mente e sua vontade. Quanto mais fluir em direção a essa meta, mais satisfação com a vida pode trazer essa Parte da Fortuna.

Lot em Touro
A Fortuna taurina é baseada na habilidade em sustentar e desenvolver a substância da vida em algo sólido e duradouro seja em suas conquistas materiais seja nas afetivas. Para isso é preciso usar a consciência de que a vida em si tem uma imprevisibilidade e instabilidade inerente, e que há coisas que devem morrer para serem transformadas. Só assim é possível perceber o que é eterno de verdade e construir algo que realmente sustente sua existência de maneira profunda e feliz. Essa possibilidade de conquistar a alegria de estar vivo em um corpo físico em um mundo material dada pela Roda da Fortuna em Touro precisa, em primeiro lugar, aprender a deixar de lado a possível insatisfação que as pessoas ao seu redor sentem com a própria vida, para então poder aceitar e se entregar à possibilidade de vida bela, amorosa e pacífica que deseja e que pode conquistar.

Lot em Gêmeos
A alegria de poder se comunicar com tudo o que o cerca, juntando novas compreensões de tudo que encontra, percebendo as múltiplas facetas da vida que frequentemente se contradizem, que possibilita a pessoa agir e reagir rapidamente às mudanças que ocorrem na própria vida, é a felicidade prometida por essa Parte da Fortuna geminiana. Para isso é necessário um trabalho consciente em não julgar aos outros, de não se identificar com a autoridade de um juiz que o afasta de uma relação de camaradagem com o mundo ao seu redor, possibilitando o desenvolvimento dessa habilidade em lidar com a realidade imediata, com o aqui/agora, com todas as suas limitações e circunstâncias temporárias. O prazer e a alegria de se viver em um mundo em eterna mudança e saber aproveitar essa liberdade são as delícias desse Lot.

Lot em Câncer
A alegria de dar nascimento ao novo, seja qual for a sua manifestação, é a grande possibilidade de satisfação dada por essa Roda da Fortuna. A promessa de entrada no Reino dos Céus para aqueles que voltarem a ser crianças, pode ser alcançada por esse Lot se a pessoa conseguir se distanciar da demanda por concretização “correta” que percebe ao seu redor. O cuidado com aquilo que está nascendo ou crescendo não depende daquilo que surgirá quando chegar à maturidade, por isso quando somos pequenos podemos ser professor e astronauta ao mesmo tempo, casar e ter 12 filhos e ir dançar todas as noites com o príncipe encantado. O respeito amoroso para com esse potencial nascente é determinante para o resultado da sua maturação. A proximidade com a natureza pode ajudar nisso, pois é fácil observar a maneira integradora com que o cuidado dos pequenos gera a fortaleza dos grandes. Poder existir de uma maneira simples e vigorosa como uma criança, mas com a consciência da alegria e prazer de se poder alimentar generosamente tudo aquilo que o cerca – inclusive a si mesmo – é a Parte da Fortuna canceriana.

Lot em Leão
O prazer de criar a si mesmo, dando ao mundo o seu melhor, é a promessa de satisfação do Lot leonino. Para isso é preciso abrir mão da sensibilidade a respeito do que o resto da Humanidade pensa a seu respeito e se focar mais no próprio ideal daquilo que se quer ser. Então toda dificuldade externa de expressão virá acompanhada com maior força para afirmar internamente a própria vontade, alimentando o valor de quem se é, possibilitando que a pessoa desenvolva a sensibilidade para ver que sua generosidade, suas ambições pessoais e suas metas o estão levando pelo caminho correto. Honra, dignidade, prestígio e respeito são presentes derivados dessa Roda, cuja verdadeira satisfação vem da auto realização, de criar em si os valores nobres que acredita mais profundamente seu Ser, independente do que se vive exteriormente.

Lot em Virgem
A possibilidade de dar uma finalidade útil para tudo que existe em sua vida é a deliciosa promessa desse Lot virginiano, seja através de habilidades manuais, mentais e/ou emocionais. Sobras de comida da geladeira que se transformam em banquetes, latas velhas que se transformam em esculturas, ideais ultrapassados que ganham atualidade, sonhos desfeitos que se transformam em novas esperanças são possibilidades inerentes a essa Roda, que consegue juntar coisas aparentemente desconectas de maneira a lhe dar sentido, eliminando fatores externos desnecessários através da experiência de simplicidade de um pensamento claro. Para isso é preciso que a pessoa pare de se preocupar com as confusões mentais e emocionais que a cercam e aprenda a desfrutar da capacidade de perceber a vida e o mundo de uma maneira prática e presente, atuando no mundo concreto e trazendo para a matéria novas possibilidades de organização para a Vida.

Lot em Libra
O Lot libriano traz a imensa alegria de dividir a existência humana com outro ser de maneira equilibrada e harmônica. Para isso é necessário entender que toda ação gera uma reação, que toda associação significa o equilíbrio entre duas individualidades com vontades próprias. A Roda da Fortuna aqui significa a satisfação em poder observar de maneira impessoal as relações que são estabelecidas de maneira a entender como essa associação pode se realizar de maneira harmônica e prazerosa. Então o senso de Justiça libriano pode atuar através do Lot da Fortuna, equilibrando os sentimentos e as experiências de modo a encontrar paz nas relações, fluindo na vida junto com as pessoas às quais se associa de modo a dar e receber com igualdade.

Lot em Escorpião
A força de Escorpião vem da sua capacidade de ir além das belas aparências e encontrar as verdades escondidas, e essa Parte da Fortuna traz o prazer de enxergar o que precisa ser derrubado para que a verdade seja trazida à superfície, juntamente com a alegria de fazer picadinho daquilo que estava lá só para se ficar bem no filme. É fácil perceber que essa não é das Fortunas mais populares. Atire a primeira pedra quem não convive com pequenas mentiras que garantem alguma falsa segurança confortável ou uma harmonia aparente pela vida. Para que essa Roda possa girar a pessoa tem que aprender que aquilo que é real não pode ser destruído, e então aprender a fluir através dessa realidade mais profunda e intensa. Isso significa ter confiança em forças muitas vezes desconhecidas e invisíveis que podem inclusive contradizer aquilo que mostra a aparência. Essa Parte da Fortuna traz a possibilidade de se trabalhar ativamente na construção de uma vida verdadeiramente mais segura e pacífica, e, portanto mais íntima, pois confiável, já que não se tem medo de enfrentar aquilo que pareça feio, mau, incorreto ou desagradável. É muito mais fácil a existência sem ficar acumulando fantasmas no armário.

Lot em Sagitário
O Lot sagitariano faz com que novas experiências, paisagens e conhecimentos tragam mais alegria e satisfação para a própria vida. Quanto mais a pessoa entende que a vida pode ser abundante e feliz, mais naturalmente isso passa a ser experimentado. Para isso é preciso parar de se preocupar tanto com aquilo que as outras pessoas pensam e experimentam em suas vidas particulares, e perceber que muitas vezes o que vivemos em nossa existência não é compartilhável com aqueles que convivemos. Se conseguir superar a frustração de não ver a si mesma através dos olhos dos outros, a Fortuna poderá mostrar à pessoa que não há um objetivo na vida, que todas as direções tomadas levam ao centro, que qualquer lugar onde se pendure o chapéu (essa expressão é antiga, hem?) é seu lar, qualquer maneira que se ganhe a vida é boa, que quem estiver em sua companhia é seu amigo, e assim se vive em contínua expansão, quase a despeito de si mesmo. E assim, a vida vai se tornando cada vez mais ampla e significativa. Felicidade não é algo que possamos transferir para outra pessoa, mas isso não pode impedir quem tem essa Parte da Fortuna de acreditar na sua própria.

