"Pela casa da Vida eu vagueio
Pelo caminho do pólen,
Com um deus de nuvem eu vagueio
Até um lugar sagrado"
Imagem de Daniel Merriam https://bubblestreetgallery.com/
Urano
começou seu passeio através do signo de Touro dia
15 de maio de 2018. De novembro de 2018 até março de 2019 ele volta para Áries
para fazer uns acabamentos e depois segue por Touro
até 2025. Enquanto Áries, o Fogo Cardinal, traz o nascimento do novo através do
rompimento com o que está indiferenciado, Touro,
a Terra Fixa, traz a consolidação daquilo que
rompeu a barreira para vir ao mundo. E vamos combinar que o que veio não foi
assim algo que nos dê esperança de progressos civilizatórios. Mas ninguém pode
reclamar de ter ficado parado. O processo de Urano em Áries esteve trabalhando
em quadratura com Plutão em Capricórnio, e com isso a inovação ariana veio
junto com um estouro do cano do esgoto humano em suas estruturas capricornianas.
Não é algo bonito de se ver, mas não acredito que
haja alguém que duvide da necessidade que tínhamos - e temos ainda – dessa
mudança estrutural para transformar os paradigmas
que está nos fazendo destruir o planeta. É verdade que tem gente propagando a Terra
Plana, mas ai já estamos em outro patamar de sanidade. Touro e Capricórnio
estão conectados pelo elemento Terra, portanto nos
falam dos recursos materiais que nos sustenham, simbólica e materialmente.
Nossos recursos, posses e valores, nosso talento em
ver e fazer as belezas venusianas se tornarem reais, são um guia para a criação
de nossos mundos orientados por Touro, mas sendo esse um signo instintivo, como
seu complementar oposto, Escorpião, quando bloqueamos a possibilidade de viver
essa natureza de forma harmônica, em geral por medo, isolamento e desconfiança
de nossa natureza básica, podemos criar muita crueldade . Urano em Touro vai
mexer nesses recursos para liberar novas possibilidades, e se for bloqueado
pode causar grande frustração, dor e raiva.
Urano
trabalha sobre tudo com a força das ideias, com a mudança trazida do
inconsciente coletivo que invade nossos pensamentos. Quando essas mudanças
envolvem recursos, podemos inventar novas maneiras de utiliza-los, interna e externamente,
para nos tornarmos mais livres e desenvolvermos mais nosso potencial humano
criativo. Isso gera mudanças geniais, capazes inclusive de transformar a imagem
que temos de nós mesmos. O grande inimigo das mudanças – sempre - é o medo,
pois associamos mudança com morte e acreditamos que vamos deixar de ser se as
coisas mudarem. Aí podemos nos tornar bem mesquinhos e pequenos, adotando a
crença de que “farinha pouca, meu pirão primeiro”, encarando o Outro como
aquele que rouba os recursos que eu desejo. O sofrimento vem dessa crença. Qual
caminho iremos escolher? Faites vos jeux, mesdames et messieurs... Para Urano,
que vive além do cinturão de asteroides, tanto faz.
Podemos
esperar desse processo uraniano o rompimento das fronteiras, e, apesar das
migrações fazerem parte da história humana desde
sempre (o historiador Klaus J. Bade, da Universidade de Osnabrück, autor do
livro Migration in European History, diz que “o 'homo migrantes' existe há
tanto tempo quanto o homo sapiens (...), a migração
é uma parte da condição humana tanto quanto o nascimento, a reprodução, a
doença e a morte.”), será importante observar as migrações desse período. Isso
porque a nossa necessidade de recursos nos leva a busca de novos horizontes, e
sendo assim, nos obriga a transformar nossa forma de existir. Urano em Touro
promete desenraizamentos para nos fazer mudar. Isso é algo significativo quando
olhamos para outros períodos de Urano em Touro.
Urano,
desde que foi avistado, esteve em Touro de 1850 a 1857 (conjunção com Plutão de
1848 a 1853, antes do avistamento de Plutão) e de 1934 a 1941, quando se armou
e detonou a segunda Guerra na Europa. Esse planeta traz a ruptura com
estruturas e hierarquias que impedem o desenvolvimento da liberdade individual, e não é raro que isso se associe a muita destruição, seja porque
grupos se sentem no direito de se apropriar dos recursos do vizinho, seja
porque os recursos se tornam escassos e se é obrigado a deixar o conhecido em
busca de mais recursos. Nos períodos de Urano em Touro temos uma migração europeia em massa
para os continentes americano e australiano, principalmente, forçada pela
guerra e pela fome. Números consolidados por diferentes historiadores estimam
que entre 50 e 60 milhões de europeus deixaram seus países em direção a lugares
tão distantes como Brasil, Estados Unidos, Sibéria e Austrália
entre 1815 e 1950. Uma parte deles chegou a voltar para a Europa, mas a maioria
se estabeleceu de vez no novo mundo, passando a ter uma influência decisiva na
construção desses países. A migração realizada nesses períodos de Urano em
Touro tem o diferencial de ser feita por pessoas com um anseio de realizar uma
mudança de vida, não apenas pelos excluídos socialmente, mas por aqueles que de
alguma maneira querem um tipo de vida diferente daquela que domina sua própria sociedade.
