“Devemos estar dispostos a nos livrar da vida que planejamos para ter a vida que nos espera.” -Joseph Campbell
Dia 3 de março de 2020 teremos em Capricórnio o inicio de um reforço na já forte conjunção de Plutão e Saturno com a chegada de Júpiter, que irá se estender até meados de abril atingindo Aquário e englobando Marte a partir de 10 de março. Como essas conjunções e aspectos causam muita ansiedade, vamos aqui tentar pensar um pouco sobre esse stelium que nos espera depois do Carnaval.
Vamos lembrar o que está representando essa conjunção Saturno/Plutão em Capricórnio que estamos enfrentando desde o ano passado e que enfrentamos nos anos 80 em Escorpião. Aqui temos o arquétipo do Uroboros, a serpente que devora sua própria cauda, no ciclo eterno de morte/renascimento, fins/inícios, na evolução em torno do centro imutável de Plutão, se encontrando com o arquétipo do Mestre Sábio que tem como face obscura o Diabo que induz à ruína do humano de Saturno. O aspecto mais evidente dessa combinação são as obsessões ligadas a tudo que represente autoridade e poder. Esse aparente movimento organizado e deliberado para uma experiencia autodestrutiva incontrolável que vivemos parece ser o tom coletivo desde a entrada de Plutão em Capricórnio, em 2009, e que foi se adensando com a entrada de Saturno em seu domicílio (Capricórnio) em 2017. Que atire a primeira pedra aquele que não quis matar - só um pouquinho - o tiozão surdo do pavê. Sim, vimos com clareza o lado obscuro do vizinho, mas também o nosso próprio e de toda a estrutura que vivemos e somos cúmplices.
Júpiter traz expansão e crescimento para tudo que toca, fortalecendo e abrindo espaço para a fé em algo maior e mais abrangente, nos fazendo acreditar que somos capazes de superar aquilo que nos aprisiona e restringe. Por isso as conjunções entre Júpiter e Saturno são tradicionalmente vistos como períodos de mudanças de regime e de governo. Isso significa que Júpiter pode trazer novos caminhos ampliando nossa visão e ajudando a ver adiante algo novo que não conseguíamos ver por causa das firmes muralhas de Saturno. Como as muralhas saturninas que estamos vendo nesse momento têm seus alicerces no Reino profundo de Hades, Júpiter terá que ser mesmo muito persuasivo para nos fazer acreditar na possibilidade de mudança. Mas essa não será a primeira vez que o Senhor do Olimpo enganará Saturno para modificar o equilíbrio das forças no poder. Os momentos mais famosos desse enfrentamento falam de Júpiter sendo escondido e alimentado pela ninfa Amaltéia, que fazia música e balburdia quando a criança chorava para que o Senhor Saturno não escutasse, e do jovem Júpiter colocando veneno na sopa de seu pai para que ele vomitasse de volta seus irmãos prontos para a batalha, após terem crescido na barriga dele. Podemos perceber que a alegria, muito mais que a força, é o principal combustível jupiteriano, além de esconder o crescimento da mudança que se aproxima. Com a chegada de Júpiter, tudo aquilo que estiver maduro para a batalha sairá das próprias entranhas de Saturno, das entranhas do lado obscuro da sabedoria adquirida através do sofrimento. E cá estou eu, escrevendo em pleno Carnaval brasileiro, com a Mangueira mostrando um Cristo mulher e outro sendo baleado pela PM, a campeã carioca, Viradouro de Alma Lavada, contando a história das lavadeiras da lagoa de Abaeté (Ora ie iê ô) que compraram a própria alforria e depois a alforria de muitas pessoas escravizadas lavando a roupa de gente branca, que nunca soube cuidar de si. E a campeã de SP, Águia de Ouro, trazendo o Poder do Saber, em um ótimo resumo de Júpiter com Albert Einstein, a Bomba Atômica e cantando jupiterianamente:
"Brincar de Deus, recriar a vida
Desafiar, surpreender
Na explosão a dor, uma lição ficou
Sou aprendiz do Criador”