Lot em Capricórnio
Tudo que envolve Capricórnio precisa de tempo para se realizar, pois envolve uma estruturação que vai além do indivíduo. Para que essa Roda comece a girar é preciso desenvolver paciência, principalmente para consigo mesmo. O prazer de um Lot capricorniano está em construir sua vida com as próprias mãos, e isso significa trabalhar duro para superar as limitações impostas pela origem familiar e criar um projeto pessoal de existência. Para isso é preciso desenvolver habilidade e força através de suas experiências de vida, de modo a se capacitar a liderar a si próprio, independente das situações e circunstâncias externas. Com a maturidade a pessoa pode perceber que tudo em sua vida o levou para um objetivo que se torna cada vez mais claro, que nada em sua vida foi para distraí-lo ou desviá-lo, que tudo pode ser encaixado em um plano maior. Esse plano só pode se revelar depois de entender que o envolvimento com a negatividade emocional daqueles que o cerca só o deixa confuso e enfraquece seu autorrespeito, já que não há como salvar outras pessoas de seus próprios sentimentos, de suas próprias vidas. Apesar dessa Parte da Fortuna geralmente demorar bastante para se manifestar conscientemente, o desenvolvimento interior que ela permite  não depende de sorte ou de ajuda externa, e por isso pode trazer uma satisfação duradoura e poderosa.

Lot em Aquário
A alegria do Lot aquariano vem de compreender a enorme benção que é poder compartilhar essa vida humana preciosa, como dizem os budistas. Para isso a pessoa precisa começar a perceber que mesmo que cada individualidade – inclusive a sua – tenha vontade própria, não é preciso se envolver com os princípios pessoais dos outros para se viver a própria vida, o que leva à quebra dos preconceitos e do julgamento a respeito de como os outros devem levar a própria vida. Isso abre o horizonte pessoal permitindo que novas ideias e modos de ver o mundo estimulem seu espírito inventivo e a originalidade de perspectivas ao direcionar a própria vida. A existência passa a ser algo incrivelmente interessante, onde se quer saber de tudo a respeito do Homem, do Mundo, do Universo, em um incessante prazer por estar vivo e desenvolver a própria humanidade. Uma incrível liberdade pode fazer parte da vida da pessoa com essa Roda girando, e quase nada pode abalar essa vida onde há espaço para aceitar qualquer acontecimento como válido. Isso leva à alegria de conscientizar-se de tudo que pareça diferente em si mesmo, qualificando todos os seus desejos e ideias únicos, entendendo que assim como a Humanidade, a pessoa também se encaminha para uma maior consciência da vida e do universo.

Lot em Peixes
Com um Lot pisciano temos a promessa divina de se sentir em unidade com tudo o que o cerca, de viver em sintonia com toda a Vida por baixo de qualquer manifestação material. Claro que isso implica em conseguir se desligar das cobranças externas de que se deve planejar e objetivar a própria vida, o que não é simples nem fácil na sociedade em que vivemos, principalmente quando se é muito jovem. Acreditar nos próprios sonhos e desejos, por mais quiméricos que pareçam para os outros, é que permite essa Roda começar a girar, até que a pessoa perceba que tudo aquilo que ela imagina acaba se tornando realidade, e assim criar confiança no fluir suave através das experiências da vida. A Parte da Fortuna em Peixes significa a vantagem de saber que a vida, as ideias e todas as limitações humanas são apenas aparentes, e que é possível existir nesse mundo através da alegria e do amor de uma verdade maior e mais profunda. Essa parece ser a maior alegria e felicidade que um ser humano pode alcançar.

domingo, 27 de maio de 2012

Parte da Fortuna


“Desistam de viver superficialmente no sentido de satisfazer o mundo em vez de corresponder às suas próprias expectativas. Não vivam para manter as aparências em nenhuma área da sua vida. Vivam de acordo com a verdade e a realidade. Enfrentem todos os problemas na sua totalidade”
Palestra Pathwork 095

Esse é um dos elementos que herdamos das chamadas Partes Árabes, que eram muito usados na Antiguidade para entender o destino humano. Na verdade ficamos conhecendo esses elementos através dos gregos, sendo que os escritos mais antigos a respeito vêm do lendário Hermes Trimegistus. Aliás, a maioria das coisas que herdamos anteriores à Idade Média são creditadas a esse sábio mitológico. O Lot da Fortuna, como era chamado, muitas vezes se confunde com a Roda da Fortuna, apesar desse nome estar muito mais próximo ao Arcano 10 do Tarot, que fala dos altos e baixos do destino - geralmente significando mais os baixos que os altos -  e que tem uma conotação de movimento negativo e brusco - mas necessário -, que pode trazer instabilidade e inércia. Como diz Renata Freitas: “(...) a Roda é uma influência fatídica e irreversível, que nada ou ninguém pode deter e seu curso não poderá ser conhecido com antecedência”. Ui, durma-se com uma carta dessa na cabeça! Isso tem muito a ver com a Deusa da Fortuna (Tique para os gregos) que trazia a boa e má sorte aos homens e que foi cultuada principalmente em épocas de bastante turbulência, violência e sofrimento, como nos anos de disputas pelo poder dos herdeiros de Alexandre, o grande, ou durante a decadência de Roma, no processo que transforma o cristianismo em religião oficial do Estado. Não é a toa que os poetas gregos se referiam a essa senhora como uma “meretriz inconstante”, cheia de poder e caprichos. Mas gregos e romanos nunca foram muito bons para entender o feminino...

A Parte da Fortuna astrológica não é isso, apesar de conter algumas qualidades de sua irmã do Tarô. A Parte da qual falamos aqui é aquilo que ganhamos com a realização de nossas vidas, a “parte que te cabe desse latifúndio”, para usar uma frase joãocabraldemelodiana. A idéia de Fortuna desse elemento astrológico está muito mais próxima do que entendemos atualmente quando nos referindo àquilo que mundanamente podemos desejar, como sucesso, posses, prestígio. Essa posição do mapa astral está diretamente conectado com os desejos lunares de realização, e com os quais sonhamos em ter num paraíso se fizermos tudo direitinho, só que recebendo aqui na Terra mesmo. Bacana, né? Agora que consegui sua atenção e você foi ver onde está sua Parte da Fortuna, vamos ver o que temos aqui de verdade.