Uma
boa ilustração para essa diferença é a migração alemã para o Brasil. A primeira
leva de imigrantes para o Brasil a partir de 1824 (Urano em Capricórnio), vindos da Prússia, eram
recrutados entre presidiários alemães em cadeias e casas de correção de
Mecklenburg e de alemães indigentes que, ao saberem que o Brasil estava
oferecendo terras, foram para Bremen e Hamburgo em busca de uma passagem para
serem mandados para São Leopoldo. O naturalista Theodor Bösche, que fez parte
de uma dessas primeiras viagens organizadas por Schäffer - amigo da imperatriz
Leopoldina -, na qual havia 90 ex prisioneiros de Macklenburgo, observou:
"O nosso navio tomou várias centenas de pessoas. Tremi ao avistar aquela
gentalha rota, de que muitos malogram encobrir a nudez e cuja atitude trazia o
cunho da rudeza e da bestialidade". Era uma troca onde a Prússia fazia uma
higienização social e o Brasil um branqueamento da sua população.
Após
1850, enquanto Urano transitava de Áries para Touro, mudanças fundamentais
foram feitas, e as despesas com demarcação de lotes e assentamentos de colonos
foram transferidas do governo imperial para as províncias. Visando diminuir
suas despesas, o Estado permitiu a atuação de companhias particulares de
colonização, que compravam as terras e as revendiam aos imigrantes. Em 1850, a
Lei de Terras estabeleceu que os colonos apenas poderiam ter a posse da terra
por meio da compra e não da simples posse como ocorria anteriormente. Isso
significa que os imigrantes desse período precisavam ter alguma posse para
investir nessa nova vida. Os que não tinham condições para isso vinham
trabalhar em fazendas de café em São Paulo, mas as denúncias contra o sistema
de parceria em São Paulo, materializadas com a revolta dos colonos da fazenda
Ibicaba contra as péssimas condições de trabalho, fizeram com que a Prússia
proibisse a imigração para o Brasil em 1859. Mais tarde, essa restrição seria
revogada apenas para os três estados sulinos.
Esse também e o período de migração irlandesa para
os EUA, onde chegaram em massa após a grande fome de 1845-1852, e que se tornaram
uma face importante da identidade de lá.
No
outro período de trânsito uraniano por Touro, de 1934 a 1941, época da ascensão
do Nazismo na Alemanha e II Guerra na Europa, temos um grande contingente de
alemães imigrando para o Oriente Médio: segundo dados do Museu do Holocausto
dos EUA, cerca de 60 mil alemães de origem judaica migraram nesse período para
a Palestina, na área que viria a formar o Estado de Israel. A ascensão do nazismo na Alemanha
em 1933 e a guerra que se seguiu, porém, criou grande onda migratória europeia,
não só de judeus, mas também de opositores políticos e religiosos, assim como
artistas perseguidos pelo regime. Cerca de 16 mil conseguiram vistos de entrada
para o Brasil. Entre eles estavam políticos alemães, como Johannes Hoffmann, que após o fim da Segunda Guerra voltou para
a Alemanha e se tornou governador do estado do Sarre, onde fundou o Partido
Popular Cristão do Sarre. Nem a Alemanha, nem Hoffmann, nem o Brasil eram os
mesmos.
A
constante migração humana durante nossa história no
planeta ganha cores dramáticas nesse novo período de Urano em Touro, já que atualmente,
além dos conflitos humanos, também temos que dar conta
do aquecimento global que coloca em risco nossos recursos. Uma das
consequências desse deslocamento é a mistura de culturas e o rompimento das
fronteiras, reais e simbólicas. Parece que caminhamos dolorosamente para a
consciência planetária de que somos conectados e não há como salvar alguns se
não salvarmos a todos. Mesmo que haja essa onda antidemocrática, xenófoba,
racista, misógina que, sabemos com certeza comprovada, manipula as massas para
que acreditem em uma prisão confortável e isolada, não há mais como negar que estamos
em uma situação limite. Urano é difícil
da mesma maneira que ser livre é difícil, pois implica em ter consciência das
escolhas e assumir a responsabilidade por elas sem delegar esse privilégio a ninguém.
Economistas e estudiosos da situação global falam de maneiras muito simples e práticas
de resolvermos as questões que nos afligem, inclusive com exemplos de muito
sucesso. Um desses economistas e o brasileiro Ladislau Dowbor, que tem um site incrível
e super didático que ensina economia para quem se interessar: www.dowbor.org. Para isso teremos que parar de buscar privilégios
para focar em direitos, e parece que essa ainda é uma grande barreira. Sabemos
que a semente do nazismo alemão foi plantada pela ambição e mesquinharia dos países
aliados da I Guerra na Europa, que, ao vencerem a disputa, deixaram a Alemanha
na miséria e cheia de dividas, criando uma população com necessidades básicas não
atendidas que se deixou seduzir pela fantasia de uma gloria utópica e exclusiva
que a tiraria do sofrimento. Oitenta anos depois, com todo o avanço tecnológico
desenvolvido, com a consciência global criada, com o conhecimento que
acumulamos, estaremos preparados para dar uma resposta melhor, maior e mais inteligente para
a passagem de Urano em terras taurinas? Condições para isso, temos de sobra.
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