E nessa alegria e festa do Carnaval pudemos escutar por baixo o choro da criança: Rebelião de PM no Ceará atacada por escavadeira (método bem jupiteriano de resolver oposição) pelo representante do poder e aquele que ocupa o lugar de presidente ameaçando fechar o Parlamento que o obedece em tudo alegando oposição. Os fatos atropelando os astros e o antigo rei resistindo o quanto pode às mudanças que exigem espaço. Ou seja, não estamos falando de uma mudança onde o velho e corrupto rei que não tendo mais energia para renovar o reino resolve morrer para que o novo possa entrar e recuperar tudo que foi transformado em poder pelo poder, sem nenhum objetivo maior. Estamos falando aqui de transformação dos diversos contratos e obrigações sociais que mantinham a sociedade coesa e unida, estamos falando de rompimento de estruturas que se mostram antigas e falidas. Vamos lembrar aqui que Donald Trump está propondo modificar a Declaração dos Direitos Humanos, é esse o nível de rompimento que estamos falando. E se não são os Direitos Humanos que irão nortear nosso processo civilizatório, o que será? Realmente aprendemos que simplesmente declarar que "todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos; dotados de razão e de consciência e devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade”, não resolve os problemas que temos em função das desigualdades que criamos. Esse é o nível da angústia que vivemos, onde o velho não traz mais segurança ou respostas, mas o novo é ainda muito jovem para trazer as respostas e seguranças que ansiamos. Ou seja, Bernie Sanders ganhar as primárias americanas não será suficiente, apesar de que seria uma boa batalha ganha. Então o que podemos esperar para os próximos meses é essa luta por mudança acompanhada de enorme resistência no sentido oposto. E aí dia 10 de março Marte entra na dança, e o detonador astral com certeza vai acirrar os ânimos dessa disputa, em meio às manifestações prometidas de ambos os lados da disputa aqui no Brasil.
Sendo Capricórnio um dos signos cardeais, ou seja, que tem sua força voltada para fora, representando um novo patamar se iniciando, podemos esperar o nascimento de um novo momento a partir de março. A última conjunção Saturno/Júpiter em Capricórnio foi em 1961, quando vimos a explosão do ativismo dos direitos civis nos EUA, mas quando chegou a oposição Saturno/Júpiter posterior, 10 anos depois com Saturno em Touro e Júpiter em Escorpião, o que frutificou foi a Guerra dos EUA contra o Vietnã, o que mostra que a luta de um grupo não traz a libertação do todo, mas pode trazer essa ânsia de liberdade e mudança para um imaginário mais abrangente, como foi a resistência à Guerra. Plutão, tendo seu peso coletivo garantindo um olhar blasé para nossos pequenos dramas humanos, traz certo ar de tudo ou nada que, ao se juntar com a força guerreira marciana, não seria estranho se tivéssemos que viver algo bem destrutivo para realizar a mudança que precisamos para encontrar novos caminhos. Sinto bastante medo ao escrever essas coisas, mas se quiser ser fiel ao simbolismo desse stelium em Capricórnio, o que estamos prestes a viver por aqui pode ser bem dramático. Um amigo astrólogo, Denis Matar, chega a dizer que estaremos vivendo o fim definitivo do Capitalismo, que desde muito promete morrer mas sempre ressuscita com novas artimanhas. Apesar de sabermos que a necessidade de mudança é mais do que urgente, que nossos erros comprometeram a nossa sobrevivência no planeta, inclusive, precisamos realmente que Júpiter traga muita Luz para enxergarmos um novo caminho e que Marte nos dê a coragem para entrar na boa luta e rompermos com tudo o que for velho e corrupto na estrutura em que vivemos. E que os deuses nos protejam.
Mas pra ninguém ficar muito desolado, aqui está pra vocês um pouco do incrível Emicida, pra lembrar que a Revolução é feminista ou não é Revolução ;)