Encontramos a Parte da Fortuna através de cálculos bem simples. Primeiro você localiza seu Sol, sua Lua e seu Ascendente e calcula a distância em graus entre seu Sol e sua Lua. Então você coloca o Sol em conjunto com seu ascendente e verifica onde estaria a Lua, respeitando a distância entre esses astros no mapa natal. Esse é o lugar da Parte da Fortuna. Exemplo: um Ascendente a 27° de Aquário, um Sol a 19° de Câncer e uma Lua a 17° de Gêmeos. A distância entre esse Sol e essa Lua é de 28° para frente (lembrando que cada signo tem 30°), então se colocarmos o Sol a 27° de Aquário, que corresponde ao Ascendente, a Lua estaria a 25° de Peixes. A Parte da Fortuna seria esse ponto lunar, em 25° de Peixes. Se você se confunde com números, é só ir no desenho do seu mapa e ver onde está este símbolo:

 
A Lua é quem nos ensina a criar vínculos com esse mundo desde que nascemos. Através dela é que aprendemos a sobreviver e a nos relacionar afetivamente com a vida, onde descobrimos a possibilidade de sermos receptivos, onde recebemos nosso alimento físico, emocional e mental para crescermos nessa existência. Assim como o Ascendente nos mostra o melhor caminho para expressar o Sol, a Parte da Fortuna nos mostra os instrumentos para construir um abrigo seguro para a Lua. Por isso muitas vezes vemos explicações sobre o Lot da Fortuna dizendo que ele é o Ascendente lunar. O nosso Ascendente natal é o ponto que deve expressar quem somos, e nesse sentido tem que ser a porta de todos os elementos do nosso mapa. Mas ele é encontrado a partir dos movimentos solares, e isso significa que nosso Sol deveria ter prioridade na hora de manifestar nosso Ascendente, pois é esse Luminar que traz nossa consciência de sermos únicos e encara o difícil processo de individuação que precisamos realizar. Mas não é bem isso que acontece na prática. A Lua, exatamente por ter essa força de nos mostrar a melhor maneira de sobreviver nesse nosso planetinha azul, muitas vezes acaba dominando o Ascendente em detrimento da expressão solar, principalmente quando temos dificuldades em lidar com situações externas. Resultado: o Ascendente se transforma em uma fachada voltada para aquilo que os outros esperam de nós, preocupado em amenizar nossos sentimentos e tornando nosso caminho muito frágil. Ao colocarmos o Sol em conjunção com o Ascendente estamos reforçando sua importância, colocando a essência da pessoa - com todo seu poder e vitalidade - na frente da personalidade. O ponto que se encontra a Lua nessa nova configuração irá mostrar exatamente onde a Lua poderá atuar de maneira a utilizar seus dons para auxiliar o caminho solar em vez de abafá-lo. Assim sendo, a Parte da Fortuna representa onde a pessoa terá grandes benefícios por ter equilibrado Sol, Lua e Ascendente. É nesse sentido que se diz que o Lot da Fortuna representa o lugar onde iremos encontrar Abundância, Sucesso e Riquezas.

Na verdade a Parte da Fortuna possui muitos dos nossos segredos pessoais mais íntimos. Nesse ponto temos nosso conceito único e pessoal de sucesso, aquelas coisas que intimamente gostaríamos de ser e de ter, e que temos necessidade de maneira bem forte e ideal. É a realização desses desejos mais íntimos que nos promete o Lot da Fortuna.

Apesar de podermos contar com a Sorte na posição da nossa Parte da Fortuna, o que percebemos é que na prática ela depende muito do nosso esforço em harmonizar quem somos. Isso é coisa de gente grande, e depende bastante do nosso auto conhecimento e da nossa honestidade conosco mesmos. Assim, se você se mostra como um homem que ostenta símbolos de sucesso financeiro, que acumula vários casamentos e divórcios, do tipo garanhão que não se envolve emocionalmente mas tem sempre uma gata a tira colo nas festas mais badaladas, mas possui uma amorosa Parte da Fortuna de casa 4 ou em Câncer, por exemplo, vai precisar primeiro reconhecer esse desejo antes de conseguir ver as coisas boas que esse Lot te presenteia durante a vida. Mesmo que seus amigos te digam muitas vezes que sua vida é o máximo, esse desejo íntimo de algo muito diferente não vai ficar quieto enquanto não for ouvido. Essa não é uma tarefa fácil. Na Lua temos nossas lembranças de infâncias, nossos hábitos e valores herdados, nossos traumas e alegrias, nossos vínculos amorosos e nossas perdas emocionais. É a Lua que nos leva à terapia ou ao astrólogo, ao SPA, ao grupo de meditação ou ao AA. O ideal é que nossa Lua seja um ponto fluido do nosso mapa, onde somos receptivos ao mundo ao nosso redor, metabolizando o que nos acontece de maneira a ampliar nossos valores e habilidades, harmonizando nossos relacionamentos, nos vinculando à vida que há para além de nossa mãe e assim aprendendo a nos alimentar mais e melhor em todos os sentidos. Se você conseguir encontrar alguém que pode dar esse SIM pleno à Vida, que consegue estar de acordo e buscar o melhor de tudo que acontece na própria vida, você encontrará também alguém que desfruta plenamente de toda a Fortuna que essa Parte é capaz de fornecer para a existência de um ser. Mas o mais comum é que a Lua se transforme muitas e muitas vezes em um depósito de mágoas, com valores fixados em pedra para a vida toda, em justificativas para nossas defesas emocionais e busca por tentar controlar a vida em vez de ser receptiva a ela. A Lua tem uma importância muito grande na resolução dos nossos problemas, pois nossas atitudes são baseadas principalmente aos nossos valores lunares, e elas determinam nossas perspectivas de vida.

Quando entendemos mais profundamente nossa Parte da Fortuna conseguimos focar as nossas dores emocionais de maneira a ir em busca de sua cura, pois deslumbramos a possibilidade de ser muiiiiiiiiito feliz, e não meio feliz, ou conformado com aquilo que se tem. Um bom uso de nosso Lot da Fortuna é como cenoura em frente ao nosso lado mais resistente à vida, que empaca quando as coisas não são como achávamos que deveria ser. Aos poucos, trabalhando nossas carências lunares, vamos realmente podendo usufruir de tudo isso que simboliza esse ponto sensitivo e bacana do nosso mapa. As promessas e recompensas da nossa Parte da Fortuna não são vazias ou feitas de ilusões, mas sim possibilidades reais de plena felicidade íntima.

Pra variar essa postagem também está ficando enorme e eu ainda nem comecei... Na próxima falarei mais especificamente das localidades do Lot da Fortuna no mapa, ok? E prometo não levar 9 meses para parir a continuação...




sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Netuno Entrando em Peixes

“Vida, que posso eu dar
A Meu Deus, que vive em mim,
A não ser perder-te, a fim
De O poder melhor gozar?
Morrendo O quero alcançar,
E não tenho outro querer,
Que morro de não morrer“

Sta. Teresa D’Ávila.


Semana passada houveram palestras produzidas pela CNA - Central Nacional de Astrologia - aqui em Floripa, e durante uma delas, em que se falava de Netuno, alguém da platéia lembrou que esse gigante nebuloso é a oitava superior de Mercúrio e não de Vênus, como alguns pensam. Isso tem rodado em meus pensamentos me fazendo refletir sobre a entrada de Netuno no signo de seu domicílio, nas confusões comuns ao se tentar entender esse planeta e as conseqüências disso tudo de maneira muito insistente, por isso resolvi escrever a respeito.

Para quem não está acostumado com essas expressões alquímico/esotéricas, as “oitavas” são uma maluquice maravilhosa onde se “vê” a matemática da música e da natureza. Pitágoras, que recebe título de grande mestre desses saberes, dizia que as oitavas musicais eram as expressões mais simples e profundas entre espírito e matéria. O “milagre da oitava” é que mesmo totalmente dividida em duas partes audíveis e distinguíveis separadamente, uma mesma nota musical permanece reconhecível - um Dó é reconhecível em qualquer altura da escala, p.ex. -, o que é uma manifestação tangível da máxima hermética “assim na Terra como no Céu”, o que aparece em cima é igual ao que aparece embaixo. Eu não sou conhecedora profunda nem de Alquimia nem de Música, por isso não vou ficar falando muito a respeito para não me perder, mas só para se ter uma idéia da coisa, essas escalas harmônicas vão mostrar todo um caminho para se ir de vibrações mais densas - mais ligadas à Terra - para mais sutis, e que hoje em dia pode ajudar pessoas leigas como eu a entender um pouquinho de medicinas tradicionais como a chinesa ou a indiana, ou os centros energéticos do corpo humano, como os chakras, as safiras da Cabala e todas essas coisas bacanas ligadas à saúde vibracional. Mercúrio, então, seria a compreensão de assuntos mais densos e Netuno dos mais sutis. A grande força de Mercúrio viria da possibilidade de conseguir fazer traduções de uma harmônica para outra.

Sempre que se fala de Netuno e sua descoberta, para daí derivar seus significados, citamos principalmente as descobertas psicológicas e parapsicológicas e o nosso despertar científico para as manifestações invisíveis, mas nem todos lembram - por incrível que pareça - de que é na época do avistamento de Netuno que começa a história da física e da química quânticas também. O “início” da descoberta de Netuno, digamos assim, se dá em 1841 com os cálculos astronômicos feitos a partir da movimentação de Urano, de onde se deduz a localização de mais um planeta, e Michael Faraday descobre os raios catódicos - aqueles feixes de elétrons que aparecem em filmes antigos de cientista maluco, sabe? - em 1838. A partir das pesquisas com esses raios catódicos temos a construção do conceito de “corpo negro” e no fim da década de 1870 se começa a trabalhar com a idéia de “feixes de partículas” e de “campos elétricos”, o que acabou dando material para que Max Planck levantasse a hipótese quântica em 1900. Só pra lembrar rapidamente, Planck é o primeiro a falar que o universo atômico era feito de elementos de energia discretos capazes de irradiar energia de maneira individual.

Com isso vemos que a descoberta de Netuno está associada às fantásticas mesas girantes que freqüentava Alan Kardec mas também aos corpos negros e feixes de partículas que físicos e químicos deduziam de suas observações. Netuno estava em Aquário enquanto Urano passeava por Peixes nessa época, o mesmo “duplo feitiço” que encontramos entre 2004 e 2011, quando Urano entra galopando em Áries. Entre os cálculos feitos em 1841 que “deduziram” a existência de um planeta para além de Urano e o avistamento de Netuno foram necessários 5 anos, o que, astrologicamente falando, significou a entrada de Urano em Áries e o encontro de Saturno com Netuno no início de Peixes. Da mesma forma, entre a descoberta dos raios catódicos e uma teoria consistente e “utilizável” mercurianamente tanto da mecânica quanto da química quântica, precisamos de um longo processo netuniano, e só quando ele chega em Gêmeos começamos a entender o que estávamos vendo.

Se pensarmos sobre esses processos na nossa história do conhecimento podemos entender melhor o que quer dizer isso de Netuno ser uma oitava acima de Mercúrio: enquanto o pequeno e rápido planeta próximo do Sol nos ajuda a entender, classificar e quantificar as coisas das esferas mais próximas de nossa experiência imediata humana, Netuno representa nossa capacidade de compreensão para além de Saturno, para além da nossa experiência em 3D, e do processo necessário para essa compreensão que envolve muito do nosso inconsciente coletivo. Mas então porque tanta gente continua a associar Netuno a uma esfera religiosa, algo que já entendemos que pertence às nossas necessidades humanas conectadas com Júpiter/Sagitário/Casa 9 mais do que com Netuno/Peixes/Casa 12? Tenho visto muitas pessoas fazendo essa confusão, então vamos tentar esclarecer um pouco isso também.

Quando estudamos os mapas individuais observamos que pessoas com problemas religiosos terão alguma coisa difícil envolvendo Sagitário, Júpiter e/ou casa 9. É bem comum pessoas com forte presença de Júpiter, por exemplo, se sentirem iluminadas e só quererem se conectar com outros iluminados, tendo muita dificuldade em lidar com “essas pessoas limitadas e comuns que não conhecem a Verdade” - ouvi isso de um cliente com esse tipo de dificuldade jupiteriana. Quando esse exagero não termina em um surto psicótico, com a pessoa se achando Jesus Cristo ou Buda, como no caso de Nietzsche (Ascendente, Lua e Cabeça de Dragão conjuntos em Sagitário e Júpiter em Peixes conjunto Urano como regente do tema natal), e ainda se encontra um grupo de iluminados que fazem juntos o “favor” de existirem nesse mundo limitado na tentativa de salvar a todos, existe aqui uma base que podemos chamar religiosa, no sentido mais literal da palavra, de crença em algo “sobre-natural", acima da média humana, que se manifesta através de doutrinas e rituais próprios, mesmo que nem se resvale na idéia de deus, mesmo se tratando de ateus convictos ou intelectuais reconhecidos. Já pessoas com problemas que se manifestam através de Netuno/Peixes/Casa 12 geralmente têm o problema contrário, de se sentirem muito abaixo da média humana, de terem uma forte atração por drogas que corroem sua personalidade e uma grande resistência a contaminações, físicas e psíquicas. É bem comum pessoas com forte presença netuniana se definirem na negativa, por aquilo que elas não são, e não conseguirem falar sobre exatamente aquilo que são. Muitas vezes se precisa de recursos visuais, poéticos e metafóricos para se poder entender e/ou expressar com seres fortemente netunianos. Interessante notar que as profissões em que mais encontro netunianos são entre músicos e engenheiros, enquanto os jupiterianos são mais comuns nas igrejas e academias filosóficas.

Outra maneira de se entender mais profundamente um planeta e seus correlatos de signo e casa, é através de Saturno, já que esse planeta exige nada mais nada menos do que a maestria para nos deixar em paz. Como já falei demais - pra variar um pouco... - não vou entrar nas complexidades dos relacionamentos de Saturno e Netuno ou de Saturno em Peixes, mas pensar um pouco sobre Saturno em casa 12 pode nos dar algumas pistas interessantes a respeito. O que mais encontro em pessoas que ganharam um Saturno de casa 12 ao nascer é uma dúvida muito profunda a respeito do própria identidade, mas não em função de algum trauma de infância ou algum familiar carrasco que humilhava a pobre criatura, mas em função de um saber inexplicável que faz com que a personalidade cotidiana e familiar que construímos na nossa realidade 3D e que colocamos em nossos cartões de visita sejam sem sentido. Saturno exige que essas pessoas concretizem essa visão e aí todos os problemas típicos de Saturno pra nos obrigar a amadurecer, e que geralmente faz com que essas pessoas tenham muito medo de perder aquilo que vislumbram na sua vida solitária por conta das necessidades de sobrevivência externas. Ou o contrário, de acharem que terão que abrir mão das ambições mudanas em função de uma compreensão mais profunda da própria existência. A astrologia tradicional fala muito de “exílio”, “internação”, e outras situações vistas como “castigo” ou “mau karma” quando tratam de Saturno na casa 12. Apesar disso tudo realmente parecer um castigo na adolescência, quando são despertados nossos impulsos jupiterianos e saturninos de incorporação aos grupos sociais, na verdade temos aqui a possibilidade de compreensão de como os saberes mercurianos, pessoais, fazem parte desse saber maior, anterior e posterior à experiência pessoal, que muitas vezes, inclusive, contradiz nossas experiências cotidianas. Entramos então na oitava netuniana, que nos faz entender que o Universo é infinito mas limitado, que a luz é onda e partícula ao mesmo tempo, que a matéria é feita de vazios. E o mais louco de tudo isso é exatamente a percepção de que com todas as limitações mentais e físicas que temos, somos capazes de compreender isso. Essa não é uma compreensão cotidiana - tente ver seu carro como uma porção de partículas circundada por vazio quando outro carro com a mesma composição atômica vem ao seu encontro, por exemplo, e vai perceber rapidinho que essa coisa não funciona na sua vida mercuriana do dia-a-dia. Mas isso não faz com que esse saber seja Mítico ou Religioso, mesmo que possamos jupiterianamente utilizar esses saberes para construir leis e comportamentos.

Então, escrevi tudo isso para chegar aqui no fim e entender que o que vai acontecer com a entrada de Netuno em Peixes é... NADA!!! Não nesse sentido mercuriano cotidiano, ao menos. A moda vai mudar e ficaremos mais fluidos, cheios de babados, rendas e assimetrias - depois desses 12 anos acreditando no corpo perfeito construído pela razão de Netuno em Aquário -, e talvez comecemos a pensar a respeito de todas essas maquininhas fantásticas que povoam nosso dia a dia, tão cobiçadas por crianças de 8 a 80 anos, que só chegam até nós graças ao trabalho escravo chinês. Talvez isso não faça a menor diferença. O que posso afirmar com certeza é que se uma jamanta desgovernada vier ao seu encontro vai ser importante você conseguir desviar, por mais amigos pleiadianos ou parcerias com Saint German que você tenha. Se rolar de você aprender com a jamanta desgovernada que a matéria é feita de partículas cercada de vazios, o melhor vai ser olhar em volta pra ver se encontra algum túnel de luz, tentar lembrar de algum antepassado bacana e não pensar em nada de ruim, pelo que dizem. Acho que vai ser difícil você voltar a ver o mundo através da dimensão mercuriana limitada...

Todos temos o signo de Peixes e Netuno no mapa, e você vai conseguir entender esses pontos quando se lembrar dos 2 segundos de paz e plenitude que sentiu “naquele” dia, ouvindo uma música, observando uma borboleta na flor, ouvindo a risada do seu irmão na sala, vendo uma criança desconhecida correndo na praia. Efêmero, profundo, sutil, generoso. Mas talvez seu Mercúrio estivesse tão ocupado fazendo as contas para comprar a casa/carro/comida/viagem de férias/escola das crianças/exame médico de rotina, que nem conseguiu registrar esse momento em que tudo fez sentido por 2 segundos. E se registrou, pode ter ficado achando que estava enlouquecendo ou se perdendo do que é realmente importe: se desviar da Jamanta. Mas porque tantas Jamantas vindo em minha direção? Será que estou na contramão?

Com a entrada de Netuno em Peixes não esperem ver o desenvolvimento de nenhum super poder ou transformação mundial através das crenças e comportamentos morais “corretos", mesmo achando o máximo todos os heróis e bandidos mutantes do cinema. Netuno é muito mais simples e silencioso, e não se importa com nossas necessidades representadas por Júpiter, que faz todo esse teatro divertido de fim de mundo por medo do que chama Caos. Agora, se você quiser aproveitar bastante toda essa força netuniana, a prática do silêncio e de estar consigo mesmo vai ser importante. Não se preocupe com os resultados. Quando se trata desse gigante nebuloso só entendemos realmente o que aconteceu depois de um tempo que não pode ser determinado, pois é diferente para cada um, não tem nenhuma conexão com méritos ou algo que possamos entender, e quando finalmente vemos que há um processo que se completa é porque já podemos sentir algo novo começando.

Quem sabe podemos chegar a uma compreesão mais profunda dessa vida feita de Caos e Movimento daqui a algumas décadas...


quarta-feira, 22 de junho de 2011

Conversas de Urano e Plutão





“Há dois erros semelhantes mas opostos que os seres humanos podem cometer quanto aos demônios. Um é não acreditar em sua existência. O outro é acreditar que eles existem e sentir um interesse excessivo e pouco saudável por eles. Os próprios demônios ficam igualmente satisfeitos com ambos os erros, e saúdam o materialista e o mago com a mesma alegria.”
C.S. Lewis – Cartas De Um Diabo A Seu Aprendiz.

Plutão e Urano estão se “enquadrando” nos últimos tempos, e as observações que tenho feito, levando em conta esses astros, me fazem pular de um para o outro. Tá difícil sintetizar e colocar em palavras coerentes. Obrigada Vânia, minha amiga geminiana querida, por ficar me lembrando das várias idéias que andei tendo e me mandar escrever logo. Quadratura funciona assim mesmo: a gente tem que ter calma, paciência consigo mesmo e consciência se quiser juntar as partes em vez de ficar brigando com elas. E é sempre bom ter amigos pressionando pra gente não desistir.

Quando fui buscar os acontecimentos de 250 anos atrás, quando Plutão, mesmo invisível à nossa consciência, estava em Capricórnio (1765 a 1779), encontrei Marques de Sade e sua busca obsessiva e perversa por prazer sexual. Muitos dos chamados libertinos do início do século 19 nasceram nessa época, como Bocage, poeta português que escreveu: “Todas no mundo dão a sua greta:/Não fiques, pois, oh Nise, duvidosa/Que isto de virgo e honra é tudo peta.” (vide postagem sobre Plutão em Capricórnio). Essa também foi a época em que Urano foi avistado e a Razão Humana ganha novo status, a de salvadora da espécie do obscurantismo e superstição religiosos (Urano em Gêmeos), que nos possibilita afirmar ainda hoje, que todos os Homens nascem livres e têm direito à busca da felicidade.

Ok, então vamos buscar as perversões e libertações possíveis nos dias de hoje, derivadas daquilo que nasceu a tantos anos atrás. Não é uma tarefa fácil, já que há um consenso a respeito do que é bom e o que é mal, baseado exatamente naqueles conceitos construídos durante os anos das tais “Luzes” racionais humanas. Aquela coisa de que nós somos os bons e os que pensam diferente de nós são os maus parece ter muito mais força hoje em dia do que em tempos passados, mas tomou a forma que chamamos de “tribo”, onde eu e aqueles que compartilham meu modo de vida nos reunimos e nos cumprimentamos por sermos do jeito que somos. Não conheço ninguém que não se ache aliado do Bem, independente do grupo ao qual pertença. A tribo que se reúne por motivos opostos aos meus, claro que estão equivocados, mas isso não chega a ser um problema. Difícil sair dessa dicotomia sutil em uma época em que tudo é mais ou menos permitido, se tratando da vida individual, desde que seja feito por legítima vontade e não prejudique outras pessoas. Ao menos não prejudique de uma maneira muito evidente e direta. Só como exemplo, para trazer nosso amigo Marques de Sade de volta: hoje em dia você pode perfeitamente ser um sádico e encontrar um masoquista que vai adorar seu prazer sexual ao ferir outra pessoa, e os dois poderão juntos participar de um clube para trocar experiências e até mesmo fazer parte de uma convenção que reúne pessoas de todo o mundo com os mesmos prazeres, como aconteceu há alguns anos atrás nos EUA. Ao mesmo tempo você pode participar normalmente da sociedade, ter família, emprego, seguro saúde e ser uma pessoa bacana. De verdade, não estou sendo irônica. Você teme ter um comportamento ou algum desejo meio estranho? Coloca no Google que com certeza vai encontrar sua tribo. Isso facilita muito nossa convivência social, já que, tendo um espaço para trabalhar nossas diferenças de maneira segura, podemos ser mais tolerantes e nos concentrarmos naquilo que temos em comum em lugar de ficar brigando por espaço no todo. Teoricamente.

Essa crença que compartilhamos – ao menos em cidades mais cosmopolitas -, do “viva e deixe viver”, ou, segundo a constituição norte americana, de que todos têm o direito individual de buscar a própria felicidade, deu sustentação à construção do Capitalismo que vivemos hoje, que acabou se resumindo e limitando ao direito individual de consumir. Assim sendo, se você é gay, preto, mulher, criança, idoso, sado-masoquista, mórbido, ou seja lá qual for a sua, e tiver dinheiro para cobrir suas “esquisitices”, você poderá usufruir de maneira bem significativa essa liberdade de ser você mesmo. E se você ainda por cima separar algo para fazer caridade, há grandes possibilidades de se tornar um herói. Porém, se o seu “karma” financeiro não for muito bom, será interessante você buscar alguma ONG de advogados humanitários se tiver problemas em ter esse direito garantido. Mas de qualquer maneira, você tem direito a ser quem é.

Acho bom fazer um parêntese aqui para deixar claro o que estou falando: Não quero dizer que o Capitalismo em si é mal e todos os pobres são vítimas da sociedade consumista. Ou que ter dinheiro é sinônimo de ser “mascarado”. Para mim, qualquer ideologia é vazia em si. Apenas penso que o que vivemos hoje é algo que o velho e bom Marx, que foi tão brilhante em sua análise do Capitalismo nascente em sua época, não seria capaz de imaginar. Esse texto é apenas uma reflexão sobre o que ando vendo e pensando desde dentro da sociedade em que vivo, portanto com todos os limites que possuo. Fecha parêntese.

E falando em limite, isso é algo que caracteriza nossa humanidade, já dizia nosso amigo Saturno. Assim como a busca por expandir esse limite é um impulso natural, responderia Júpiter. E vivemos nessa sístole e diástole que garante nosso batimento cardíaco humano, encarando nossos limites, buscando nosso crescimento, estruturando nossa personalidade, desenvolvendo nossos potenciais. E aí chegam esses transaturninos e bagunçam tudo! Quando encaramos os transaturninos não se trata mais da minha parte no todo, mas do todo que me faz uma parte.

Então, Urano em Áries vem com a força ideológica que me liberta dos padrões coletivos e me faz acreditar que tenho o direito de “salvar” todo mundo. Plutão em Capricórnio revela aquilo que a hipocrisia reinante – chamada hoje em dia de “politicamente correto” – escondia. Bacana. Vocês assistiram Inside Job (Trabalho Interno)? É um documentário dirigido por um jornalista daqueles que adoram criar saias justas nos entrevistados (Charles Ferguson), e que dá um panorama geral do que aconteceu nos EUA em sua crise mais recente, com todas as sacanagens e jogatinas que rolaram nos bastidores. Orquestrando toda a bagunça americana estão professores doutores de economia das universidades mais conceituadas de lá, que trabalharam direto nos governos Clinton, Bush e Obama sem o menor problema ideológico. Aí você pega um livro de História como o Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil (Leandro Narloch – Ed.Leya), onde você encontra afirmações como a de que os índios não são tão amantes da natureza assim (eles são os precursores da queimada, por exemplo), que negros alforriados caçavam negros fugitivos e Zumbi possuía alguns escravos para fazer o trabalho pesado, Santos Dumont não inventou o avião mesmo, João Goulart deu a maior força para as empreiteiras, e assim por diante. Olhando essas “revelações” que vão surgindo, depois de alguma interjeição de surpresa - mesmo quando vem de um jornalista da revista Veja como o Lenadro Narloch, o que me deixa um tanto desconfiada – a gente reflete um pouco sobre o contexto geral e percebe que essas coisas fazem sentido dentro da consciência em que vivemos, e as conseqüências disso não são assim tão difíceis de digerir. Ou alguém aí acredita que, em uma economia globalizada, as bobagens feitas nos EUA vão fazer o mundo – ou o Capitalismo – acabar, ou que o fato de negros escravizarem negros em um tempo escravocrata tira o valor do movimento de consciência negra atualmente?

Então, em uma postagem do facebook de uma amiga, aparece um vídeo da Marcha Pela Desigualdade e Pelo Ódio, contra a PL 122, patrocinado pela bancada evangélica do Congresso. Sim, os evangélicos, aqueles que seguem o Evangelho, a boa nova que traz Jesus Cristo de que devemos amar nossos inimigos. A PL 122 é um projeto de lei que acrescenta aos crimes de preconceito a discriminação de homossexuais, idosos e pessoas com necessidades especiais. Você vê o vídeo e acha que é brincadeira de desocupado. Mas não é não: minha amiga de Brasília viu com os próprios olhos um povo reunido na manifestação a favor da homofobia, com camisetas, cartazes e tudo que tinham direito. Vai lá no youtube se quiser dar uma olhada no vídeo. Aqui sim, minha prepotência compreensiva de ser iluminado pela Razão foi para o saco e se transformou em prepotência de tribo contra outra tribo. Ui, aqui tem transaturnino em ação, pensei eu. Reproduzo os argumentos apresentados, com meus comentários entre parênteses:
- “nós, evangélicos, sofremos preconceito. Porque devemos evitar que os outros sofram também” (na lei, preconceito religioso também é crime);
- “o PL 122 tira meu direito de discriminar quem eu quiser, onde eu quiser” (sic);
- “então o que? Se eu bater num travesti, então eu vou preso?” (substitua travesti por preto, mulher, numa criança, em velho, num deficiente, num muçulmano, num pobre, num gordo ou qualquer coisa que você seja);
- “eu não quero que meu filho nasça num mundo onde todos tenham direitos iguais” (essa afirmação diz que essa pessoa quer ter filhos no mundo oposto em que eu quero ter o meu);
- “o PL 122 tá vindo pra acabar com a minha liberdade de expressar a minha homofobia” (aqui você pode substituir homofobia por pederastia, genocídio religioso ou cultural, ou qualquer outra possibilidade que fere a consciência que criamos dizendo que todo mundo tem direito a ser quem é sem ser violentado por isso. Incluindo o direito de ser evangélico, claro. Dá até para expressar isso na terapia, para rever trauma de infância e curar isso, mas para atacar outra pessoa é diferente);
- “com o PL 122 os homossexuais querem se fazer de vítimas, mas o que eles não conseguem entender é que no fundo (pausa dramática) eu tô lutando contra mim mesmo” (que? Eu também não entendi essa, mesmo sendo hétero. Será que se está argumentando que estará lutando contra a própria homossexualidade? Ou se está querendo dizer que o ódio aos homossexuais é algo inerente a esse pobre ser humano? Cada um tire suas próprias conclusões).

Se você já leu e assistiu documentários sobre a formação do Nazismo na Alemanha – recomendo o fantástico “Arquitetura da Destruição”, documentário sueco dirigido por Peter Cohen – vai reconhecer esse discurso. Pois bem, a construção do Nazismo foi feita exatamente durante o trânsito de Urano em Áries enquadrando com Plutão em Câncer, signo oposto de Capricórnio, portanto com a mesma modalidade básica complementar.

Em meio a tantas transformações acontecendo, será que uma manifestação dessa tchurma tem realmente algum interesse? Espero que não, mas o fato de existir essa possibilidade é importante de ser analisada. Quando surgiram, os nazistas também foram chamados de malucos desocupados pela elite intelectual da época. Deu no que deu. Se Urano em Áries está usando a força heróica individual para romper as limitações ideológicas e Plutão usa a estrutura capricorniana para mostrar as emoções obscuras que fervem por baixo da correta aparência social, então esse discurso preconceituoso faz sentido.

Bom, então parece que estamos vivendo o momento de testar o que é verdade interna naquilo que pregamos e vivemos. E minha pergunta é: como vivemos nossos pré-conceitos individualmente? Como exemplo pessoal, conto pra vocês que a vontade espontânea que tive ao ver esse vídeo foi a de mandar prender esses manifestantes, já que compartilho da ideologia reinante do “viva e deixe viver”, e isso faz com que me sinta segura na sociedade em que vivo: essas pessoas ameaçam minha segurança e minha reação espontânea é de medo. Assim como quero que a polícia multe o idiota que quer burlar o trânsito pelo acostamento ou pára em faixa para pedestres. Vejam só: quero que os mecanismos de repressão da sociedade em que vivo limitem aqueles que ameaçam a minha segurança social. Normal, certo? E fácil, ao menos aqui. Passamos isso para Israel, com três diferentes sociedades querendo segurança para sua tribo, ou para os países em guerra na África, onde parece que o meu direito é ameaçado pela existência do outro. Mais complicado, já que o direito individual pela busca da felicidade não está condicionado ao não causar dano ao outro que também tem o mesmo direito. O que me questiono é se realmente acreditamos em uma sociedade justa e vivemos isso por consciência ou nos limitamos a aceitar as regras por medo de sermos violentados. Traduzindo pro cotidiano: não ando pelo acostamento da estrada por que acredito que somos todos iguais vivendo o mesmo trânsito e não sou melhor que ninguém para chegar mais rápido em casa, ou fico passiva naquele engarrafamento terrível por me sentir segura dentro das regras e poder criticar quem faz diferente? Acho que é um bom momento para começar a pensar a respeito. Como dizem os budistas, até que ponto minha motivação é pura?

Enfim, meus caros, não tenho nenhuma conclusão para apresentar para vocês. Estou começando a vislumbrar essa possibilidade de investigação. Dentro e fora. Saber até que ponto nossos atos são comandados por nossa capacidade de consciência positiva e quanto estamos interagindo através de nossa sombra, por medo, raiva ou confusão, vai além da boa aparência que podemos ter no filme que estamos fazendo de nós mesmos. E é nessa falta de noção sobre nós mesmos – e eu diria até certo descaso a respeito -, que os transaturninos nos pegam e nos fazem crer que algum destino externo está nos levando para onde não queríamos ir. Retomando a construção do Nazismo, vocês assistiram “Um Homem Bom” (Good – direção de Vicente Amorim)? Fala disso, e eu recomendo. Não acredito – ou me recuso a acreditar – que vamos fazer outra atrocidade como a da 2ª Grande Guerra, mesmo porque, depois das armas nucleares, destruir o Outro (seja o mocinho ou o bandido da história), significa suicídio. Mas como estamos vivendo um novo processo com essa combinação de transaturninos, é bom pensar sobre o que anda acontecendo e qual a melhor maneira de viver isso. A arma que temos é nossa consciência individual, a luzinha de vela que Jung dizia que devemos proteger a todo custo das tempestades coletivas.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Novo Ciclo de Urano

A Astrologia trabalha com ciclos, como a vida nesse planeta. Os ciclos astrológicos se iniciam com Áries, pois esse signo traz exatamente a energia dos começos. Quando o Sol entra em Áries temos o equinócio de primavera no hemisfério norte, quando o dia e a noite têm o mesmo tamanha depois de um período de noites maiores que as dias. Tudo que está em equilíbrio precisa mover-se para não se transformar em estagnação e Áries significa exatamente a quebra do equilíbrio que gera movimento e vida. O círculo astrológico funciona muito mais como uma espiral aberta do que como um círculo fechado, pois a cada novo início temos a chance de começar algo novo, que passa pelos mesmos pontos, mas com uma nova consciência adquirida através da caminhada anterior. Como no Ocidente associamos Equilíbrio com Harmonia, muitas vezes nos apegamos a esse momento efêmero e sofremos quando ele passa. O I Ching diz que as coisas não podem permanecer unidas para sempre, pois isso levará certamente à estagnação, já que o “chi” pára de mover-se e, como resultado, temos a morte.

Urano rege a mudança e o inesperado. A atuação deste planeta está associada a todo tipo de ruptura de padrões preestabelecidos e tradicionais. Assim como no céu - onde o planeta mostra que não existem regras e nem padrões rígidos - também na sua função astrológica Urano é responsável pela quebra de estruturas restritivas, para permitir o acesso ao novo, ao não tentado, ao diferente. Quando este acesso às mudanças se encontra bloqueado ou impedido, a ação uraniana se manifesta através de revoltas, revoluções e explosões em todos os sentidos. O reconhecimento de Urano no céu ocorreu em 1781, em meio à Declaração de Independência americana e à Revolução francesa, e nesses dois movimentos conseguimos identificar as novas facetas que Urano traz para nossa consciência. Tanto a declaração de que todos os homens nascem iguais e têm o direito à busca da felicidade, quanto o mote “Liberdade, Igualdade, Fraternidade” fazem parte dos novos ideais que Urano vem plantar no coração dos Homens. Urano cria rupturas através da consciência que semeia a idéia de que podemos ser mais livres e felizes do que somos na atual estrutura, e faz isso mostrando de maneira escancarada toda a injustiça e limitação em que vivemos e nos perguntando por que aguentamos isso. E enquanto estivermos vivendo restrições injustas no planeta, parece que Urano vai continuar a trazer rupturas violentas.

Alguns astrólogos já andam falando de Guerras e lutas pelo mundo por associarem o arquétipo de Áries, que é do Guerreiro, ao de Urano, que é do Revolucionário, e nesse sentido interpretam os conflitos que estão explodindo no Oriente Médio, com a ajuda do expansivo Júpiter, que já está em Áries. Eu, entretanto, concordo mais com a corrente que associa as manifestações no Líbano e no Egito aos eclipses de dezembro de 2010 e janeiro de 2011, e acho importante estarmos pensando a respeito de que tipo de Guerra e que tipo de Revolução podemos esperar nos dias de hoje através de Urano em vez de fazer essa associação direta. A análise astrológica tem muitas semelhanças com a análise se sonhos, e por isso precisamos do sonhador para ganhar sentido em vez de fazer apenas uma listagem de possíveis significados. Assim, quando falamos de processos coletivos, temos o sonhador e o intérprete misturados, e precisamos de mais recursos para fazer a análise. Uma das coisas que gosto de usar para isso são os livros de História.

Urano tem um ciclo de 84 anos e 3 dias, e nesse ano de 2011, com sua entrada em Áries, podemos esperar o início de um novo processo de consciência humana e de mudanças da nossa mentalidade enquanto coletivo. Vamos, então, dar uma olhada no que estava acontecendo a 84 anos atrás e verificar as mudanças que ocorreram, observando como se concretizaram as idéias de liberdade nesse ciclo que está terminando agora. No ciclo anterior, a passagem de Urano por Áries começou em abril de 1927 e foi até junho de 1934.

A primeira coisa que salta aos olhos quando verificamos o que aconteceu entre 1927 e 34 não é nenhuma guerra em particular, mas toda a armação do cenário sócio-político-econômico para a 2ª GG. Alguns fatos que, em linhas bem gerais, podem ilustrar isso:

- Os países começam a se desligar da Liga das Nações, órgão de união entre as nações que se propunha a gerar soluções justas e conjuntas para os conflitos mundiais após a Primeira Guerra. A razão disso foi que a Liga não dava conta de criar uma solução rápida para os problemas gerados pela 1ª Grande Guerra ou qualquer outro conflito, pois era necessária a decisão unânime de todos para se gerar qualquer ação. Bom, me parece que ainda hoje não temos como colocar em prática esse refinado conceito anarquista, e continuamos a viver na base da “farinha pouca, meu pirão primeiro”.
- E falando em anarquistas, Trotsky é deportado da Rússia por Stalin, que efetiva a eliminação de toda a concorrência para sua ditadura.
- Sandino começa a ofensiva conta as tropas dos EUA que haviam invadido a Nicarágua, e vai estruturar sua ditadura, assim como em Portugal Salazar começa sua campanha entre os militares enquanto revoltas estouram pelo país.
- Rei Alexandre da Iugoslávia dissolve o governo e abole a constituição, enquanto na Espanha começa o troca-troca de governos que vai gerar a terrível Guerra Civil posteriormente.
- O Japão invade a Manchúria
- Mussolini e o Vaticano assinam o Tratado de Latão, criando o Estado do Vaticano e tornando a Itália um Estado Confessional, ou seja, o país se torna um Estado Católico, transformando em lei secular essa doutrina religiosa.
- Acontece a Grande Depressão nos EUA, quando Roosevelt assume o poder e implementa o New Deal, que controla os preços dos produtos, aplica os recursos do governo em obras de infra estrutura e diminui as horas de trabalho para gerar empregos. A inauguração do Empire State no final desse ciclo de Urano é bem significativa.
- Por fim, mas não menos importante, temos toda a articulação da tomada de poder pelos nazistas na Alemanha, começando com o primeiro discurso de Hitler em Munique em 15/3 de 1929, em 1930 o Partido Nacional Socialista surge nas eleições como o segundo maior da Alemanha e começam os boletins da SS limitando o comportamento dos seus membros, de modo a manter o partido “ariano” - como o significativo boletim de 1931, que comunica que os soldados da SS precisam de autorização do departamento de raça do partido para se casar -, Mein Kampf vira sucesso, é fundada a GESTAPO, polícia política nazi, em março de 1933 e por fim Hitler é nomeado chanceler pelo presidente Hindenburg.
- No Brasil temos a Revolução de 30, com a subida de Getúlio ao poder e a Revolta Constitucionalista de 32.

Parece que há no ar problemas urgentes a serem tratados, e pouquíssima articulação, flexibilidade e paciência para se resolver as coisas de maneira coletiva. Nada melhor que um tirano, no sentido grego do termo, para resolver os problemas do meu quintal, mesmo que isso signifique jogar lixo no quintal do vizinho. Mas paralela a toda essa armação, outras coisas também estão acontecendo, que parecem também apontar para a mudança de mentalidade que está sendo proposto por Urano:

- Gandhi, que já vinha fazendo discursos libertários e boicote aos produtos ingleses, inicia a Campanha de Desobediência Civil.
- Chico Xavier também começa seu trabalho com Urano entrando em Áries, abrindo um novo caminho espiritual no interior católico e tradicional do interior de Minas Gerais de uma maneira mansa e pacífica.
- As mulheres começam a votar efetivamente no Brasil em 1932, depois de terem tido seus votos anulados em 1928, e nos EUA várias mulheres que pilotavam aviões exigem o direito de tirar prevê para voar oficialmente, conquistando isso.
- Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral e Raul Bopp lançam o movimento antropofágico, que garante ser possível absorver tudo que vem de fora e criar coisas novas passando por um olhar pessoal. Também é nessa época que se formam as escolas de samba do Rio de Janeiro, que modernizam o samba, que era um derivado do maxixe, criando um novo ritmo, que até hoje nos caracteriza.
- Freud tem seu trabalho reconhecido no mundo, e a primeira sociedade de psicanálise da América Latina é aberta em São Paulo. Também é nesse periodo que a psicanálise é taxada de “ciencia judaica”, e excluida da Alemanha. Isso faz com que os fundadores da psicanálise se expalhem pelo mundo, ensinando e praticando-a.

Outra coisa que o movimento uraniano acompanha são os avanços tecnológicos, pois, desde a invenção dos instrumentos de pedra, nosso horizonte cresce com a criação de nova tecnologia. A primeira coisa que me chamou a atenção foi a enorme quantidade de asteróides e outros corpos celestes que foram avistados, principalmente por astrônomos alemães, graças as novas lentes que estavam sendo feitas por ali. E, claro, não podemos esquecer das primeiras fotografias feitas de um novo planeta, o ainda inclassificável Plutão (a última que ouvi, fala que Plutão vai deixar de ser planetoide e se transformar em um bi-planeta com Caronte, sua talvez ex lua). Parece unânime a associação entre a descoberta de Plutão e o deflagar da 2ª Guerra. Outra coisa que acontece nesse periodo de Urano em Áries é o primeiro voo de Lindenberg sobre o Atlantico Norte, entre Nova York e Paris, e o brasileiro João Ribeiro de Barros faz Cidade do Cabo/Fernando de Noronha de avião aqui no Atlantico Sul, também pela primeira vez. Companhias Aéreas surgem pelo mundo, como a VARIG e a Pan Air, no Brasil, ou a Ibéria, na Espanha. Essa também é a época aurea dos dirigíveis, inclusive com o Zeppelin alemão completanto a inédita volta ao mundo. No cinema é exibido o primeiro filme sonoro da história – The Jazz Singer -, a tv nos EUA ganha os primeiros serviços analógicos e alguns testes com a tv a cores. A Dupon apresenta a primeira borracha sintética, um novo elemento químico, o Halogênio, é descoberto, e a vitamina C é isolada pela primeira vez. Adoraria comentar cada um desses tópicos para pensarmos juntos o que significaram em termos de mudança de mentalidade, mas como já escrevi um montão e isso aqui é um blog e não uma tese, deixo aqui essa pequena listagem para vocês pensarem a respeito.

Antes de terminar gostaria de colocar outro recurso muito bom para entendermos uma época, que é verificarmos o que aconteceu com as crianças que nasceram nesse período de Urano em Áries, para assim verificarmos que tipos de ícones frutificaram com essas novas sementes trazidas por Urano. Não sei se sou só eu, mas fiquei alegremente surpresa ao encontrar aqui os principais líderes de movimentos de liberdade do século XX. Vejam só as crianças que estão nascendo entre 1927 e 1934:

Dalai Lama
Che Guevara
Martin Luther King
Harvey Milk
Yasser Arafat
Mikhail Gorbatchev
Desmond Tutu

Lindas sementes, não? Calma, antes de se animar demais vamos lembrar que Paulo Maluf e ACM, que possuem uma atuação no mínimo duvidosa em termos de liberdade, também fazem parte dessa geração. Não creio que esses personagens passem para a posteridade como as citadas anteriormente, mas é interessante pensar que essas figuras se mantiveram civis em meio a uma ditadura militar.

Ok, já falei demais e ainda não falei de tudo que gostaria. Estamos em um ano de Mercúrio, então tenho essa desculpa. Obrigada por me acompanharem até aqui. Se vocês agüentarem, ainda tenho algumas coisas que andei coletando por aí para entender esse novo início do ciclo de Urano, e assim que der continuarei publicando. Quero também fazer uma análise mais simbólica de tantos fatos e verificar as pistas que temos para o novo ciclo uraniano que se inicia em março de 2011. Vamos ver se dou conta de escrever tudo que minha cabeça anda me apontando...